domingo, 29 de maio de 2011

MINEIRISMO BREJEIRO – CAMPANHAS ELEITORAIS

MINEIRISMO BREJEIRO  – CAMPANHAS ELEITORAIS
Enoque Alves Rodrigues
Segundo a definição de Derso Renault em seu livro Chão e Alma de Minas, nós mineiros somos pouco comunicativos. Devido a isso não conhecemos como devíamos as características de nosso caráter, de nosso “ethos”, daí sermos muitas vezes misteriosos. Já Tristão de Ataíde atribui a nossa personalidade às vezes duvidosa e indecisa, as limitações geográficas montanhosas de nosso estado. Diz ele: a montanha é uma limitação do horizonte. Limitação geográfica e psicológica. A montanha é o intimismo, a continuidade, a temperança. O instinto do homem mineiro não é o mesmo que o instinto do homem do litoral. Já Sylvio de Vasconcellos grande observador dos gestos e costumes do mineiro no trabalho diz o seguinte: o mineiro preza a palavra empenhada, por isso mesmo raramente a empenha. Negaceia por costume, contorna assuntos, fala por paráfrases ou simula hipóteses. Está sempre com o pé atrás, desconfiado sempre, elogiando no próximo suas próprias qualidades ou desculpando seus defeitos. É generoso quando suplicado e cruel quando ofendido. Esperto ao extremo ou ingênuo por conveniência. Não aceita ou rejeita as coisas de pronto, etc. Cita inclusive este pequeno dialogo entre dois mineiros ao telefone.
- “Espero você às seis horas na Praça Sete”.
- “Está bem. Agora, se eu não for até as cinco e meia é porque eu não fui”.
Bem, cumpre-me aqui resumir o que estes grandes estudiosos dos costumes arraigados na personalidade montanhesa quiseram dizer ao nosso respeito. Falamos tudo sem falarmos nada. Utilizamos de palavras lindas e afirmativas sem nos comprometermos. Sinalizamos que estamos indo numa direção e, de repente, sem prévio aviso, mudamos de rumo, deixando quem nos está seguindo atarantado, tonto, embasbacado, surpreso, boquiaberto. Aí pensamos: “uai, quem mandou me seguir? Eu nem disse para onde ia!” Não valorizamos os nossos gestos. Esquecemos muitas vezes que um gesto nosso vale por mil palavras. Fazer o que? Por mais que muitos conterrâneos não concordem, somos assim! No entanto, como podem ver, isso não significa um desvio de personalidade, caráter ou conduta. Isso se chama costume e o nosso caráter foi moldado exatamente dentro destes conceitos. Então, isso se chama “simplicidade mineira”, “é o nosso jeito mineiro de ser”. Virtude, então, e fim de papo.
Uai, por quais razões então, os Brejeiros  e políticos de antanho seriam diferentes? Eles também não são mineiros?
- São, uai!
- Então...
1962. Campanha eleitoral a pleno vapor. O candidato à Prefeitura do Brejo das Almas, Geraldo Tito e seu vice, Leônidas Ribeiro da Cruz, amassavam o barro vermelho da zona urbana e a bosta de vaca da zona rural, à caça do voto precioso do eleitor, arisco e arredio.
- “Ô, de casa!”. Gritava um candidato com voz rouca e botas sujas do caminhar diário. “Tem alguém, aí?”
- “Tem não, senhor!” - respondia, lá de dentro, um fiozinho de voz quase inaudível,  marcado pela fraqueza causada pela desnutrição do rango escasso.
- “Quero falar com o meu amigo Demóstenes!”
- “Mais o que é que Mercê quer falar com ele?”
- “Eu quero pedir voto!”
- “Desculpe, doutor, mais voto nóis num tem mais não! Mercê num cumpriu a promessa das dentaduras!”
- “Mais como não. Você não é a Maria, mulher do Demóstenes?”
- “Sou sim senhor. Uai, o que isso tem a ver?”. Quatro anos de vossa promessa e eu continuo aqui, com a boca murcha!”
- Espere aí, Maria, você chegou a ir a Clinica do Euler tomar as medidas de sua boca para fazer as dentaduras?”
- “Acho que fui!”
- “Mas você não tem certeza? Você tinha que ter comparecido a Clinica, conforme está escrito no cartão que lhe entreguei naquela época”.
- “Uai, doutor, mas eu acho que estive lá, sim senhor. Peguei uma fila grande dos diabos. No final dela, veio uma moça e me deu mais um cartão no qual me mandou escrever o numero do meu candidato e colocar na urna. Foi o que eu fiz”.
- “E onde está agora o cartão que lhe dei, Maria?”, – indagou-lhe o candidato, apreensivo.
Por alguns instantes, Maria de Demóstenes que até então, do alto de sua desconfiança falava com o candidato por trás da porta, sem sequer dar o ar da graça, surge à frente do mesmo com um papel  na mão, todo amarelado pelo tempo.
- “Aqui está, doutor!”
- “Por mil demônios, Maria. Isto ai que você trás à mão é a maldita cédula eleitoral que você teria que ter colocado na urna para me eleger, diabo! Enquanto que o cartão que você colocou lá dentro era o cartão do Euler para lhe fazer as dentaduras. Agora não sou eu quem tem a culpa por você estar com a boca assim. Sabe Maria, ou melhor, Mariazinha, minha querida e idolatrada correligionária, o fato é que estou muito necessitado do seu voto, do Demóstenes e dos meninos (quatro filhos adultos do casal) e desta vez, com os votos de vocês, estou certo que vou ganhar para fazer para você, sua família e todos nós, um Brejo melhor!”.
Afinou o discurso com a Maria. “Passarinho não canta na muda, uai” e levou as eleições. Depois de algumas tentativas o grande escritor mineiro Coronel Geraldo Tito Silveira, ganhou as eleições em Francisco Sá, Brejo das Almas. Renunciaria, no entanto, dois anos depois, pelos motivos que todos nós Brasileiros, que vivenciamos os anos “dourados” do chumbo-grosso, conhecemos.
Enquanto que para aquele mesmo exercício de 1963-1966 eram eleitos para a Câmara Municipal do Brejo:
 José de Deus Prado, Ivonílde Gaspar Oliveira, Euler Martins Moreira, Robson D’Artagnam Campos, Vanderlei Oliveira Brito, Irineu Lourenço Sampaio, José Antonio da Silveira, Antonio Augusto Dias, Osvaldo Rodrigues Vasconcelos,  Jacinto Teixeira da Silva, Joaquim Soares de Jesus e Jorge Ribeiro Rocha.
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/

sábado, 21 de maio de 2011

AS JOIAS RARAS DO BREJO FINAL – NIQUINHO

AS JOIAS RARAS DO BREJO FINAL – NIQUINHO
Enoque Alves Rodrigues
Previsível demais ou repetitivo ao extremo. Quiçá ao tomar ciência sobre qual “jóia rara do brejo” estarei escrevendo em minha crônica de hoje, o amigo leitor, sempre complacente para com esse humilde operário especializado da engenharia, mas que de quando em vez se mete a besta a escrever alguma coisa,  seja induzido a esses adjetivos. Devo, portanto, antecipar que tal conclusão, caso ocorra, não corresponde à realidade. Entendo como oportuno lembrar que mesmo não vivendo fisicamente no Brejo há muitos anos, jamais me distanciei desta terra boa que me serviu de berço. Além do mais, é de conhecimento de todos que passei dezoito lindos anos da minha não menos linda existência, no Brejo das Almas e suas adjacências. Como tudo que faço da vida é vivê-la intensamente, esses dezoito anos, acreditem, representam muitíssimo para mim. Sem contar que sou um pesquisador nato e apaixonado por tudo que se refira ao Brejo. São, portanto, sem falsa modéstia, relevantes os cabedais de conhecimentos que disponho sobre fatos, antigos e atuais ou pessoas que foram ou que vieram a ser importantes no cenário brejeiro ou até mesmo, saídas do brejo, na vida Nacional.
-“Chega de bestagem, Noquinho, meu filho! Diria minha santa mãezinha lá em Capitão Enéas. Para que toda essa introdução se a “jóia rara do brejo”, nem é você? Limite-se a reportar os fatos e chega de rodeios e referências pessoais. Não foi assim que lhe ensinei menino!”
-Está certo, uai, mas mesmo assim cabe aqui uma pequena explicação:
-É que já me referi, ainda que superficialmente, por algumas vezes a esta “jóia rara do brejo”. No entanto, jamais havia lhe dedicado uma crônica. Depois, como abri esta série com sua filha, a Professora Yvonne Silveira, em cuja crônica também fiz uma introdução, nada mais justo que dissertar um pouco e encerrar esta série com este personagem. 
“Brejo das Almas, ou Francisco Sá. Igual a ti, outro não há...”
O autor da letra do nosso hino, que foi musicado por Corinto Cunha, que aliás, não me canso de ouvir, o qual escreveu em atendimento ao pedido de uma amiga sua, a Professora Maria de Jesus Sampaio  já que até então Francisco Sá não tinha seu próprio hino,  é a minha “jóia rara do brejo” desta semana.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho, nasceu em Montes Claros. Formado em farmácia, ainda em sua cidade natal, enveredou-se pelos caminhos da Política. Tendo sido ali, ainda jovem, Vereador e Secretário da Câmara Municipal. Foi, inclusive, contemporâneo naquela edilidade de Jacinto Silveira e do Padre Augusto. Redigiu, enquanto secretário na Câmara de Montes Claros,  projeto de lei que culminaria na Lei Estadual 843, de 07/09/1923.  Cuja Lei desmembrou o distrito de Brejo das Almas dos Municípios de Montes Claros e Grão Mogol, dando-o vida independente, elevado que fora a condição de Município, tendo  sua sede própria sido instalada em 07/09/1924, sob a denominação de “Brejo das Almas” que em 1938 se denominaria Francisco Sá.
Orador e poeta de inconfundível eloqüência. Intelectual ativo e inconformado com as injustiças sociais de seu tempo contra as quais lutava com velada bravura sem jamais perder a polidez e afabilidade. Escrivão de paz, farmacêutico de profissão, marido exemplar que pacientemente cuidou de sua esposa enferma até seus últimos momentos de lucidez e um ótimo pai de família de prole numerosa com oito filhos. Fisicamente alto, magro, tez clara, com bigodes, cabelos longos e corridos. Índole integra e sempre disposto a socorrer aqueles que dos seus préstimos necessitassem. Ainda que para isso tivesse que sacrificar a si próprio. Vivia para servir.
Foi com toda esta bagagem que numa ensolarada manhã do mês  janeiro do ano de 1929 adentrou as ruazinhas estreitas e empoeiradas do velho Brejo das Almas, o querido Niquinho. Fincou residência no antigo Largo da Matriz, próximo a única farmácia do lugarejo de propriedade de seu amigo Francelino Dias, o França, com quem viria a trabalhar até montar a sua própria farmácia. O velho Largo da Matriz que então desnivelado, passou, em 1931 por reformas de nivelamentos na gestão do Prefeito médico, Dr. Paulo Cerqueira Rodrigues Pereira.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho, pode ser considerado um dos grandes expoentes do velho Brejo das Almas. Conseguiu, neste torrãozinho de meu Deus, colocar em prática todos os atributos com os quais a Divina Natureza o dotara. Exerceu todas as suas atividades sempre voltadas para a benevolência e crescimento do Brejo e de sua gente. Mesmo assim conseguiu amealhar com toda a sua honestidade razoável patrimônio que, no entanto, não muito afeito as coisas materiais e, principalmente,  -desculpem-me mas não posso nem devo trair a historia omitindo dela a veracidade de fatos ainda que tristes-, pelo vicio do alcoolismo que infelizmente adquiriu, veio a falecer desprovido de bens materiais em casa de Yvonne e Olyntho, amparado pela filha amada e pelo genro querido, com o mais puro e sublime amor, depois de padecer por dez anos da incurável e tenebrosa enfermidade.  No entanto levou consigo a maior riqueza. A certeza plena de que sempre que as necessidades brejeiras se manifestavam, lá estava ele a postos para amenizá-las ou tentar combatê-las.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho farmacêutico, a “jóia rara do brejo” desta semana, era na verdade em toda a sua essência, um “mitigador de problemas e dificuldades”.
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/http://www.facebook.com/home.php?email_confirmed=1&changed_login=1

domingo, 15 de maio de 2011

AS JOIAS RARAS DO BREJO III - O PADRE SILVESTRE

AS JOIAS RARAS DO BREJO III – O PADRE SILVESTRE
Enoque Alves Rodrigues
Se o caro amigo leitor fizer parte dos quase cem mil que acessaram minha humilde página no CityBrasil, certamente já deve ter lido pelo menos umas três crônicas que escrevi sobre o Padre Silvestre, antigo pároco da minha, da sua, da nossa linda Cidade de Francisco Sá, o velho e querido Brejo das Almas.
Pois bem, naqueles tempos era comum que as crianças fossem batizadas somente após ter alguma consciência da vida. Fui, portanto, batizado pelo Padre Silvestre lá em São Geraldo, Município de Francisco Sá, no ano de 1960, quando já tinha sete anos. Vários foram os episódios que presenciei os quais tinham como protagonista o Padre Silvestre, a minha “jóia rara do brejo” de hoje, cuja memória, não obstante os meus relatos nem sempre favoráveis ao querido amigo, reverencio sempre. Era um amor de pessoa. Um santo na terra, a meu ver, claro.
Tipo físico europeu, estatura mediana, pele rosada, olhos azuis, cabelos loiros, e com  sotaque característico dos “deutschers”, tribo alemã de onde se originava. Falava fluentemente o alemão enquanto se expressava com extrema dificuldade em Português.
Fora as ocupações que mantinha no clero, tendo sob sua responsabilidade toda a comunidade católica brejeira, o Padre Silvestre Classen também era ligado ás coisas da terra e mantinha algumas fazendas de cultivos naturais, além da criação de porcos. Inovador na arte da irrigação, foi pioneiro e grande entusiasta da agricultura familiar, ensinando ao matuto brejeiro, várias técnicas aparentemente primitivas, mas de resultados economicamente positivos e incalculáveis  para o homem da terra de antanho. Na suinocultura incentivou grandes pesquisas que resultaram na mudança dos padrões genéticos da porcada que antes era considerada “curraleira”, ou seja, desprovida de qualquer pedegree. De repente o jeca brejeiro passou a conviver com “marcas de porcos” de palavras difíceis como “landrace” e “duroc” e uma leva de outros denominativos difundidos pelo Padre visionário e empreendedor. È isso mesmo, o caipira do brejo não falava  “raça de porcos” mas, “marca”, sim senhor.
Certa ocasião, Mundinho do Correio, levou até o Padre Silvestre, um envelope pardo  de aspecto bonito e luxuoso, subscrito em letras bonitas e garrafais onde o remetente se apresentava como um certo doutor Castro, que mantinha, segundo ele, um laboratório na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, Capital das Alterosas.  Ao abrir o envelope, e principalmente depois de iniciar a leitura da missiva,  o Padre arregalou seus grandes olhos azuis e por alguns instantes ficou estático. Havia ali, certamente, algo que muito lhe interessava.
Estudioso, meticuloso e curioso extremado. O Padre Silvestre era daqueles que se necessário fosse, varava noites analisando fórmulas que viessem propiciar melhorias e facilidades a vida difícil do homem caipira e dele próprio. Agora andava as voltas com uma nova invenção sua a qual estava a divulgar nas redondezas. Tratava-se de uma engenhoca que consistia em cortar curvas de níveis dos rios quase secos da região, receber as águas das chuvas escassas e encaminhar para as roças. Produziu também o primeiro “espantalho de formigas” que já vi na vida. Este sim era estranho e porque não dizer, até difícil de descrever: tratava-se de cabaças onde ele contornava toda a face, a imagem e semelhança de grandes tanajuras, com dois orifícios dianteiros e traseiros que captavam e liberavam o vento sob um som triste e melancólico, as quais  colocava estrategicamente na porta do formigueiro. Segundo ele, quando as pequenas formigas davam de cara com as tanajuras gigantes, ainda na saída do formigueiro, com medo, retornavam imediatamente para dentro de seus “habitat” e de lá não mais saiam para devorar suas plantações. Quanto aos gafanhotos, ele vivia também às turras. No entanto, até o dia em que sai do Brejo, o placar era de dez para os gafanhotos e zero para o Padre. Ele não gostava de matar nada, por isso, fazia sempre o possível para se livrar dos inimigos de suas plantações “sem derramamento de sangue”. Já contra os passarinhos, rolinhas, pombas amargosas, periquitos, pássaros pretos e outros glutões admiradores de suas safras de milho, ele utilizava-se do bom e velho espantalho. Aquele boneco feito de panos velhos.
Mas que noticia tão importante havia naquele envelope para que o Padre Silvestre ficasse tão entusiasmado? Sobre o que falava o tal doutor Castro?
Pois é, uai, dizia a carta:
“Prezado Padre, tenho a honra de comunicar a vossa Reverendíssima, que o meu Laboratório localizado na Avenida do Contorno, número 2144, em Belo Horizonte, acaba de realizar a grande descoberta que finalmente irá por fim a praga dos gafanhotos que tanto assolam as vossas plantações. É muito simples, caro Padre. Trata-se de uma fórmula. No entanto para que eu possa vos enviar, é necessário que o Sr. me mande dois mil e duzentos cruzeiros para custear as despesas, etc., etc.”. Essa quantia naqueles tempos era suficiente para se comprar várias cabeças de gado.
Dois Meses depois, estava eu em frente à loja da dona Bezinha, quando vejo o Mundinho do Correio com um envelope semelhante, passar em desabalada carreira em direção à Igreja. Curioso, segui-o.
O Padre vivia impaciente e desconfiado. Não obstante ter ele pago aquela imensa quantia antecipadamente, o bendito envelope com a fórmula jamais chegava. Foi por isso que nem bem Mundinho entrou na Igreja e o Padre já o interceptou. Arrancou de suas mãos o envelope e ao ler o seu conteúdo, transformou-se. Mundinho e eu agora víamos um Padre transtornado, andando de um lado para o outro, puxando os cordões da batina em frente ao altar, a resmungar enquanto lia e relia o teor da carta em voz alta:
 “Prezado Padre, ainda não foi desta vez. O senhor precisa ter um pouquinho mais de paciência com os gafanhotos. Eles também são filhos de Deus. Houve um revertério muito grande na nossa fórmula o qual estamos tentando corrigir. Um grande abraço para o senhor e fique com Jesus. Amém!”
Ao longe, assustados, Mundinho do Correio e eu só ouvíamos os berros do Padre num português sofrível  a dizer:
“E você, seu ladróne amardiçoado de una figa, fique com todos os diabros e que se queimem no fogo das profundas. Quanto a fórmula que você ia me mandar, ponha-a no... Bem, isso eu num posso dizê... Que assim seja!”
É...
Por vezes, e principalmente quando são passados para trás, os santos também perdem a paciência e compostura. E ai, salve-se quem puder, uai!
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/ http://www.citybrazil.com.br/mg/franciscosa/usuario.php?id_cadastro=7585
AS JOIAS RARAS DO BREJO III – O PADRE SILVESTRE
Enoque Alves Rodrigues
Se o caro amigo leitor fizer parte dos quase cem mil que acessaram minha humilde página no CityBrasil, certamente já deve ter lido pelo menos umas três crônicas que escrevi sobre o Padre Silvestre, antigo pároco da minha, da sua, da nossa linda Cidade de Francisco Sá, o velho e querido Brejo das Almas.
Pois bem, naqueles tempos era comum que as crianças fossem batizadas somente após ter alguma consciência da vida. Fui, portanto, batizado pelo Padre Silvestre lá em São Geraldo, Município de Francisco Sá, no ano de 1960, quando já tinha sete anos. Vários foram os episódios que presenciei os quais tinham como protagonista o Padre Silvestre, a minha “jóia rara do brejo” de hoje, cuja memória, não obstante os meus relatos nem sempre favoráveis ao querido amigo, reverencio sempre. Era um amor de pessoa. Um santo na terra, a meu ver, claro.
Tipo físico europeu, estatura mediana, pele rosada, olhos azuis, cabelos loiros, e com  sotaque característico dos “deutschers”, tribo alemã de onde se originava. Falava fluentemente o alemão enquanto se expressava com extrema dificuldade em Português.
Fora as ocupações que mantinha no clero, tendo sob sua responsabilidade toda a comunidade católica brejeira, o Padre Silvestre Classen também era ligado ás coisas da terra e mantinha algumas fazendas de cultivos naturais, além da criação de porcos. Inovador na arte da irrigação, foi pioneiro e grande entusiasta da agricultura familiar, ensinando ao matuto brejeiro, várias técnicas aparentemente primitivas, mas de resultados economicamente positivos e incalculáveis  para o homem da terra de antanho. Na suinocultura incentivou grandes pesquisas que resultaram na mudança dos padrões genéticos da porcada que antes era considerada “curraleira”, ou seja, desprovida de qualquer pedegree. De repente o jeca brejeiro passou a conviver com “marcas de porcos” de palavras difíceis como “landrace” e “duroc” e uma leva de outros denominativos difundidos pelo Padre visionário e empreendedor. È isso mesmo, o caipira do brejo não falava  “raça de porcos” mas, “marca”, sim senhor.
Certa ocasião, Mudinho do Correio, levou até o Padre Silvestre, um envelope pardo  de aspecto bonito e luxuoso, subscrito em letras bonitas e garrafais onde o remetente se apresentava como um certo doutor Castro, que mantinha, segundo ele, um laboratório na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, Capital das Alterosas.  Ao abrir o envelope, e principalmente depois de iniciar a leitura da missiva,  o Padre arregalou seus grandes olhos azuis e por alguns instantes ficou estático. Havia ali, certamente, algo que muito lhe interessava.
Estudioso, meticuloso e curioso extremado. O Padre Silvestre era daqueles que se necessário fosse, varava noites analisando fórmulas que viessem propiciar melhorias e facilidades a vida difícil do homem caipira e dele próprio. Agora andava as voltas com uma nova invenção sua a qual estava a divulgar nas redondezas. Tratava-se de uma engenhoca que consistia em cortar curvas de níveis dos rios quase secos da região, receber as águas das chuvas escassas e encaminhar para as roças. Produziu também o primeiro “espantalho de formigas” que já vi na vida. Este sim era estranho e porque não dizer, até difícil de descrever: tratava-se de cabaças onde ele contornava toda a face, a imagem e semelhança de grandes tanajuras, com dois orifícios dianteiros e traseiros que captavam e liberavam o vento sob um som triste e melancólico, as quais  colocava estrategicamente na porta do formigueiro. Segundo ele, quando as pequenas formigas davam de cara com as tanajuras gigantes, ainda na saída do formigueiro, com medo, retornavam imediatamente para dentro de seus “habitat” e de lá não mais saiam para devorar suas plantações. Quanto aos gafanhotos, ele vivia também às turras. No entanto, até o dia em que sai do Brejo, o placar era de dez para os gafanhotos e zero para o Padre. Ele não gostava de matar nada, por isso, fazia sempre o possível para se livrar dos inimigos de suas plantações “sem derramamento de sangue”. Já contra os passarinhos, rolinhas, pombas amargosas, periquitos, pássaros pretos e outros glutões admiradores de suas safras de milho, ele utilizava-se do bom e velho espantalho. Aquele boneco feito de panos velhos.
Mas que noticia tão importante havia naquele envelope para que o Padre Silvestre ficasse tão entusiasmado? Sobre o que falava o tal doutor Castro?
Pois é, uai, dizia a carta:
“Prezado Padre, tenho a honra de comunicar a vossa Reverendíssima, que o meu Laboratório localizado na Avenida do Contorno, número 2144, em Belo Horizonte, acaba de realizar a grande descoberta que finalmente irá por fim a praga dos gafanhotos que tanto assolam as vossas plantações. É muito simples, caro Padre. Trata-se de uma fórmula. No entanto para que eu possa vos enviar, é necessário que o Sr. me mande dois mil e duzentos cruzeiros para custear as despesas, etc., etc.”. Essa quantia naqueles tempos era suficiente para se comprar várias cabeças de gado.
Dois Meses depois, estava eu em frente à loja da dona Bezinha, quando vejo o Mudinho do Correio com um envelope semelhante, passar em desabalada carreira em direção à Igreja. Curioso, segui-o.
O Padre vivia impaciente e desconfiado. Não obstante ter ele pago aquela imensa quantia antecipadamente, o bendito envelope com a fórmula jamais chegava. Foi por isso que nem bem mudinho entrou na Igreja e o Padre já o interceptou. Arrancou de suas mãos o envelope e ao ler o seu conteúdo, transformou-se. Mudinho e eu agora víamos um Padre transtornado, andando de um lado para o outro, puxando os cordões da batina em frente ao altar, a resmungar enquanto lia e relia o teor da carta em voz alta:
 “Prezado Padre, ainda não foi desta vez. O senhor precisa ter um pouquinho mais de paciência com os gafanhotos. Eles também são filhos de Deus. Houve um revertério muito grande na nossa fórmula o qual estamos tentando corrigir. Um grande abraço para o senhor e fique com Jesus. Amém!”
Ao longe, assustados, Mudinho do Correio e eu só ouvíamos os berros do Padre num português sofrível  a dizer:
“E você, seu ladróne amardiçoado de una figa, fique com todos os diabros e que se queimem no fogo das profundas. Quanto a fórmula que você ia me mandar, ponha-a no... Bem, isso eu num posso dizê... Que assim seja!”
É...
Por vezes, e principalmente quando são passados para trás, os santos também perdem a paciência e compostura. E ai, salve-se quem puder, uai!
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/ http://www.citybrazil.com.br/mg/franciscosa/usuario.php?id_cadastro=7585
AS JOIAS RARAS DO BREJO III – O PADRE SILVESTRE
Enoque Alves Rodrigues
Se o caro amigo leitor fizer parte dos quase cem mil que acessaram minha humilde página no CityBrasil, certamente já deve ter lido pelo menos umas três crônicas que escrevi sobre o Padre Silvestre, antigo pároco da minha, da sua, da nossa linda Cidade de Francisco Sá, o velho e querido Brejo das Almas.
Pois bem, naqueles tempos era comum que as crianças fossem batizadas somente após ter alguma consciência da vida. Fui, portanto, batizado pelo Padre Silvestre lá em São Geraldo, Município de Francisco Sá, no ano de 1960, quando já tinha sete anos. Vários foram os episódios que presenciei os quais tinham como protagonista o Padre Silvestre, a minha “jóia rara do brejo” de hoje, cuja memória, não obstante os meus relatos nem sempre favoráveis ao querido amigo, reverencio sempre. Era um amor de pessoa. Um santo na terra, a meu ver, claro.
Tipo físico europeu, estatura mediana, pele rosada, olhos azuis, cabelos loiros, e com  sotaque característico dos “deutschers”, tribo alemã de onde se originava. Falava fluentemente o alemão enquanto se expressava com extrema dificuldade em Português.
Fora as ocupações que mantinha no clero, tendo sob sua responsabilidade toda a comunidade católica brejeira, o Padre Silvestre Classen também era ligado ás coisas da terra e mantinha algumas fazendas de cultivos naturais, além da criação de porcos. Inovador na arte da irrigação, foi pioneiro e grande entusiasta da agricultura familiar, ensinando ao matuto brejeiro, várias técnicas aparentemente primitivas, mas de resultados economicamente positivos e incalculáveis  para o homem da terra de antanho. Na suinocultura incentivou grandes pesquisas que resultaram na mudança dos padrões genéticos da porcada que antes era considerada “curraleira”, ou seja, desprovida de qualquer pedegree. De repente o jeca brejeiro passou a conviver com “marcas de porcos” de palavras difíceis como “landrace” e “duroc” e uma leva de outros denominativos difundidos pelo Padre visionário e empreendedor. È isso mesmo, o caipira do brejo não falava  “raça de porcos” mas, “marca”, sim senhor.
Certa ocasião, Mudinho do Correio, levou até o Padre Silvestre, um envelope pardo  de aspecto bonito e luxuoso, subscrito em letras bonitas e garrafais onde o remetente se apresentava como um certo doutor Castro, que mantinha, segundo ele, um laboratório na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, Capital das Alterosas.  Ao abrir o envelope, e principalmente depois de iniciar a leitura da missiva,  o Padre arregalou seus grandes olhos azuis e por alguns instantes ficou estático. Havia ali, certamente, algo que muito lhe interessava.
Estudioso, meticuloso e curioso extremado. O Padre Silvestre era daqueles que se necessário fosse, varava noites analisando fórmulas que viessem propiciar melhorias e facilidades a vida difícil do homem caipira e dele próprio. Agora andava as voltas com uma nova invenção sua a qual estava a divulgar nas redondezas. Tratava-se de uma engenhoca que consistia em cortar curvas de níveis dos rios quase secos da região, receber as águas das chuvas escassas e encaminhar para as roças. Produziu também o primeiro “espantalho de formigas” que já vi na vida. Este sim era estranho e porque não dizer, até difícil de descrever: tratava-se de cabaças onde ele contornava toda a face, a imagem e semelhança de grandes tanajuras, com dois orifícios dianteiros e traseiros que captavam e liberavam o vento sob um som triste e melancólico, as quais  colocava estrategicamente na porta do formigueiro. Segundo ele, quando as pequenas formigas davam de cara com as tanajuras gigantes, ainda na saída do formigueiro, com medo, retornavam imediatamente para dentro de seus “habitat” e de lá não mais saiam para devorar suas plantações. Quanto aos gafanhotos, ele vivia também às turras. No entanto, até o dia em que sai do Brejo, o placar era de dez para os gafanhotos e zero para o Padre. Ele não gostava de matar nada, por isso, fazia sempre o possível para se livrar dos inimigos de suas plantações “sem derramamento de sangue”. Já contra os passarinhos, rolinhas, pombas amargosas, periquitos, pássaros pretos e outros glutões admiradores de suas safras de milho, ele utilizava-se do bom e velho espantalho. Aquele boneco feito de panos velhos.
Mas que noticia tão importante havia naquele envelope para que o Padre Silvestre ficasse tão entusiasmado? Sobre o que falava o tal doutor Castro?
Pois é, uai, dizia a carta:
“Prezado Padre, tenho a honra de comunicar a vossa Reverendíssima, que o meu Laboratório localizado na Avenida do Contorno, número 2144, em Belo Horizonte, acaba de realizar a grande descoberta que finalmente irá por fim a praga dos gafanhotos que tanto assolam as vossas plantações. É muito simples, caro Padre. Trata-se de uma fórmula. No entanto para que eu possa vos enviar, é necessário que o Sr. me mande dois mil e duzentos cruzeiros para custear as despesas, etc., etc.”. Essa quantia naqueles tempos era suficiente para se comprar várias cabeças de gado.
Dois Meses depois, estava eu em frente à loja da dona Bezinha, quando vejo o Mudinho do Correio com um envelope semelhante, passar em desabalada carreira em direção à Igreja. Curioso, segui-o.
O Padre vivia impaciente e desconfiado. Não obstante ter ele pago aquela imensa quantia antecipadamente, o bendito envelope com a fórmula jamais chegava. Foi por isso que nem bem mudinho entrou na Igreja e o Padre já o interceptou. Arrancou de suas mãos o envelope e ao ler o seu conteúdo, transformou-se. Mudinho e eu agora víamos um Padre transtornado, andando de um lado para o outro, puxando os cordões da batina em frente ao altar, a resmungar enquanto lia e relia o teor da carta em voz alta:
 “Prezado Padre, ainda não foi desta vez. O senhor precisa ter um pouquinho mais de paciência com os gafanhotos. Eles também são filhos de Deus. Houve um revertério muito grande na nossa fórmula o qual estamos tentando corrigir. Um grande abraço para o senhor e fique com Jesus. Amém!”
Ao longe, assustados, Mudinho do Correio e eu só ouvíamos os berros do Padre num português sofrível  a dizer:
“E você, seu ladróne amardiçoado de una figa, fique com todos os diabros e que se queimem no fogo das profundas. Quanto a fórmula que você ia me mandar, ponha-a no... Bem, isso eu num posso dizê... Que assim seja!”
É...
Por vezes, e principalmente quando são passados para trás, os santos também perdem a paciência e compostura. E ai, salve-se quem puder, uai!
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/ http://www.citybrazil.com.br/mg/franciscosa/usuario.php?id_cadastro=7585

sexta-feira, 6 de maio de 2011

AS JOIAS RARAS DO BREJO II – KARLA

AS JOIAS RARAS DO BREJO II – KARLA
Enoque Alves Rodrigues
Em meados do ano passado, ao abrir minha caixa de mensagens de e-mails tive uma grata surpresa. Talvez por nos acharmos, na maioria das vezes, imbuídos de sentimentos simples e comezinhos, nem sempre conseguimos imaginar o alcance daquilo que escrevemos e, principalmente, com quais pessoas e culturas estamos de certa forma travando conhecimento.  Quando, no entanto, fatos fortuitos, ou inesperados nos surpreendem positivamente, isso para o nosso ego por mais simples que sejamos, funciona como um verdadeiro bálsamo. Imaginemos, então, se é que somos capazes, a sensação que podemos sentir, ao constatarmos que mesmo sendo a nossa premissa ter todas as pessoas em um mesmo nível de importância, aquela pessoa que acaba de ler e manifestar-se, também de maneira  simples, meiga e natural sobre os nossos escritos, é, na verdade, um grande baluarte de cultura exponencial, um imenso cabedal de conhecimentos de usos e costumes de nosso povo, da nossa gente, e com lugar de destaque dentro da sociedade na qual se insere por pura competência e pelos predicados simples já aludidos aqui, no mais alto e elevado patamar? Aí somos conduzidos involuntariamente, ao seguinte pensamento: puxa vida, como seria bom se eu tivesse essa pessoa como amiga!
Pois é!
Karla Celene Campos, Montes-clarense de nascimento e Brejeira por convicção e vivencia durante longos anos por aquelas plagas de São Gonçalo, aonde os despertares raramente se repetem. Escritora com vários livros publicados, Professora Universitária, Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Jornalista de renome e projeção nacional, possuidora de vários títulos e trabalhos acadêmicos de irrefutável reconhecimento, era exatamente a pessoa que me escrevia.
Dizia Karla, ter lido, muito tempo depois de sua publicação no MontesClaros.com., uma crônica minha sob o titulo “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas”, onde eu fazia referência a um certo casarão de cor rosa, que ficava exatamente na entrada do Brejo das Almas, a esquerda de quem chegava de Montes Claros. Com sua peculiar simplicidade de mulher brejeira, com elegância impar, após tecer elogios sinceros a minha saudade e apego pelo torrão natal e salientar, com sua  cordialidade e finura, que apesar de tudo, o nosso Brejo já não era mais o mesmo, como se estivesse a me preparar para receber a informação “bombástica” que na seqüência me daria, disse-me que na verdade, aquele casarão cor de rosa, que quiçá pela cor não muito usual de suas paredes externas, jamais me saiu da memória, pertencera, na realidade, aos seus avós, o Sr. Antonio Miranda e a Dona Edite.  Meu Deus... Quanta coincidência!
Conheci em minha adolescência quase pueril, a Dona Edite. Senhora benfazeja do nosso lugar. Religiosa, coração bondoso e incomensurável desapego às coisas materiais. De forte compleição física e olhar dócil e matriarcal.  Todo brejeiro via naquela mulher cuja idade eu não consigo precisar, mas creio que à época se aproximava dos 60 anos, o Anjo da Guarda que todos gostariam de ter. De posses, não sei se por herança, atendia a todos com o leite tirado na hora de suas vaquinhas. Seu Sitio produzia frutas diversas em abundância que também ofertava aos necessitados. Quanto ao seu marido, o Sr. Antonio, o vi poucas vezes, insuficientes, no entanto, para que ainda hoje, quase cinqüenta anos depois, alguns resquícios de sua fisionomia me permanecessem retidos ainda na memória, quase senil.
- Senil?
- Mas isso não é coisa de velho?
-É, uai!
- Bem, então, sendo assim mudemos de assunto rapidamente, se bem que ser velho é uma grande dádiva e saber ser velho é a maior das virtudes.
De lá para cá, tornamo-nos grandes amigos e passamos a trocar correspondências apesar de hoje não serem tão freqüentes como gostaríamos, devido a muitas labutas da querida amiga e conterrânea Karla, com suas inúmeras ocupações e minhas, como sempre,  embrenhado há quase quarenta anos, tapume adentro numa obra de engenharia qualquer. Ou talvez, quem sabe, participando de um workshop qualquer, tentando ensinar o que não aprendi e aprender o que jamais me ensinarão. Coisas da vida!
Restam-me reminiscentes no recôndito, dúvidas cruéis as quais por  não possuir a elucidação adequada, aproprio-me de certo comodismo e até mesmo do meu nem sempre disfarçável mineirismo, para jogar a culpa nas costas do destino insólito,  a seguinte indagação: “como foi possível a você, destino tirano e selvagem, que dois conterrâneos com tanta coisa em comum, como por exemplo, o seu amor incondicional pelo Brejo das Almas, Francisco Sá... Que quase na mesma época, palmilhavam com seus pezinhos de anjos, suas ruas empoeiradas e cobertas por paralelepípedos extraídos do morro do mocó... Que certamente por inúmeras vezes, quer na rua, na escola, na igreja do Padre Silvestre, no velho Cine Mineiro, ou quem sabe, na velha Praça da Matriz, ou melhor, na Praça de Jacinto, seus caminhos se cruzaram, não tenham tido em infância, uma única oportunidade de se encontrarem para  poder trocar uns dedinhos de prosa?”
Seria porque, naqueles tempos, hoje tão longínquos, o seu, o meu, o nosso Brejo de todas as Almas era uma grande metrópole e depois, sei lá, se encolheu? São respostas que nem mesmo o tempo, o grande senhor da razão terá. Tampouco me interessam nesta altura do campeonato. Antes tarde que nunca! O importante é que hoje, por lapsos saudáveis do próprio destino, acabei por conhecer Karla, afetuosa amiga, a quem aproveito aqui para agradecer de coração pelo lindo livro “Os Bares não Fecham Nunca” que amavelmente me enviou e que li, intensamente. Obrigado, Karlinha e desculpe-me se depois de tanto tempo do envio, somente agora lhe agradeço.
Karla Celene Campos, minha dileta amiga, cuja trajetória, lições de vida, desprendimento, simplicidade, humildade, lisura, coragem, fé, determinação, senso de humanidade, inteligência, beleza interior inigualável, beleza exterior, idem,  é, orgulhosamente para mim,  a minha “jóia rara do brejo” de hoje, de amanhã e de todo o sempre. Amem!
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/

domingo, 1 de maio de 2011

AO AMIGO ZÉ MÁRIO - O BREJO TÁ FEIO, SÔ!


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  • AO AMIGO ZÉ MÁRIO - O BREJO TÁ FEIO, SÔ!
  • Enoque A Rodrigues
  • Todos vocês, meus conterrâneos do brejo, sabem o quanto amo esta Cidade. Não obstante não viver ai há quase 40 anos, sempre fui um defensor e divulgador deste nosso torrãozinho. Sou, todos sabem, apaixonado pelo Brejo e sua gente.
    Ao chegar de São Paulo em Montes Claros, a primeira coisa que fiz, antes mesmo de visitar minha santa mãezinha em Capitão Enéas, foi me dirigir ao Brejo. Era feriado de 21 de abril e pus-me a matar a saudade, andando por suas ruas desertas. O meu povo se achava em suas casas, fruindo do merecido recesso. Meus Deus: Quanta sujeira nas ruas! Lixo por todo lado! Os prédios inclusive da prefeitura, pareciam em ruinas! Vi este bendito ônibus lá, paradão quase em sucatas! O que é isso, companheiro José Mário, meu amigo. Por favor, o Brejo e sua gente merece melhor tratamento. Sei das dificuldades que você está enfrentando, mas, é o velho ditado, "quem não tem competência não se estabelece"! Corrija este estado de coisas. Mostre para o nosso povo e a nossa gente brejeira o "jeito certo de trabalhar". Francisco Sá, sem falso trocadilho, "tem pressa", realmente. Do jeito que está não pode ficar. E que negócio e esse de os professores que já ganham uma "merreca" ter que comprar de proprio bolso materiais escolares? Não, isso não está certo!
    Todos sabem que raramente me meto em politica, mas no caso em tela e pelo que pude presenciar, os problemas de nossa Cidade com suas mazelas, são politico-administrativa. Ou seja, não são somente politicos, parece faltar vontade politica X vontade de fazer. É o que penso.
    Vamos em frente com coragem e determinação para dar a resposta que a sociedade Fracisco-Saense deseja e espera. Você está ainda no inicio do mandato que o brejeiro lhe outorgou. Há, portanto, ainda muito tempo para se reverter este estado de coisas e eu tenho toda certeza que você, ao contrário da máxima que utilizei neste intróito, se estabeleceu à frente desta municipalidade pela grande competência de homem publico, comprometido com todos os anseios de nosso povo.
    Abraços
  • Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de engenharia, é cronista, escritor e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.



  • Denilson Rodrigues Silveira Rodrigues


  • SEXTA-FEIRA, 29 DE ABRIL DE 2011
    PROFESSORAS PAGAM POR MATERIAL ESCOLAR.


  • Explicar o inexplicável. Situação difícil, essa da Secretaria Municipal de Educação e da Administração Municipal. Em reunião com as professoras municipais o Secretário Municipal de Educação, fez a seguinte colocação: "Peço a vocês que paguem o material escolar de coração. Comprar material escolar e depois ficar reclamando, não dá." Estamos no final do mês de abril e até hoje a maioria dos professores continuam comprando material escolar. Papel, cópias xerox, stencil, alcool, pincel, etc. O competente e bem intencionado Secretário de Compras e Licitação, não conseguiu ainda fazer a licitação para aquisição de material escolar. Segundo o Vice Lider do Prefeito na Câmara, o vereador Quincas, aquele ônibus que está parado a 05 meses também aguarda a licitação de peças. Que Jeito Certo é esse que não se organiza para garantir o funcionamento de situações básicas e elementares para um bom funcionamento, principalmente na área da educação?
    Desenrola esse novelo que eu quero ver.  

      • Marcelo S Alves Denilson, não é motivo para dar risada mas é muito engraçado ver os comentários dos políticos de nossa cidade. Parece que estamos indo de mal a pior, talvés na proxima eleição deveríamos votar em comediantes para prefeito e vereadores como fizeram em São Paulo (tiririca), é vergonhoso isso está acontecendo, temos um prefeito advogado que conhece bastante sobre leis e direitos das pessoas, temos professores no cargo de vereadores e é inacreditável deixar um ônibus parado por falta de licitação, quem sabe eles estão esperando os professores comprarem as peças do ônibus entre outras coisas.....