quinta-feira, 4 de junho de 2015

O BREJO E SUA GENTE VI - EURICO PENA



O BREJO E SUA GENTE VI – EURICO PENA


*Enoque Alves Rodrigues


Seguindo com a série mensal que tem por objetivo reverenciar de maneira singela, alguns de nossos antepassados Brejeiros de relevância maior que se destacaram na história de nossa cidade pelo muito que por ela realizaram e que com lisura de caráter, sólidas iniciativas sociais, político-administrativa, souberam dignifica-la, ao levar adiante suas gestões com transparência, honestidade, dedicação e equilíbrio sempre privilegiando aqueles que mais necessitavam, preservando, imaculadamente, suas respectivas biografias as quais escreveram com naturalidade, despretensiosamente, etc. 


O meu retratado de hoje pertence a uma contemporaneidade recente e é possível que muitos dos poucos que ainda me leem devam ter com ele cruzado um dia em nossa querida Francisco Sá. Sim, o período ao qual me reporto não é o do Brejo das Almas. Aliás, ele apenas “nasceu no Brejo onde viveu até os 24 anos”. Mas, fez-se homem, político e importante mesmo em Francisco Sá pela qual trabalhou arduamente. Se você não é conterrâneo te informo que Brejo das Almas e Francisco São uma mesma Cidade. Pronto: poupei-lhe do trabalho de recorrer á “Wikipédia”. Isto posto, vamos em frente!

Eurico Pena da Silveira é o nobre personagem que ilustra esta minha crônica de Junho exatamente por canalizar em torno de si todas as referências positivas e virtudes singulares das quais grandes castas de gestores públicos atuais a cada dia se distanciam. Por motivos que imensa parte das inteligências medianas não alcança competência, dedicação e honestidade são virtudes que levas consideráveis de gestores não conseguem coadunar. Esforçam-se, é verdade, por vezes, chegando até mesmo a jurar sobre a Bíblia que independente das circunstâncias que venham a enfrentar seguirão firmes e fortes na defesa de seus princípios lastreados por este trinômio, mas, lamentavelmente, ao tomarem posse de nosso erário se esquecem de que de nada adianta ser competente e dedicado se não for honesto o suficiente para resistir ás tentações do dinheiro fácil. Dureza mesmo para eles, garbosos, faceiros e lisos como o quiabo, somente o “drear” (assim falamos no Brejo), “por que desce macio e reanima”. Tomou?


Dedicado, competente e honesto. Empreendedor nato e tocador de obras, assim era Eurico Pena que por duas vezes esteve á frente da Prefeitura de nossa querida cidade de Francisco Sá onde se destacou pela quantidade de obras que realizou. Muitas delas, inclusive, se encontravam com os seus projetos engavetados há dezenas de anos. Conheci de perto, o grande Eurico, sobre o qual fiz um pequeno relato primeiro, acredito, há alguns anos atrás em crônica intitulada “Assim Era Francisco Sá – Jardim Público Municipal”, na qual descrevia a inauguração desta obra, projetada por outro prefeitão, o Dr. Arthur Jardim.


Eurico Pena da Silveira nasceu no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, Minas Gerais, em 07/05/1914, ao pipocar da primeira guerra mundial. Filho de dona Joana Alves da Silveira e de Tiburtino de Oliveira Pena enveredou-se, muito cedo pelos campos das artes e da política tendo sido contemporâneo de grandes vultos da política local. Foi prefeito de Francisco Sá em plena ditadura militar, em dois períodos distintos, de 01/02/1967 a 31/01/1970 e de 01/02/1973 a 31/01/1977. Não obstante as dificuldades naturais por que passavam o Brasil devido ao regime de exceção e principalmente o norte de Minas onde se localiza a nossa cidade, em meio ao polígono da seca, as administrações de Eurico Pena da Silveira foram todas elas cobertas por grandes realizações pautadas no “bom e barato”. Realizou-se muito com pouco dinheiro. Em sua primeira gestão (1967/1970) Eurico elegeu como prioridade revolucionar o perímetro urbano do Município onde construiu prédios, praças, escolas, pontes, chafarizes e empedrou ruas inteiras além de fazer seus nivelamentos e corrigir seus traçados. Aos bairros de Francisco Sá, distantes, íngremes e sofríveis, além de estender essas benfeitorias, levou água e luz elétrica que até então não possuíam. Após embelezar nossa cidade, dotando-a de uma nova roupagem e semblante saudável, alegre e amistoso, Eurico, agora, voltava a sua segunda gestão (1973/1977), progressista e eficiente, para as zonas rurais deste imenso município composto, então, por distritos cujo índice de analfabetismo, crescimento social e miserabilidade haviam desafiado vários antecessores e suas administrações, que pouco ou quase nada conseguiram avançar. 


Calçando botas de couro canos longos e usando calças rústicas do tipo “arranca toco” e camisa de morim batido, transportado por uma velha “rural bandeirante” dessas que sobem em serras, Eurico supervisionava pessoalmente as obras nos mais longínquos distritos. Acompanhava tudo de perto. Nesse diapasão, graças a sua coragem e empenho construiu inúmeras escolas em zonas rurais inóspitas para onde também levou estradas e pontes que agora ligavam aqueles pequeninos núcleos marginalizados por desditas anacrônicas, ao centro urbano de Francisco Sá, onde respiravam os seus iguais, em melhores condições de civilidade. O matuto brejeiro teve sua honra e dignidade restabelecidas por Eurico que para isto nenhum esforço mediu.


Na cultura, mexeu na grade escolar instituindo turnos distintos além de reforçar a merenda da gurizada. Incentivador incansável do folclore do lugar. “Festeiro, convicto, participava de todas as comemorações brejalminas que ocorrem, quase sempre, no mês de setembro, quando se homenageiam a “um milhão de santos em cada dia”“. Presença marcante nos catopés. Nas artes, patrocinava compositores e cantores, principalmente aqueles que enalteciam as coisas de Francisco Sá. Na literatura bancava escritores e suas publicações nem sempre bem-sucedidas, etc.


Grande baluarte da boa política brejeira que praticava em prol do bem comum sem jamais utiliza-la em benefício próprio. Nascido em famílias de tradições política e religiosa secular na vida de Francisco Sá, Eurico Pena da Silveira, criança ainda, não teve dificuldade em escolher o caminho que seguiria ao crescer. Seria político assim como os seus ancestrais. Mas não seria um político qualquer. Tentaria, dentro do possível, ser igual ou próximo ao velho Jacinto, falecido em 1938. Queria prefeitar. Desejava, humildemente, colocar um tijolinho nas paredes de seu Brejo das Almas ou Francisco Sá. Acabou por erguer muitas paredes nas quais se encontram gravado o seu honroso nome em letras indeléveis que o tempo, senhor absoluto da razão, merecidamente, insiste em reluzir, não obstante a sua ausência física já longeva, efetivada que foi em 27/05/1993.


Eurico Pena da Silveira. Esse é o cara do qual todos nós brejeiros temos motivos mais que suficientes para nos orgulharmos. Viveu em uma época aonde a lei do mais forte prevalecia e aqueles que detinham o poder o utilizavam para massacrar os mais fracos e alimentar seus próprios egos. Eurico Pena enfrentou todas as dificuldades “tirando leite de pedra” sem jamais se esquecer dos menos favorecidos para os quais governava, não obstante vir ele de família de posses. O que é bom já nasce feito. E fim de papo.


E tenho dito.


*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo.


Vem ai, Feliciano Oliveira. Não percam!

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