O BREJO E SUA GENTE VI – EURICO PENA
*Enoque Alves Rodrigues
Seguindo com a série mensal que tem por objetivo reverenciar
de maneira singela, alguns de nossos antepassados Brejeiros de relevância maior
que se destacaram na história de nossa cidade pelo muito que por ela realizaram
e que com lisura de caráter, sólidas iniciativas sociais, político-administrativa,
souberam dignifica-la, ao levar adiante suas gestões com transparência,
honestidade, dedicação e equilíbrio sempre privilegiando aqueles que mais
necessitavam, preservando, imaculadamente, suas respectivas biografias as quais
escreveram com naturalidade, despretensiosamente, etc.
O meu retratado de hoje pertence a uma
contemporaneidade recente e é possível que muitos dos poucos que ainda me leem devam
ter com ele cruzado um dia em nossa querida Francisco Sá. Sim, o período ao
qual me reporto não é o do Brejo das Almas. Aliás, ele apenas “nasceu no Brejo
onde viveu até os 24 anos”. Mas, fez-se homem, político e importante mesmo em
Francisco Sá pela qual trabalhou arduamente. Se você não é conterrâneo te
informo que Brejo das Almas e Francisco São uma mesma Cidade. Pronto:
poupei-lhe do trabalho de recorrer á “Wikipédia”. Isto posto, vamos em frente!
Eurico Pena da Silveira é o nobre personagem que ilustra
esta minha crônica de Junho exatamente por canalizar em torno de si todas as
referências positivas e virtudes singulares das quais grandes castas de
gestores públicos atuais a cada dia se distanciam. Por motivos que imensa parte
das inteligências medianas não alcança competência, dedicação e honestidade são
virtudes que levas consideráveis de gestores não conseguem coadunar.
Esforçam-se, é verdade, por vezes, chegando até mesmo a jurar sobre a Bíblia
que independente das circunstâncias que venham a enfrentar seguirão firmes e
fortes na defesa de seus princípios lastreados por este trinômio, mas,
lamentavelmente, ao tomarem posse de nosso erário se esquecem de que de nada
adianta ser competente e dedicado se não for honesto o suficiente para resistir
ás tentações do dinheiro fácil. Dureza mesmo para eles, garbosos, faceiros e
lisos como o quiabo, somente o “drear” (assim falamos no Brejo), “por que desce
macio e reanima”. Tomou?
Dedicado, competente e honesto. Empreendedor nato e
tocador de obras, assim era Eurico Pena que por duas vezes esteve á frente da
Prefeitura de nossa querida cidade de Francisco Sá onde se destacou pela
quantidade de obras que realizou. Muitas delas, inclusive, se encontravam com
os seus projetos engavetados há dezenas de anos. Conheci de perto, o grande
Eurico, sobre o qual fiz um pequeno relato primeiro, acredito, há alguns anos
atrás em crônica intitulada “Assim Era
Francisco Sá – Jardim Público Municipal”, na qual descrevia a inauguração
desta obra, projetada por outro prefeitão, o Dr. Arthur Jardim.
Eurico Pena da Silveira nasceu no Brejo das Almas,
hoje Francisco Sá, Minas Gerais, em 07/05/1914, ao pipocar da primeira guerra
mundial. Filho de dona Joana Alves da Silveira e de Tiburtino de Oliveira Pena enveredou-se,
muito cedo pelos campos das artes e da política tendo sido contemporâneo de
grandes vultos da política local. Foi prefeito de Francisco Sá em plena
ditadura militar, em dois períodos distintos, de 01/02/1967 a 31/01/1970 e de
01/02/1973 a 31/01/1977. Não obstante as dificuldades naturais por que passavam
o Brasil devido ao regime de exceção e principalmente o norte de Minas onde se
localiza a nossa cidade, em meio ao polígono da seca, as administrações de
Eurico Pena da Silveira foram todas elas cobertas por grandes realizações
pautadas no “bom e barato”. Realizou-se muito com pouco dinheiro. Em sua
primeira gestão (1967/1970) Eurico elegeu como prioridade revolucionar o
perímetro urbano do Município onde construiu prédios, praças, escolas, pontes,
chafarizes e empedrou ruas inteiras além de fazer seus nivelamentos e corrigir
seus traçados. Aos bairros de Francisco Sá, distantes, íngremes e sofríveis,
além de estender essas benfeitorias, levou água e luz elétrica que até então
não possuíam. Após embelezar nossa cidade, dotando-a de uma nova roupagem e
semblante saudável, alegre e amistoso, Eurico, agora, voltava a sua segunda
gestão (1973/1977), progressista e eficiente, para as zonas rurais deste imenso
município composto, então, por distritos cujo índice de analfabetismo,
crescimento social e miserabilidade haviam desafiado vários antecessores e suas
administrações, que pouco ou quase nada conseguiram avançar.
Calçando botas de couro canos longos e usando calças
rústicas do tipo “arranca toco” e camisa de morim batido, transportado por uma
velha “rural bandeirante” dessas que sobem em serras, Eurico supervisionava pessoalmente
as obras nos mais longínquos distritos. Acompanhava tudo de perto. Nesse
diapasão, graças a sua coragem e empenho construiu inúmeras escolas em zonas
rurais inóspitas para onde também levou estradas e pontes que agora ligavam
aqueles pequeninos núcleos marginalizados por desditas anacrônicas, ao centro
urbano de Francisco Sá, onde respiravam os seus iguais, em melhores condições
de civilidade. O matuto brejeiro teve sua honra e dignidade restabelecidas por
Eurico que para isto nenhum esforço mediu.
Na cultura, mexeu na grade escolar instituindo turnos
distintos além de reforçar a merenda da gurizada. Incentivador incansável do
folclore do lugar. “Festeiro, convicto, participava de todas as comemorações
brejalminas que ocorrem, quase sempre, no mês de setembro, quando se
homenageiam a “um milhão de santos em
cada dia”“. Presença marcante nos catopés. Nas artes, patrocinava compositores
e cantores, principalmente aqueles que enalteciam as coisas de Francisco Sá. Na
literatura bancava escritores e suas publicações nem sempre bem-sucedidas, etc.
Grande baluarte da boa política brejeira que praticava
em prol do bem comum sem jamais utiliza-la em benefício próprio. Nascido em
famílias de tradições política e religiosa secular na vida de Francisco Sá,
Eurico Pena da Silveira, criança ainda, não teve dificuldade em escolher o
caminho que seguiria ao crescer. Seria político assim como os seus ancestrais.
Mas não seria um político qualquer. Tentaria, dentro do possível, ser igual ou
próximo ao velho Jacinto, falecido em 1938. Queria prefeitar. Desejava,
humildemente, colocar um tijolinho nas paredes de seu Brejo das Almas ou
Francisco Sá. Acabou por erguer muitas paredes nas quais se encontram gravado o
seu honroso nome em letras indeléveis que o tempo, senhor absoluto da razão, merecidamente,
insiste em reluzir, não obstante a sua ausência física já longeva, efetivada
que foi em 27/05/1993.
Eurico Pena da Silveira. Esse é o cara do qual todos
nós brejeiros temos motivos mais que suficientes para nos orgulharmos. Viveu em
uma época aonde a lei do mais forte prevalecia e aqueles que detinham o poder o
utilizavam para massacrar os mais fracos e alimentar seus próprios egos. Eurico
Pena enfrentou todas as dificuldades “tirando
leite de pedra” sem jamais se esquecer dos menos favorecidos para os quais
governava, não obstante vir ele de família de posses. O que é bom já nasce
feito. E fim de papo.
E tenho dito.
*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo.
Vem ai, Feliciano Oliveira. Não percam!
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