O BREJO ERA ASSIM... DE TUDO UM POUCO
*Enoque Alves Rodrigues
O povoado:
Em 1830 o povoado de São Gonçalo do
Brejo das Almas florescia em torno de diminuta capela deste santo padroeiro. Ao
contrário do que possa parecer à povoação do Brejo das Almas não se deu em
torno do cruzeiro fincado ali pelo Bandeirante Antônio Figueira, cruz esta que
deu a primeira denominação do lugar de Cruz das Almas das Caatingas do Rio
Verde. Todas as casas mais antigas foram construídas na Rua das Aroeiras e no
Largo da Matriz. Elevado á categoria de distrito do Município de Grão Mogol,
forças politicas daquele lugarejo começaram a se movimentar junto á assembleia
da província no sentido de que o mesmo fosse anexado ao Município de Montes
Claros à época dotado de melhor infraestrutura cuja efetivação veio a ocorrer
em cinco de Outubro de 1870.
Emancipação:
Através da Lei 843, de sete de
setembro de 1923 depois de árdua batalha, finalmente conseguiam emancipar
aquele outrora pequeno distrito e exatamente um ano depois eram empossados na
Câmara Municipal do Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, a primeira legislatura
que daria os primeiros passos rumo ao desenvolvimento social, econômico e
político do Município.
Primeira Escola:
A primeira Escola com instrução
máxima até o curso primário funcionava em prédio precário que assim como todos
os demais foi doado por Jacinto, criada em 1923, tinha inicialmente como
professoras as normalistas a própria dona Maria Luiza, esposa de Jacinto
Silveira, dona Augusta Guimarães Ataíde e como interina dona Maria Augusta
Dias. Naqueles tempos somente alguns abastados fazendeiros possuíam linhas
telefônicas com as quais se conectavam com o mundo limitado a sua volta, entre
eles, figuravam-se, Francelino Dias, Altino Soares Pereira, José Dias Pereira e
mais uns três além deles.
Um Professor “Arrojado”:
Algum tempo depois ingressou
naquela escola um professor arrojado de nome José Maria Fernandes ao qual foi
facultado implantar sua metodologia de ensino que veio revolucionar as infantis
cabeças dos Brejeirinhos. O método era simples. Ele queria somente ensinar os
seus alunos a pensar. Inusitada e impensadamente para nós em dias atuais
começou por abolir o uso do lápis e do caderno. Ele escrevia no quadro negro e
o aluno tinha dez minutos para ler e decorar os textos, assim como as frações
aritméticas. Ao fim de cada chamada ia selecionando os que respondiam
corretamente enquanto que aos pobres coitados que errava ele entregava a cada
um uma enxada com ordens expressas para utilizar todo o tempo do recreio
carpindo ao redor da escola e quando não se tinha mais o que carpir ali mandava
o infeliz carpir as erva na Rua das Aroeiras onde ficava o Grupo. Quando a
tarefa de carpir não era executava integralmente ele fazia uso da palmatória e
ai meu nego, o pau comia literalmente. Toda ação da molecada era supervisionada
pelo Inspetor Escolar Mateus Alves, um crioulo de quase dois metros de altura
que era à sombra de cada aluno, relatando ao mestre José Maria todas as
estripulias. Quando por fim José Maria Fernandes devido a envolvimento com o
álcool foi substituído pelo Professor Manuel José Veloso, ou Neco Surdo em 1924,
os alunos assim como os seus pais fizeram uma festa. Até mesmo os pais se
incomodavam com os métodos primitivos de José Maria, enquanto que Neco Surdo,
figura tranquila totalmente oposta ao antecessor era querido por todos.
Lagoa das Pedras:
A denominação de Lagoa das Pedras
é atribuída a um veio de pedras calcárias de grosso porte que se encontrava ao
lado Sul, na antiga estrada de Boa Vista para o Areal rumo a serra do Catuni a
qual margeia em direção ao Norte prosseguindo muito além. Para se atravessar
esse veio calcário, que formava lajedos, lutava-se com muitas dificuldades,
principalmente se fosse a cavalo, pois era muito escorregadio e somente os
cavalos ferrados conseguiam manter-se de pé, em equilíbrio.
Somente depois de se erguerem ali
muitas caieiras em tempos remotos onde arrebentaram as pedras para produzirem à
cal as pedras mais salientes foram removidas o que tornou possível o tráfego de
caminhões e outros veículos motorizados. Esta é sem duvida alguma a razão do
nome “Lagoa das Pedras”, hoje inexistente nos moldes anteriormente vistos e que
muita gente atraia ás suas margens. Não passa de lenda a versão de que os primeiros
moradores do Brejo se agrupavam em torno do cruzeiro erguido pelo Frei Clemente
à cabeceira da Lagoa das Pedras. Tampouco a povoação do Brejo começou ali.
Igreja Matriz do Brejo:
É uma incógnita até mesmo nos
dias de hoje a atribuição direta e definitiva do principal responsável pela
construção da Igreja Matriz do Brejo das Almas ou Francisco Sá. Restam apenas
especulações que dão conta de que a mesma foi erguida pelo povo numa faixa de
dois quilômetros quadrados de terra que foi doada pelo Sargento Mor Jerônimo
Xavier ao São Gonçalo. Outra versão dá conta de que a construção desta Igreja
foi feita pelo próprio Sargento Mor. Mais verossímil se é que assim podemos
chamar, é a narrativa de que a construção da Matriz se deve ao Major Antônio
Gonçalves da Silva que motivado por sua esposa, ao erguer um casarão no Arraial
do Brejo das Almas aproveitou o ensejo e construiu a Igreja Matriz. Nada no
entanto confirma nenhuma dessas versões. O certo é que esta Igreja é a primeira
do Brejo, pois a ela o Padre Augusto Prudêncio da Silva que faleceu em 1931 se
referia como bicentenária. Havia livros e farta documentação que era guardada
no porão que dava acesso ao altar mor entrando pela sacristia à esquerda onde
seguramente constava o “registro de nascimento e batistério” de nossa primeira
igreja. Todos estes livros e documentos, entretanto, foram queimados
propositadamente pelo Padre Salustiano Fernandes dos Anjos, o Padre Salú, que sucedeu
o Padre Augusto. É certo, no entanto, que a conclusão daquela pequena capela,
hoje nossa Igreja Matriz se deu no ano de 1768. No compulsar de alguns livros
podemos encontrar um tal de Joaquim Benedito do Amaral, natural da antiga Serro
Frio, colaborando com a construção da Matriz na condição de Mestre de Obras, no
ano de 1764 o qual veio a falecer exatamente no ano de sua inauguração, em
1768. Essa ultima versão era sustentada pelo Deputado e ex-prefeito do Brejo
Feliciano Oliveira. Repito que nenhuma dessas versões teve sua veracidade
confirmada. Muito já pesquisei nesse sentido e hoje é tudo que sei. Apesar de
sua má fama o Padre salú foi responsável por importante reforma na Matriz no
que tange a parte outrora ladrilhada enquanto que seu antecessor o Padre
Augusto com a mão de obra do Carpinteiro Antônio Carapina responde pelos
altares mores, abóboda e assoalhos de madeira lá pelos idos de 1914-1915. Ali existiam
muitas sepulturas o que indica ter sido aquele local o antigo cemitério do
lugar. Durante as escavações daquela área nas administrações do Dr. Paulo
Cerqueira e do Dr. João Bawden no sentido de nivelar a praça muitas ossadas
humanas foram encontradas.
E tenho dito.
*O autor nasceu no Brejo das
Almas.