*Enoque Alves Rodrigues
Recebi do
amigo Dr. Charles Luis, convite que muito me honrou para participar dos
festejos comemorativos pelos noventa anos de emancipação político
administrativa de nossa Cidade de Francisco Sá ou Brejo das Almas. No entanto,
compromissos profissionais impossibilitam minha presença ao evento. Por este
motivo, fisicamente distante, envio à minha Cidade e ao meu povo Brejeiro, as mais
sinceras e cordiais felicitações seguidas de algumas singelas palavras.
Ao
comemorarmos, festivamente uma data tão importante para o calendário de nossa
terra e de nosso povo, não podemos nos esquecer daqueles que um dia lutaram e
muitas vezes tombaram no sentido de que tudo isso que hoje vivenciamos se realizasse.
Os grandes homens que hoje conduzem com eficiência os destinos deste nosso pujante
Município rumo a excelência em todos os seus aspectos, foram, de igual forma,
precedidos por outros empreendedores contumazes que deixaram para todos nós,
brejeiros, seus pósteros, obras magnificas, indissociáveis de suas impolutas
figuras. Sensíveis que somos a tudo o que se encontra a nossa volta, no brejo
ou fora dele, não nos é preciso seguir uma cronologia exata para nos depararmos
com aqueles que deram os primeiros passos na construção de nosso Município para
que ele se transformasse no que hoje é. Certamente que indispensáveis se
fizeram as incontáveis idas e vindas de muitos Joãos de barro ás Lagoas que
antes existiam em busca da principal matéria prima com a qual dariam início à
edificação de um amontoado de pequeninas casas que se chamaria Brejo das Almas e
depois Francisco Sá.
A história do Brejo
começou em 1704. Engana-se quem pensa que a história de um Município só se
inicia quando ele atinge a sua emancipação. A emancipação é apenas uma etapa no
processo histórico de desenvolvimento político, cultural, social e econômico de
um núcleo demográfico e sua respectiva geografia.
Da chegada a
estas plagas na tarde do dia 02/11/1704 acompanhado por vinte homens, de um
Sertanista de nome Antônio, Paulista de Santos, filho de Maria Gonçalves
Figueira de quem herdou o sobrenome e de Manoel Afonso Gaia, remanescente da
expedição de um certo Fernão, até o primeiro tremor no dedo indicador de um
Coronel de nome Jacinto que acusaria, tempos depois, a presença do Parkinson,
durante acirrada discussão na Câmara Municipal da bela MOC, cuja pauta era
exatamente a aprovação do projeto de lei que emanciparia (07/09/23) o Brejo das
Almas, ou Francisco Sá (17/12/38), muitas águas rolaram no Gorutuba e no São
Domingos.
De 08/01/38
desencarne de Jacinto ao decreto lei 148 de 17/12/38 transcorreram-se onze
meses. Promoveu a alteração toponímica do Município de São Gonçalo do Brejo das
Almas para Francisco Sá, ilustre Ministro de Viação, mas que ao contrário do
grande Jacinto, nada fizera pelo Brejo. Ao invés de aproveitarem o calor dos
acontecimentos da perda irreparável do grande Líder, oferecendo à Cidade pela
qual lutou e finalmente emancipou, o seu nome, deram a ela o nome de alguém muito
importante para o Brasil, mas insignificante para o Brejo.
Do inicio da
emancipação feminina em 1940 à construção do Mariquinha Silveira que foi
concebido nos anos 1950 onde foi criado o curso ginasial que preparava as
mulheres para uma nova vida até então restrita a lavoura e cuidar da casa, foram
dois lustros. Da transformação e mudança de nome do Mariquinha Silveira para
Tiburtino Pena na década de 1960 foi um pulo. Da implantação do curso do
Magistério no Tiburtino Pena em 1965 que capacitava as nossas deusas brejeiras
a voos mais altos no campo do intelecto até a formação da primeira turma de
normalistas em 1967 passaram-se dois anos somente. Do luto velado e permanente
das viúvas até a participação ainda que tímida do divino ser brejeiro (mulher)
na política local foi uma eternidade. Pouco mais de uma dezena de nossas
guerreiras chegaram à Vereança. Em 2004 tivemos no Brejo a primeira candidata
mulher á Prefeitura. Vários partos de porco espinho se deram para que tudo isso
se tornasse realidade. Barreiras e entraves até curiosos, pacientemente,
superados, fundem a história da emancipação da mulher brejeira com a do próprio
Brejo. Não, nenhum machismo: o mundo era assim e não sei se você sabe, o nosso
brejo querido é parte integrante do mundo.
Das missas rezadas
em latim nos áureos tempos do despojado Augusto á modernidade da igreja do
abastado Silvestre, muitos badalos bateram. A centenária palmeira, postada ali,
silenciosa, a guisa de atalaia não me deixa mentir.
Da fartura do ouro
branco (algodão e alho) dos meus tempos de menino ás secas que esturricavam o
solo sob o pipocar de mamonas e fretenes tristes das cigarras não
se passou muito tempo. Somente 18 anos, mas que foram suficientes para me
tangerem da vida cotidiana do Brejo que até hoje, seguramente, ainda “lamenta” a
minha perda, não obstante não existir ali uma vivalma sequer que me conheça
pessoalmente. Quanto a mim, então, mesmo tendo conseguido tudo que quis
mediante trabalho árduo, mas que me apraz, devo dizer, sem falso romantismo, que
continuo escutando o gorjear dos pássaros brejeiros, o barulho de todos os rios
que o banham, o cantar da juriti e das revoadas de suas maritacas, assim como
do coaxar vespertino de “meu igual” cururu na Lagoa das Pedras de antanho.
Quantas
eleições foram ganhas com a palavra dada e cumprida apenas com o fio do bigode?
Do mesmo jeito quantas eleições foram perdidas por que alguém deixou de cumprir
promessas vazias feitas no afã de iludir o povo, soberano em sua sabedoria?
Enquanto
isso, na velha Câmara, de Jacinto a Rogério, de Augusto a Gentil, de Francelino
a Jacinto, o Teixeira, de Zé de Deus a Euler, de Adalberto a Valda, de Zé Nunes
a Alineu, de Idalino a Ronaldo apenas para citar alguns, até os dias atuais
quantos projetos, simples e polêmicos foram aprovados ou deixados de aprovar
debaixo de acaloradas discussões?
E
na prefeitura do mestre Benfica? Quantos já se passaram? O que fizeram ou
deixaram de fazer?
E
no São Dimas, quantas vidas foram salvas? Quantas pereceram? Se salvas, é o
estado se fazendo presente no amparo ao Cidadão pagador de impostos. Se perdidas,
aonde, Deus, se achava o estado? O que aconteceu? Por que diabos deixou que o
Cidadão Brejeiro morresse? Bem, é fácil de explicar: Cidadãos morrem aqui e em
qualquer lugar, até mesmo na Suíça! Ok, parcialmente de acordo, mas você vive
na Suíça ou no Brejo? Então: por mim ninguém morreria em parte alguma, mas se
alguém tem de morrer desamparado que não seja em meu Brejo, uai?
Acalmem
se, por favor... Chega de urticárias... Não empurrem... Vamos devagar por que
eu tenho pressa. Mas ainda não acabei...
Dos
digníssimos homens públicos do passado sobre os quais falei acima ao mais vil e
reles que constrangeu e decepcionou a nossa gente até o palanque comemorativo
das atuais festividades onde desfilam consciências imaculadamente límpidas e
comprometidas com as causas dos menos favorecidos, revezando-se em seus
comedidos discursos onde não tem vez e voz as vaidades e promoções pessoais
mais apenas às alusões ao que representa este dia 07 de setembro de 2013 para o
nosso lugar, quanto tempo se passou? Muito, mas valeu a pena!
Portanto,
regozijam-se Brejeiros. Saiam ás ruas em desfile e brindem essa data. Temos muito
que comemorar. Os tempos são outros. As mudanças que se faziam necessárias
estão, aos poucos, se processando. Estejam certos que o amor filial que vocês
demonstram á querida mãe que se chama Brejo das Almas é recíproco e verdadeiro.
A jovem e bem cuidada senhora de noventa anos, alegre e feliz, comovida e
carinhosamente lhes agradecem.
E
tenho dito.
*O
autor nasceu no Brejo.