Enoque Alves Rodrigues
“Eu sou terrível, e é bom parar. Se desse jeito, me provocar. Você não sabe, de onde eu venho. O que eu sou e o que tenho. Eu sou terrível, vou lhe dizer. Que ponho mesmo, pra derreter...”
Todos nós Brasileiros certamente já ouvimos esta musica gravada por Roberto Carlos Braga, em 1968, pelo menos umas quinhentas vezes.
Brejo das Almas, ou Francisco Sá, igual a ti, outra não ha. Não, na crônica de hoje, veremos que pelo menos neste particular, o Brejo das Almas ou Francisco Sá é igual a todas e quaisquer cidadezinhas encravadas em algum ponto do infinito deste imenso Brasil.
Brejo das Almas, ou Francisco Sá, igual a ti, outra não ha. Não, na crônica de hoje, veremos que pelo menos neste particular, o Brejo das Almas ou Francisco Sá é igual a todas e quaisquer cidadezinhas encravadas em algum ponto do infinito deste imenso Brasil.
Refiro-me a aqueles nossos irmãos que muitos que se dizem normais insistem em trata-los como se loucos fossem, que andam a vagar sem rumo, pelas ruas destas cidades, tendo como ponto de referência para repousar seus esquálidos e desnutridos corpos, viadutos, pontes, marquises ou escadarias de uma igreja qualquer. Geralmente ninguém, nem eles próprios, sabem de onde vieram, tampouco para onde pretendem ir. Eles parecem brotarem-se do nada e assim, ou seja, como se nada fossem, vivem à mercê da boa vontade alheia ou da crueldade de alguns.
O Brejo das Almas tinha e ainda tem os seus “loucos”. Recordo-me naqueles tempos de muitos, entre eles, Pascomiro, Maria Bocão, Boneca Preta, Chuteira e, evidentemente, a minha “jóia do brejo”, que homenageio na crônica de hoje: Roberto Carlos do Mato. Não, não me perguntem qual era o seu nome de batismo, pois não saberia responder. Tudo o que sei, -e os queridos conterrâneos e leitores que me acompanham sabem sempre procuro primar pela veracidade dos fatos que narro-, é que ele era desprovido de qualquer semelhança física com o rei da jovem guarda. Era preto, meio alto, braços longos, magérrimo, feio, -bem o original também não é bonito- e tinha, ao contrário dos outros pseudo-retardados, uma ocupação: era coletor de lavagens para porcos. Ele ia de porta em porta, no Brejo das Almas de então, com dois vasilhames às mãos coletar restos mal-cheirosos de comida, sempre seguido, por nuvens densas de moscas, ávidas por aqueles banquetes.
Deram-lhe a alcunha de “Roberto Carlos” porque ele conhecia de cor e salteado, todas as musicas do rei do iê iê, iê, as quais cantava durante vinte e quatro horas por dia, todos os dias, todas as semanas e todos os anos. Já o “do Mato”, claro, era uma alusão ao fato de ele ser e viver no Brejo das Almas cercado até hoje por densas matas.
Quando Roberto Carlos, o verdadeiro, lançava um novo long-play, os botecos e inferninhos da época, os tocava naquelas máquinas onde um gaiato qualquer coloca uma ficha e escolhe a musica que quer ouvir. Nesse instante, o nosso Roberto Carlos do Mato se postava à porta do estabelecimento e, com os ouvidos atentos e antenados, ouvia, absorvia, ruminava tais melodia e, pasmem, seus sabichões, no dia seguinte, na base da decoreba, já estava a nos alegrar cantarolando em toda parte musica e letra de RC. Para ser sincero com vocês, a letra da musica “eu sou terrível” com a qual inicio esta crônica, assim como muitas outras, consegui aprender de tanto ouvir o nosso Roberto Carlos do Mato cantar.
Certa ocasião estava eu sentado na Praça Jacinto Silveira pensando na “morte da bezerra” ou sobre uma futilidade qualquer, quando a minha frente surgem todos os “loucos” do brejo tendo a frente Roberto Carlos do Mato, cantando a todo pulmão, acompanhado por Zezim Tocador. Quando menos esperava, eis que lá estava eu, no meio deles, em algazarra, seguindo todos nós, cantando as musicas do Roberto, como em procissão, rumo ao velho cemitério. Até ai, nada de mais... Mas porque fomos cantar no cemitério? E como é que eu vou saber! Por acaso são coerentes as atitudes dos “loucos”? Eu era apenas mais um “louco” no meio daqueles muitos “loucos” do antigo Brejo, que de loucos mesmo, não tinham nada.
É...
Por vezes, é melhor nos fingirmos de “loucos” e surpreendermos com inteligência inesperada, que nos fazermos de intelectuais e decepcionarmos com tolices inescrupulosas. Visitem meu novo blog. Pra variar, é sobre Francisco Sá. http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
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