sábado, 27 de setembro de 2014

FIGUEIRA E O BREJO DAS ALMAS

Figueira e o Brejo das Almas

*Enoque Alves Rodrigues

Quando no dia 30 de Outubro de 1672 o Sertanista Antonio Gonçalves Figueira, Paulista nascido em Santos, filho de Maria Gonçalves Figueira e de Manoel Afonso Gaia fez sua primeira viagem integrando a expedição das esmeraldas liderada por Fernão Dias Paes e Borba Gato rumo ao norte de Minas Gerais, aquela localidade nada mais era senão um amontoado de matas virgens onde apenas índios e a pintada reinavam. Figueira tinha fama de grande caçador e quando saia à caça jamais voltava de mãos abanando.

Nesta sua primeira viagem em uma expedição a qual ficaria eternamente gravada nos anais da história em consequência de vários e insólitos episódios o grande Antonio Gonçalves Figueira, nada mais era senão um simples ajudante de ordens de seu cunhado Matias Cardoso de Almeida, Tenente naquela expedição. As atribuições de um ajudante de ordens daqueles tempos se restringiam a preparar as montarias para mais graduados montarem além de se responsabilizar pelos suprimentos da tropa incluindo ai as caçadas com as quais a alimentava bem como da cozinha onde preparava o rango da moçada.

Esta primeira expedição serviu-lhe muito mais como experiência do que não deveria fazer caso fosse o desejo lograr êxito na busca das esmeraldas e outras pedras preciosas por que ao contrário do que lhe ocorria quando saia à caça voltou de mãos abanando por que nenhuma pedrinha sequer conseguira colher. Na volúpia em busca das verdinhas o Bandeirante Fernão desembestou-se pelos lados da Bahia enquanto que Figueira, seu cunhado Matias Cardoso retornaram a São Paulo para reestudarem novas tentativas que de fato viriam a efeito nos anos de 1.694 e 1698, quando, finalmente definiram um rumo certo: o norte de Minas Gerais ou especificamente em Itacambira ou mais especificamente ainda na Lagoa Vapabuçú onde segundo davam conta às más línguas o próprio Fernão, assim como havia passado e colhido algumas pedras assim como muito antes haviam feito Sebastião Tourinho e Antonio Dias Adorno.

Só que também desta vez o trem não deu nada certo para eles por que na tal Jaíba coberta por matas densas e fechadas bem como por vegetações rasteiras idênticas rodeadas, pra variar, pelos montes claros que mais se pareciam com as torres gêmeas de tão iguais que eram acabaram por desorienta-los por que por mais que andassem acabavam saindo sempre no mesmo lugar. Aborrecidos e extremamente desapontados depois de darem sete voltas retornando sempre ao mesmo ponto de partida (hoje essa localidade se chama sete passagens), acabaram por abandonar a expedição das esmeraldas a qual ainda permaneceu por ali durante sete anos, tendo cada qual formado sua pequena expedição sendo que a do Figueira composta por 1000 homens ganhou os rumos do rio verde grande onde se acampou e a expedição de seu cunhado Matias retornou á São Paulo margeando o rio grande passando por Miguelópolis até chegar ao vale do Paraíba do Sul onde conseguiram umas pedrinhas chinfrins, mas reluzentes.

As coisas não estavam boas para os lados de Figueira. De Santos chegou-lhe a notícia levada que foi por um mensageiro no lombo de um burro que sua mãe havia morrido. Ele, perdido naquela vasta região do norte de Minas não havia até então conseguido nada de mais significativo senão vários bornais de pedras que imaginava tratar-se de turmalina, um parente meio próximo da esmeralda. Havia ouro sim, metal preciosíssimo que ele não muito interessado colhia. Os patacões saltavam-se das entranhas da terra qual mamona estalando em nosso agreste calorento. A fome do ouro com o qual saciavam a fome do maldito El Rei de Portugal já havia ainda não havia passado, mas a moda agora era mais para as esmeraldas e turmalinas. Por isto fazendo couro á imensa expedição de Fernão Dias Paes Leme a de Figueira se denominava esmeraldinha.

Antonio Gonçalves Figueira acabou dono de uma vasta faixa de terras subdividida em várias fazendas denominadas de Jaíba, Olhos D’água e Colônia dos Montes Claros. Foi com a intenção de unir os Montes Claros á região do rio Gorotuba e de lá até a Bahia, que ele aos treze dias do mês de outubro de 1704 organizou uma diminuta expedição composta de apenas vinte homens partindo em direção ao nordeste quando depois de percorrer vários dias entre idas e vindas ou mais vindas que idas porque seguia se perdendo e voltando sempre ao mesmo lugar, caindo e se levantando, na histórica tarde do dia 2 de novembro daquele mesmo ano sem mais nem menos, inesperadamente, viu-se na barriga da serra do catuni, ao lado de uma linda mais singela lagoa que desaguava em um riacho com nascentes naquela mesma serra, cuja lagoa se denominava "das pedras" que ao contrário do que ele pensava e buscava, não eram preciosas, mas pedra mesmo.

Por ser já tarde, dormiu por lá onde também por ser dia de finados acabou por fincar um cruzeiro de madeira tosca ao pé do qual ele juntamente com os seus vinte comandados rezou e que batizaram de "Cruz das Almas das Caatingas do Rio Verde", onde algum tempo depois construíram uma pequenina Igreja onde depositaram a imagem de São Gonçalo que veio se tornar patrono do lugar. E o resto da história todos conhece. É de domínio público.

O Capitão Antonio Gonçalves Figueira (outros historiadores utilizam "Figueiras") não era, efetivamente, o que podia se denominar de um destemido e inteligente Bandeirante, mas, convenhamos, justiça lhe seja feita, não fossem suas trapalhadas, seus perdidos, sua falta de foco e ausência total de bússola, jamais teria chegado um dia ao meu, ao nosso e ao seu Brejo das Almas querido. Quiçá, tivesse realizado outras descobertas em outras plagas lá pelos lados da não menos querida Bahia. Mas, quis Deus que ele não fosse tão longe e assim conseguiu, mesmo sem querer, querendo, dando-nos de presente o Brejo das Almas, ou Francisco Sá, "beldade do norte de Minas", que hoje cresce a cada dia, sonhando, feliz, a cada despertar, com a aproximação do dia em que real e definitivamente se cumpra mais um vaticínio daquele "Bandeirante trapalhão" quando disse que o lugarejo se tornaria um comércio próspero, não só pela sua posição geográfica, como também pelas riquezas naturais de suas terras.

Que Deus o ouça.

E tenho dito!

*O autor nasceu no Brejo das Almas

sábado, 6 de setembro de 2014

PARABÉNS MEU BREJO DAS ALMAS PELOS SEUS 91 ANOS DE EMANCIPAÇÃO


parabéns meu brejo das almas pelos seus 91 anos de emancipação

 
Brejo das Almas ou Francisco Sá, igual a ti outro não há...”


*Enoque Alves Rodrigues

“Elevado à categoria de município com a denominação de Brejo das Almas, pela lei estadual n°. 843, de 07-09-1923, desmembrado de Montes Claros e Grão Mogol. Sede no antigo distrito de Brejo das Almas. Constituído do distrito sede. Instalado em 07-09-1924...”
 
           Amanhã, domingo, 07/09/2014 o meu, o seu, o nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá estará completando 91 anos de emancipação político administrativa. Tenho visto alguns folders falando em 90 anos. Acredito que se refiram ao ano de 07/09/1924 quando se instalou em definitivo a sede administrativa do Município e nesse caso estaremos comemorando realmente 90 anos de existência da Cidade e 91 de sua emancipação.
 
           Ao comemorarmos, festivamente uma data tão importante para o calendário de nossa terra e de nosso povo, não podemos nos esquecer daqueles que um dia lutaram e tombaram no sentido de que tudo isso que hoje vivenciamos se realizasse. Os grandes homens que hoje conduzem com eficiência os destinos deste nosso pujante Município rumo a excelência em todos os seus aspectos, foram, de igual forma, precedidos por outros empreendedores contumazes que deixaram para todos nós, brejeiros, seus pósteros, marcas indeléveis de suas impolutas figuras. Sensíveis que somos a tudo o que se encontra a nossa volta, no Brejo ou fora dele, não nos é preciso seguir uma cronologia exata para nos depararmos com aqueles que deram os primeiros passos na construção de nosso Município para que ele se transformasse no que hoje é. Certamente que indispensáveis se fizeram as incontáveis idas e vindas de muitos Joãos de barro ás Lagoas que antes existiam em busca da principal matéria prima com a qual dariam início à edificação de um amontoado de pequeninas casas que se chamaria Brejo das Almas e depois Francisco Sá.

 A história do Brejo começou em 1704. Engana-se quem pensa que a história de um Município só se inicia quando ele atinge a sua emancipação. A emancipação é apenas uma etapa no processo histórico de desenvolvimento político, cultural, social e econômico de um núcleo demográfico e sua respectiva geografia.

 Da chegada a estas plagas na tarde do dia 02/11/1704 acompanhado por vinte homens, de um Sertanista de nome Antônio, Paulista de Santos, filho de Maria Gonçalves Figueira de quem herdou o sobrenome e de Manoel Afonso Gaia, remanescente da expedição de um certo Fernão, até o primeiro tremor no dedo indicador de um Coronel de nome Jacinto que acusaria, tempos depois, a presença do Parkinson, durante acirrada discussão na Câmara Municipal da bela MOC, cuja pauta era exatamente a aprovação do projeto de lei que emanciparia (07/09/23) o Brejo das Almas, ou Francisco Sá (17/12/38), muitas águas rolaram no Gorutuba e no São Domingos.

 De 08/01/38 desencarne de Jacinto ao decreto lei 148 de 17/12/38 transcorreram-se onze meses. Promoveu a alteração toponímica do Município de São Gonçalo do Brejo das Almas para Francisco Sá, ilustre Ministro de Viação, mas que ao contrário do grande Jacinto, nada fizera pelo Brejo. Ao invés de aproveitarem o calor dos acontecimentos da perda irreparável do grande Líder, oferecendo à Cidade pela qual lutou e finalmente emancipou, o seu nome, deram a ela o nome de alguém muito importante para o Brasil, mas insignificante para o Brejo.

 Do início da emancipação feminina em 1940 à construção do Mariquinha Silveira que foi concebido nos anos 1950 onde foi criado o curso ginasial que preparava as mulheres para uma nova vida até então restrita a lavoura e cuidar da casa, foram dois lustros. Da transformação e mudança de nome do Mariquinha Silveira para Tiburtino Pena na década de 1960 foi um pulo. Da implantação do curso do Magistério no Tiburtino Pena em 1965 que capacitava as nossas deusas brejeiras a voos mais altos no campo do intelecto até a formação da primeira turma de normalistas em 1967 passaram-se dois anos somente. Do luto velado e permanente das viúvas até a participação ainda que tímida do divino ser brejeiro (mulher) na política local foi uma eternidade. Pouco mais de uma dezena de nossas guerreiras chegaram à Vereança. Em 2004 tivemos no Brejo a primeira candidata mulher a Prefeitura. Vários partos de porco espinho se deram para que tudo isso se tornasse realidade. Barreiras e entraves até curiosos, pacientemente, superados, fundem a história da emancipação da mulher brejeira com a do próprio Brejo. Não, nenhum machismo: o mundo era assim e não sei se você sabe, o nosso brejo querido é parte integrante do mundo.

 Das missas rezadas em latim nos áureos tempos do despojado Augusto a modernidade da igreja do abastado Silvestre, muitos badalos bateram. A centenária palmeira, postada ali, silenciosa, à guisa de atalaia não me deixa mentir.

 Da fartura do ouro branco (algodão e alho) dos meus tempos de menino ás secas que esturricavam o solo sob o pipocar de mamonas e fretenes tristes das cigarras não se passou muito tempo. Somente 18 anos, mas que foram suficientes para me tangerem da vida cotidiana do Brejo que até hoje, seguramente, ainda “lamenta” a minha perda, não obstante não existir ali uma vivalma sequer que me conheça pessoalmente. Quanto a mim, então, mesmo tendo conseguido tudo que quis mediante trabalho árduo, mas que me apraz, devo dizer, sem falso romantismo, que continuo escutando o gorjear dos pássaros brejeiros, o barulho de todos os rios que o banham, o cantar da juriti e das revoadas de suas maritacas, assim como do coaxar vespertino de “meu igual” cururu na Lagoa das Pedras de antanho.

 Quantas eleições foram ganhas com a palavra dada e cumprida apenas com o fio do bigode? Do mesmo jeito quantas eleições foram perdidas por que alguém deixou de cumprir promessas vazias feitas no afã de iludir o povo, soberano em sua sabedoria?

 Enquanto isso, na velha Câmara, de Jacinto a Rogério, de Augusto a Gentil, de Francelino a Jacinto, o Teixeira, de Zé de Deus a Euler, de Adalberto a Valda, de Zé Nunes a Alineu, de Idalino a Ronaldo apenas para citar alguns, até os dias atuais quantos projetos, simples e polêmicos foram aprovados ou deixados de aprovar debaixo de acaloradas discussões?

 
            E na prefeitura do mestre Benfica? Quantos já se passaram? O que fizeram ou deixaram de fazer?

 No São Dimas, quantas vidas foram salvas? Quantas pereceram? Se salvas, é o estado se fazendo presente no amparo ao Cidadão pagador de impostos. Se perdidas, aonde, Deus, se achava o estado? O que aconteceu? Por que diabos deixou que o Cidadão Brejeiro morresse? Bem, é fácil de explicar: Cidadãos morrem aqui e em qualquer lugar, até mesmo na Suíça! Ok, parcialmente de acordo, mas você vive na Suíça ou no Brejo? Então: por mim ninguém morreria em parte alguma, mas se alguém tem de morrer desamparado que não seja em meu Brejo, uai?

 Acalmem se, por favor... Chega de urticárias... Não empurrem... Vamos devagar por que eu tenho pressa. Mas ainda não acabei...

 Dos digníssimos homens públicos do passado sobre os quais falei acima ao mais vil e reles que constrangeu e decepcionou a nossa gente até o palanque comemorativo das atuais festividades onde desfilam consciências imaculadamente límpidas e comprometidas com as causas dos menos favorecidos, revezando-se em seus comedidos discursos onde não tem vez e voz as vaidades e promoções pessoais mais apenas às alusões ao que representa este dia 07 de setembro de 2014 para o nosso lugar, quanto tempo se passou? Muito, mas valeu a pena!

 
             Portanto, regozijam-se Brejeiros. Saiam ás ruas em desfile e brindem essa data. Temos muito que comemorar. Os tempos são outros. As mudanças que se faziam necessárias estão, aos poucos, se processando. Estejam certos de que o amor filial que vocês demonstram á querida mãe que se chama Brejo das Almas é recíproco e verdadeiro. A jovem e bem cuidada senhora de noventa e um anos, alegre e feliz, comovida e carinhosamente lhes agradecem.

             E tenho dito.

*O autor nasceu no Brejo.