segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO 2013, BREJEIROS!


FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO 2013, BREJEIROS!
*Enoque Alves Rodrigues

Alô, Brejeiros. Alô meu povo!

“Ói nóis aqui travêiz!”

Por mais um ano estivemos juntos e separados. Juntos, por que ficamos, através de minhas crônicas, que são postadas neste Blog inteiramente dedicado ao Brejo das Almas ou Francisco Sá e seu povo, meus diletos conterrâneos, que sempre me prestigiaram concedendo-me a honra e privilégio de lerem aquilo que despretensiosamente escrevo. A internet, nesse sentido nos ajunta de maneira inequívoca ao ponto de nos sentirmos uma só pessoa, mesmo estando eu aqui em São Paulo há mais de 1000 quilômetros de distancia e vocês ai em meu Brejo das Almas querido.
Separados porque mesmo sendo o meu desejo, nem sempre consigo escrever-lhes com a frequência e assiduidade que gostaria. Principalmente neste ano de 2012 que se finda, devido eu ter abraçado outras atividades que, confesso-lhes, estão consumindo muito do meu já escasso tempo.

Foi muito bom contar com vocês durante mais este ano. Espero poder continuar sendo digno de suas atenções e credibilidades no próximo ano de 2013. É certo que não tenho a pretensão de agradar a todo mundo. Assim sendo talvez seja possível que os meus escritos mesmo sendo referentes a épocas remotas e extemporâneas aos dias atuais, tenham em algum momento desagradado alguns ou até mesmo frustrado. Mas isso para mim não tem a menor importância. O importante, na verdade, é a consciência tranquila de que o que me motiva está sendo cumprido, ou seja, compartilhar com muitos de vocês que não tiveram oportunidades de tomar conhecimento a respeito de fatos de há muito ocorridos em nosso Brejo, que o tenham agora através destas crônicas, até porque a maioria de minhas narrativas não se encontra ainda registrada nos anais da história. Elas foram passadas pelo boca a boca, de pai para filho e divulga-las, hoje, possibilita que estes fatos não venham morrer um dia ou cair no esquecimento, deixando os nossos pósteros órfãos.

Desejo a todos vocês meus conterrâneos os mais puros e sinceros votos de um Feliz Natal e um ano de 2013 cheios de Paz e muitas realizações, em vossas vidas pessoais ou profissionais.

Lembrando sempre que querer é poder. Desde que você vá á luta e acredite em você, próprio. Mas não se esqueça de que do Céu não cai nada. Aliás, aqui em São Paulo, atualmente, nem chuva está caindo.

Não tirarei férias neste fim de ano. Portanto o nosso próximo encontro ocorrerá somente na primeira semana de Janeiro/2013 em minha primeira crônica de mencionado ano.
Um forte abraço!

*O autor nasceu em Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 1 de dezembro de 2012

CENAS BREJEIRAS 4 - CLEONICE



CENAS BREJEIRAS 4 – CLEONICE

*Enoque Alves Rodrigues

Ela nasceu no Catuni num tempo em que o ouro branco, algodão e alho imperavam. Ainda criança veio com os pais para o centro do Brejo das Almas, Francisco Sá. Residiam, ela, a mãe, o pai e dois irmãos menores à Rua Lauro Oliveira, próximo ao Grupo Donato dos Santos. Foi matriculada no Mariquinha Silveira onde desde então passou a estudar com todo afinco. Parente distante de dona Daza, senhora influente e bem situada na sociedade Brejalmina de então, não demorou muito para que a pequena Cleonice Rodrigues Pereira, a Cléo, ainda no curso primário, despontasse para a intelectualidade, em cujo campo, surpreendentemente, trafegava com grande desenvoltura que impressionava os mais sábios brejeiros daqueles tempos. Ela discorria com total naturalidade sobre os mais variados temas.

Além de dota-la de singular inteligência, a mãe natureza também fora pródiga com Cléo no item formosura. Á maneira que ela crescia, seus dotes femininos acentuavam-se. Adolescente ainda, ela se transformou numa deusa de rara beleza. Em todas as paradas de sete de Setembro, a segurar a flâmula do Mariquinha, durante muitos anos, lá estava Cléo sempre bonita, alegre e vibrante. Mancebo algum se achava à altura da beleza e inteligência daquela beldade. Por isso ninguém se atrevia a dirigir-lhe qualquer gracejo por mais simples e despretensioso que fosse. A beleza dela ao invés de atrair, afugentava. Rapazes de famílias ricas e tradicionais de Francisco Sá se acanhavam. Bem que eles queriam se aproximar. No quesito beleza exterior até que eles se achavam arrumadinhos e não deixavam tanto a desejar, mesmo muito aquém da beleza de Cléo. Mas o problema mesmo estava no conteúdo. Na “beleza das ideias”. Ai sim, eles tremiam nas bases qual varas-verdes. Pulavam miúdos e recuavam de todo e qualquer intento. Cléo era mesmo poderosa e eles, coitados, “não tinham garrafas vazias para quebrar”. Eram quase bonitos, mas xucros. Não tinham chances. Será?

Casa Viena, assim como Casa Branca e Costa Negro, liderou o comércio de Francisco Sá durante décadas.  Ali Cleonice empregou-se na condição de balconista. A notícia correu célere qual rastilho de pólvora. Brejeiros que faziam compras na Viena difundiam a boa nova numa frenética propaganda boca-a-boca, a outros brejeiros de várias localidades, cujos comentários não se referiam a chegada de novidades da Capital, nem a preços e qualidades dos produtos que, diga-se de passagem, eram bons e imbatíveis. O que eles propagandeavam eram as curvas sinuosas da balconista que os atendera. Eles não falavam da inteligência porque no afã de observarem a beleza externa, sequer se atinham a esse tópico, para eles, desprezível.

Em pouco tempo, as vendas que já não eram poucas triplicaram. Brejeiros vinham de todas as partes. Eles chegavam e ao invés de fazerem seus pedidos paravam diante de Cléo e permaneciam estáticos por alguns minutos. Indagados por ela “o que desejam?”, mineiramente, titubeavam, respondendo-a:
-Não sei... Parece que eu vim aqui comprar alguma coisa da qual não me lembro! Depois, disfarçadamente, pediam um produto qualquer e saiam.

Numa manhã quente outonal, a cidadezinha de Brejo das Almas, terra dos meus encantos, amanheceu triste. Não demorou muito para que os falatórios começassem a tomar conta do lugar. A bela da Casa Viena sumira. Muitos acorreram à Rua Lauro Oliveira. Os portões de madeira rústica do velho casarão onde ela morava, jaziam silentes e adormecidos. Os laranjais que outrora, ali existiam cujo perfume das floradas insistia em competir-se, inutilmente, com o perfume natural da diva, apesar do vento que varria as ruas, não tremulavam mais. As maritacas comumente barulhentas em suas algazarras agora mal se entreolhavam. Pintassilgos, sabiás, pássaros-pretos e beija-flores estavam entristecidos. A velha paineira, testemunha ocular e privilegiada daquela beleza agora rangia, chorosa. Pudera a fada, cuja presença radiante lhes alumiava os desejos de seguirem em frente, não mais se encontrava. 

Rua doutor Santos, em frente ao número 127, em Montes Claros. Naquela época neste número ficava uma pequena loja que depois se fez grande. Parece-me que a mesma se denominava Geraldino Boutique. Não tenho certeza, sou brejeiro e apesar de o Brejo das Almas se encontrarem a apenas dez léguas de distância de Montes Claros, posso dizer que pouco ou quase nada conheço da bela MOC.

Eu descia mencionada rua. Por alguns instantes pensei estar sonhando. Não poderia ser verdade. Não era Cleonice... 

Era Cleonice, sim. Mais bonita impossível. Mais simples bem isso eu não poderia saber. Mesmo menino, eu também fazia parte do rol dos que tinham medo de se aproximarem dela. Não por eu ser feio, pois conforme meu pai me dizia, “eu era muito bonito devido parecer com ele”. Mas eu não estava certo se a minha inteligência a alcançaria. Eu também não era nenhum “garoto papo firme e que eu saiba, o Roberto, jamais falou de mim”. Foi assim que ao avista-la do outro lado, timidamente parei. Atravessei a rua e estendendo lhe a mão em cumprimento, cheio de simpatia, tagarelei:

-Olá, Cléo, como vai? Tudo bem? Você sumiu do Brejo! O que fazes em Montes Claros? Todos nós sentimos sua falta. Você está morando por aqui? E seus pais, como estão?

Ao contrário do que eu imaginava em minha pobre ignorância que envergonharia a mais infeliz e reles das criaturas, aquele divino ser, simplesmente, retribuiu-me o aperto de mão e após abrir-me um largo sorriso, calma e educadamente, como se fossemos velhos amigos, passou a responder o meu sofrível questionário. Falou-me que estava muito bem. Que havia saído do Brejo temporariamente apenas para acompanhar os pais que estavam em Montes Claros a trabalho. Que ela estava fazendo curso de especialização. Que também sentia muitas saudades do Brejo e de sua gente. Que voltaria em definitivo no próximo ano, etc.

Enquanto ela falava, eu pensava: Meu Deus, como Cléo era simples! Mesmo farta em tudo, era de uma singeleza sem tamanho. Quão precipitados fomos por não termos nos aproximado dela antes!  Por quais razões havíamos nos subestimado tanto ao ponto de nos privarmos do convívio de uma pessoa tão sábia e iluminada? Quantas vezes deixamos de avançar alguns degraus na escada dolorosa da vida e do saber apenas por imaginarmos que os nossos sentimentos não seriam correspondidos?
Enquanto conflitava com o meu eu, Cléo, como se estivesse lendo os meus previsíveis pensamentos, se despedia, com esta afirmativa.

-Foi muito bom falar com você. Aliás, pensando bem, a gente jamais se falou. Eu tinha vontade de conversar com você, mas sou muito tímida e aguardava iniciativa sua nesse sentido. Também não entendo porque os jovens do Brejo me evitam tanto. Eles praticamente me isolam.

Diabos, isso já era covardia. Eu não estava ouvindo aquilo!

Informada de que, assim como ela, todos nós éramos igualmente tímidos e o pior, que sua beleza e inteligência nos assustavam, sorriu e acrescentou:

Assim fica difícil. Vocês não se aproximam por acharem que sou mais bonita e inteligente que vocês e eu, de minha parte, não me aproximava por pensar que vocês fosse um bando de metidos. Desse jeito viveríamos cem anos no Brejo sem nos falarmos e depois, morreríamos todos com a certeza plena de que as nossas piores e mutuas impressões eram verdadeiras. Como? Se jamais nos falamos!

É...

Por vezes, diziam os antigos, se você quer conhecer e se fazer conhecido, então, fala Mané.

E tenho dito!

*O autor nasceu em Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

Aos meus leitores:

Á partir de outubro/12 postarei somente uma crônica por mês. Entre as inúmeras atividades difíceis de conciliar, também estou colaborando ativamente com uma revista de grande circulação nacional e internacional voltada à divulgação do espiritismo.

Abraços.

Enoque.