sábado, 10 de outubro de 2015

O BREJO E SUA GENTE X - FELICIANO OLIVEIRA



O BREJO E SUA GENTE X – FELICIANO OLIVEIRA

*Enoque Alves Rodrigues

O conteúdo físico que possuo sobre Feliciano Oliveira, resultado de pesquisas insones dos velhos tempos em que “ainda se compulsavam livros”, é tão robusto que mesmo tendo deixado para referi-lo por ultimo, nesta série com a qual considero finalizada minha modesta colaboração ao povo de minha terra, ainda tive de reduzir para não exceder as 1240 palavras deste espaço e não ofuscar personalidades anteriormente mencionadas de igual importância para a nossa cidade de Brejo das Almas ou Francisco Sá. Filho do fazendeiro e político de renomada liderança local da UDN, Lauro Oliveira, Feliciano nasceu no Município de Brejo das Almas onde iniciou sua longa vida pública a qual sempre esteve voltada para a qualidade. Ao contrário de alguns que o antecederam na Prefeitura do Brejo, assim como de uma boa parcela de seus contemporâneos, Feliciano sempre foi de fidelizar a excelência em todas as suas realizações. 

Menino, ainda, colaborava com o pai na administração da produtiva fazenda quando já sonhava ter em mãos ás rédeas dos destinos do Município de Francisco Sá. Com doze anos, a contragosto, foi enviado para estudar em Montes Claros e Depois Belo Horizonte, retornando ao Brejo depois de concluir seus estudos. Determinado a seguir carreira na politica, estabeleceu como Quartel General a própria fazenda do pai. Dali ele disparava petardos á políticos de renome e farta projeção local informando sobre sua intenção de se candidatar a algum cargo eletivo por onde certamente conseguiria ser útil a sua Cidadezinha de Brejo das Almas que amava. Feliciano, assim como a maioria de nós, Brejeiros, era um eterno inconformado com certos privilégios que outras cidades vizinhas tinham em detrimento de nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá. 

De seu posto de observação na fazenda encravada entre as montanhas Brejeiras refletia e matutava, com inquietude juvenil, o quanto a Política Social havia sido cruel para com sua terra e sua gente. De vida simples, mas abastada com aquilo que a terra mãe produzia, não conseguia entender e aceitar passivamente os motivos pelos quais poucos tinham tanto enquanto muitos não tinham nada. De onde, meu Deus, havia brotado tanta miséria?

- “Prefeito Feliciano, o senhor só vai conseguir ajudar a sua cidade e o seu povo se for um excelente prefeito. O Brejo das Almas já teve muitos prefeitos bons anteriores ao senhor e veja, entretanto, onde ainda estamos...” Sonhava!

- “Deputado Feliciano, se o senhor não mudar sua forma de legislar revendo este seu pendor para com os pobres vai ser muito difícil ver aprovado algum projeto seu...” Seguia sonhando!

Feliciano sabia de antemão o quão infrutíferas seriam quaisquer tentativas suas em busca da concretização do sonho de ser prefeito de Francisco Sá sem bases políticas e plataformas sólidas de preferência lastreadas no seio das mais tradicionais famílias do Brejo cuja militância politico administrativa de resultados positivos já se encontrava inquestionavelmente solidificadas desde a fundação do lugar. E disparava os seus petardos em forma de bilhetinhos os quais eram endereçados aquelas famílias que, no entanto, relutavam em aceita-lo. Quando, finalmente, conseguiu romper a resistência ao seu nome no seio dos “Dias”, “Pereira”, “Penna” etc., soube que o mesmo não fruía de receptividade fácil entre os “Silveira”. Ele tinha pedigree no sangue, pois o pai era político, mas nenhuma tradição ou experiência que o identificassem com os anseios da maioria. Necessitavam, ali, de alguém com mais cabedal de conhecimento e comprovada eficácia administrativa. As dificuldades e mazelas do Brejo exigiam muito mais que um jovem idealista e sonhador. A história dá como tutor político de Feliciano certo cônego de nome Sebastião. Mas como veremos mais adiante, ele apenas o iniciou nesta arte, abrindo-lhe ás portas ao utilizar-se de seu valioso carisma e prestigio com os quais lhe apresentou junto aos “Silveira”. Tutor do jovem Feliciano mesmo foi o grande Enéas Mineiro de Sousa, pois, uma vez convencido dos reais propósitos de Feliciano, não mediu esforços no sentido de ajuda-lo a torna-los realidade.

Orador eloquente, capaz de levar ás lágrimas multidões de pessoas, muito bem articulado, pausado no falar, cuidadoso com as palavras e convincente, aos poucos Feliciano conseguiu conquistar a confiança de todos inclusive do próprio Enéas Mineiro, uma sólida e poderosa liderança local que, apenas para prestigiar Feliciano, cedeu-lhe a “cabeça de chapa” numa demonstração de humildade, generosidade, desapego e grandeza do Capitão, que naquele pleito eleitoral se candidatou a vice-prefeito de Feliciano, tendo ele, Enéas, puxado quase todos os votos que elegeria vitoriosa aquela chapa: Feliciano Oliveira finalmente sagrava-se Prefeito de Francisco Sá (1947-1950) com expressiva votação e o mais importante: o seu vice era ninguém menos que o homem mais poderoso da região, um corajoso e destemido desbravador e empreendedor nato oriundo do nordeste do Brasil tendo de lá saído pobre para trabalhar duro e fazer fortuna no norte de Minas: Enéas Mineiro de Sousa.

O jovem Feliciano tinha boa vontade e coragem para realizar, mas não tinha experiência e nem sempre sabia como fazer. Nos momentos de insegurança e incerteza o capitão lhe dizia: “vai, moço. Faça a sua parte. Coloque sempre á sua frente os nobres ideais que o motivaram e trouxeram até aqui que eu me encarrego de concretizá-los junto com você!”.

Dito e feito.

Realizaram uma excelente e profícua administração na Prefeitura Brejalmina.

No pleito seguinte encontramos Feliciano Oliveira retribuindo ao seu benfeitor a mesma gentileza de outrora. Agora era o próprio Feliciano, experiente e realizador, o vice de outro iniciante na Política, mas imbuído de desejos de mudanças, filho de Enéas, de nome Pedro Mineiro de Sousa (1951-1954). Como da vez anterior, e como não podia deixar de ser, aquela dobradinha reversa conseguiu ser igual ou ligeiramente melhor que a anterior. Obras importantíssimas saíram do papel, materializando-se em benefício da população. Diziam as “boas línguas brejeiras” que administração igual àquela só a do “doutor Jardim.”. Não obstante não ter sido contemporâneo dessas administrações (tinha eu somente um ano em 1954), conheço-as muito bem pelos escritos que li, e, principalmente, pelo que me falava o meu saudoso avô que tinha o vezo de comparar gestões passadas.

As administrações bem-sucedidas de Feliciano Oliveira frente á Prefeitura de Francisco Sá, quer como Prefeito ou vice, proporcionaram ao nosso Município grandes saltos de qualidade rumo ao progresso célere e eficaz guardada as devidas proporções de morosidade das coisas, feitos e fatos inerentes á época. Tanto é verdade que foram suficientes para que Feliciano Oliveira, uma vez mais, ou seja, consecutivamente, aliás, acontecimento este inédito até os dias atuais, conseguisse se reeleger Prefeito de Francisco Sá com excelente votação nos pleitos de 1954 (final de seu mandato de vice), para o próximo período de 1955-1958. Tinha ele neste quadriênio administrativo como seu Vice um gigante e competente homem público, filho de Jacinto, orgulho das Alterosas.

Mais uma vez grandes metas foram batidas e índices de qualidade de vida antes inatingíveis fizeram-se presentes. Feliciano consolidava na Prefeitura do Brejo das Almas os seus sonhos de menino. O ótimo trabalho, a experiência, o reconhecimento e o respeito políticos conquistados lhes credenciavam, certamente, a alçar voos mais altos por outras plagas muito além das fronteiras de seu querido Brejo das Almas. Ali ele poderia multiplicar por milhares os beneficiários de sua luta e empenho em prol dos mais carentes não somente em seu torrão natal.

Foi exatamente o que ele fez. Diga-se, com muito sucesso!

E tenho dito.

*Enoque Alves Rodrigues é Brejeiro.
 Praça Jacinto Silveira no Centro de Francisco Sá - Orgulho em Ser Brejeiro
   

sábado, 5 de setembro de 2015

O BREJO E SUA GENTE IX - BENJAMIM FIGUEIREDO



O BREJO E SUA GENTE IX – BENJAMIM FIGUEIREDO


*Enoque Alves Rodrigues


Entre os cinco últimos prefeitos que ocuparam a Prefeitura de Francisco Sá no regime intervencionista, ou seja, Dr. Antonio Tenório, Dr. Benjamim Marinho Figueiredo, Cel. Francisco Ataíde, Dr. Othon Novais e Dr. Aníbal Serra, antes de chegarmos ao grande Feliciano Oliveira no inicio do período de redemocratização do Brasil, farei um breve relato nesta minha crônica do mês de Setembro-2015 á figura do Belo-horizontino de nascimento e Brejeiro por convicção Dr. Benjamim Marinho Figueiredo não só em virtude da relevância de sua bem-sucedida administração, mas, também, ou quiçá, principalmente, pelo seu imenso e incondicional amor que sempre demonstrou para com o Brejo e sua gente, por que nem mesmo depois de ter sido vitima de traições políticas de um deputado antigo correligionário seu, que serviram para abreviar a sua gloriosa gestão no auge de grandes realizações, radicou-se em Montes Claros de onde obtinha informações da política e administração do Brejo, mantendo-se sempre á postos para colaborar a qualquer momento com quem quer que fosse o prefeito, somente pelo simples desejo de seguir servindo ao nosso povo. Por várias vezes, em noites caladas e silenciosas, humilde e discretamente, sem ser notado, visitava o Brejo das Almas, àquela altura Francisco Sá, postando-se em frente a serra do Catuni de onde observava as paisagens adjacentes, retornando, invariavelmente á Montes Claros antes do amanhecer.


A indicação de Benjamim Figueiredo para Prefeito de Francisco Sá foi feita pelo Governador do Estado de Minas Gerais Benedito Valadares. Naquela época esta era uma das prerrogativas dos governadores de estado. Tudo normal, não fosse á forma confusa, incoerente e desastrada do governador ao tomar sua decisão que acabou por tumultuar todo o processo da indicação e talvez residam ai ás resistências e dificuldades que Benjamim enfrentaria uma vez empossado Prefeito, que certamente contribuíram para aflorar invejas e vaidades alheias que culminaram com a interrupção de sua excelente gestão.


Contrassenso? 


Não!


Realidade.


Sou um modesto executivo da Engenharia. No entanto, entendo, que sempre que alguém se propõe a escrever alguma coisa, até mesmo por respeito aos poucos que o leem, não pode, jamais, ocultar os fatos que causaram suas consequências como também deve se abster de dourar a pílula dando ao personagem retratado virtudes que não teve ou tem. Lealdade aos fatos e respeito a quem lê são premissas básicas de uma formação razoável.


Antes de optar pela indicação de Benjamim Figueiredo, o Governador Benedito Valadares havia dado a sua palavra ás principais lideranças politicas do Brejo, divididas em duas correntes opostas sob o comando dos irmãos Dias, de um lado João de Deus e do outro Gentil Dias apoiado por Osmani Barbosa, (PSD – UDN), garantindo que o indicado seria Filomeno Ribeiro, da região e aceito por todos ali por unanimidade. A robustez e comprometimento de um líder político local daquela época não se media com qualquer aparelhinho “Xing-ling” como se faz hoje. O cara valia o quanto pesava e o seu peso era aferido pela palavra dada e cumprida. Se o sujeito tinha crédito, se sempre cumpriu com a palavra, todos nele confiavam cegamente até o dia em que deixasse de cumpri-la.


- Fulano falou que até o dia 32 de dezembro deste ano vai fazer jorrar ouro do morro do mocó!


Todos acreditavam. Mesmo sabendo que o mês de dezembro só tem 31 dias, preferiam aguardar até o último dia do mês para ver o que aconteceria e só depois disso é que iam rever os seus conceitos de credibilidade sobre o tal fulano.


Foi assim que quando o Governador Benedito, - que evidentemente, não era o santo porreta que conhecemos e que jamais deixou de cumprir uma promessa -, roeu a corda, grande frustração causou a todos os políticos que tinham como liquido e certo a indicação de Filomeno Ribeiro. A decepção era geral não só por que ninguém ali conhecia o novo indicado, mas principalmente pela vergonha e orgulho ferido das lideranças que já haviam se comprometido junto ás suas bases onde disseminaram a indicação infalível de Filomeno que aquela altura já era saudado como o novo prefeito de Francisco Sá. Por onde ele passava era recebido com muita pompa e reverência. O balde de água gelada que o governador “furão” jogou na gente Brejeira e seus lideres com aquela indicação inusitada causou muitos constrangimentos a todos especialmente a Filomeno que viu escapar por entre os dedos a grande oportunidade de ser Prefeito, e ao próprio Benjamim que desconhecia aquela malfadada articulação de bastidores. Mas também serviu para lhe despertar a consciência para a grande responsabilidade que viria assumir assim como para a luta feroz que teria pela frente. Ele tinha de reverter àquela situação de insegurança que pairava sobre sua pessoa apenas por não ser do lugar. O primeiro passo seria se tornar conhecido do povo Brejeiro, pois assim ganharia sua confiança e a melhor maneira de trazer o povo para o seu lado para que ele pudesse se mostrar por inteiro e revelar as suas intenções de realizar o seu melhor seria conquistando, antes, os seus lideres. Foi o que ele fez. Aos poucos e com muita humildade o Prefeito Benjamim Marinho Figueiredo ia pavimentando o seu caminho construindo Obras de impacto social irrefutável. É de sua gestão a implantação do primeiro sistema de abastecimento de águas de Francisco Sá, entre outras. Madrugador, trabalhador contumaz, polido, fluência verbal perfeita, possuía um marketing pessoal de dar inveja aos marqueteiros políticos de hoje, que ao contrário do grande Benjamim, por não terem o que mostrar, mentem, descaradamente.


Havia, entretanto, outra liderança ali. Aliás, diga-se de passagem, a mais poderosa da região, a qual não se simpatizava muito com Benjamim. Jeito matreiro, de pouco falar, apesar de grande articulador, riquíssimo, proprietário de muitas fazendas sendo a principal delas a Fazenda Burarama, hoje uma linda e progressista Cidade que leva o seu merecido e honroso nome. Exercia poder absoluto sobre os destinos do Brejo das Almas, Montes Claros e adjacências. Ele mandava prender e soltar. Era, no entanto, de boa índole e benevolente e ao que se sabe nunca abusou de seu poder e autoridade sobre os menos favorecidos. Parecia justo. Mas estava na política para onde levou também seus dois filhos Pedro e Antonio. Seu nome? Enéas Mineiro de Souza, ou Capitão Enéas. Cito-o neste final apenas para lembrar que no episódio que culminou com a exoneração do Prefeito Benjamim á pedido de um deputado de tendência duvidosa que fundamentou o seu argumento ao fato de ser Benjamim um prefeito “realizador, mas, espalhafatoso”, (referia-se a divulgação que dava ás suas Obras), o Capitão Enéas preferiu não tomar partido. Não se lançou mão sequer de uma bazuquinha de seu poderio bélico. Até ai nada demais se não tivesse na sequência, ou á partir da substituição de Benjamim por Francisco Ataíde, seu correligionário, ter sido ele, junto com Pedrão, seu filho, beneficiários políticos de uma herança abortada no momento em que mais se realizava em prol do povo brejeiro, profícua, arrojada e transparente.


Os homens passam, mas suas histórias ficam.


E tenho dito!


*Enoque Alves Rodrigues é Brejeiro.


Esta série composta por dez capítulos que teve início em Janeiro-2015 será encerrada no próximo mês de outubro-2015 com Feliciano Oliveira.


Alô Brejeiros!!!
É hoje, 05/09/2015, ás 19:00 horas, na Câmara Municipal do Brejo, o lançamento de nossa amiga e conterrânea Karla Celene Campos. “Cadernos de Ediclar” é a sua nova Obra que pelos informes que recebi, nos conduz ao reencontro com a História de nossa Cidade escrita nas ruas, casas, campos e botecos, por seus personagens, muitos já no andar de cima, que a sua maneira a souberam amar, honrar e dignificar.
Sobre esse novo trabalho de Karla, vejam o que diz a grande Diva, maior autoridade no assunto em todo o nosso estado, a doutora Maria Luiza Silveira Teles: http://www.minaslivre.net/site/index.php/85-maria-luiza-silveira-teles/3565-o-passeio-de-karla-celene-e-ediclar-pela-historia-de-brejo-das-almas.
Obrigado!
Um forte abraço a todos vocês!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O BREJO E SUA GENTE VIII - JOÃO BAWDEN



O BREJO E SUA GENTE VIII – JOÃO BAWDEN


*Enoque Alves Rodrigues


Quando em março de 1931, Jacinto Silveira passou ás mãos do médico Paulo Cerqueira Rodrigues Pereira a direção do município de brejo das Almas depois de sua nomeação pelo presidente Olegário Maciel, pouco ou quase nada se sabia do indicado, na verdade, até aquela ocasião, um médico de renome em Belo Horizonte. Realizou, no entanto, uma eficiente administração não obstante ter presidido o município por apenas oito meses quando foi transferido na condição de médico leprólogo, para a Colônia Santa Izabel, em Belo Horizonte. Assim sendo faço aqui este sucinto relato apenas para registrar sua passagem pela Prefeitura do Brejo em virtude do muito que realizou não obstante o pouco tempo que a ocupou. Construção do matadouro ás margens do rio são domingos, inicio do nivelamento das ruas e praças, reparos nas estradas que dão acesso ao interior do município, fiscalização do ensino, reforma do cemitério, etc., são algumas obras de sua bem-sucedida administração.

Nascido no século 19, durante o império, filho do médico, político influente (quatro vezes governador do estado de Minas) e minerador Doutor Antônio Teixeira de Sousa Magalhães e de dona Maria Angelina Bawden, os barões de Camargo, uma das mais ricas famílias da cidade de Mariana, em Minas Gerais, João Bawden Teixeira teve onze irmãos e desde a infância já trazia no sangue o vírus benevolente da mais pura e tradicional política mineira, na qual fora introduzido pelo pai, onde a palavra dada sobrepunha a todo e qualquer documento. Ainda adolescente matriculou-se na Escola de Minas, berço da nata abastada, em Ouro Preto, de onde saiu após se formar Engenheiro Geógrafo, com 23 anos de idade. Muito tempo depois se transferiu para Montes Claros onde juntamente com os coronéis João Martins da Silva Maia, Virgílio Machado e os engenheiros José Bawden Teixeira (seu irmão), Nelson Washington da Silva e ele João Bawden Teixeira fundaram nesta Cidade a empresa de engenharia Maia, com a qual construiu centenas de quilômetros de estradas de rodagens sertão á dentro, quando, finalmente, por mera casualidade, ou seja, quando realizava levantamentos topográficos por uma “picada” quando menos se esperava, viu-se em pleno centro de um simpático povoado pelo qual de cara se apaixonou. Era o Brejo das Almas com o seu famoso amontoado de pequenas casas e empoeiradas ruas. Ali ele passou a residir “de passagem”. Assim nós mineiros definimos as localidades aonde nos encontramos em trânsito por que não pretendemos fixar residência, mas, que no caso do Dr. João Bawden tal colocação não funcionou, por que a cada dia que se passava tornava-se cada vez mais potente o seu amor pelo Brejo ao ponto de lá permanecer do final do ano de 1930 até o dia da sua morte ocorrida dois dias antes do Natal de 1937.

Na introdução do meu livro “O Brejo das Almas em Crônicas” faço um pequeno passeio pelas origens das mais tradicionais famílias que residem no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá. Como a maioria dos sobrenomes que povoam até os dias atuais o Brejo das Almas descende de Ouro Preto, Vila Rica e Mariana, o Doutor João Bawden Teixeira também acabou por se juntar a essas famílias no Brejo. Tornou-se amigo incondicional do coronel Jacinto que em virtude do agravamento do mal de Parkinson já estava se afastando da política, assim como do atual prefeito, o médico doutor Paulo Cerqueira Rodrigues Pereira e das mais importantes forças políticas regionais. Quando o Doutor João Bawden tomou conhecimento do afastamento do prefeito Doutor Paulo Cerqueira correu até a casa do coronel Jacinto solicitando-lhe, com humildade, que o indicasse como substituto do Doutor Paulo Cerqueira de quem ele era admirador pela maneira como conduzia a gestão do município e pela forma arrojada de trabalhar, salientando, ainda com modéstia, suas experiências como engenheiro e que pretendia, com toda sinceridade, dar continuidade aos projetos iniciados pelo Doutor Paulo Cerqueira bem como empreender novas benfeitorias no sofrido município. Várias vozes se levantaram contra o pleito do Doutor Bawden. Ninguém ali conhecia o seu passado. Também pudera: O doutor Bawden não era do lugar e acabava de ali chegar. Estou me referindo ao final do ano de 1931. Sequer imaginavam que por trás daquele homem riquíssimo apesar de aparência simples, existia uma longa e muito bem consolidada carreira politica que começou ainda jovem, em Mariana, como vereador, passando por todas as escalas, de maneira que em 1903 já era senador da República recentemente proclamada por Deodoro, em 1889. As lideranças politicas locais encontravam-se “rachadas” pau a pau ou meio a meio como queira. O fiel da balança ali estava difícil de achar e a tal “metade e mais um” que decide tudo em nossas vidas ali não se manifestava. Escafedeu-se. Não dava o ar da graça. Jacinto apenas endossou o desejo do Dr. João, mas, como eu já disse doente, não se envolvia mais com política. Á favor, Sebastião Bessa e seu grupo puxavam de um lado, enquanto que do lado contrário o grande Rogério da Costa Negro e seu grupo também puxavam com vontade. O argumento de Rogério era robusto e indestrutível: O doutor João Bawden que havia nascido em berço de ouro em local distante era pouco afeito ao trabalho e não cumpriria com suas promessas por que era demasiado boêmio e não seria responsável o suficiente para zelar pelas coisas do município.


Rachados e intransigentes entraram todos para a reunião promovida no Brejo das Almas pelo Partido Republicano Mineiro em casa do próprio Sebastião Bessa e depois de acirrada discussão Rogério da Costa Negro ainda se mantinha irredutível em sua posição. Foi quando alguém ali temeroso por entregar ás rédeas do destino do município em mãos estranhas, para surpresa de todos os presentes, surgiu em meio aquela reunião, ostentando um empoeirado exemplar do Jornal “Liberal Mineiro”, da Cidade de Ouro Preto, pertencente ao Partido Liberal, que em sua edição de número 93, do dia 16 de agosto do ano de 1884, na “seção parlamentar” do dia 07/08/1884 se registrava, clara e evidente, a seguinte menção honrosa alusiva ao “desconhecido” doutor João Bawden: “é dotado de sentimentos de nobreza e dignidade. É essencialmente caritativo, amigo sincero e extremado, está sempre pronto a acudir (socorrer) com prazer a voz da amizade e aos reclamos da pobreza de quem ele é um firme sustentáculo (benfeitor). Como as sementes, os grandes sentimentos precisam de terrenos e estações próprias para vingar e florescer no coração do nosso magnânimo e ilustre democrata, que é um sacrário de virtudes e por isso florescem exalando perfume nos corações que sabem conhecer a altura dos seus merecimentos...”.


Era só o que faltava. Contra fatos não há argumentos já dizia uma sábia raposa da politica mineira de nome José Maria. As forças agora se alinhavam em torno de João Bawden que acabou tendo o seu nome referendado como prefeito substituto do Brejo das Almas em Janeiro de 1932, consecutivamente.


Quando Vargas determinou eleições gerais constitucionais o Dr. João Bawden diante do muito que havia realizado pelo Brejo das Almas foi aclamado e eleito pelo povo prefeito constitucional. Mesmo após o Presidente Getúlio Vargas a 10 de Novembro de 1937, consumar o golpe de estado que lançou o País numa ditadura cruel e sanguinária e depois de promover uma verdadeira caça ás bruxas, com milhares de prisões e destituições violentas de políticos guindados constitucionalmente ao poder pelo voto popular, não encontrando no Brejo das Almas nada que desabonasse a conduta imaculada e transparente do prefeitão “bom de trampo” Doutor João Bawden, não lhe restou nenhuma alternativa que não fosse confirma-lo no cargo de prefeito que já ocupava. Infelizmente, agora, pouco tempo ele teria naquela nova gestão, porque vitimado por um ataque de angina veio a falecer no cargo no dia 23/12/1937 quando foi substituído pelo Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes, aqui já retratado. Como justa homenagem ao homem que tanto dignificou a nossa terra o povo Brejeiro exigiu que o seu corpo nela fosse sepultado.


Hoje, ao ver em meu Brejo das Almas, ruas e praças com suas placas ostentando o nome do Doutor João Bawden eu me pergunto: qual seria, ao certo, a porcentagem de Brejeiros locais que saberia resumir em poucas palavras a importância que teve este nome para a nossa cidade?


Acredito que poucos.


E tenho dito.


*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo.