sábado, 7 de janeiro de 2012

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – 74 ANOS SEM O FUNDADOR

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – 74 ANOS SEM O FUNDADOR

Enoque Alves Rodrigues

Brejo das Almas, 17 horas e 30 minutos do dia 8 de Janeiro do ano de 1938. Falecia, depois de padecer por doze anos do mal de parkinson, o fundador e maior benemérito da Cidade de Brejo das Almas, ou Francisco Sá, localizada no norte de Minas, Jacinto Alves da Silveira. Portanto, amanhã, Domingo, 8 de Janeiro de 2012, completará setenta e quatro anos de seu regresso à Pátria Espiritual.

A doença de Parkinson é idiopática, ou seja, é uma doença primária de causa obscura. Há degeneração e morte celular dos neurônios produtores de dopamina. É, portanto, uma doença degenerativa do sistema nervoso central, com início geralmente após os 50 anos de idade. É uma das doenças neurológicas mais freqüentes visto que sua prevalência situa-se entre 80 e 160 casos por cem mil habitantes, acometendo, aproximadamente, 1% dos indivíduos acima de 65 anos de idade. Apesar do muito que já se pesquisaram, decorridos quase duzentos anos do descobrimento desta gravíssima enfermidade por James Parkinson, pouco ou quase nada se sabe sobre suas causas.

O fato é que, deve-se a ela, todas as conseqüências que justificam doze anos de sofrimentos impetrados ao grande e até hoje insubstituível benfeitor de Brejo das Almas. Tudo começou quando ainda vereador em Montes Claros, quando lutava pela aprovação de mais um projeto que beneficiaria o Brejo, sentiu-se as primeiras dores no dedo indicador da mão direita, a qual insistia em não obedecer aos seus comandos. Seu colega de partido, o mesmo do Dr. Honorato Alves, Antonio Ferreira de Oliveira, o Niquinho “Açúcar”, ou Farmacêutico, é quem conta com todos os detalhes, o inicio desse verdadeiro tormento, que, como já mencionei, doze anos depois ceifaria a vida de quem tanto fez pelo Brejo.

Jacinto Alves da Silveira, sobre o qual muito já falei, foi, até hoje, o único capaz de reunir todas as características que habilita qualquer individuo a afirmar ter vivido a vida em toda a sua plenitude. Descendente de famílias de Ouro Preto, assim como os Pena, Oliveira, Dias, Xavier, entre outras, esta última pertencente a genealogia do grande Mártir da Inconfidência, o Tiradentes, Jacinto, um dos muitos filhos do velho Fazendeiro José Alves da Silveira, nasceu no Brejo, lá pelos idos de 1871, quando o Brejo sequer sonhava em ter as feições de hoje. Ao contrário, assemelhava-se, muito mais, daquele dois de novembro de 1704, quando não passava de uma vasta mata às margens dos rios Verde Grande, São Domingos e Gorutuba, onde Antonio Gonçalves Figueira fincou pela primeira vez, ao lado da Lagoa das Pedras, o imenso cruzeiro que marcaria para sempre, no tempo e no espaço, o inicio  de uma nova era, de uma promissora civilização e de uma progressiva Cidade. Jacinto, ao contrário de seus outros irmãos que eram todos Fazendeiros, desde a idade tenra, apesar de rústico, já despontava para as coisas da intelectualidade, quando lia, escrevia e realizava cálculos difíceis até mesmo para quem tinha a mais polida cultura. Era, portanto, desde aqueles tempos, um iluminado, na mais clara e límpida definição do termo.

Bonito, com um metro e oitenta de altura, bigodes bem fornidos, cabelos cortados a escovinha, trajando-se sempre de brim cáque, o belo mancebo Jacinto Silveira conduzia, juntamente com outros peões, grandes manadas de gados que eram vendidas na cidade de Curralinho, hoje, Corinto, no norte de Minas Gerais. Jovem ainda conheceu e casou-se com a normalista Maria Luiza de Araújo, na velha Matriz de Montes Claros, no dia 16 de Novembro de 1895. Maria Luiza foi durante toda a vida, sua fiel e inseparável companheira, a qual seria responsável pela condução dos destinos do povo brejeiro no campo da educação e cultura, enquanto Jacinto preparava esse mesmo povo na política e principalmente para a emancipação administrativa do Brejo, que ocorreria em 1923/24. A Câmara compunha-se dos seguintes vereadores: Padre Augusto Prudêncio da Silva, Francisco Fernandes de Oliveira, José Dias Pereira Zeca, João de Deus Dias de Farias e Rogério da Costa Negro, este último, um grande comerciante do ramo de tecidos.

Lutador, pelos direitos de seu povo, probo, íntegro, transparente, correto em todas as suas atitudes, honesto até a medula, numa época em que a mosca varejeira sequer sonhava sobrevoar o mundo da política, Jacinto Silveira conduzia os destinos do povo Brejeiro pelos caminhos da retidão, assim como Moisés do Egito conduzia seu povo rumo à Terra Prometida. Jamais perdeu uma só eleição. O Brejeiro daqueles tempos sabia reconhecer os valores incontestáveis de Jacinto e o tinha como a um verdadeiro Líder. E como tal se comportava: jamais deixou de falar o que pensava. Nunca se utilizou de meias palavras. Era homem de posições definidas. Não era de ficar sobre o muro. Educação casta e polida sabia ser enérgico no tempo certo. Muitos foram os Governadores de Estado que se utilizaram do prestigio de Jacinto junto aos Brejeiros.

Rico, dono de muitas fazendas de gado e cultivo, casas comerciais e muitas outras fontes de renda, Jacinto Alves da Silveira, homem que durante toda a existência sempre teve a casa cheia de amigos e correligionários, que sem nenhum apego às coisas materiais, ajudava, com recursos próprios a todo e qualquer Brejeiro; bancava, do próprio bolso, vários candidatos em campanhas eleitorais caríssimas. Depois de ter custeado com recursos próprios a emancipação do Brejo das Almas, tendo inclusive doado prédios para comporem o conjunto arquitetônico do Município, condição esta indispensável a sua homologação, já no final da vida, corroído pela enfermidade degenerativa, ainda era obrigado a arrastar-se de sua casa até a Prefeitura, onde dava expedientes, deixando-nos o exemplo o qual sigo até hoje, de que é no trabalho onde nos enobrecemos e dignificamos. Morreu, no entanto, pobre e praticamente só, tendo a seu lado apenas alguns familiares.

Não é sem motivo que um de seus filhos, o também Coronel Geraldo Tito Silveira, assim se expressa em um de seus lindos libelos, referindo-se as injustiças das quais fora vitima o pai: “Nos áureos tempos de sua vida abastada, quando ele plantava as sementes de uma pequena fortuna, depois esbanjada nos ardores da política, feita somente para o bem-estar de outrem, sua casa solarenga vivia repleta de “amigos”. Até então, não se via pela estrada real, que ia dar à Bahia, uma só pousada ou hospedaria, de modo que os forasteiros que por ali passavam procuravam a casa do Coronel Jacinto, onde recebiam todo o conforto, gratuitamente. Muitas dessas pessoas eram acometidas de terríveis doenças inclusive febre brava!”

E arremata o grande escritor do norte de Minas, Geraldo Tito Silveira, agora, lamentando a grande injustiça da qual foi vítima o pai, Jacinto Alves da Silveira. Aliás, muito já falei sobre tal injustiça que talvez, um dia, ainda nesta minha atual encarnação, veja corrigida: “Como corolário da ingratidão dos homens, mudaram o nome de Brejo das Almas, não para perpetuar o nome de Jacinto Silveira, na terra que engrandecera, mas para honrar o nome de outro Brasileiro, ilustre, é verdade, mas que nada fizera por ela.” Refere-se ao Dr. Francisco Sá, nascido no Município, na fazenda Brejo de Santo André, que foi Ministro da Viação e levou a estrada de ferro central do Brasil até Montes Claros, que muito lhe deve.

Não sei, até porque de há muito não vivo mais no Brejo e não participo de seu dia-a-dia, se a Sociedade Brejeira, movida por nobres sentimentos de gratidão, ou, quiçá, políticos locais, se lembrarão de promover neste dia 8 de Janeiro, alguma cerimônia, por mais simples que seja, ainda que um singelo minuto de silêncio, àquele que foi, é e será, o primeiro e mais importante Brejeiro. O maior de todos, porque deu tudo de si, até a própria vida, coisa que hoje não vejo ninguém fazer, para que o Brejo das Almas ou Francisco Sá,  figurasse, no mapa de Minas e no Mapa do Brasil, como um dos progressivos Municípios Brasileiros.

Depois de permanecer longo tempo na erraticidade, acha-se, atualmente, no meio de nós. Não dentro da política que, convenhamos, mudou muito, e para pior, desde os seus tempos. Servidor incansável e dedicado que jamais fugiu à luta, não obstante toda a ingratidão com a qual lhe brindaram, acreditem céticos de plantão, em uma coisa: Se hoje se realizasse uma “chamada oral” convocando homens de bem a colaborarem com qualquer causa que tivesse por objetivo o bem comum, a justiça social, a luta contra as desigualdades dos menos favorecidos, alguém para expurgar e limpar a corrupção e tudo o que há de podre no mundo da política, ao se pronunciar o nome “Jacinto Alves da Silveira!” Com toda certeza ouviríamos, prontamente, em algum lugar do Brasil, a voz firme, forte e determinada do Coronel:  “Presente. Eis-me aqui!”

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 24 de dezembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS - BOAS FESTAS

SOBRE O BREJO DAS ALMAS - BOAS FESTAS

Enoque Alves Rodrigues

Durante este ano de 2011 fruí, quase que semanalmente, do privilégio de conviver com vocês, meus amigos e conterrâneos que muito me honraram com suas valiosas visitas aos meus blogs, ao MontesClaros.com e ao City-Brasil,  que utilizo, regularmente, para divulgar Francisco Sá, ou Brejo das Almas, minha Cidade de nascimento. Sempre procurei deixar claro e definido o amor que nutro pelo Brejo e sua gente, mesmo sabendo que o Brejo não é nenhum Paraíso na Terra. Que o Brejo, assim como qualquer outra Cidade em fase de desenvolvimento, está exposto a todas e quaisquer mazelas sejam elas de ordem natural ou administrativa, predominando, evidentemente, a segunda. É muito fácil, bom e maravilhoso, -dirão alguns que possuem o vezo de achar que tudo está ruim mas que nada fazem para que as coisas melhorem e que sabem que de há muito não vivo no Brejo-, amar o inferno, se visto e observado de longe, ou de preferência, do Céu. A estes eu recomendo a seguinte frase:

“Não perguntem o que o Brejo pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo Brejo”, diria John Kennedy, certamente, se brejeiro fosse. Mesmo longe, procurei a vida inteira colaborar, ainda que singelamente, com a divulgação deste meu pequeno torrão.

Agora, com alvissareiras esperanças renovadas pela aproximação de mais um ano, que seguramente nada irá me acrescentar se eu não continuar indo à luta. Por ter sido durante toda a vida um osso duro de roer. Um duro na queda. Um sujeito de tutano que jamais fugiu do pau e das origens. Que, motivado, determinado e disposto vinte e quatro horas, levanta de madrugada todos os dias e, cantando, dirige-se ao trabalho, em busca de resultados enquanto muitos ainda dormem e reclamam da vida. Que mesmo nos momentos mais difíceis e espinhosos, com os pés doloridos e com a mente em frangalhos, mas sempre firme e com Deus à frente, foi à luta sorrindo enquanto muitos tombavam chorando sem sequer saírem do lugar. Que mesmo hoje, realizado, cultiva hábitos simples de um matuto brejeiro que conseguiu, galhardamente, que a vida lhe proporcionasse algum conforto. Que, bóia fria em infância, vendendo dias de trabalho nas muitas Fazendas do Brejo, comeu, com colher de pau, angu de fubá com molho de feijão de corda  e quiabo na mesma gamela compartilhada com outros camaradas enquanto o suor do rosto respingava sobre aquele abençoado sustento. Que enquanto peão, dormia em porões  de obras em construção, com cheiro de creolina, com a mesma fé, perseverança, coragem,  e confiança de que dias melhores viriam. Finalmente, como profissional de sucesso, conquistou, com humildade, o respeito de muitos em todas as áreas por onde trafegou, trafega e milita. Que tem em seu diminuto rol de amigos, somente pessoas sinceras e leais, vinculadas ao bem comum e comprometidas até a medula com os mais puros, sólidos e elevados princípios morais da  verdadeira  ética  e ilibada conduta, etc. Esse cara, do qual sou fã de carteirinha, que possui o RG de nº M-215.967 (sendo o “M” de Minas), de quem falo com muito orgulho, sem rodeios ou falsa modéstia, por incrível que possa lhes parecer, sou eu próprio. Estranho, não! Nem tanto. As referências que faço a minha pessoa não tem o sentido fútil do endeusamento fácil ou autopromoção gratuita e deselegante. Tenho plena consciência de minha pequenez e do quanto ainda tenho que evoluir no sentido de atingir a magnitude de um simples grãozinho de areia. A  lisonja que endereço a mim, cuja história de vida conheço de cor e salteado e que hoje é de domínio público, tem apenas e tão somente a finalidade de afirmar que QUERER É PODER. Não importam as dificuldades que a vida coloca em nosso caminho. O que conta mesmo é a nossa capacidade, criatividade, determinação e vontade própria de transpô-las. Ninguém nasce, vive ou morre fraco. Todos nós, salvo aqueles que vieram cumprir missões específicas, nascemos em igualdade de condições, munidos de todas as nossas potencialidades as quais nos cabem estar sempre exercitando no sentido de que não se adormeçam, não se enferrujem e não nos transformem em parasitas. Ao Mestre do Madeiro, Governador Supremo do Orbe Terrestre, não foi dado nenhum milímetro de QI (Quociente de Inteligência) além do que nós, seus iguais, fomos dotados. Ele apenas os utilizava de maneira sábia e raciocinada. Nada mais que disso. Mesmo assim, quantos prodígios Ele operou. Esta minha mensagem, que a principio lhe pareceu estranha ou arrogante por me referir a mim, na primeira pessoa, na verdade, meu caro amigo, ela é todinha para você. Jamais pense em desistir de seus ideais. Não desperdice seu tempo “atirando por todos os lados”. Se ao invés de você ter mil projetos mirabolantes e inexeqüíveis em sua mente, tenha apenas um, desde que seja passível de execução. Pare e pense. Por mais simples que algum trabalho lhe pareça, não o inicie sem que antes trace uma meta estabelecendo inicio, meio e fim. Não estabeleça para você ou os outros prazos os quais não vão conseguir cumprir. Isso pode te levar ao descrédito. O homem tem que ter e honrar a palavra. Lute, mas lute com todas as suas forças. Não se deixe derrotar pela acomodação. O mundo, as oportunidades e os sucessos, pertencem aqueles que lutaram. Vá em frente. Não conduza sua vida olhando no retrovisor. Viva um dia de cada vez. Não tenha medo de nada. Não se preocupe em querer agradar a alguém. Seja natural. Não perca seu tempo com aquilo que não lhe vá dá retorno. Caso o critiquem, não responda com tergiversações. Seja objetivo. Vá direto ao ponto. Analise se as criticas são realmente fundadas e, caso positivo, faça sua correção e procure, independente do caráter de quem o criticou dar o verdadeiro “feedback” embasado-o na mais pura realidade. Procure não deixar nada sem resposta. Não mintas, jamais. Se você mentir uma vez será obrigado a mentir sempre. A mentira é o mais grave desvio de conduta do qual dificilmente o mentiroso consegue se livrar.

Ao finalizar esta minha “milionésima”, cansativa e redundante declaração de amor ao Brejo e ao meu povo. Por faltarem-me palavras mais apropriadas, o que seria, creio, compreensível por vocês que me toleram a tanto tempo, se se considerarmos que já estamos no final do ano, onde muitos neurônios tive que queimar para chegar até aqui e que somente a partir de hoje entro em férias para fazer a devida reposição de carga das já cansadas mas ainda recarregáveis baterias, lanço mão da seguinte estrofe de uma das milhares de pérolas do rei Roberto:

“Nunca se esqueça, nenhum segundo. Que eu tenho o amor, maior do Mundo. Como é grande, o meu amor, por você!”

Brejeiros, não chorem. Ano que vem tem mais bestagens. Eu voltareeeeeeeeei!

Feliz Natal e um Ano de 2012 repleto de amor, paz e muitas realizações na vida de todos vocês meus amigos e conterrâneos.

Inté!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

BOAS FESTAS. FELIZ NATAL E ÓTIMO 2012

BOAS FESTAS. FELIZ NATAL E ÓTIMO 2012

Enoque Alves Rodrigues

Durante este ano de 2011 fruí, quase que semanalmente, do privilégio de conviver com vocês, meus amigos e conterrâneos que muito me honraram com suas valiosas visitas aos meus blogs, ao MontesClaros.com e ao City-Brasil,  que utilizo, regularmente, para divulgar Francisco Sá, ou Brejo das Almas, minha Cidade de nascimento. Sempre procurei deixar claro e definido o amor que nutro pelo Brejo e sua gente, mesmo sabendo que o Brejo não é nenhum Paraíso na Terra. Que o Brejo, assim como qualquer outra Cidade em fase de desenvolvimento, está exposto a todas e quaisquer mazelas sejam elas de ordem natural ou administrativa, predominando, evidentemente, a segunda. É muito fácil, bom e maravilhoso, -dirão alguns que possuem o vezo de achar que tudo está ruim mas que nada fazem para que as coisas melhorem e que sabem que de há muito não vivo no Brejo-, amar o inferno, se visto e observado de longe, ou de preferência, do Céu. A estes eu recomendo a seguinte frase:

“Não perguntem o que o Brejo pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo Brejo”, diria John Kennedy, certamente, se brejeiro fosse. Mesmo longe, procurei a vida inteira colaborar, ainda que singelamente, com a divulgação deste meu pequeno torrão.

Agora, com alvissareiras esperanças renovadas pela aproximação de mais um ano, que seguramente nada irá me acrescentar se eu não continuar indo à luta. Por ter sido durante toda a vida um osso duro de roer. Um duro na queda. Um sujeito de tutano que jamais fugiu do pau e das origens. Que, motivado, determinado e disposto vinte e quatro horas, levanta de madrugada todos os dias e, cantando, dirige-se ao trabalho, em busca de resultados enquanto muitos ainda dormem e reclamam da vida. Que mesmo nos momentos mais difíceis e espinhosos, com os pés doloridos e com a mente em frangalhos, mas sempre firme e com Deus à frente, foi à luta sorrindo enquanto muitos tombavam chorando sem sequer saírem do lugar. Que mesmo hoje, realizado, cultiva hábitos simples de um matuto brejeiro que conseguiu, galhardamente, que a vida lhe proporcionasse algum conforto. Que, bóia fria em infância, vendendo dias de trabalho nas muitas Fazendas do Brejo, comeu, com colher de pau, angu de fubá com molho de feijão de corda  e quiabo na mesma gamela compartilhada com outros camaradas enquanto o suor do rosto respingava sobre aquele abençoado sustento. Que enquanto peão, dormia em porões  de obras em construção, com cheiro de creolina, com a mesma fé, perseverança, coragem,  e confiança de que dias melhores viriam. Finalmente, como profissional de sucesso, conquistou, com humildade, o respeito de muitos em todas as áreas por onde trafegou, trafega e milita. Que tem em seu diminuto rol de amigos, somente pessoas sinceras e leais, vinculadas ao bem comum e comprometidas até a medula com os mais puros, sólidos e elevados princípios morais da  verdadeira  ética  e ilibada conduta, etc. Esse cara, do qual sou fã de carteirinha, que possui o RG de nº M-215.967 (sendo o “M” de Minas), de quem falo com muito orgulho, sem rodeios ou falsa modéstia, por incrível que possa lhes parecer, sou eu próprio. Estranho, não! Nem tanto. As referências que faço a minha pessoa não tem o sentido fútil do endeusamento fácil ou autopromoção gratuita e deselegante. Tenho plena consciência de minha pequenez e do quanto ainda tenho que evoluir no sentido de atingir a magnitude de um simples grãozinho de areia. A  lisonja que endereço a mim, cuja história de vida conheço de cor e salteado e que hoje é de domínio público, tem apenas e tão somente a finalidade de afirmar que QUERER É PODER. Não importam as dificuldades que a vida coloca em nosso caminho. O que conta mesmo é a nossa capacidade, criatividade, determinação e vontade própria de transpô-las. Ninguém nasce, vive ou morre fraco. Todos nós, salvo aqueles que vieram cumprir missões específicas, nascemos em igualdade de condições, munidos de todas as nossas potencialidades as quais nos cabem estar sempre exercitando no sentido de que não se adormeçam, não se enferrujem e não nos transformem em parasitas. Ao Mestre do Madeiro, Governador Supremo do Orbe Terrestre, não foi dado nenhum milímetro de QI (Quociente de Inteligência) além do que nós, seus iguais, fomos dotados. Ele apenas os utilizava de maneira sábia e raciocinada. Nada mais que disso. Mesmo assim, quantos prodígios Ele operou. Esta minha mensagem, que a principio lhe pareceu estranha ou arrogante por me referir a mim, na primeira pessoa, na verdade, meu caro amigo, ela é todinha para você. Jamais pense em desistir de seus ideais. Não desperdice seu tempo “atirando por todos os lados”. Se ao invés de você ter mil projetos mirabolantes e inexeqüíveis em sua mente, tenha apenas um, desde que seja passível de execução. Pare e pense. Por mais simples que algum trabalho lhe pareça, não o inicie sem que antes trace uma meta estabelecendo inicio, meio e fim. Não estabeleça para você ou os outros prazos os quais não vão conseguir cumprir. Isso pode te levar ao descrédito. O homem tem que ter e honrar a palavra. Lute, mas lute com todas as suas forças. Não se deixe derrotar pela acomodação. O mundo, as oportunidades e os sucessos, pertencem aqueles que lutaram. Vá em frente. Não conduza sua vida olhando no retrovisor. Viva um dia de cada vez. Não tenha medo de nada. Não se preocupe em querer agradar a alguém. Seja natural. Não perca seu tempo com aquilo que não lhe vá dá retorno. Caso o critiquem, não responda com tergiversações. Seja objetivo. Vá direto ao ponto. Analise se as criticas são realmente fundadas e, caso positivo, faça sua correção e procure, independente do caráter de quem o criticou dar o verdadeiro “feedback” embasado-o na mais pura realidade. Procure não deixar nada sem resposta. Não mintas, jamais. Se você mentir uma vez será obrigado a mentir sempre. A mentira é o mais grave desvio de conduta do qual dificilmente o mentiroso consegue se livrar.

Ao finalizar esta minha “milionésima”, cansativa e redundante declaração de amor ao Brejo e ao meu povo. Por faltarem-me palavras mais apropriadas, o que seria, creio, compreensível por vocês que me toleram a tanto tempo, se se considerarmos que já estamos no final do ano, onde muitos neurônios tive que queimar para chegar até aqui e que somente a partir de hoje entro em férias para fazer a devida reposição de carga das já cansadas mas ainda recarregáveis baterias, lanço mão da seguinte estrofe de uma das milhares de pérolas do rei Roberto:

“Nunca se esqueça, nenhum segundo. Que eu tenho o amor, maior do Mundo. Como é grande, o meu amor, por você!”

Brejeiros, não chorem. Ano que vem tem mais bestagens. Eu voltareeeeeeeeei!

Feliz Natal e um Ano de 2012 repleto de amor, paz e muitas realizações na vida de todos vocês meus amigos e conterrâneos.

Inté!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 10 de dezembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – SIMPLÍCIO, O MASCATE.

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – SIMPLÍCIO, O MASCATE.

Enoque Alves Rodrigues

Longos anos se passaram desde que o Bandeirante Antonio Gonçalves Figueira e toda a sua comitiva se aportaram, em um triste e melancólico dia de finados, nas antigas plagas de São Gonçalo. Ali, naquela ocasião como é de conhecimento de todos, segundo nos relatam historiadores, fincaram-se um velho cruzeiro, confeccionado em madeira tosca, ao redor do qual se iniciou a povoação daquelas terras, que mais tarde se transformariam em freguesia e muitos anos depois, em Cidade, a qual chamaria de Brejo das Almas e depois, Francisco Sá, em justa homenagem ao grande Ministro da Viação e Obras Públicas, nascido na Fazenda Brejo de Santo André, nas imediações.

Transcorridos mais de dois séculos desse evento, o progresso ainda capengava e insistia em não atingir aquelas bandas. Mesmo depois de o grande estadista levar até Montes Claros a ferrovia que revolucionaria todo o Norte Mineiro, o Brejo das Almas, quiçá por não fazer parte daquele promissor circuito férreo, ou por situar-se a considerável distância de Montes Claros, ao qual fora, outrora, vinculado, pouco se desenvolvia. Os transportes de mercadorias eram feitos de maneira precária, sobre burros, carroças e carros de bois. Não entrarei nos detalhes da história devido eu próprio já tê-la contado várias vezes, até por que não é este o objetivo desta crônica. Abro esse parêntese somente para informar aos “jovens mancebos” e lembrar aos “velhos anciãos” que não faz muito tempo, os confortos que hoje usufruímos, simplesmente inexistiam. Mesmo pairando, nos dias atuais, algumas sequelas rudimentares sobre os nossos costumes, nada nos remete aqueles tempos. O grande e inesquecível Geraldo Tito Silveira, a quem tive o privilégio de conhecer, em uma de suas valiosíssimas obras, relata com riqueza de pormenores, o que ocorreu na Cidadezinha do Brejo das Almas quando a ela adentrou o primeiro veiculo a combustão: um velho FORD de bigodes. Foi um Deus nos acuda. Houve mesmo até quem o amaldiçoasse dizendo que aquilo era coisa do diabo. Matronas que se achavam debruçadas nas janelas ao vê-lo faziam o sinal da cruz e fechavam-nas, imediatamente. Crianças que estavam brincando nos terreiros eram empurradas para dentro de casa. Alguns mais afoitos, geralmente os “mais usados”, ou melhor, os mais velhos, organizavam procissões e saiam atrás do veiculo, onde o motorista a caminho de Salinas ou Grão Mogol, quase morria de medo da turba em fúria. Restava ao pobre do chofer contra-atacar com rezas brabas implorando ao São Cristóvão, protetor daquela reduzidíssima espécie, para que o FORDECO não abrisse o bico antes de galgar subidas íngremes ou sem que primeiro se atravessasse a curva da morte. Mas quem foi que disse que os santos estão sempre de plantão e a nossa disposição para nos atender sempre que deles necessitamos? Ledo engano: na maioria das vezes os “bichões que cuspiam fogo” não conseguiam atravessar nem mesmo a mais insignificante lombada natural e antes de atingir as subidas mais importantes, empacavam-se, qual jumento ruim, e ai, não tinha jeito, a turma enfurecida partia pro pau, até que uma providencial intervenção de alguma autoridade local relevante a acalmasse.

Não é de hoje que as relações humanas entre iguais e coisas são de amor e ódio. Ama-se na mesma proporção em que se odeia e vice-versa. Assim, enquanto o Brejeiro não se familiarizava com aquela novidade, até mesmo pela falta de informação, esconjurava o dia em que o alemão Karl Benz, criou o primeiro automóvel em uma tarde de outono de 1885 que foi patenteado neste mesmo ano e no ano seguinte 1886, fundou a Mercedes. Quando, finalmente, os pesadões conseguiram romper aquele impacto inicial do medo, quando os brejeiros passaram a conviver com alguma assiduidade com aquelas geringonças, apaixonaram-se, perdidamente. Cada um, mesmo não sabendo com quais meios e recursos, queria, a todo o custo, comprar uma daquelas máquinas. Os pais de Alfredo e Francisco não foram os primeiros, como alguns afirmam, a ter um carro em suas garagens no Brejo; até porque, naquele tempo, a fazenda onde eles viviam em criança, não pertencia ao Município do Brejo das Almas. Darcy, fazendeiro e político regional influente, foi quem teve esta primazia. Há, no entanto, controvérsias, as quais respeito e não discuto, até porque me levariam do nada a lugar algum.

Chega de carros e vamos voltar para a realidade do inicio destas mal traçadas linhas. Simplício, era esse o seu nome, vivia de mascatear. Morava na Vila Vieira, próximo a Lagoa, onde deixava seus animais pastando. No lombo do burro varava dias e noites, dando um duro dos demônios, para no final do mês levar alguma merreca pra casa. A vida de caixeiro viajante ou mascate naquele tempo não era fácil. Com seus dois burros, sendo um para montaria e o outro para cargas, comprava em armarinhos de Montes Claros, botões, agulhas, linhas, dedal, elásticos, anáguas, combinações, véus, batons, esmaltes, lixas, espelhos, perfumes e cosméticos baratos, pentes e quando o dinheiro dava, algumas peças de tecidos como morim e tergal. Embrenhava-se nos sertões de Minas e, quando menos esperava, involuntariamente, estava em Monte Azul, lá no extremo, prestes a atravessar a ponte para o Estado da Bahia. É chão, meu nego. Ele tinha uma forma natural e muito peculiar de cultivar a clientela e fazer negócios. Ao chegar às paragens, procurava uma sombra onde amarrava os burros, geralmente em frente à Igreja. Com uma enorme cabaça aberta ao fundo, com pequena fenda à frente onde punha a boca, gritava aos quatro ventos, num português sofrível que faria Camões mover-se no túmulo: “Alô povo de Sun Gerardo, Simprisso Mascatero chegô trazeno procêis as nuvidade deretamente da cedade princesa do norte... Nóis tem de tudo um poco. Nóis tem butão pra muié butuá ropa, pano pra muié fazê vistido pra cubri as vregonha. Nóis tem burracha pra sigurá cirôla de home e de muié... Cumbinação pra muié potregê os peito. Véio pra cubri cabeça de muié crente. Batom pra dexá  muié cuns beiço vremeio quinêm carmim. Pente pra muié pintiá cabelo. Lixa pra muié lixá unha. Pó de arroiz, água de chero, tarco e prefumo pra muié ficá bunita e cheroza e num levá chifro. Nóis tem tamém ismarte pra muié pintá unha das mão e dos pé... Agúia, e retroze pra muié custurá ropa e dedár pra muié num furá os dedim.” Simplício era uma figura. Ele falava assim mesmo e todos o entendiam, porque, era esse o “dialeto” do lugar. Lá em São Geraldo, naquele tempo um pequenino povoado, Simplício quando chegava, amarrava seus burros debaixo de um grande pé de umbu que ficava exatamente aonde? Dou-lhe uma. Dou-lhe duas e dou-lhe três: quase dentro do Cemitério! E porque eu sei disso? Por que a nossa casa, assim como a pequena Escola onde minha mãe lecionava, distavam apenas alguns passos do dito cujo. Simplício amarrava os burros lá, que ficavam sozinhos pastando e ia vender suas mercadorias em frente a pequenina Igreja. Aí, nós, moleques aproveitávamos para fazer a festa. Só pra sacanear, enquanto Simplício anunciava suas bugigangas, nós, “capetas em forma de guri como dizia a música”, desamarrávamos os animais e depois de caminharmos com eles por centenas de metros dentro da mata, finalmente os amarrávamos em outra árvore, bem longe, onde jamais as vistas de Simplício alcançariam. Retornávamos para as proximidades do pé de umbu e escondíamos atrás das moitas, afim de que pudéssemos nos esbaldar, bem de perto, com o desespero e xingamentos de Simplício. Após esperarmos, pacientemente, por várias longas horas, lá vinha o pobre do infeliz. Simplício, ainda distante, notou que os burros não estavam mais lá: “Oh, Meu sinhô Jisuis, onde está meus burro? Será que eles se asortaram da pranta? Mais diabo, num é impussive, apusquê eu amarrei eles cun força. Isso num tem cabimento apusquê sinão eles tamém se asortava das otras arve nos otro lugá. Capeta, apusquê isso só acuntece aqui em Sun Gerardo? Será qui é arguma mardição desse sumutéro? Ô dó, agora qui tô vêno qui isso acunteceu a muincho tempo apusquê os bichim nem tivéro tempo de cagá aqui. Sêno anssim eles vai tá longe. Oh meu bum jisuis, ocê qui tamém andô num jumentim cum seus pai me ajuda a encontrá os meu!” Antes que maiores aflições se apoderassem de Simplício, surgíamos como se tivéssemos brotado do nada e, de maneira natural e dissimulada, nos apresentávamos para ajudar: “Seu Simplício, o senhor está procurando pelos seus burros?” “Tô, sim, miséra, apusquê, ocêis viu?” “Sim, nós vimos. Estávamos caçando preá e deparamos com eles debaixo de uma árvore há um quilômetro daqui!” “Antonce vamo fazê o siguinte, ocêis me leva lá pra iêu trazê eles de vorta!” “Sabe, seu Simplício, respondíamos todos, procurando valorizar o próprio passe, bem que nós gostaríamos muito de ajudar, mas temos que nos preparar para irmos à Escola!” “Diabo docêis cum esse nigóço de iscola. Quanto mais istudia mais burro fica. Vamo cumigo lá nos burro qui quando nóis vortá cum eles eu vô dá uma grujeta procêis e ai o ganhame é de todos nóis, apusquê amanhã eu tenho qui amanhecê, niguciá e drumi em Caçarema!”

Era tudo que queríamos ouvir. Pegávamos na mão de Simplício e, como se estivéssemos praticando a primeira boa ação do dia, o levávamos até seus burros. Ele, agora feliz e reconfortado, abria aquele sorrisão. Depois de nos dar alguns trocados, para comprarmos bolinhas de gude, ainda nos elogiava: “Cuntinue anssim meus fio, cum esse curação bundoso e sem niúma mardáde. Num é sem mutivo qui Jisuis, o fio do hôme falô:  Dichae qui vindi a mim os piquinino apusquê deles é os reino do Céu!”

É!

Por certo, a máxima, exaltação grandiosa da pureza dos inocentes, proferida pelos Lábios Santos, Imaculados e Misericordiosos do Divino Mestre do Madeiro, O Filho de Maria e José, que por todos nós derramou Seu Precioso Sangue no Gólgota, não se referia aqueles pobres diabinhos de São Geraldo. Não fazíamos jus a ela. Se Ele ali estivesse, certamente que dessa forma a proferiria: “Pelo amor de Deus, afastai de Mim esses tenebrosos capetinhas, porque não são deles o Reino dos Céus!”

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 3 de dezembro de 2011

AS JOIAS RARÍSSIMAS DO BREJO - INTRODUÇÃO

AS JOIAS RARÍSSIMAS DO BREJO  -  INTRODUÇÃO

Enoque Alves Rodrigues

Há algum tempo atrás finalizei a serie de crônicas “As Joias Raras do Brejo”, a qual foi iniciada com “As Joias do Brejo”,  por onde desfilaram personagens que de uma forma ou de outra se destacaram cada qual a seu tempo e que muito realizaram ou ainda realizam, no sentido de tornar o nome de nossa querida Cidade de Francisco Sá, ou Brejo das Almas, conhecido no cenário Nacional. A guisa de ilustração, apenas para volver ao tema, quero ressaltar que no campo do empreendedorismo, solidariedade, autoridade, dedicação e respeito a sua gente, coloquei entre os ilustres personagens de “As Joias do Brejo”, como figura de maior destaque nesta área em minha modesta concepção, o inesquecível “Zeca Guida” ou o Zeca de Cana Brava, ou José Dias Pereira.

Já nas “Joias Raras do Brejo”, no campo Literário e Cultural, pela didática simples, fiel e sintonizada com as coisas e pessoas da região, com muitas das quais tive o privilégio de fruir em infância do convívio, destaquei a grande e inigualável, Karla Celene Campos. No entanto, mencionada série foi iniciada com a Dona Yvonne Silveira, pelos atributos inquestionáveis nesta e em todas as áreas da Literatura, cuja magnitude robusta e resplandecente, dela assim como do seu esposo Olyntho, que também integra esta série, a minha pequenez de matuto brejeiro de cabedal cultural insignificante, que mesmo tendo tido o privilégio de alisar bancos de importantes e renomadas escolas, não consegue mensurar. Eu diria que os atributos intelectuais com os quais  a Dona Yvonne assim como Olyntho foram dotados, estão muito acima “do que supõe a minha vã filosofia.” É muito para a cabeça indouta de um sujeito de intelecto mediano e esclarecimentos parcos. Talvez, após eu subir e descer por várias vezes ou passar por umas trezentas reencarnações, quem sabe estarei apto a definir com a clareza necessária e exatidão de pensamento compatível, a dimensão exata do caráter, bondade e dedicação desses dois grandes e incansáveis colaboradores a quem o Brejo tanto deve. Conjugo, para ambos, o verbo no tempo presente porque não há diferença de esfera para os que são bons e puros.

Fiz esse introito apenas para dizer que conforme eu havia prometido anteriormente, dividiria aquelas narrativas em três etapas: “As Joias do Brejo”, “As Joias Raras do Brejo” e finalmente, “As Joias Raríssimas do Brejo”, esta última série é a que estarei levando a efeito no primeiro trimestre de 2012. Antes, porém, devo antecipar minhas justificativas, pois com a relativa certeza dos mortais, não conseguirei levar adiante a disciplina sequenciada.  Atualmente me encontro envolvido com uma infinidade de grandes projetos que estão consumindo quase todo o tempo deste pobre quase ancião.

A próxima série “As Joias Raríssimas do Brejo” ao contrário das anteriores será mais longa. No entanto, os episódios compostos por pessoas, locais históricos e fatos que tiveram grande relevância para a vida da Cidade e de seus Cidadãos, serão mais curtos e sucintos, dentro do possível, desde que isso não venha desvirtuar os objetivos do entendimento assertivo dos fatos narrados.
É certo que devido até aqui eu ter retratado muito mais os fatos e pessoas do antigo Brejo das Almas ou Francisco Sá, dispenderei, desta vez muito mais tempo com os relatos das localidades históricas e importantes do Brejo e suas adjacências desde a sua fundação, que propriamente com seus personagens. Assim sendo, personagens, cuja vida detalhei  em suas minucias como, por exemplo, o Padre Augusto Prudêncio da Silva, Jacinto Alves da Silveira, Geraldo Tito, Feliciano Oliveira, entre outros, não serão abordados. Talvez, apenas para fazer alguma correção biográfica que porventura a história não registra.
Não terei nenhuma pretensão de monopolizar a verdade do que vier a relatar. Tampouco alimentarei a vã ilusão de que reunirei em torno de mim unanimidades que massageiem o meu ego. Ele já se encontra de há muito massageado pelos afagos de todos aqueles que me prestigiam com a leitura das bestagens que escrevo. Faço isso por puro prazer, pois entendo de muito bom grado dividirmos com os outros um pouquinho do conhecimento do qual somos portadores. Por outro lado, a fonte de onde tiro a minha subsistência através do esforço incessante, está onde sempre esteve: Dentro da Engenharia. É ela que me suga. É por ela que dediquei todos os meus longos anos de estudos e aperfeiçoamentos que perduram até hoje. É definitivamente ela que me proporciona a vidinha simples e pacata,  mas muito digna que levo. Ou seja, escrevo estas bobagens pelo compromisso que tenho para com minha consciência, minhas origens, minha Terra e minha gente. Por puro prazer, diria.

Falando em escrever, informo a muitos que tem me perguntado, que o meu primeiro livro “Liderança Conquistada”, que está sendo  publicado pela Editora Livre Expressão, com data de lançamento a ser definida, ao contrário de quase tudo que escrevo fora da Engenharia, não é sobre o Brejo das Almas. Há somente uma foto aérea do Brejo em sua contracapa com a legenda “foto de Francisco Sá, ou Brejo das Almas, Cidade de nascimento do autor”. A temática é sobre liderança, otimismo e motivação no trabalho e traz em seu conteúdo uma série de episódios por mim vivenciados dentro dos canteiros de Obras desde o inicio de minha carreira. No entanto, alegrem-se, brejeiros, pois o próximo livro que estarei publicando, “O Brejo das Almas em Crônicas” como o próprio título já sugere, é todinho sobre o Brejo das Almas, claro: Lá desfilarão uma coletânea de crônicas inclusive inéditas que escrevi até aqui sobre esta minha Cidade. O lançamento, no entanto é para o ano que vem. Toda a renda e direitos autorais deste livro eu estarei revertendo para instituições localizadas no Brejo. Por isso, como não vivo no Brejo, não sei,  sinceramente, hoje quais instituição seriam agraciadas. Assim sendo, quando estivermos próximos do lançamento, farei uma simples e rápida consulta aos brejeiros locais para me indicarem as instituições as quais, antes de eu definir o direcionamento dos recursos, estarei visitando.

Aproveito este espaço para informar ao Mathias e Célia Dantas, meus conterrâneos que hoje vivem em Montes Claros, que lhes enviei via correio, apontamentos que disponho sobre João Catulino Andrade. Ficaria muito pesado o envio por e-mail. Caso necessitem de mais algum dado complementar, estou à disposição. Claro, desde que me dêem o prazo necessário para que eu faça os levantamentos em minha biblioteca. Como vocês sabem, devido minha exigüidade de tempo preciso que me avisem com muita antecedência. Lembrando que ultimamente, o “grande senhor da razão” não me tem sido um bom aliado. Falta-me tempo para quase tudo. Como procuro ser pontual com minhas coisas, prefiro muitas vezes não assumir compromissos que poderão levar-me ao não cumprimento no tempo exigido. Realmente, como vocês disseram, não há quase nada disponível para consultas na internet a respeito dos principais vultos de nossa Cidade. Entendam que isso é assim mesmo. É como a crônica que escrevi três semanas atrás “A importância da Mídia Eletrônica na Divulgação de Francisco Sá”: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/2011/11/importancia-da-midia-eletronica-na.html. Aos poucos, graças a iniciativas de obstinados brejeiros que respiram ou já respiraram um dia os ares dessa nossa terra, farão com que ela seja conhecida muito além do que imaginamos, em pouco tempo. No bojo desse rompimento de limites fronteiriços, virão os nomes que um dia por ela lutaram, tombaram, levantaram e seguiram adiante, tornando-a no que hoje é. A história é prodiga em “justiça tardia”. A NET veio em boa hora para agilizar esse processo.

Geraldo Magela, Antônia, Carlos e Dilermando, obrigado pelas palavras de elogios a minha humilde pessoa. Estejam certos de que não sou merecedor. Acho que vocês as endereçaram a pessoa errada. Quanto ás informações que me solicitam sobre a Doutrina, desculpem-me, mas não posso lhes passar nesse espaço. Esse blog eu o utilizo somente para divulgar o Brejo e todo o material postado aqui também é enviado para divulgação em minha coluna no MontesClaros.com, cujos critérios jornalísticos não contemplam mencionada temática. No entanto informo que mantenho há dez anos um site pelo qual divulgo a Doutrina, inclusive resultados de várias pesquisas que realizei sobre o tema. Lá vocês poderão encontrar vasto material. Tenho também um blog com esta finalidade o qual poderão acessar e deixar vossos comentários e perguntas que terei o imenso prazer em responder, claro, se eu souber. Se eu não souber, “perguntarei aos Universitários’ e lhes transmitirei a resposta Deles. Agora, rezem, porque se eles também não tiverem as respostas que vocês esperam, não nos restará outra alternativa, senão a de aguardarmos com “muuuuiiiiiiita paciiiiiiiiência” o nosso “graaaaande momeeeento” que espero, seja daqui há “muiiiiitos aaaaaanos, para vermos, realmente como essa coisa toda funciona lá em cima. Eu, como Mineiro cansado e Brejeiro tranquilo confesso a vocês que não tenho pressa alguma. Aqui em baixo tá bão demais da conta, sô e tudo indica que se eu continuar trabalhando do jeito que trabalho, qual jumento Celestino, a tendência natural “é isso tudo melhorar” e aí, meu nego, “subir pra que? Mas nem cantando”. “E Que os amantíssimos Confrades de Doutrina e companheiros de ideal que comigo militam há quase quarenta anos me entendam e perdoem. Que assim seja!” Rsrsrsrsrs.

Até parece!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 26 de novembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – O COMÉRCIO DE ANTIGAMENTE

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – O COMÉRCIO DE ANTIGAMENTE

Enoque Alves Rodrigues

Desnecessário seria recorrer as quase duas mil crônicas que escrevi até hoje sobre o Brejo das Almas, para me certificar de que já me referi, parcialmente, por mais de uma vez, ao tema que dá titulo a minha crônica deste final de semana. Porém, não obstante reunir modesto cabedal de conhecimentos sobre isso, jamais fiz uma alusão mais profunda e compatível com a importância que o assunto requer e merece. Assim sendo, futuramente entrarei nesse tema, pormenorizadamente, com citações nominais dos comerciantes e seus respectivos perfis, endereços de seus comércios, ramo de atividade e muitas outras particularidades comerciais do Brejo das Almas de antigamente. Com isso, muitos saberão que até chegar a Casa Viena, Casa Branca e Costa Negro, de saudosa memória, para não citar os atuais, a distância percorrida foi muito grande. 

É difícil até mesmo para alguns moradores do Brejo atual, diante da grande efervescência do comércio local, acreditar que não faz tanto tempo, o escambo era uma das principais moedas de troca no Brejo das Almas. O meu avô, por exemplo, que viveu quase cem anos, muitas vezes teve que recorrer a esta modalidade, praticada pelos antigos Egípcios e todo o mundo civilizado há alguns milênios antes do nascimento do Crucificado. A numismática inexistia. Não haviam moedas cunhadas com valores monetários predefinidos, senão o dar um bem em troca do outro. Mesmo após a invenção da moeda na Lídia, um território da região ocidental da Ásia Menor, hoje pertencente à Turquia, no Século VII, a. C., esses costumes permaneceram arraigados nas entranhas da humanidade. No Brejo, então, não era diferente.

Quando o Brejo se achava em crise, e isso acontecia com frequência ou sempre que as secas grassavam os sertões do Norte de Minas, o povo ficava inteiramente descapitalizado. Nesse caso, o jeito mesmo, meu nego, era munir-se de uma cuia do mantimento que dispunha em casa e sair pelas ruas rezando e implorando ao São Gonçalo para encontrar alguém que  não o tivesse. Ou melhor, que tivesse outro diferente do seu, para que houvesse o mutuo interesse da troca por necessidade. É a lei da oferta e da procura só que de uma forma meio as avessas, entendeu?

Pois é, se o Cidadão Brejeiro estava sem capital, ou seja, sem dinheiro, sem grana, não tinha como azeitar a máquina que girava e fazia girar em torno de si todas as coisas e o comércio de antanho. Ai a gritaria era geral. O desespero tomava conta de todos, inclusive dos comerciantes. Tinham que desovar os seus estoques de qualquer jeito para fugirem de uma perda total, pois os carunchos, famintos, não perdoavam nada, vinham detonando tudo que encontravam pela frente.

França tinha um comércio cujo ramo de atividade passava a milhões de anos luz de distância dos famosos secos e molhados. Dos comestíveis. Dos mastigáveis. Dos sossegam lombrigas e protozoários. O querido França militava no ramo dos “bebíveis”. Não, bebum, não era aguardente, não. França vendia remédios como injeções, comprimidos, xaropes, garrafadas, rui barbo e bicarbonato para o estômago, etc., serve pra você? Ele tinha uma farmácia que ficava na esquina do antigo Largo da Matriz, bem próximo de onde hoje se localiza a agência do Banco do Brasil. Nos fundos da farmácia, França, curiosamente, mandou construir dois inusitados cercados, sendo um com tela de arame e o outro só com madeira. O primeiro logo ganhou ares de galinheiro, já o segundo, como não podia deixar de ser, transformara-se em um grande e luxuoso chiqueiro. Esses compartimentos eram utilizados a guisa de cofre. Sim, era lá que França guardava as férias do dia, semanas, meses e anos.

Cenas que hoje deixariam qualquer um estupefato, sem nada entender ou até mesmo sair correndo, ali, sem quaisquer surpresas ou constrangimentos, aconteciam, naturalmente. Raciocine comigo: suponhamos que você esteja dentro de uma farmácia e de repente entra alguém com uma galinha, um porco debaixo do braço ou um bornal com milho, feijão ou arroz. Coloca aquilo sobre o balcão, puxa do bolso de trás uma receita em papel amassado e vai logo dizendo para o Farmacêutico: “Mecê tem esse rumédio ai pra ieu?” Diante da resposta positiva, lhe pergunta: “Isto custa quantas galinhas?”... “Quantos porcos?”... Ou “quantos quilos de feijão?” Pois é, os que me conhecem sabem perfeitamente que não tenho o vezo da hipérbole. Por isso, creiam-me, sinceramente, que era mais ou menos isso que acontecia no Brejo das Almas de então.

França era um ótimo sujeito, mas agora andava meio chateado com sua clientela que, por não ter feito uma previdência que lhes propiciasse um pouco de tranquilidade na doença, vivia agora abarrotando seus cercados com todo tipo de animal. O ruim de tudo isso era que aquele tipo de moeda, o pobre França, por mais que tentasse, não conseguia repassar aos seus fornecedores de Montes Claros. Para os caras dos laboratórios, porco, galinha, feijão, arroz, milho e outras “guloseimas mais”, só interessavam mesmo depois de cozidos, e no prato. Preferencialmente, se possível, por que ninguém é de ferro, na boquinha. Só aceitavam o pagamento em dinheiro ou então em notas promissórias com juros altíssimos.

Necessidade é que faz o sapo pular ou então, quando a água bate na bunda neguinho pula, são ditos da sabedoria popular. Mas cuidado, pense mais e fale o mínimo possível. Não se esqueça de que a língua é o chicote da bunda, dirão outros. França pensou... França refletiu. França tinha que tomar uma providência urgente senão a falência seria inevitável. Mas ele, bondoso, não queria chocar a freguesia. Ele precisava dela. Depois, como ficaria o “remedin” pra combater o paludismo do “brejerin” com a pancinha cheia de “bichin?” Não, definitivamente ele não cometeria uma atrocidade dessas. Brasileiro pensa. Mineiro matuta. Brejeiro pensa e matuta, ao mesmo tempo. Tinha que haver uma saída... Havia.

Naquele tempo, Jacinto que era seu compadre, dava expediente na Prefeitura. A farmácia de França ficava exatamente no trajeto, que Jacinto fazia três vezes ao dia, pois almoçava em casa. Numa dessas passagens, França, desesperado, chamou-o:

- Compadre!

- Pois não. Respondeu-lhe o Coronel Jacinto, sempre educado, cordial e solícito.

- Já não sei mais o que fazer compadre. Não posso mais aceitar porco, galinha e mantimentos como forma de pagamento. Os meus cercados estão cheios. Se eu continuar assim vou quebrar. Mas também não posso deixar o povo sem remédio. O senhor precisa me ajudar!

Jacinto, homem prático, de raciocínio rápido, desses que em fração de segundos cria, amadurece e executa uma idéia, ali mesmo, sobre o balcão da farmácia, pegou sua pena e num papel timbrado escreveu em letras garrafais: “Com o único objetivo de zelar e preservar a valiosa saúde do povo brejeiro, com o intuito exclusivo de evitar propagação de doenças e pestes eventuais, inerentes ás espécies suínas e ovinas, porcos e penosas, proíbo, a partir de hoje, qualquer forma de pagamento de remédios mediante tais modalidades”.

Depois de assinar, entregou o papel para França com a recomendação: “Aqui está compadre, a solução para o seu problema. Pegue isso e cole na frente da farmácia. Quando alguém chegar com porcos e galinhas, basta o senhor mostrar o cartaz. Como a maioria não sabe ler, diga que o papel lhe proíbe de vender remédios para receber de outra forma que não seja em dinheiro vivo”.

É...

Por vezes diz a sabedoria popular, quem tem padrinho não morre pagão.

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 19 de novembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – PERGUNTAS E RESPOSTAS

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – PERGUNTAS E RESPOSTAS

Enoque Alves Rodrigues

"AONDE Ó LIBERDADE O SOPRO EXPANDES, EU QUIZERA VOAR, CONDOR DOS ANDES."

Tenho sido indagado com freqüência a respeito do paradeiro de alguns personagens por mim elencados neste espaço desde os idos de 2004, quando ainda publicava no extinto site da Abril, minhas crônicas quinzenais sob o titulo “gente, causos e coisas do brejo”. Confesso não dispor hoje da menor noção de onde alguns deles se encontram. É quase certo que a maioria assim como eu, já se mudou do Brejo ou, quem sabe, já esteja no andar de cima o que não significa absolutamente que  a minha permanência, ainda neste plano, seja por hora extra.

Ainda que alguns menos avisados insistam, ou quiçá, propositadamente, pelo simples dom da retórica fácil ou para polemizar, sou nascido e registrado no Brejo, mas lá vivi por pouco tempo. Não obstante os fortes laços que me prendem a terra mãe que me serviu de berço na atual encarnação e que orgulhosamente divulgo há muito tempo, não tenho hoje no Brejo, pelo menos que eu saiba, nenhuma  relação de parentesco. Fisicamente, como já disse por mais de uma vez, ninguém lá me conhece. Ando pelas ruas do Brejo das Almas sem ser notado. Aliás, há sensação mais gostosa do que você  ser tratado como estranho em sua própria terra? Você já teve alguma vez o seu momento de espírito invisível? Pois é!  Você vê, mede, observa e aprecia todos que estão a sua volta e eles o ignoram inteiramente. Não lhe vêem ou pelo menos, fingem que não estão nem ai pra você. Quando você os fita nos olhos, eles, simultaneamente, desviam o olhar para o nada dando a impressão ser o nada mais importante que você. Isso geralmente ocorre com pessoas simples e naturais, cuja presença, no meu caso, não desperta qualquer interesse ou curiosidade aos demais. Não que eu não me ache bonito, claro, sou muito lindo, os outros que insistem em não me notar. Paciência! Rsrsrsrs.

Saudoso dos meus familiares que vivem em Burarama e do Brejo querido, aproveitando uma rara folga de agenda, estive recentemente no Brejo. Desta vez, ao contrário das vezes anteriores, estava tudo limpinho e arrumado. Chamou-me a atenção especialmente a quantidade de reformas prediais. Bacana.

Entro numa Padaria, na Alameda, peço um café com leite e  pão, que me são servidos em um copo de vidro, desses onde costumam servir “a mardita” aos bebuns. Sigo um pouco adiante, saio da Alameda e entro numa Quitanda, onde, segundo as “más línguas”, são vendidos os mais saborosos e bem preparados pãezinhos de queijo do Brejo. Compro um pacote deles; ainda estão quentinhos. Sou tomado por um arrependimento repentino: Diabos, se eu tivesse esperado alguns segundos mais, poderia agora estar saboreando estes pãezinhos de queijo com o café com leite que acabei de tomar lá na Padaria. Passo diante da Igreja do Padroeiro. Fico ali parado por algum tempo imaginando como foi difícil aos caros colegas de épocas remotas, projetar e construir este templo. Verdadeira obra arquitetônica. Pesquisas me levaram a conhecer tanto sobre a história desta igreja, de sua fundação até o acabamento, assim como o pessoal efetivo envolvido em sua construção, atas, inauguração, primeira missa, nome do padre que a celebrou, etc. No entanto, tudo isso é insuficiente para conter minha admiração e encantamento por ela, toda vez que em sua frente me posto. É como se fosse a primeira vez. Mais adiante, deparo-me com a estátua de Feliciano. Meu Deus, estou ficando velho. Conheci esse cara em vida! Fui, em infância, a vários comícios dele só para ouvir o seu lindo palavreado e comer churrasco de espeto de valeta. São aqueles espetos que eram assados sobre uma enorme vala aberta no chão, onde deitavam brasas incandescentes. Como falava bem este homem a quem o Brejo tanto deve. Conhecedor dos mais comezinhos anseios populares, domínio completo do vernáculo de Luiz Vaz, o Camões, articulação impecável, dicção e tonalidade de voz que beiravam a perfeição, aquele cara inflamava as massas com seus discursos inesquecíveis. Agora, restava ali, a minha frente, apenas e tão somente, um reduzido amontoado de pedras e bronzes em cuja cabeça alguns pássaros atrevidos, diria, talvez por não terem sido informados do quão importante foi nosso Feliciano em vida, insistem em utilizar sua bela careca à guisa de aeroporto ou banheiro público. É a vida que passa lenta e silenciosa por aquelas plagas e por todo o canto, nos conduzindo, inexoravelmente, ao grande dia em que talvez, quem sabe, se fizermos um pouquinho do que ele fez, teremos também uma estátua em nossa justa homenagem, para a alegria da posteridade e, principalmente, dos passarinhos brejeiros que ganharão mais um aeroporto.

Cansado, mas com a alma confortada, após caminhar por quase todas as ruas e avenidas do Brejo,  visitar, solitariamente, as mesmas localidades dos tempos de infância,  deixo-o do mesmo jeito em que cheguei: Calado. Silencioso. Meditabundo. Tenho por costume não deixar que minha humilde presença interfira na vida pacata da Cidade e seus locais. Mesmo quando a visito acompanhado por alguém, procuro manter a discrição.  Ciente de que,  em muitas situações da vida,  basta apenas uma simples palavra minha para fazer com que as coisas fluam, no Brejo das Almas, ou próximo dele, na casa da minha santa mãezinha lá em Burarama, recolho-me inteiramente a minha verdadeira insignificância. Ali me sinto criança outra vez. Inclusive, dou-me o direito de fruir da mesma inocência imaculada dos quase pueris.

Voltando a falar dos personagens dos quais tive conhecimento dos respectivos paradeiros, lembro-me de Maria Quitéria, claro, como poderia eu esquecer? Mudou-se do Brejo para Curvelo, onde se casou. De lá foi para Porteirinha, onde vive. Quanto ao Badú, como todos sabem, ele me encontrou aqui em São Paulo em 1973, por coincidência, na mesma empresa. Casou-se com uma Paranaense, Dalva. Tem três filhos e já se encontra aposentado cuidando de sua empresa de prestação de serviços no bairro da Mooca, aliás, é meu vizinho. Mateus, Bicalho, Conceição Formosa e Antão, retornaram para Taiobeiras e Salinas de onde não tive mais noticias. Geraldino Fogueteiro I, Demóstenes e Manezim Vaqueiro, até onde eu soube, foram para Januária. Quanto aos demais, Zezim Tocador e seu Vazamundo, Francelino do Areal, Feliciano Sansão, Zé Rodrigues, Mateus Gordo, Geraldinho Mazzaropi, Maninho do Mocó, Manél de Vovó, Neuzão, Cláudio Lagôa Seca, Demétrius, Gedeão, Almeida, Maria Bocão, Roberto Carlos do Mato, Tininho, Chuteira, Pascomiro, Galdino, João Pretinho, Geraldo Magela, Boneca Preta, Mané Pezim, Katiússia e muitos outros, permaneceram no Brejo. Cabe, portanto, aos meus queridos conterrâneos locais nos informar de seus paradeiros. Outros que porventura não se encontram relacionados aqui, das duas, uma: ou a minha mente já cansada não conseguiu recordar ou, por motivos óbvios, os excluiram da lista física dos vivos, em reverência aos seus familiares, mantendo-os eternamente na lista indelével do coração.

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur