sábado, 18 de fevereiro de 2012

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ – VALDO, “O ESPERTO”

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ – VALDO, “O ESPERTO”

Enoque Alves Rodrigues

Não. Definitivamente as coisas não andavam bem para o lado dele. Nada, absolutamente nada daquilo que tentava lhe saia bem. Se ele plantava, não chovia. Se não chovia, não vingava. Se não vingava, não colhia. Se não colhia, não comia. Se não comia, certamente que morreria. Aparentemente não haveria para ele uma honrosa e digna saída. Naquela pobre e oca cabeça de cabaça brejeira, restava apenas e tão somente, como liquido e certo, o final melancólico de um agonizante moribundo. Desculpem-me pela redundância, mas foi, deveras, necessário para deixar claro e patente o superlativo de desencontros e desatinos pelo qual passava aquela pobre e, para ele, insignificante vida.

Realmente, os “mares de Minas não estavam mesmo para peixes.” Bem, se os “mares de Minas” não estavam para peixes, os brejos de todas as almas bondosas, de minha querida e bem amada Francisco Sá,  não estavam nem para sapos. Várias foram as vezes em que este genérico de escriba se referiu aqui neste mesmo espaço, sobre as muitas crises que se abatiam sobre o norte do estado de Minas Gerais, mais precisamente em Francisco Sá ou Brejo das Almas, terra que me serviu de entranha, onde permaneci até os 18 anos.

Parece fácil dissertar sobre crises ou dificuldades, preferencialmente depois de superadas. Vive-las, no entanto, não é nada fácil. Aliás, há que se ter muita esperança, força de vontade, determinação e paciência, para poder atravessar quaisquer crises com otimismo e dignidade incólumes e imaculados. Quando, então, elas afetam diretamente o estômago ai a coisa torna-se mais difícil. É mais ou menos como dizia o senhor Madruga do seriado “Chaves: “Quando a fome aperta, a vergonha afrouxa.” Recordo-me, de algumas delas, onde, ainda tenro, tive que interromper os estudos primários para me embrenhar nas fazendas em busca de trabalho, enquanto a deusa de nossa casa, a santa de cabelos brancos por quem tive a graça de ser concebido, orgulho maior de meu existir, que hoje, queira o Divino Mestre, por muitíssimo tempo ainda, vive em Burarama, se desdobrava dia e noite, na bela e gloriosa arte do ensinar. Já o meu pai, que Deus o tenha no santo lugar que lhe é merecido por direito, labutava com uma vendinha de secos & molhados. Quando não conseguia tirar mais nada dali, corria de picareta em punhos, a prestar trabalho duro na Estrada de Ferro para suprir as carências da casa. Tempos duros, mas saudosos aqueles. Entendo, ainda hoje, que as dificuldades são as únicas maneiras de se fazer com que as pessoas provem quem realmente elas são e que fora do trabalho não há realização.

Quem não se lembra, por exemplo, dos tempos da “caça” as gabirobas? O que são gabirobas? Pois é, tratava-se de um pequenino fruto de coloração verde e amarelo que mais se parecia a uma pequena goiaba e que, surgiu ou foi, inesperadamente, descoberta, no serrado Mineiro em plena crise. Famílias inteiras embrenhavam-se nas matas ralas em busca daquela verdadeira dádiva da Natureza. Quantas boquinhas nervosas aquela abençoada frutinha acalmou. Voltemos ao Valdo.

Valdomiro Ferreira dos Santos. Era este o pomposo nome pelo qual respondia. Caboclo, brejeiro, queimado pelo sol escaldante do Sertão de Cana Brava, era casado com Sebastiana, com quem tinha quatro filhos.

Morava no centro do Brejo, próximo ao velho Mercado, ou precisamente na Rua Padre Augusto. Quando não estava trabalhando em suas “improdutivas” roças, era facilmente encontrado dando banhos em minhocas no rio São Domingos. Muitas vezes, quando a aflição mais lhe atormentava, punha-se a sonhar com o rico tesouro do Bandeirante Jerônimo Xavier de Souza, que segundo antiga lenda, se achava enterrado há séculos no morro do mocó, sob uma grande pedra onde ficava a fazenda de Antonio Miranda. Pronto: “cabeça vazia, oficina do diabo.” Falamos, nós, os antigos, ou melhor, os gastos. Pois é. Não demorou muito e Valdo que não tinha mais no que pensar, julgando-se desprovido de qualquer alternativa que o levasse a sair daquela pindaíba com luta e denodo, passou, destarte, a divagar sobre futilidades.

Numa dessas divagações, deitou-se e não conseguiu conciliar o sono. É próprio do espírito não repousar enquanto não encontrar a paz necessária para fazê-lo. Cochilou, o cachimbo não caiu. Pelo menos não fumava. Mas foi o suficiente para em sua visão ver-se frente a frente com o Sargento Mor, ou o Bandeirante Jerônimo Xavier de Souza. Cobria-lhe o lombo vestimenta característica dos que provem de “Além mar”, “da costa”, ou, como queiram “de Portugal”. Valdo, surpreso com aquela inesperada aparição, não teve sequer forças para abrir os olhos. Falar ou balbuciar alguma coisa, então, nem pensar. Mas o “bondoso” Bandeirante, na condição de espírito, lia-lhe os pensamentos e assim poupou-lhe de maiores sacrifícios. Determinado e assertivo como qualquer bom Europeu foi direto ao ponto:

- Meu caro Valdo, há tempos que venho lhe observando. Não consigo mais descansar de tão aturdido que vivo com os seus queixumes e atribulações. Traz-me aqui a vontade imensa de lhe ajudar. Por favor, meu amigo, pense ai, em três desejos e fixe-se em um, e, se possível me fale, que eu o realizarei, imediatamente. Não quero vê-lo sofrendo desse jeito.

Bem, qualquer brejeiro normal,  habituado com a dureza da vida, amante incondicional do velho batente, ou como falamos aqui em São Paulo nos canteiros de obras, “do trampo”, cônscio de que sem árdua luta não há vitória, pediria chuva para que continuasse no trabalho sagrado de plantar e colher para se alimentar. Mais Valdo. Bem... Valdo, não. Ele queria muito mais. Ele não queria trabalhar. Ele não perderia de forma alguma aquela única chance de ficar rico sem fazer força. Assim sendo, num sacrifício dos diabos, movido pela usura, buscou lá no fundo do recôndito, forças até então, inimagináveis com as quais balbuciou seu mesquinho desejo:

- “Uai, Coroné. Os meu desejos o sinhô bem o sabe. Eu queria que mecê me dissesse adonde o sinhô enterrô o seu tisoro. Se pussive qui o sinhô me trouxesse ele aqui apusquê eu tenho medo de artura e principarmente qui a preda adonde ele está escondido se role sobre mim. Num é mesmo lá no morro do mocó qui ele está enterrado?” Antes mesmo que Valdo fechasse a boca, já se ouvia o fantasma do Bandeirante Jerônimo esbravejando num dialeto Lusitano de quem veio da Ilha da Madeira, nos tempos das Caravelas:

- “Ora, pois, pois. É isso que vucê me pedes, seu curalho? Eu psei que vucê fosse me pedirr chuva para cuntinuarr laburando em suas roças e com o suor de seu rousto, sustentar sua fumília e vucê me vens pedirr ouro? Vá trabalhar vagabuundo... Vucê acha que eu sai daquele curalho de inferrno para vir aqui lhe dar muleza? Nós somos de uma raça trabalhadora, curalho e não aceitamos nada fácil. Eu quueria lhe ofrecer trabalho, curalho. Mas vucê só queres bua vida. Se queres muleza, seu gajo do curalho, filho de uma mãe feia, vais  sentarse no pudim, ou empurrar bêbado das escadas, curalho. Ora, pois, pois.” Dito isto, virou fumaça. Pó de traque. Evaporou-se.

Boca porca a do Portuga. Mas foi a forma ideal que aquela boa alma encontrou para chacoalhar Valdomiro e tira-lo do marasmo da ociosidade. Da preguiça. Da inércia.

É...

Por vezes, dizia Confúcio, imprescindível se faz jamais negligenciarmos com os nossos pensamentos. Eles são o espelho de nós.

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

 As referências Lusitanas atribuídas aqui ao Sargento Mor Jerônimo Xavier de Souza, correspondem apenas e tão somente a sua vestimenta espiritual com a qual se apresentava e a sua descendência ancestral. Jerônimo Xavier de Souza, parente de Joaquim José, o Tiradentes, nascera em Vila Rica ou Ouro Preto, MG.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

VENDAS & VENDEIROS DO BREJO ANTIGO – “SÔ CARRINHO”

VENDAS & VENDEIROS DO BREJO ANTIGO  – “SÔ CARRINHO”

Enoque Alves Rodrigues

No inicio do século passado podia se contar nos dedos as poucas casas comerciais que existiam no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, “beldade do norte de Minas.” Aliás, somando-se com as casas residenciais, não passava, naquela época, de um diminuto amontoado de pequeninos casebres aglomerados em torno do antigo Largo da Matriz, o principal do lugar. Foi ali que se iniciou, de fato, a povoação da Cidade, que hoje se aproxima das 30 mil almas. Apenas um casarão em estilo colonial erguido no Largo da Matriz, se destacava. Era a residência da principal força politica da região e pertencia ao clã Silveira, cujo chefe era o Coronel Jacinto Alves.

Bem no “portão” de entrada do lugarejo, para quem vinha de Montes Claros, ou precisamente no morro do mocó, ficava a fazenda de Antonio Miranda. Seguindo um pouco mais adiante, se visualizava a casa velha de “Sá Jacinta”, que ficava dentro de um Sítio, onde ela criava vacas leiteiras. Mais alguns passos e já se achava diante da primeira casa comercial, na verdade, um pequeno armazém de “secos e molhados” que pertencia a Nezinho Pena. Um pouco mais em frente e se via a lojinha de Juca Brinco e a casa de Pedro Ferreira, escrivão de paz. Mais para a esquerda, por detrás da Igreja Matriz, se localizava a loja de João Caixeiro. Seguindo por aquela travessa dava-se no velho Largo do Comércio, onde se encontrava o centro comercial do pequeno distrito. Era ali que se concentravam as casas comerciais mais importantes. Lá se reuniam pequenos grupos de pessoas, em sua maioria, comerciantes, para discutirem os preços do alho, algodão, milho, feijão, cachaça, carne e outros produtos que comercializavam.

Para quem olhasse lá de cima, da esquina do velho mercado, via-se a Farmácia de Francelino Dias, o “França.” Francelino, que havia estudado em Seminário de Diamantina, além de farmacêutico, laborava, também, por força de circunstâncias, no oficio de “Médico”, pois naqueles tempos não se havia ali, naquele torrãozinho de meu Deus, nenhum profissional com curso superior, habilitado nas “exatas.” A “Clínica” de França ficava na própria farmácia. Era ele um grande perito em clínica geral. Todos os brejeiros, do mais importante ao mais simples, passavam, obrigatoriamente, pelas avaliações de França. Órfão de pai, França agora tinha como padrasto o personagem de minha crônica de hoje, “Sô Carrinho”, ou Carlos de Oliveira Pena, cuja estirpe familiar e tradição, no comércio e em vários outros ramos de atividades, inclusive no da politica, ainda predominam em dias atuais.

Grande comerciante, só que no ramo de fazendas (tecidos) e armarinhos em geral, “Sô Carrinho”, apesar de ter obtido sucesso inquestionável na arte de comerciar, não era lá de fazer muita força para isso. Falar pouco e pausado, próprio de nós, montanheses. Para inicio de conversa, abominava toda e qualquer propaganda que não fosse “boca a boca”. Dizia ele, com toda razão e propriedade, numa época em que sequer se sonhava falar um dia em propaganda enganosa ou código de defesa do consumidor, que, “quando o produto é bom não precisa falatório para vendê-lo.” “Que a propaganda mais eficiente e eficaz era aquela disseminada pelos clientes, em seu entorno, satisfeitos com os produtos adquiridos.”

Até ai, morreu neves. Talvez, quem sabe, teria eu que encerrar abruptamente este meu relato, pequeno, singelo e despretensioso, assim como o amontoado de casebres aos quais me referi lá em cima, logo no inicio dessas mal traçadas linhas, não fosse à maneira, digamos, atípica e meio surreal, com que “Sô Carrinho” cultivava ou fidelizava sua clientela. Carrancudo e, na maioria das vezes, mal humorado, nenhum sorriso oferecia. “Só produto bom.” A lei da oferta e da procura, por aquelas plagas sertanejas, aonde, em épocas um pouco mais atuais, os meus pés, outrora, rachados e descalços, pisaram, naqueles primórdios, hoje distantes, funcionava meio que às avessas. Imperava-se, quase sempre, somente a lei da procura. Significava dizer que você tinha a necessidade de buscar e adquirir algum produto para atender sua subsistência. Encontra-lo, no entanto, quando isso ocorria, era motivo de comemoração. Quem o possuía para lhe vender, por qualquer que fosse o preço, estaria, pasmem, na verdade, lhe prestando um favor. Conseguiu entender? Sigamos em frente.

Pachorrento, mas sem jamais ser mal educado com ninguém, apesar de não ser afável. Correto e probo. Zeloso, impecável e transparente em suas transações. “Sô Carrinho”, por incrível que pareça, tinha que vender fiado. E vendia. Tornou-se adepto da caderneta, ou, melhor dizendo, do velho e venerabilíssimo fiado. Postava-se no interior de sua loja e, vestido a caráter, com camisa morim branco e calça tergal azul claro, mantinha ao pescoço, a guisa de gravata, uma fita métrica. Sobre o balcão, possuía uma trena em madeira e, penduradas, à prateleira central, duas velhas e reluzentes tesouras da marca mundial. Completando o cenário, havia também, um não menos velho tamborete em couro cru, onde “Sô Carrinho” se assentava, passando ali, longas e preguiçosas horas a enrolar seu inseparável cigarrinho de palha que pitava com prazer, enquanto lia “O Lápis” ou cochilava entre uma tragada e outra. Por força do hábito, nem bem terminava de fumar um cigarro e já estava a enrolar outro, enquanto aguardava a clientela chegar. Ás vezes ali permanecia, horas e horas, por inteiras e modorrentas tardes, sem que uma vivalma surgisse. Eram comuns os seguintes diálogos entre “Sô Carrinho” e sua clientela:

- “Apôis é, Sô Carrin – dizia-lhe um enforcado justificando atraso de pagamento de um fiado qualquer -, num truxe hoje o dinhero de mecê! Mais eu picisava renová o meu crediáro. Os minino e a Maria tão picisano de ropa e as roça acuma o sinhô sabe, num deu nada nessa coiêta.”

- “Tem problema não, Joaquim – respondia assertivo -, você já me provou que é bom pagador e se não me traz o dinheiro hoje, com certeza me trará amanhã ou quando tiver. Pode levar o que precisa que eu debito pra você.”

Mas nem sempre era assim. “Sô Carrinho” sabia, como ninguém, identificar um caloteiro a quilômetros de distância. Aliás, dizia ele, que o homem traz escrito na testa o que é. Ele tinha verdadeira ojeriza pelos que não honravam seus compromissos. E nem precisava que fosse com ele. Se ele soubesse que alguém deu algum calote na praça já ficava puto da vida. Para que o individuo caísse em seu conceito e fosse jogado na vala comum dos mal pagadores não era preciso fazer muito. Bastava que o infeliz deixasse de dar uma satisfação antes de a dívida vencer. Ai o bicho pegava para o lado do caboclo.

- “E ai, Mané, quando é que você vai me pagar sua continha?” Não adianta se agachar do outro lado da rua, porque eu estou te vendo!”

- “Uai, “Sô Carrinho”, eu nem tinha visto o senhor. Eu só estava indo até a venda do Estelito (de Oliveira Pena, irmão de “Sô Carrinho”, que também tinha um comércio), para depois passar ai para trocar dois dedinhos de prosa com o senhor. “

- “Dedinho de prosa não vai adiantar nada, Diabo! O seu tempo para justificar de há muito já passou. Quanto ao prazo de pagar, nem se fala. Aqui comigo você já está com a falência decretada. Pode ser que aquela besta do Estelito ainda lhe fie alguma coisa. Ele não leva nada a sério mesmo!”

Estelito, bem diferente de “Sô Carrinho”, era muito brincalhão e costumava contar vantagens em rodas de amigos, onde ás vezes exagerava proferindo inocentes mentiras, numa época abençoada, onde todos eram felizes e não sabiam, pois a humanidade ainda não tinha por costume falar mal da vida alheia ou desejar a mulher do próximo.

Em paralelo as atividades de grande comerciante, “Sô Carrinho” ou Carlos de Oliveira Pena, foi Vereador e primeiro Vice Presidente da Câmara Municipal do Brejo das Almas. Amigo incondicional e grande correligionário do fundador, o Coronel Jacinto Silveira, além de seu fiel cabo eleitoral. Nas suas raríssimas horas vagas, ainda laborava com toda disposição como Inspetor Escolar, indicado pelo Governo. Faleceu no Brejo, em idade avançada.

É...

Por vezes, dizia Sêneca, a vida, por mais longa que possa parecer, torna-se demasiado curta, se ocupada e preenchida com atividades uteis, em toda a sua essência.

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 14 de janeiro de 2012

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO II

Preâmbulo e comentários de EAR: 

 

Enoque Alves Rodrigues 

 

Em atenção a oportunos e respeitáveis “posts” inseridos no “facebook”, no último fim de semana, onde verifico pairarem dúvidas de interpretação e entendimento sobre referências que fiz em minha crônica “As Joias do Brejo VI – Rogério da Costa Negro”, publicada no http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/2011/03/as-joias-do-brejo-vi-rogerio-da-costa.html, em 20/03/2011, cumpre-me o dever de melhor clarear o tema, pormenorizadamente, a fim de que mencionadas dúvidas sejam, em definitivo, dirimidas. Para que não haja distorções, enumero e comento aludidos tópicos dentro do texto original negritado. Antes, porém, permito-me fazer aqui o seguinte introito: 

 

Quem quer que tenha lido, até aqui, uma única linha do que escrevo sobre o Brejo das Almas e seu povo, percebe, claramente, que os principais objetivos que pautam e norteiam todas as minhas crônicas consistem em elevar, enaltecer, dignificar, engrandecer e render singelas homenagens aos que passaram pelo Brejo,  além de informar, motivar, reviver e revigorar na memória dos que ficaram, principalmente, os jovens, aqueles que muito fizeram pelo nosso Brejo das Almas e que, muitas vezes, sequer são lembrados. Nesta crônica, por exemplo, quantos Brejeiros confessaram nada saberem sobre Rogério da Costa Negro? Resumindo: só escrevo sobre aqueles que realmente nos deixaram boas lições e grandes exemplos, na tortuosa e longa estrada da vida, no que tange a superação, o sair do nada, o ganhar e o perder com dignidade, sem fraquejar, onde o viver, deixar viver e saber viver, é uma arte. Rogério da Costa Negro reunia tudo isso e muito mais. Não fosse assim, eu não o teria incluído na série, onde ombreia com outros grandes vultos que muito realizaram pelo Brejo. Escrevi de 2004 até hoje, quase duas mil crônicas sobre o Brejo e seus principais personagens, e em nenhuma delas, sequer, faltei com a verdade, respeito e elegância que todos de mim esperam e merecem, incluindo ai os parentes de cada homenageado. E não me foi preciso mentir ou fantasiar nada para deixar o homenageado “bonito na fita”. É muito simples de explicar: sendo eu um cara íntegro e correto, não vou cometer o contrassenso de escrever ou prestigiar “tranqueiras”. Devo salientar que o único e maior dividendo que recebo por esse trabalho, que desenvolvo, com muito carinho, atenção e responsabilidade, até pelo fato de envolver pessoas e sentimentos alheios, no sentido de entregar aos que me leem algo o mais próximo e fiel possível da realidade, é a sensação salubre de compartilhar com vocês, indistintamente, meu modesto conhecimento sobre a Terra que nos serviu de berço. É divulgar o que é nosso. Mostrar ao Mundo os nossos reais valores, que são os grandes homens produzidos pelo Brejo e que tiveram suas vidas impolutas e imaculadas vinculadas a do próprio Brejo. Nada mais, além disso. E por possuir vasto cabedal de conhecimentos sobre o Brejo, até porque também não  costumo falar, escrever ou opinar sobre aquilo de que não tenho conhecimento, mesmo não vivendo no Brejo há muito tempo, e é por isso que só me refiro ao Brejo no passado, desenvolvo essa atividade em paralelo com incontáveis atribuições profissionais, com certa tranquilidade. De maneira que erros e enganos primários e grosseiros estão, dentro do possível, afastados. 

 

Além do mais, sou criterioso e disciplinado em tudo aquilo que faço. Pasmem, mas ainda sou desses poucos “tontos” que pensam antes de falar e matutam antes de escrever. Não dou nem mesmo um passo sem o devido planejamento. Mas nada disto me livra da falibilidade, própria de um espírito em primitivo e lento processo evolutivo, apesar de que, no caso em tela, como já me fiz entender,  nenhum engano,  falha, lapso ou erro, existiram.

 

Não tenho, creiam-me, nenhuma intenção de que o que falo ou escrevo seja aceito com unanimidade. Até porque, tenho pleno conhecimento de minhas limitações e de que toda e qualquer verdade é relativa, como tudo na vida. Assim sendo, o que para mim possa parecer a mais pura e assertiva verdade, para outros pode significar a mais tenebrosa e deslavada mentira, e vice-versa. Mas espero e desejo que qualquer comentário feito por outrem que ponha em dúvida o que escrevo se fundamente em elementos sólidos. Senão, fica fácil.

 

Quem se propõe, assim como eu, a escrever alguma coisa vinculada ao pretérito, tem que estar embasado sobre o seguinte trinômio: “eu vi, eu ouvi, eu li”. Queiram ou não, a história se fundamenta nisso. Em se tratando especificamente do episódio que narrei tendo como foco a robusta figura moral de Rogério da Costa Negro, podemos dividir todo o seu teor da seguinte forma: 5% = eu vi. 5% = eu ouvi e 90% = eu li ou (eu pesquisei). Com isso, entende-se que quase tudo o que escrevi, ressalto, positivamente, sobre Rogério da Costa Negro, pois não há nada que macule ou desabone sua ilibada conduta, caráter e personalidade, assim como de seus parentes, já foram escritos por outros, antes de mim. Lembrando que eu próprio, sem nenhuma modéstia, me intitulo pesquisador nato de tudo aquilo que se refira ao Brejo ou Francisco Sá. Para eu escrever uma crônica, livros são cotejados, memórias são retroagidas, colocando-me, frente a frente com o personagem, no tempo e no lugar dos acontecimentos. Não chuto ou invento nada. A Universidade da vida não me permite trabalhar com achismos.  Vocês podem não concordar comigo. Mas de uma coisa estejam certos, meus queridos: acredito piamente naquilo que falo, escrevo ou faço, até por que tenho por principio só avançar sobre aquilo que acredito, depois de haver feito todas as avaliações. Não vendo ilusão. Gozo do privilégio de jamais mentir e isso me basta. Com a belíssima história de vida do grande Costa Negro, não foi diferente. Vamos então ás confirmações e esclarecimentos dos parágrafos em questão: 

 

Texto original do meu blog com os comentários correspondentes: 


http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/2011/03/as-joias-do-brejo-vi-rogerio-da-costa.html 

 

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO 

 

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO

Enoque Alves Rodrigues

Antes que algum conterrâneo ou leitor pense que eu me esqueci de alguma das muitas jóias produzidas pelo Brejo das Almas, devido ainda não tê-las publicado nesta serie de crônicas, quero me antecipar informando que esta serie é dividida por etapas. Ou seja, na primeira etapa estão elencadas “as jóias do brejo”, na segunda, “as jóias raras do brejo” e na terceira e ultima, “as jóias raríssimas do brejo”. Independente da ordem de grandeza,  saliento que todas as jóias aqui relatadas, tiveram, resguardadas as devidas proporções, importância fundamental no cotidiano do velho Brejo das Almas. Todas elas, todos nós, inclusive este humilde operário da engenharia a qual se dedica arduamente em tempo integral e que ainda busca tempo para, com todo o amor e orgulho falar de sua terra querida, somos todos indispensáveis à vida do Brejo das Almas. Vamos então ao querido Rogério da Costa Negro.
Quando aos 7 de setembro do ano de 1924 se instalou o Município de Brejo das Almas a sua Câmara Municipal se constituía de 8 vereadores. Um deles que depois viria a ser presidente da câmara era Rogério da Costa Negro.
1)Nascido em Grão Mogol, no ano de 1889, filho de um rico português com uma criada, Rogério jamais fora reconhecido pelo pai. Ainda jovem, com a mãe mudou-se para o Brejo das Almas. Lá chegando, com muita dificuldade, abriu um pequeno comércio de uma porta só, onde colocava algumas peças de tecidos para vender. Não demorou muito e graças à dedicação e tino comercial de Rogério, aquela pequenina loja de transformou em um grande conglomerado de empresas no ramo de tecidos recebendo o pomposo nome de “Casa Branca & Costa Negro”.
1) Comentários - EAR: O menino Rogério, assim como sua mãe, foram, a pedido do rico Português, assumidos por um rapaz de Grão Mogol a quem o Português deu 50 cabeças de gado e uma fazenda. Portanto, não obstante toda a dedicação, quem criou Rogério no Brejo não era seu pai biológico. Tanto é verdade que o “Costa Negro”, foi incorporado como sobrenome de Rogério por ele próprio, devido não possuir nome de família. O “Costa” ele utilizou em alusão a sua descendência, pois era comum naqueles tempos se definir os originários de Portugal como “vindos da costa”. Quanto ao “Negro”, ele adicionou por mera fonética. Soa bem ao pronunciar. Isso ocorreu exatamente quando ele abriu a primeira loja de tecidos no Brejo. Desculpem-me, não pretendia entrar nestes detalhes, que, no entanto, em nada macula a bela Biografia de Rogério. Prefiro não prolongar neste parágrafo. Só o mencionei devido terem colocado em dúvida Luso descendência paterna de Rogério, conforme eu afirmei.
Rogério da Costa Negro progredia a olhos vistos. Possuía agora grandes fazendas de gado, plantações de diversas culturas a perderem-se de vista. Jovem, rico, bonito e famoso, ainda exercia grande influencia na Política do lugar, Rogério não tinha do que reclamar.
A sorte sem dúvida alguma o bafejara. A vida, com toda certeza lhe sorrira. Será?
2)Ainda jovem, no ano de 1925 construiu um luxuoso casarão com grande e aclimatado jardim de inverno e janelas com vitrais azuis, na Praça Duque de Caxias. Era indiscutivelmente a melhor e mais bem projetada residência do Brejo das Almas de então. Muitas festas eram dadas naquele rico e imponente casarão.
2) Comentários - EAR: A foto em destaque não se refere a do casarão de Rogério da Costa Negro. Inseri-a para simples ilustração da matéria, assim como em algumas outras matérias quando não acompanhadas de fotos originais.
Juiz de Paz, tinha ele o poder de mandar prender e soltar, presidente da câmara e outras atividades, Rogério fazia sucesso junto ao universo feminino. Onde quer que chegasse causava o maior frisson. Sempre perfumado, roupas impecáveis, sapatos lustrados, não tinha para mais ninguém.
3)Não demorou muito e Rogério da Costa Negro conheceu e casou-se com Isméria com quem teve cinco filhos. Algum tempo depois não resistindo aos encantos de uma beldade de beleza brejeira estonteante, de nome Raimunda, não pensou duas vezes e com ela teve também cinco filhos.
3) Comentários - EAR: Conheci, de vista, cinco. Pesquisas anteriores realizadas e documentos cotejados me confirmam (cinco). Fico com este número.
Rogério se auto-intitulava amante de mulheres, músicas e flores. Boêmio até a medula, varava noites e madrugadas em boates onde, despojadamente, distribuía gordas e polpudas gorjetas aos cantores e mulheres animadas. Saia da boate e se dirigia a sua linda residência, sempre acompanhado por famosa orquestra da época denominada “turma do sereno”. Rogério chegava, subia aos seus aposentos ao som de sua música preferida “sonho azul” e da janela ouvia os cantos embaixo e de lá mesmo jogava para os cantores várias cédulas de dinheiro. É claro que ninguém arredava pé dali. A fonte era muito pródiga e inesgotável.
Inseri propositadamente uma interrogação no final do parágrafo “a vida com toda certeza lhe sorrira. Será?
Pois é. Tudo na vida se acaba. Com Rogério não foi diferente. Diante dos obstáculos naturais que a vida nos coloca, Rogério acabou por derrapar em uma das muitas curvas da estrada. Com muitos filhos, agora casados, todos eles educados nas melhores escolas, gastos incontroláveis com futilidades, desperdícios infindáveis, farras homéricas, não demorou muito para que o sólido patrimônio de Costa Negro começasse a se esvair. A virar pó, literalmente. Dali a falência total foi um pulo.
4)O golpe de misericórdia que culminou com a venda de suas fazendas de gado, plantações, e da própria loja de tecidos, foi dado por um de seus filhos que havia contraído grande divida, cabendo a Rogério paga-la a fim de preservar o bom nome da família. Pouquíssimo tempo depois, até mesmo o lindo casarão de estilo colonial onde ele vivia com a família, foi dividido em pequeninos cômodos que eram alugados para pequenos comerciantes.
4) Comentários - EAR: O golpe de misericórdia ao qual esse parágrafo se refere, se efetivou não por maldade ou desvio de conduta do filho de Rogério, todos eles íntegros e corretos assim como o pai. Mas, pela sua boa fé, aliás, uma grande virtude. Saiu como avalista de um grande amigo seu numa dívida vultosa, mas o amigo não honrou o compromisso. Até mesmo nisso Rogério deu mostras de sua grandeza, vendendo tudo que tinha para quita-la e honrar o nome da família.
5)Rogério da Costa Negro agora era apenas um pobre velho trôpego e alquebrado. De toda a sua imensa prole, somente Edinha, sua filha doente e solteira, restou para lhe fazer companhia. Rogério, mesmo diante da situação de penúria ainda mantinha o espírito elevado e a alma tranqüila. Conservava toda a elegância, brilho no olhar, coragem e determinação de seus agora longínquos tempos de juventude e grande riqueza.
5) Comentários - EAR: Aqui neste parágrafo foi onde mais “me bateram”. Entenderam que eu me referia a “abandono”. Vejam que em nenhum momento utilizei esse termo. Se assim o fizesse, estaria em desacordo com o final da história onde eu falo que “a gente brejeira fez-se presente em peso para dar o último adeus” a Costa Negro. Ora, se quase toda a população do Brejo estava presente, por certo que seria até redundante a afirmativa de que os parentes também estavam lá. Claro que eles tinham que estar e estavam lá. Por isso, serei  extenso neste comentário. Prefiro pecar por excesso de detalhes que por omiti-los: Devido necessidades da vida, não tendo mais os bens do pai, Rogério, para administrarem, seus filhos casados, cônscios de seus deveres, tiveram que sair para trabalhar fora. Assim sendo, por razões óbvias a companhia filial que restou a Rogério foi do único solteiro que ficou no casarão, no caso, sua filha Edinha que, em 1975, com 41 anos, deu a luz a Isméria, Como quem sai aos seus não degenera, Edinha, agora além de cuidar de Rogério, tinha uma boca a mais para sustentar. Não titubeou e, com determinação e galhardia, sem temores ou constrangimentos fúteis e sem quaisquer apegos aos tempos de fartura de antes, foi à luta com toda dignidade. Dedicava-se, essa grande mulher, ao fabrico de algodões doces coloridos, picolés, biscoitos, além de tecer colchas de crochê, que eram vendidos, tirando daí sua digna subsistência. Mesmo após a morte de Rogério, as duas, mãe e filha, que permaneciam no casarão, continuava, Edinha, no exercício dessas atividades. Em 1997, Edinha agora com 63 anos, ainda saia às ruas para vender seus deliciosos algodões doces. Enquanto a filha Isméria, esta seguia firme no trabalho, estudos e namorando firme para casar e, pasmem-se, céticos, sem que o soubesse, cumprindo à risca, com toda naturalidade do mundo, a profecia dita pela mãe 22 anos atrás, antes de seu nascimento. Quando Edinha, solteira, com 41 anos, estava grávida de Isméria, lhe perguntaram o motivo de uma gravidez em idade já avançada. E qual foi a resposta? Para que esse alguém, que está em minha barriga, nasça e cresça para que possa cuidar de mim quando eu for mais velha. Isméria sempre se dedicou a cuidar da mãe Edinha, procurando cerca-la de todos os mimos. Devolvendo a ela, quiçá, em dobro, todos os cuidados que Edinha dedicou ao velho pai Rogério, durante muitos anos. Bem, paro por aqui senão vou acabar escrevendo sobre a vida de Edinha, que, aliás, daria várias páginas, cujo titulo da crônica poderia ser denominado de “superação”. Mas fico por aqui. Não quero que me batam mais. Já sou um velhinho cansado e acabo de retornar de uma longa viagem profissional pelo Mundo. No momento, só estou aceitando elogios e “afagos”. Rsrsrsrsrs. Um forte abraço brejeiro, meus amigos e conterrâneos. Amo vocês. Vamos em frente!
No dia 20 de Novembro de 1977, numa bela manhã primaveril, Rogério da Costa Negro partiu desta vida em direção a uma melhor, onde, para os que assim como eu, acreditam, as riquezas conquistadas aqui na terra mediante o esforço dedicado ao amor ao próximo, a benevolência, a tolerância, a caridade e principalmente o desapego as coisas materiais, jamais se acabam. São eternas.
Comovida, a gente brejeira fez-se presente em peso para dar o último adeus aquele que muito significou para o brejo. A multidão que acompanhava o cortejo de Rogério cantando sua música preferida “sonho azul” era tão grande que dava-se a impressão que nas casas do brejo não havia sobrado mais ninguém. No sepultamento a comoção era geral e incontrolável. Ao baixar o caixão ao fundo do túmulo, pétalas de rosas e aromáticos perfumes eram lançados sobre o mesmo juntamente com lágrimas de gratidão.
Rogério, certamente, agradecido pelas dádivas que ele mais admirava em vida, sorria a todos, de algum ponto invisível a olho nu do infinito.
É...
Por vezes, a maior e mais perfeita riqueza que podemos conquistar não se retém nas mãos, mas no mais além.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 7 de janeiro de 2012

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – 74 ANOS SEM O FUNDADOR

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – 74 ANOS SEM O FUNDADOR

Enoque Alves Rodrigues

Brejo das Almas, 17 horas e 30 minutos do dia 8 de Janeiro do ano de 1938. Falecia, depois de padecer por doze anos do mal de parkinson, o fundador e maior benemérito da Cidade de Brejo das Almas, ou Francisco Sá, localizada no norte de Minas, Jacinto Alves da Silveira. Portanto, amanhã, Domingo, 8 de Janeiro de 2012, completará setenta e quatro anos de seu regresso à Pátria Espiritual.

A doença de Parkinson é idiopática, ou seja, é uma doença primária de causa obscura. Há degeneração e morte celular dos neurônios produtores de dopamina. É, portanto, uma doença degenerativa do sistema nervoso central, com início geralmente após os 50 anos de idade. É uma das doenças neurológicas mais freqüentes visto que sua prevalência situa-se entre 80 e 160 casos por cem mil habitantes, acometendo, aproximadamente, 1% dos indivíduos acima de 65 anos de idade. Apesar do muito que já se pesquisaram, decorridos quase duzentos anos do descobrimento desta gravíssima enfermidade por James Parkinson, pouco ou quase nada se sabe sobre suas causas.

O fato é que, deve-se a ela, todas as conseqüências que justificam doze anos de sofrimentos impetrados ao grande e até hoje insubstituível benfeitor de Brejo das Almas. Tudo começou quando ainda vereador em Montes Claros, quando lutava pela aprovação de mais um projeto que beneficiaria o Brejo, sentiu-se as primeiras dores no dedo indicador da mão direita, a qual insistia em não obedecer aos seus comandos. Seu colega de partido, o mesmo do Dr. Honorato Alves, Antonio Ferreira de Oliveira, o Niquinho “Açúcar”, ou Farmacêutico, é quem conta com todos os detalhes, o inicio desse verdadeiro tormento, que, como já mencionei, doze anos depois ceifaria a vida de quem tanto fez pelo Brejo.

Jacinto Alves da Silveira, sobre o qual muito já falei, foi, até hoje, o único capaz de reunir todas as características que habilita qualquer individuo a afirmar ter vivido a vida em toda a sua plenitude. Descendente de famílias de Ouro Preto, assim como os Pena, Oliveira, Dias, Xavier, entre outras, esta última pertencente a genealogia do grande Mártir da Inconfidência, o Tiradentes, Jacinto, um dos muitos filhos do velho Fazendeiro José Alves da Silveira, nasceu no Brejo, lá pelos idos de 1871, quando o Brejo sequer sonhava em ter as feições de hoje. Ao contrário, assemelhava-se, muito mais, daquele dois de novembro de 1704, quando não passava de uma vasta mata às margens dos rios Verde Grande, São Domingos e Gorutuba, onde Antonio Gonçalves Figueira fincou pela primeira vez, ao lado da Lagoa das Pedras, o imenso cruzeiro que marcaria para sempre, no tempo e no espaço, o inicio  de uma nova era, de uma promissora civilização e de uma progressiva Cidade. Jacinto, ao contrário de seus outros irmãos que eram todos Fazendeiros, desde a idade tenra, apesar de rústico, já despontava para as coisas da intelectualidade, quando lia, escrevia e realizava cálculos difíceis até mesmo para quem tinha a mais polida cultura. Era, portanto, desde aqueles tempos, um iluminado, na mais clara e límpida definição do termo.

Bonito, com um metro e oitenta de altura, bigodes bem fornidos, cabelos cortados a escovinha, trajando-se sempre de brim cáque, o belo mancebo Jacinto Silveira conduzia, juntamente com outros peões, grandes manadas de gados que eram vendidas na cidade de Curralinho, hoje, Corinto, no norte de Minas Gerais. Jovem ainda conheceu e casou-se com a normalista Maria Luiza de Araújo, na velha Matriz de Montes Claros, no dia 16 de Novembro de 1895. Maria Luiza foi durante toda a vida, sua fiel e inseparável companheira, a qual seria responsável pela condução dos destinos do povo brejeiro no campo da educação e cultura, enquanto Jacinto preparava esse mesmo povo na política e principalmente para a emancipação administrativa do Brejo, que ocorreria em 1923/24. A Câmara compunha-se dos seguintes vereadores: Padre Augusto Prudêncio da Silva, Francisco Fernandes de Oliveira, José Dias Pereira Zeca, João de Deus Dias de Farias e Rogério da Costa Negro, este último, um grande comerciante do ramo de tecidos.

Lutador, pelos direitos de seu povo, probo, íntegro, transparente, correto em todas as suas atitudes, honesto até a medula, numa época em que a mosca varejeira sequer sonhava sobrevoar o mundo da política, Jacinto Silveira conduzia os destinos do povo Brejeiro pelos caminhos da retidão, assim como Moisés do Egito conduzia seu povo rumo à Terra Prometida. Jamais perdeu uma só eleição. O Brejeiro daqueles tempos sabia reconhecer os valores incontestáveis de Jacinto e o tinha como a um verdadeiro Líder. E como tal se comportava: jamais deixou de falar o que pensava. Nunca se utilizou de meias palavras. Era homem de posições definidas. Não era de ficar sobre o muro. Educação casta e polida sabia ser enérgico no tempo certo. Muitos foram os Governadores de Estado que se utilizaram do prestigio de Jacinto junto aos Brejeiros.

Rico, dono de muitas fazendas de gado e cultivo, casas comerciais e muitas outras fontes de renda, Jacinto Alves da Silveira, homem que durante toda a existência sempre teve a casa cheia de amigos e correligionários, que sem nenhum apego às coisas materiais, ajudava, com recursos próprios a todo e qualquer Brejeiro; bancava, do próprio bolso, vários candidatos em campanhas eleitorais caríssimas. Depois de ter custeado com recursos próprios a emancipação do Brejo das Almas, tendo inclusive doado prédios para comporem o conjunto arquitetônico do Município, condição esta indispensável a sua homologação, já no final da vida, corroído pela enfermidade degenerativa, ainda era obrigado a arrastar-se de sua casa até a Prefeitura, onde dava expedientes, deixando-nos o exemplo o qual sigo até hoje, de que é no trabalho onde nos enobrecemos e dignificamos. Morreu, no entanto, pobre e praticamente só, tendo a seu lado apenas alguns familiares.

Não é sem motivo que um de seus filhos, o também Coronel Geraldo Tito Silveira, assim se expressa em um de seus lindos libelos, referindo-se as injustiças das quais fora vitima o pai: “Nos áureos tempos de sua vida abastada, quando ele plantava as sementes de uma pequena fortuna, depois esbanjada nos ardores da política, feita somente para o bem-estar de outrem, sua casa solarenga vivia repleta de “amigos”. Até então, não se via pela estrada real, que ia dar à Bahia, uma só pousada ou hospedaria, de modo que os forasteiros que por ali passavam procuravam a casa do Coronel Jacinto, onde recebiam todo o conforto, gratuitamente. Muitas dessas pessoas eram acometidas de terríveis doenças inclusive febre brava!”

E arremata o grande escritor do norte de Minas, Geraldo Tito Silveira, agora, lamentando a grande injustiça da qual foi vítima o pai, Jacinto Alves da Silveira. Aliás, muito já falei sobre tal injustiça que talvez, um dia, ainda nesta minha atual encarnação, veja corrigida: “Como corolário da ingratidão dos homens, mudaram o nome de Brejo das Almas, não para perpetuar o nome de Jacinto Silveira, na terra que engrandecera, mas para honrar o nome de outro Brasileiro, ilustre, é verdade, mas que nada fizera por ela.” Refere-se ao Dr. Francisco Sá, nascido no Município, na fazenda Brejo de Santo André, que foi Ministro da Viação e levou a estrada de ferro central do Brasil até Montes Claros, que muito lhe deve.

Não sei, até porque de há muito não vivo mais no Brejo e não participo de seu dia-a-dia, se a Sociedade Brejeira, movida por nobres sentimentos de gratidão, ou, quiçá, políticos locais, se lembrarão de promover neste dia 8 de Janeiro, alguma cerimônia, por mais simples que seja, ainda que um singelo minuto de silêncio, àquele que foi, é e será, o primeiro e mais importante Brejeiro. O maior de todos, porque deu tudo de si, até a própria vida, coisa que hoje não vejo ninguém fazer, para que o Brejo das Almas ou Francisco Sá,  figurasse, no mapa de Minas e no Mapa do Brasil, como um dos progressivos Municípios Brasileiros.

Depois de permanecer longo tempo na erraticidade, acha-se, atualmente, no meio de nós. Não dentro da política que, convenhamos, mudou muito, e para pior, desde os seus tempos. Servidor incansável e dedicado que jamais fugiu à luta, não obstante toda a ingratidão com a qual lhe brindaram, acreditem céticos de plantão, em uma coisa: Se hoje se realizasse uma “chamada oral” convocando homens de bem a colaborarem com qualquer causa que tivesse por objetivo o bem comum, a justiça social, a luta contra as desigualdades dos menos favorecidos, alguém para expurgar e limpar a corrupção e tudo o que há de podre no mundo da política, ao se pronunciar o nome “Jacinto Alves da Silveira!” Com toda certeza ouviríamos, prontamente, em algum lugar do Brasil, a voz firme, forte e determinada do Coronel:  “Presente. Eis-me aqui!”

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 24 de dezembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS - BOAS FESTAS

SOBRE O BREJO DAS ALMAS - BOAS FESTAS

Enoque Alves Rodrigues

Durante este ano de 2011 fruí, quase que semanalmente, do privilégio de conviver com vocês, meus amigos e conterrâneos que muito me honraram com suas valiosas visitas aos meus blogs, ao MontesClaros.com e ao City-Brasil,  que utilizo, regularmente, para divulgar Francisco Sá, ou Brejo das Almas, minha Cidade de nascimento. Sempre procurei deixar claro e definido o amor que nutro pelo Brejo e sua gente, mesmo sabendo que o Brejo não é nenhum Paraíso na Terra. Que o Brejo, assim como qualquer outra Cidade em fase de desenvolvimento, está exposto a todas e quaisquer mazelas sejam elas de ordem natural ou administrativa, predominando, evidentemente, a segunda. É muito fácil, bom e maravilhoso, -dirão alguns que possuem o vezo de achar que tudo está ruim mas que nada fazem para que as coisas melhorem e que sabem que de há muito não vivo no Brejo-, amar o inferno, se visto e observado de longe, ou de preferência, do Céu. A estes eu recomendo a seguinte frase:

“Não perguntem o que o Brejo pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo Brejo”, diria John Kennedy, certamente, se brejeiro fosse. Mesmo longe, procurei a vida inteira colaborar, ainda que singelamente, com a divulgação deste meu pequeno torrão.

Agora, com alvissareiras esperanças renovadas pela aproximação de mais um ano, que seguramente nada irá me acrescentar se eu não continuar indo à luta. Por ter sido durante toda a vida um osso duro de roer. Um duro na queda. Um sujeito de tutano que jamais fugiu do pau e das origens. Que, motivado, determinado e disposto vinte e quatro horas, levanta de madrugada todos os dias e, cantando, dirige-se ao trabalho, em busca de resultados enquanto muitos ainda dormem e reclamam da vida. Que mesmo nos momentos mais difíceis e espinhosos, com os pés doloridos e com a mente em frangalhos, mas sempre firme e com Deus à frente, foi à luta sorrindo enquanto muitos tombavam chorando sem sequer saírem do lugar. Que mesmo hoje, realizado, cultiva hábitos simples de um matuto brejeiro que conseguiu, galhardamente, que a vida lhe proporcionasse algum conforto. Que, bóia fria em infância, vendendo dias de trabalho nas muitas Fazendas do Brejo, comeu, com colher de pau, angu de fubá com molho de feijão de corda  e quiabo na mesma gamela compartilhada com outros camaradas enquanto o suor do rosto respingava sobre aquele abençoado sustento. Que enquanto peão, dormia em porões  de obras em construção, com cheiro de creolina, com a mesma fé, perseverança, coragem,  e confiança de que dias melhores viriam. Finalmente, como profissional de sucesso, conquistou, com humildade, o respeito de muitos em todas as áreas por onde trafegou, trafega e milita. Que tem em seu diminuto rol de amigos, somente pessoas sinceras e leais, vinculadas ao bem comum e comprometidas até a medula com os mais puros, sólidos e elevados princípios morais da  verdadeira  ética  e ilibada conduta, etc. Esse cara, do qual sou fã de carteirinha, que possui o RG de nº M-215.967 (sendo o “M” de Minas), de quem falo com muito orgulho, sem rodeios ou falsa modéstia, por incrível que possa lhes parecer, sou eu próprio. Estranho, não! Nem tanto. As referências que faço a minha pessoa não tem o sentido fútil do endeusamento fácil ou autopromoção gratuita e deselegante. Tenho plena consciência de minha pequenez e do quanto ainda tenho que evoluir no sentido de atingir a magnitude de um simples grãozinho de areia. A  lisonja que endereço a mim, cuja história de vida conheço de cor e salteado e que hoje é de domínio público, tem apenas e tão somente a finalidade de afirmar que QUERER É PODER. Não importam as dificuldades que a vida coloca em nosso caminho. O que conta mesmo é a nossa capacidade, criatividade, determinação e vontade própria de transpô-las. Ninguém nasce, vive ou morre fraco. Todos nós, salvo aqueles que vieram cumprir missões específicas, nascemos em igualdade de condições, munidos de todas as nossas potencialidades as quais nos cabem estar sempre exercitando no sentido de que não se adormeçam, não se enferrujem e não nos transformem em parasitas. Ao Mestre do Madeiro, Governador Supremo do Orbe Terrestre, não foi dado nenhum milímetro de QI (Quociente de Inteligência) além do que nós, seus iguais, fomos dotados. Ele apenas os utilizava de maneira sábia e raciocinada. Nada mais que disso. Mesmo assim, quantos prodígios Ele operou. Esta minha mensagem, que a principio lhe pareceu estranha ou arrogante por me referir a mim, na primeira pessoa, na verdade, meu caro amigo, ela é todinha para você. Jamais pense em desistir de seus ideais. Não desperdice seu tempo “atirando por todos os lados”. Se ao invés de você ter mil projetos mirabolantes e inexeqüíveis em sua mente, tenha apenas um, desde que seja passível de execução. Pare e pense. Por mais simples que algum trabalho lhe pareça, não o inicie sem que antes trace uma meta estabelecendo inicio, meio e fim. Não estabeleça para você ou os outros prazos os quais não vão conseguir cumprir. Isso pode te levar ao descrédito. O homem tem que ter e honrar a palavra. Lute, mas lute com todas as suas forças. Não se deixe derrotar pela acomodação. O mundo, as oportunidades e os sucessos, pertencem aqueles que lutaram. Vá em frente. Não conduza sua vida olhando no retrovisor. Viva um dia de cada vez. Não tenha medo de nada. Não se preocupe em querer agradar a alguém. Seja natural. Não perca seu tempo com aquilo que não lhe vá dá retorno. Caso o critiquem, não responda com tergiversações. Seja objetivo. Vá direto ao ponto. Analise se as criticas são realmente fundadas e, caso positivo, faça sua correção e procure, independente do caráter de quem o criticou dar o verdadeiro “feedback” embasado-o na mais pura realidade. Procure não deixar nada sem resposta. Não mintas, jamais. Se você mentir uma vez será obrigado a mentir sempre. A mentira é o mais grave desvio de conduta do qual dificilmente o mentiroso consegue se livrar.

Ao finalizar esta minha “milionésima”, cansativa e redundante declaração de amor ao Brejo e ao meu povo. Por faltarem-me palavras mais apropriadas, o que seria, creio, compreensível por vocês que me toleram a tanto tempo, se se considerarmos que já estamos no final do ano, onde muitos neurônios tive que queimar para chegar até aqui e que somente a partir de hoje entro em férias para fazer a devida reposição de carga das já cansadas mas ainda recarregáveis baterias, lanço mão da seguinte estrofe de uma das milhares de pérolas do rei Roberto:

“Nunca se esqueça, nenhum segundo. Que eu tenho o amor, maior do Mundo. Como é grande, o meu amor, por você!”

Brejeiros, não chorem. Ano que vem tem mais bestagens. Eu voltareeeeeeeeei!

Feliz Natal e um Ano de 2012 repleto de amor, paz e muitas realizações na vida de todos vocês meus amigos e conterrâneos.

Inté!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

BOAS FESTAS. FELIZ NATAL E ÓTIMO 2012

BOAS FESTAS. FELIZ NATAL E ÓTIMO 2012

Enoque Alves Rodrigues

Durante este ano de 2011 fruí, quase que semanalmente, do privilégio de conviver com vocês, meus amigos e conterrâneos que muito me honraram com suas valiosas visitas aos meus blogs, ao MontesClaros.com e ao City-Brasil,  que utilizo, regularmente, para divulgar Francisco Sá, ou Brejo das Almas, minha Cidade de nascimento. Sempre procurei deixar claro e definido o amor que nutro pelo Brejo e sua gente, mesmo sabendo que o Brejo não é nenhum Paraíso na Terra. Que o Brejo, assim como qualquer outra Cidade em fase de desenvolvimento, está exposto a todas e quaisquer mazelas sejam elas de ordem natural ou administrativa, predominando, evidentemente, a segunda. É muito fácil, bom e maravilhoso, -dirão alguns que possuem o vezo de achar que tudo está ruim mas que nada fazem para que as coisas melhorem e que sabem que de há muito não vivo no Brejo-, amar o inferno, se visto e observado de longe, ou de preferência, do Céu. A estes eu recomendo a seguinte frase:

“Não perguntem o que o Brejo pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo Brejo”, diria John Kennedy, certamente, se brejeiro fosse. Mesmo longe, procurei a vida inteira colaborar, ainda que singelamente, com a divulgação deste meu pequeno torrão.

Agora, com alvissareiras esperanças renovadas pela aproximação de mais um ano, que seguramente nada irá me acrescentar se eu não continuar indo à luta. Por ter sido durante toda a vida um osso duro de roer. Um duro na queda. Um sujeito de tutano que jamais fugiu do pau e das origens. Que, motivado, determinado e disposto vinte e quatro horas, levanta de madrugada todos os dias e, cantando, dirige-se ao trabalho, em busca de resultados enquanto muitos ainda dormem e reclamam da vida. Que mesmo nos momentos mais difíceis e espinhosos, com os pés doloridos e com a mente em frangalhos, mas sempre firme e com Deus à frente, foi à luta sorrindo enquanto muitos tombavam chorando sem sequer saírem do lugar. Que mesmo hoje, realizado, cultiva hábitos simples de um matuto brejeiro que conseguiu, galhardamente, que a vida lhe proporcionasse algum conforto. Que, bóia fria em infância, vendendo dias de trabalho nas muitas Fazendas do Brejo, comeu, com colher de pau, angu de fubá com molho de feijão de corda  e quiabo na mesma gamela compartilhada com outros camaradas enquanto o suor do rosto respingava sobre aquele abençoado sustento. Que enquanto peão, dormia em porões  de obras em construção, com cheiro de creolina, com a mesma fé, perseverança, coragem,  e confiança de que dias melhores viriam. Finalmente, como profissional de sucesso, conquistou, com humildade, o respeito de muitos em todas as áreas por onde trafegou, trafega e milita. Que tem em seu diminuto rol de amigos, somente pessoas sinceras e leais, vinculadas ao bem comum e comprometidas até a medula com os mais puros, sólidos e elevados princípios morais da  verdadeira  ética  e ilibada conduta, etc. Esse cara, do qual sou fã de carteirinha, que possui o RG de nº M-215.967 (sendo o “M” de Minas), de quem falo com muito orgulho, sem rodeios ou falsa modéstia, por incrível que possa lhes parecer, sou eu próprio. Estranho, não! Nem tanto. As referências que faço a minha pessoa não tem o sentido fútil do endeusamento fácil ou autopromoção gratuita e deselegante. Tenho plena consciência de minha pequenez e do quanto ainda tenho que evoluir no sentido de atingir a magnitude de um simples grãozinho de areia. A  lisonja que endereço a mim, cuja história de vida conheço de cor e salteado e que hoje é de domínio público, tem apenas e tão somente a finalidade de afirmar que QUERER É PODER. Não importam as dificuldades que a vida coloca em nosso caminho. O que conta mesmo é a nossa capacidade, criatividade, determinação e vontade própria de transpô-las. Ninguém nasce, vive ou morre fraco. Todos nós, salvo aqueles que vieram cumprir missões específicas, nascemos em igualdade de condições, munidos de todas as nossas potencialidades as quais nos cabem estar sempre exercitando no sentido de que não se adormeçam, não se enferrujem e não nos transformem em parasitas. Ao Mestre do Madeiro, Governador Supremo do Orbe Terrestre, não foi dado nenhum milímetro de QI (Quociente de Inteligência) além do que nós, seus iguais, fomos dotados. Ele apenas os utilizava de maneira sábia e raciocinada. Nada mais que disso. Mesmo assim, quantos prodígios Ele operou. Esta minha mensagem, que a principio lhe pareceu estranha ou arrogante por me referir a mim, na primeira pessoa, na verdade, meu caro amigo, ela é todinha para você. Jamais pense em desistir de seus ideais. Não desperdice seu tempo “atirando por todos os lados”. Se ao invés de você ter mil projetos mirabolantes e inexeqüíveis em sua mente, tenha apenas um, desde que seja passível de execução. Pare e pense. Por mais simples que algum trabalho lhe pareça, não o inicie sem que antes trace uma meta estabelecendo inicio, meio e fim. Não estabeleça para você ou os outros prazos os quais não vão conseguir cumprir. Isso pode te levar ao descrédito. O homem tem que ter e honrar a palavra. Lute, mas lute com todas as suas forças. Não se deixe derrotar pela acomodação. O mundo, as oportunidades e os sucessos, pertencem aqueles que lutaram. Vá em frente. Não conduza sua vida olhando no retrovisor. Viva um dia de cada vez. Não tenha medo de nada. Não se preocupe em querer agradar a alguém. Seja natural. Não perca seu tempo com aquilo que não lhe vá dá retorno. Caso o critiquem, não responda com tergiversações. Seja objetivo. Vá direto ao ponto. Analise se as criticas são realmente fundadas e, caso positivo, faça sua correção e procure, independente do caráter de quem o criticou dar o verdadeiro “feedback” embasado-o na mais pura realidade. Procure não deixar nada sem resposta. Não mintas, jamais. Se você mentir uma vez será obrigado a mentir sempre. A mentira é o mais grave desvio de conduta do qual dificilmente o mentiroso consegue se livrar.

Ao finalizar esta minha “milionésima”, cansativa e redundante declaração de amor ao Brejo e ao meu povo. Por faltarem-me palavras mais apropriadas, o que seria, creio, compreensível por vocês que me toleram a tanto tempo, se se considerarmos que já estamos no final do ano, onde muitos neurônios tive que queimar para chegar até aqui e que somente a partir de hoje entro em férias para fazer a devida reposição de carga das já cansadas mas ainda recarregáveis baterias, lanço mão da seguinte estrofe de uma das milhares de pérolas do rei Roberto:

“Nunca se esqueça, nenhum segundo. Que eu tenho o amor, maior do Mundo. Como é grande, o meu amor, por você!”

Brejeiros, não chorem. Ano que vem tem mais bestagens. Eu voltareeeeeeeeei!

Feliz Natal e um Ano de 2012 repleto de amor, paz e muitas realizações na vida de todos vocês meus amigos e conterrâneos.

Inté!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

sábado, 10 de dezembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – SIMPLÍCIO, O MASCATE.

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – SIMPLÍCIO, O MASCATE.

Enoque Alves Rodrigues

Longos anos se passaram desde que o Bandeirante Antonio Gonçalves Figueira e toda a sua comitiva se aportaram, em um triste e melancólico dia de finados, nas antigas plagas de São Gonçalo. Ali, naquela ocasião como é de conhecimento de todos, segundo nos relatam historiadores, fincaram-se um velho cruzeiro, confeccionado em madeira tosca, ao redor do qual se iniciou a povoação daquelas terras, que mais tarde se transformariam em freguesia e muitos anos depois, em Cidade, a qual chamaria de Brejo das Almas e depois, Francisco Sá, em justa homenagem ao grande Ministro da Viação e Obras Públicas, nascido na Fazenda Brejo de Santo André, nas imediações.

Transcorridos mais de dois séculos desse evento, o progresso ainda capengava e insistia em não atingir aquelas bandas. Mesmo depois de o grande estadista levar até Montes Claros a ferrovia que revolucionaria todo o Norte Mineiro, o Brejo das Almas, quiçá por não fazer parte daquele promissor circuito férreo, ou por situar-se a considerável distância de Montes Claros, ao qual fora, outrora, vinculado, pouco se desenvolvia. Os transportes de mercadorias eram feitos de maneira precária, sobre burros, carroças e carros de bois. Não entrarei nos detalhes da história devido eu próprio já tê-la contado várias vezes, até por que não é este o objetivo desta crônica. Abro esse parêntese somente para informar aos “jovens mancebos” e lembrar aos “velhos anciãos” que não faz muito tempo, os confortos que hoje usufruímos, simplesmente inexistiam. Mesmo pairando, nos dias atuais, algumas sequelas rudimentares sobre os nossos costumes, nada nos remete aqueles tempos. O grande e inesquecível Geraldo Tito Silveira, a quem tive o privilégio de conhecer, em uma de suas valiosíssimas obras, relata com riqueza de pormenores, o que ocorreu na Cidadezinha do Brejo das Almas quando a ela adentrou o primeiro veiculo a combustão: um velho FORD de bigodes. Foi um Deus nos acuda. Houve mesmo até quem o amaldiçoasse dizendo que aquilo era coisa do diabo. Matronas que se achavam debruçadas nas janelas ao vê-lo faziam o sinal da cruz e fechavam-nas, imediatamente. Crianças que estavam brincando nos terreiros eram empurradas para dentro de casa. Alguns mais afoitos, geralmente os “mais usados”, ou melhor, os mais velhos, organizavam procissões e saiam atrás do veiculo, onde o motorista a caminho de Salinas ou Grão Mogol, quase morria de medo da turba em fúria. Restava ao pobre do chofer contra-atacar com rezas brabas implorando ao São Cristóvão, protetor daquela reduzidíssima espécie, para que o FORDECO não abrisse o bico antes de galgar subidas íngremes ou sem que primeiro se atravessasse a curva da morte. Mas quem foi que disse que os santos estão sempre de plantão e a nossa disposição para nos atender sempre que deles necessitamos? Ledo engano: na maioria das vezes os “bichões que cuspiam fogo” não conseguiam atravessar nem mesmo a mais insignificante lombada natural e antes de atingir as subidas mais importantes, empacavam-se, qual jumento ruim, e ai, não tinha jeito, a turma enfurecida partia pro pau, até que uma providencial intervenção de alguma autoridade local relevante a acalmasse.

Não é de hoje que as relações humanas entre iguais e coisas são de amor e ódio. Ama-se na mesma proporção em que se odeia e vice-versa. Assim, enquanto o Brejeiro não se familiarizava com aquela novidade, até mesmo pela falta de informação, esconjurava o dia em que o alemão Karl Benz, criou o primeiro automóvel em uma tarde de outono de 1885 que foi patenteado neste mesmo ano e no ano seguinte 1886, fundou a Mercedes. Quando, finalmente, os pesadões conseguiram romper aquele impacto inicial do medo, quando os brejeiros passaram a conviver com alguma assiduidade com aquelas geringonças, apaixonaram-se, perdidamente. Cada um, mesmo não sabendo com quais meios e recursos, queria, a todo o custo, comprar uma daquelas máquinas. Os pais de Alfredo e Francisco não foram os primeiros, como alguns afirmam, a ter um carro em suas garagens no Brejo; até porque, naquele tempo, a fazenda onde eles viviam em criança, não pertencia ao Município do Brejo das Almas. Darcy, fazendeiro e político regional influente, foi quem teve esta primazia. Há, no entanto, controvérsias, as quais respeito e não discuto, até porque me levariam do nada a lugar algum.

Chega de carros e vamos voltar para a realidade do inicio destas mal traçadas linhas. Simplício, era esse o seu nome, vivia de mascatear. Morava na Vila Vieira, próximo a Lagoa, onde deixava seus animais pastando. No lombo do burro varava dias e noites, dando um duro dos demônios, para no final do mês levar alguma merreca pra casa. A vida de caixeiro viajante ou mascate naquele tempo não era fácil. Com seus dois burros, sendo um para montaria e o outro para cargas, comprava em armarinhos de Montes Claros, botões, agulhas, linhas, dedal, elásticos, anáguas, combinações, véus, batons, esmaltes, lixas, espelhos, perfumes e cosméticos baratos, pentes e quando o dinheiro dava, algumas peças de tecidos como morim e tergal. Embrenhava-se nos sertões de Minas e, quando menos esperava, involuntariamente, estava em Monte Azul, lá no extremo, prestes a atravessar a ponte para o Estado da Bahia. É chão, meu nego. Ele tinha uma forma natural e muito peculiar de cultivar a clientela e fazer negócios. Ao chegar às paragens, procurava uma sombra onde amarrava os burros, geralmente em frente à Igreja. Com uma enorme cabaça aberta ao fundo, com pequena fenda à frente onde punha a boca, gritava aos quatro ventos, num português sofrível que faria Camões mover-se no túmulo: “Alô povo de Sun Gerardo, Simprisso Mascatero chegô trazeno procêis as nuvidade deretamente da cedade princesa do norte... Nóis tem de tudo um poco. Nóis tem butão pra muié butuá ropa, pano pra muié fazê vistido pra cubri as vregonha. Nóis tem burracha pra sigurá cirôla de home e de muié... Cumbinação pra muié potregê os peito. Véio pra cubri cabeça de muié crente. Batom pra dexá  muié cuns beiço vremeio quinêm carmim. Pente pra muié pintiá cabelo. Lixa pra muié lixá unha. Pó de arroiz, água de chero, tarco e prefumo pra muié ficá bunita e cheroza e num levá chifro. Nóis tem tamém ismarte pra muié pintá unha das mão e dos pé... Agúia, e retroze pra muié custurá ropa e dedár pra muié num furá os dedim.” Simplício era uma figura. Ele falava assim mesmo e todos o entendiam, porque, era esse o “dialeto” do lugar. Lá em São Geraldo, naquele tempo um pequenino povoado, Simplício quando chegava, amarrava seus burros debaixo de um grande pé de umbu que ficava exatamente aonde? Dou-lhe uma. Dou-lhe duas e dou-lhe três: quase dentro do Cemitério! E porque eu sei disso? Por que a nossa casa, assim como a pequena Escola onde minha mãe lecionava, distavam apenas alguns passos do dito cujo. Simplício amarrava os burros lá, que ficavam sozinhos pastando e ia vender suas mercadorias em frente a pequenina Igreja. Aí, nós, moleques aproveitávamos para fazer a festa. Só pra sacanear, enquanto Simplício anunciava suas bugigangas, nós, “capetas em forma de guri como dizia a música”, desamarrávamos os animais e depois de caminharmos com eles por centenas de metros dentro da mata, finalmente os amarrávamos em outra árvore, bem longe, onde jamais as vistas de Simplício alcançariam. Retornávamos para as proximidades do pé de umbu e escondíamos atrás das moitas, afim de que pudéssemos nos esbaldar, bem de perto, com o desespero e xingamentos de Simplício. Após esperarmos, pacientemente, por várias longas horas, lá vinha o pobre do infeliz. Simplício, ainda distante, notou que os burros não estavam mais lá: “Oh, Meu sinhô Jisuis, onde está meus burro? Será que eles se asortaram da pranta? Mais diabo, num é impussive, apusquê eu amarrei eles cun força. Isso num tem cabimento apusquê sinão eles tamém se asortava das otras arve nos otro lugá. Capeta, apusquê isso só acuntece aqui em Sun Gerardo? Será qui é arguma mardição desse sumutéro? Ô dó, agora qui tô vêno qui isso acunteceu a muincho tempo apusquê os bichim nem tivéro tempo de cagá aqui. Sêno anssim eles vai tá longe. Oh meu bum jisuis, ocê qui tamém andô num jumentim cum seus pai me ajuda a encontrá os meu!” Antes que maiores aflições se apoderassem de Simplício, surgíamos como se tivéssemos brotado do nada e, de maneira natural e dissimulada, nos apresentávamos para ajudar: “Seu Simplício, o senhor está procurando pelos seus burros?” “Tô, sim, miséra, apusquê, ocêis viu?” “Sim, nós vimos. Estávamos caçando preá e deparamos com eles debaixo de uma árvore há um quilômetro daqui!” “Antonce vamo fazê o siguinte, ocêis me leva lá pra iêu trazê eles de vorta!” “Sabe, seu Simplício, respondíamos todos, procurando valorizar o próprio passe, bem que nós gostaríamos muito de ajudar, mas temos que nos preparar para irmos à Escola!” “Diabo docêis cum esse nigóço de iscola. Quanto mais istudia mais burro fica. Vamo cumigo lá nos burro qui quando nóis vortá cum eles eu vô dá uma grujeta procêis e ai o ganhame é de todos nóis, apusquê amanhã eu tenho qui amanhecê, niguciá e drumi em Caçarema!”

Era tudo que queríamos ouvir. Pegávamos na mão de Simplício e, como se estivéssemos praticando a primeira boa ação do dia, o levávamos até seus burros. Ele, agora feliz e reconfortado, abria aquele sorrisão. Depois de nos dar alguns trocados, para comprarmos bolinhas de gude, ainda nos elogiava: “Cuntinue anssim meus fio, cum esse curação bundoso e sem niúma mardáde. Num é sem mutivo qui Jisuis, o fio do hôme falô:  Dichae qui vindi a mim os piquinino apusquê deles é os reino do Céu!”

É!

Por certo, a máxima, exaltação grandiosa da pureza dos inocentes, proferida pelos Lábios Santos, Imaculados e Misericordiosos do Divino Mestre do Madeiro, O Filho de Maria e José, que por todos nós derramou Seu Precioso Sangue no Gólgota, não se referia aqueles pobres diabinhos de São Geraldo. Não fazíamos jus a ela. Se Ele ali estivesse, certamente que dessa forma a proferiria: “Pelo amor de Deus, afastai de Mim esses tenebrosos capetinhas, porque não são deles o Reino dos Céus!”

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur