O BREJO E SUA GENTE X – FELICIANO
OLIVEIRA
*Enoque
Alves Rodrigues
O
conteúdo físico que possuo sobre Feliciano Oliveira, resultado de pesquisas
insones dos velhos tempos em que “ainda se
compulsavam livros”, é tão robusto que mesmo tendo deixado para referi-lo
por ultimo, nesta série com a qual considero finalizada minha modesta
colaboração ao povo de minha terra, ainda tive de reduzir para não exceder as 1240
palavras deste espaço e não ofuscar personalidades anteriormente mencionadas de
igual importância para a nossa cidade de Brejo das Almas ou Francisco Sá. Filho
do fazendeiro e político de renomada liderança local da UDN, Lauro Oliveira,
Feliciano nasceu no Município de Brejo das Almas onde iniciou sua longa vida pública
a qual sempre esteve voltada para a qualidade. Ao contrário de alguns que o
antecederam na Prefeitura do Brejo, assim como de uma boa parcela de seus
contemporâneos, Feliciano sempre foi de fidelizar a excelência em todas as suas
realizações.
Menino,
ainda, colaborava com o pai na administração da produtiva fazenda quando já
sonhava ter em mãos ás rédeas dos destinos do Município de Francisco Sá. Com
doze anos, a contragosto, foi enviado para estudar em Montes Claros e Depois
Belo Horizonte, retornando ao Brejo depois de concluir seus estudos.
Determinado a seguir carreira na politica, estabeleceu como Quartel General a
própria fazenda do pai. Dali ele disparava petardos á políticos de renome e farta
projeção local informando sobre sua intenção de se candidatar a algum cargo
eletivo por onde certamente conseguiria ser útil a sua Cidadezinha de Brejo das
Almas que amava. Feliciano, assim como a maioria de nós, Brejeiros, era um
eterno inconformado com certos privilégios que outras cidades vizinhas tinham
em detrimento de nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá.
De
seu posto de observação na fazenda encravada entre as montanhas Brejeiras refletia
e matutava, com inquietude juvenil, o quanto a Política Social havia sido cruel
para com sua terra e sua gente. De vida simples, mas abastada com aquilo que a
terra mãe produzia, não conseguia entender e aceitar passivamente os motivos
pelos quais poucos tinham tanto enquanto muitos não tinham nada. De onde, meu
Deus, havia brotado tanta miséria?
-
“Prefeito Feliciano, o senhor só vai conseguir ajudar a sua cidade e o seu povo
se for um excelente prefeito. O Brejo das Almas já teve muitos prefeitos bons
anteriores ao senhor e veja, entretanto, onde ainda estamos...” Sonhava!
-
“Deputado Feliciano, se o senhor não mudar sua forma de legislar revendo este
seu pendor para com os pobres vai ser muito difícil ver aprovado algum projeto
seu...” Seguia sonhando!
Feliciano
sabia de antemão o quão infrutíferas seriam quaisquer tentativas suas em busca
da concretização do sonho de ser prefeito de Francisco Sá sem bases políticas e
plataformas sólidas de preferência lastreadas no seio das mais tradicionais
famílias do Brejo cuja militância politico administrativa de resultados positivos
já se encontrava inquestionavelmente solidificadas desde a fundação do lugar. E
disparava os seus petardos em forma de bilhetinhos os quais eram endereçados
aquelas famílias que, no entanto, relutavam em aceita-lo. Quando, finalmente,
conseguiu romper a resistência ao seu nome no seio dos “Dias”, “Pereira”,
“Penna” etc., soube que o mesmo não fruía de receptividade fácil entre os “Silveira”.
Ele tinha pedigree no sangue, pois o pai era político, mas nenhuma tradição ou
experiência que o identificassem com os anseios da maioria. Necessitavam, ali,
de alguém com mais cabedal de conhecimento e comprovada eficácia
administrativa. As dificuldades e mazelas do Brejo exigiam muito mais que um
jovem idealista e sonhador. A história dá como tutor político de Feliciano
certo cônego de nome Sebastião. Mas como veremos mais adiante, ele apenas o
iniciou nesta arte, abrindo-lhe ás portas ao utilizar-se de seu valioso carisma
e prestigio com os quais lhe apresentou junto aos “Silveira”. Tutor do jovem Feliciano
mesmo foi o grande Enéas Mineiro de Sousa, pois, uma vez convencido dos reais
propósitos de Feliciano, não mediu esforços no sentido de ajuda-lo a torna-los
realidade.
Orador
eloquente, capaz de levar ás lágrimas multidões de pessoas, muito bem
articulado, pausado no falar, cuidadoso com as palavras e convincente, aos
poucos Feliciano conseguiu conquistar a confiança de todos inclusive do próprio
Enéas Mineiro, uma sólida e poderosa liderança local que, apenas para
prestigiar Feliciano, cedeu-lhe a “cabeça
de chapa” numa demonstração de humildade, generosidade, desapego e grandeza
do Capitão, que naquele pleito eleitoral se candidatou a vice-prefeito de
Feliciano, tendo ele, Enéas, puxado quase todos os votos que elegeria vitoriosa
aquela chapa: Feliciano Oliveira finalmente sagrava-se Prefeito de Francisco Sá
(1947-1950) com expressiva votação e o mais importante: o seu vice era ninguém
menos que o homem mais poderoso da região, um corajoso e destemido desbravador
e empreendedor nato oriundo do nordeste do Brasil tendo de lá saído pobre para trabalhar
duro e fazer fortuna no norte de Minas: Enéas Mineiro de Sousa.
O
jovem Feliciano tinha boa vontade e coragem para realizar, mas não tinha
experiência e nem sempre sabia como fazer. Nos momentos de insegurança e
incerteza o capitão lhe dizia: “vai,
moço. Faça a sua parte. Coloque sempre á sua frente os nobres ideais que o
motivaram e trouxeram até aqui que eu me encarrego de concretizá-los junto com
você!”.
Dito
e feito.
Realizaram
uma excelente e profícua administração na Prefeitura Brejalmina.
No
pleito seguinte encontramos Feliciano Oliveira retribuindo ao seu benfeitor a
mesma gentileza de outrora. Agora era o próprio Feliciano, experiente e
realizador, o vice de outro iniciante na Política, mas imbuído de desejos de
mudanças, filho de Enéas, de nome Pedro Mineiro de Sousa (1951-1954). Como da
vez anterior, e como não podia deixar de ser, aquela dobradinha reversa conseguiu
ser igual ou ligeiramente melhor que a anterior. Obras importantíssimas saíram
do papel, materializando-se em benefício da população. Diziam as “boas línguas brejeiras” que
administração igual àquela só a do “doutor
Jardim.”. Não obstante não ter sido contemporâneo dessas administrações
(tinha eu somente um ano em 1954), conheço-as muito bem pelos escritos que li, e,
principalmente, pelo que me falava o meu saudoso avô que tinha o vezo de
comparar gestões passadas.
As
administrações bem-sucedidas de Feliciano Oliveira frente á Prefeitura de
Francisco Sá, quer como Prefeito ou vice, proporcionaram ao nosso Município
grandes saltos de qualidade rumo ao progresso célere e eficaz guardada as
devidas proporções de morosidade das coisas, feitos e fatos inerentes á época. Tanto
é verdade que foram suficientes para que Feliciano Oliveira, uma vez mais, ou
seja, consecutivamente, aliás, acontecimento este inédito até os dias atuais,
conseguisse se reeleger Prefeito de Francisco Sá com excelente votação nos
pleitos de 1954 (final de seu mandato de vice), para o próximo período de
1955-1958. Tinha ele neste quadriênio administrativo como seu Vice um gigante e
competente homem público, filho de Jacinto, orgulho das Alterosas.
Mais
uma vez grandes metas foram batidas e índices de qualidade de vida antes
inatingíveis fizeram-se presentes. Feliciano consolidava na Prefeitura do Brejo
das Almas os seus sonhos de menino. O ótimo trabalho, a experiência, o
reconhecimento e o respeito políticos conquistados lhes credenciavam,
certamente, a alçar voos mais altos por outras plagas muito além das fronteiras
de seu querido Brejo das Almas. Ali ele poderia multiplicar por milhares os beneficiários
de sua luta e empenho em prol dos mais carentes não somente em seu torrão
natal.
Foi
exatamente o que ele fez. Diga-se, com muito sucesso!
E
tenho dito.
*Enoque
Alves Rodrigues é Brejeiro.
Praça Jacinto Silveira no Centro de Francisco Sá - Orgulho em Ser Brejeiro