CASOS DO BREJO V – CAMPANHAS
ELEITORAIS
*Enoque Alves Rodrigues
É difícil entender
onde se localiza a essência dos milagres dentro dos pleitos eleitorais. Dispõem
do poder de aglutinar em torno de si todas as forças ainda que em estado de
letargia e obsolescência. Diria até que os pleitos eleitorais promovem milagres
inimagináveis. Almas que, em eleições anteriores foram banidas da vida publica e
lançadas, pelo poder do voto, ao temido fogo do inferno, ressurgem, inesperadamente,
das cinzas, qual fênix, coradas e faceiras. Impressiona-me, particularmente, a
força de renascimento de alguns. Mas, sinceramente, o que mais me surpreende é
a maneira fácil que chega a beirar a inocência com que pessoas simples se
deixam influenciar por seus iguais inclusive em nível intelectual. Promessas vazias
inseridas em oratórias sofríveis, desprovidas de quaisquer conteúdos são
lançadas, boca afora, aos pobres ouvidos do infeliz Cidadão, como se exequíveis
fossem. Estes, atordoados, correm de um lado para outro, ou, de um comício para
outro, qual barata tonta, como aquele personagem da mitologia grega que, desesperado
em busca da verdade, munia-se de uma lâmpada, e saia buscando-a por toda parte,
sem, contudo, encontra-la.
Talvez a melhor
maneira de entendermos a eficácia de tão grande capacidade de renascimento desses
“imortais”, esteja mesmo na ficção dos pastelões como as séries, “duro de matar”. Mas ater-nos-emos ao que há de bom nas eleições por que
a função desta coluna é trazer informação e entretenimento aos poucos que ainda
a leem, devido á maioria se achar exatamente envolvida atualmente com este
tema, campanhas eleitorais, sem tempo para ler as bestagens que ainda insisto
em escrever. Falemos de coisas dóceis e amenas, então.
Um dos muitos
pontos decisivos das eleições são as campanhas eleitorais que são capazes de
mobilizar multidões de pessoas, fomentar o consumo e injetar recursos no
comércio, revolucionando toda a vida das cidades, por mais pacatas que sejam.
Não fossem pelas circunstâncias já destacadas acima, de alguns, que, uma vez
eleitos, divorciam-se dos planos de governo que eles próprios elaboraram e que
foram responsáveis pelo êxito obtido nas urnas, dir-se-ia que existem muito
mais de positivo em eleições além do que supõe nossa vã filosofia. Deixemos de
lado o troca-troca, a compra de votos, o voto de cabresto, o fogo cruzado entre
candidatos que nestas ocasiões se esquecem de comezinhos sentimentos de
fraternidade, e mais recentemente, a lei da ficha limpa. Recordo-me de uma história
que um senhor de barbas brancas que nasceu e viveu no Brejo das Almas onde
faleceu com 92 anos me contava.
Dizia-me ele:
Naqueles
tempos o voto de cabresto imperava no Brejo. Todos os camaradas eram conduzidos pelos seus senhores
geralmente donos de fazendas na região, para votarem na secção eleitoral que
ficava no centro da cidadezinha. O voto tinha que ser dado ao candidato
previamente escolhido pelo patrão. As duas únicas forças politicas exponenciais
disputavam as eleições naquele ano. Os dois candidatos eram coronéis com cabedal
eleitoral garimpado depois de muitos anos de labuta e bons serviços prestados à
comunidade.
Marcolino de
Poções não tinha patrão. Ele não trabalhava para ninguém. Ele era dono de seu
próprio passe. Votava em quem queria. Bem, sendo assim, venderia bem o seu
voto. Espere ai! Não, ele não se contentaria em vender o voto para um só
candidato. Ganharia um pouco mais. Venderia seu voto para os dois candidatos. Ele
só teria outra oportunidade daquela dali a quatro anos. Ele era esperto. Sendo
assim, procurou o primeiro candidato.
- Mercê ainda
está comprando voto?
- Sim, estou.
Porque, você quer me vender o seu?
- Quero.
Quanto é que Mercê paga?
- São duas galinhas
e uma porca!
- Fechado. O
meu voto será seu. Como faço para entrega-lo?
- Fácil. No
dia da eleição eu estarei lá, na boca da urna, pronto para recebê-lo.
- E quando é
que o senhor vai me pagar?
- Quando eu me
eleger, claro! Respondeu-lhe seco, o mandachuva.
- E se Mercê não ganhar? Não se eleger?
- Bem, você já
está perguntando demais. Isso ai já é outra história que não é da sua conta.
Isso é um jogo e eu não jogo para perder. – Você vai ou não vai me vender o seu
voto?
- Espere ai,
lembrou-se Marcolino. E se o outro candidato também pensar igual ao senhor? E
se ele também não jogar para perder? Como é que eu fico? Vou ficar na mão do
calango?
Mineiro
matuta. Brejeiro pensa e matuta ao mesmo tempo. Assim sendo, fechou com aquele
candidato. Matutou. Pensou. Pensou. Matutou e decidiu. Iria se garantir com o
outro candidato. Assim se aquele danado com quem ele se comprometeu primeiro
perdesse ele não ficaria chupando o dedo.
Foi com a
língua de fora e esbaforido que ele, após utilizar-se de vários atalhos no
caminho, chegou, finalmente, a casa do segundo candidato.
Alto, magro e
esguio. Vestido do mais puro brim, cáqui, calçado com botas de couro, canos
longos, com chapéu panamá à cabeça, olhar tranquilo e falar manso. Sentado
estava no solar de seu casarão de onde observava todo o Brejo das Almas,
reduzido, naquele tempo, a um pequeno amontoado de casas. Ao avistar Marcolino,
elegantemente se expressou:
- Bom dia, meu
amigo. Como vai o senhor? Porventura, há algo que eu possa fazer para lhe
ajudar?
- Sabe o que é
coronel! Eu vim aqui para lhe vender o meu voto. Quanto é que Mercê está
pagando?
- Vender, o
que, meu filho? Por favor, seja mais especifico. Não lhe entendi!
- Então,
coronel, o senhor sabe que todo eleitor aqui vende o voto e que por aqui
qualquer candidato só se elege se
comprar votos, já que não tem voto de cabresto para todo o mundo.
Aquele
candidato olhou para Marcolino com piedade. Após fitar-lhe de alto a baixo,
respondeu-lhe educadamente.
- Creio que o
amigo esteja enganado. O voto deve ser dado e não vendido. Voto não tem preço, voto tem consequência. Aliás,
você nem precisa conhecer a pessoa para votar nela. O que você tem que conhecer
é o seu plano de governo. Não faça de seu voto moeda de troca senão os
candidatos vão fazer de você massa de manobra e posso lhe garantir que esta
ciranda perversa não é benéfica nem para você tampouco para à Democracia que
todos nós um dia almejamos. Não vote, jamais, em quem se propõe a comprar o seu
voto. Ele não o merece.
Democracia? De
que diabos aquele coronel visionário estava falando em plena década de 1920
quando a maioria das questiúnculas era resolvida à bala ou sorrateiramente?
Impossível
seria mesmo entender, quanto mais explicar, não fosse aquele candidato o
Coronel Jacinto Alves da Silveira
que, segundo os anais da história, jamais perdeu uma eleição das muitas que
disputou.
É...
Por vezes, ou
quase sempre, não é preciso se afastar dos caminhos da retidão para se lograr
êxitos nas urnas. Basta que você tenha um bom plano de governo. De preferência
e se possível, exequível. Porque chapéu de trouxa é marreta.
E tenho dito!
*O autor nasceu no Brejo das
Almas. Atua há mais de 41 anos na área de Engenharia. Publicou o livro “Liderança Conquistada”. É Colunista,
Palestrante Motivacional, Historiador e Divulgador voluntário de Francisco Sá,
Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
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