SER BREJEIRO É... AMAR O BREJO SOBRE TODAS AS COISAS...
Enoque Alves Rodrigues
Há algum tempo atrás li em minha página de relacionamentos “face”, aparte de um conterrâneo ao outro que me sugeria escrever sobre determinado tema relacionado, como sempre, ao Brejo das Almas, do qual supunha ele deter eu o domínio do conhecimento.
Na breve missiva, o conterrâneo que aparteava a quem agradeço de coração, do alto de sua inquestionável sapiência, manifestava-se surpreso devido o outro ter sugerido a mim, que nem no Brejo vivo e não a ele, mencionado tema. Finalizava informando que sai do Brejo muito cedo e que, portanto, não poderia discorrer com natural propriedade tal assunto, etc.
Tenho por premissa me resguardar de comentar ou me envolver com temáticas polemicas onde não consigo visualizar claramente o trinômio principio, meio e fim. É que na área de Engenharia onde atuo, lidamos muito com ciências exatas, cujo cume é o resultado. Assim sendo, as coisas que não se enquadram neste perfil, julgamo-las, abstratas ou descartáveis o suficiente a não nos permitir que debrucemos sobre elas para tomarmos ações que certamente nos levarão do nada a lugar algum.
Não tenho nos dias atuais nenhum vinculo familiar, qualquer parentesco ou contato físico com alguém que vive no Brejo. Ando por suas ruas sem ser sequer notado. Ninguém me conhece fisicamente. Os poucos, que lá ficaram, com os quais convivia, já estão, certamente, no andar de cima. Devo aqui ressaltar que sou brejeiro de nascimento, por amor e convicção. Apenas isso já bastaria para justificar esse meu inexplicável apego à terra que me serviu de berço. A incondicionalidade do amor que nutro pelo Brejo das Almas, sua gente e suas mazelas, está lastreada nas mesmas dificuldades que me obrigaram um dia a sair de lá, e principalmente, pelos parâmetros comparativos que pude estabelecer, diante de várias localidades e povos que vim a conhecer aqui mesmo no Brasil e em outras partes ao redor do Mundo, como no Oriente Médio, por exemplo. Em São Paulo , onde vivo, creio ter atingido o modesto pedestal pelo qual lutei e que a vida me reservou, durante longuíssimos anos de labuta.
Mas... E então, não deveria eu nesse caso, amar muito mais a São Paulo que me acolheu, quando necessitava, dando-me guarida, após haver, com seu coração hospitaleiro e cheio de bondade, me convertido através de seus costumes, sotaques diferenciados dos Italianos da Mooca, com suas pizzas e bracholas, em um de seus iguais?
Não. Negativo!
Amo São Paulo assim como amaria qualquer outro lugar que tivesse me proporcionado constituir minha família, participar de seu crescimento e ainda por cima, depois de comer o pão que o capeta amassou, chegar ao ápice da vida com algum no bolso para me sustentar, sei lá, por quanto tempo, sobre as já frágeis e trêmulas pernas que ás vezes insistem, como as mulas empacadeiras do meu Brejo querido, em não mais querer sair do lugar, carregando o peso de minha saliente barriga. É a vida, meu nêgo.
Amar, já dizia o Poeta, é dar-se sem pedir nada em troca. O meu amor pelo Brejo das Almas, ou Francisco Sá, “beldade do norte de Minas” vem daí. Desde que nasci até hoje, muitos anos se passaram desde que amassei pela ultima vez a bosta das vacas da Fazenda Terra Branca de propriedade de meu avô, no Município do Brejo das Almas. Mesmo assim, ainda hoje meus pobres pés, ao palmilharem alguns importantes centros financeiros, palácios de convenções, centros empresariais e conferências inerentes a minha atividade, conseguem tropeçar em algo de natureza mole e tonalidade verde e escorregadia, que no final, pasmo, as narinas que jamais me traem, constatam tratar-se da mesma bosta de vaca dos tempos de outrora.
O amor, meus queridos amigos e conterrâneos é algo que sobrepõe o nosso querer. Nós não escolhemos o que ou quem vamos amar. Dessa forma, por me faltar argumentos dentro da objetividade, por não dispor de palavras suficientes que me permitam relatar com clareza, todas as causas, motivos e peculiaridades que canalizam o meu amor pelo Brejo das Almas, resta-me apenas me homiziar por detrás do meu mineirismo brejeiro, para lhes afirmar categoricamente, que somente o fato do Brejo ter produzido esse povo simples, lindo e maravilhoso onde eu, igual algum encontrei pelas diversas plagas percorridas, esse povo que transita pelas empoeiradas ruas do Brejo onde eu, muitas vezes, em vigília do espírito invisível, também me encontro a caminhar, basta-me para seguir amando-o com todas as forças do meu ser, sem quaisquer outras justificativas. Assim é o amor.
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/
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