sábado, 30 de abril de 2011

AS JOIAS RARAS DO BREJO I - DONA YVONNE

AS JOIAS RARAS DO BREJO I - DONA YVONNE

Enoque Alves Rodrigues

É possível que antes mesmo que o amigo leitor inicie a leitura desta crônica já deva imaginar apenas pelo titulo, sobre qual “pérola do brejo”  estarei me referindo hoje. Também é natural que uma pequena e vã ilusão se apodere do amigo, ao pensar que ao contrário das pérolas aqui mencionadas anteriormente, devido a minha pérola de hoje ser alguém na ativa com quase 100 anos de idade, de múltiplas atividades e expressivo destaque na mídia escrita, falada e televisada, e pelo fato de em conseqüência disso dispor de farto material cibernético de magnitude astronômica e fácil pesquisa publica, que pouco ou quase nenhum trabalho tenha dado a este pobre operário da Engenharia, que ás vezes se mete a besta e ataca de cronista para escrever estas “mal traçadas linhas” sobre esta grande Diva das Gerais.
Ledo engano! Nesse caso cumpre-me informar que tenho por principio só relatar fatos dos quais tive contato direto pessoalmente ou então através de pessoas que considero fontes seguras. Sem maiores delongas, explico: Não tenho o vezo de retratar algum fato ou personagem com base em informações de internet. Mesmo sendo eu um velhinho plugado vinte e quatro horas no www. Estas facilidades, sinceramente, ainda hoje, não me apetecem. Elas são muito frias e sequer se aproximam da sensação de uma calorosa conversa ao pé do ouvido ou quiçá, do êxtase existente no compulsar de um algum livro com suas páginas amareladas pelo tempo, olvidado em uma instante qualquer, em parte indefinida do Globo.
Utilizo a internet apenas para realizar pesquisas inerentes a atualização diária de minhas atividades no campo da engenharia. Assim mesmo, pasmem, quando não acredito muito em tais pesquisas via internet, recorro-me, quase sempre aos livros.
Bem, isto posto, chega de retórica, Noquinho, e vamos ao que interessa
Yvonne de Oliveira Silveira, Nasceu em Montes Claros em 30/12/1914. Ainda jovem transferiu-se juntamente com sua família para a pequena localidade de Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, Minas Gerais. Ali chegando, enfrentou juntamente com o pai Antonio Ferreira de Oliveira, farmacêutico, intelectual e poeta, inclusive é ele o autor do hino a Francisco Sá, todas as dificuldades inerentes a uma vida pobre e Severina.
A mãe, pouco tempo depois por problemas de saúde, retornaria a Montes Claros, onde ainda jovem faleceu.
A menina Yvonne agora na companhia de numerosos irmãos ficava sob os cuidados do pai. Não tinha tempo para chorar ou lamentar as desditas da vida. Ao contrario, arregaçou as mangas e quiçá vem deste longínquo tempo as suas afinidades multifuncionais: aos 15 anos tornou-se professora na única escola do Brejo das Almas de então, onde tinha como diretora Gabriela Campos, vulgo Biela. Ali Yvonne lecionava para alunos do terceiro ano. Ajudava o pai Niquinho na Farmácia e ainda naquela época passou a colaborar na condição de cronista para o jornal “O Lápis”, fundado pelo intelectual e fazendeiro Olyntho Silveira, filho de Jacinto e Maria Luisa, agora e durante inúmeras décadas, seu marido. A primeira crônica que Yvonne escreveu foi dedicada ao irmão João Hamilton, quando este partiu em direção à Itália compondo-se ao front das forças expedicionárias brasileiras naquele País. De lá para cá, a diva não parou mais. Brinda-nos ainda hoje, com singular lucidez, concedida pelo “Cara” lá de cima apenas a alguns pouquíssimos iluminados,  com suas crônicas, contos, poesias e tudo quanto se possa imaginar de prazeroso e revigorador para o espírito e intelecto.
É difícil falar de Yvonne de Oliveira Silveira sem se apaixonar. É impossível compreender como uma mulher aparentemente tão frágil seja capaz de exercer ao mesmo tempo diversas atividades, todas elas ligadas direta ou indiretamente ao campo do saber e do intelecto,  com o mesmo vigor físico, dedicação e desprendimento da juventude. É privilégio de poucos, caros leitores e motivo de grande orgulho para nós, simples mortais.
Licenciada em Letras pela Unimontes, Professora aposentada de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, Presidente da Academia Montes-clarense de Letras por vários mandatos, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pertence a Academia Municipalista de Letras  de Minas Gerais, Jornalista, Cronista, Poetisa, Historiadora, “ufa”, faltou-me fôlego para continuar descrevendo as atividades da dona Yvonne” como carinhosamente a chamamos.
É sem duvida alguma um mito. Orgulho de todos nós Brasileiros e Montanheses do norte das Gerais.
Em Janeiro de 2008 tive a oportunidade de ler no “Norte de Minas”, uma linda crônica dedicada a dona Yvonne, pelo nosso amigo em comum Dr. Paulo Cesar Gonçalves de Almeida, então Reitor da Unimontes, cujo epilogo pego aqui emprestado para encerrar minha crônica de hoje,  devido ao grande teor sintetizado em poucas palavras, mas de abrangência relevante e incontestável, bem como pela  maneira fiel, isenta e irrefutável com que descreve a nossa grande Diva Yvonne e o que ela representa para todos nós e principalmente para as gerações futuras.
“Oxalá, diz Paulo, estejamos nós a quem compete levar adiante esta história à altura da magnitude intelectual e da grandeza moral da nossa mestra Yvonne Silveira, para que possamos nos dedicar com carinho ao belo legado que ela nos tem transmitido. E quiçá, novos talentos surjam para percorrer a história vindoura da Unimontes e da educação em Montes Claros e nas regiões Norte, Nordeste e Vales do Jequitinhonha e Mucuri”. 
É...
Jóia rara como a dona Yvonne, de beleza e valor inestimáveis, teria mesmo que ter passado pelo velho Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, minha apaixonada terra. Lá recebeu  ainda em idade tenra e quase pueril, os pródromos finais da raça ariana na terra e o lapidar do Ourives Maior do Universo, que certamente lhe assoprou aos frágeis ouvidinhos em formação estas sábias palavras: Vai, Yvonne, minha filha... Cresça e apareça para todo o mundo... Semeia sua inteligência com humildade e simplicidade aos quatro cantos das Gerais...
Isto é a nossa Yvonne de Oliveira Silveira. “Oliveira” de Antonio e “Silveira” de Olyntho. E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador, escritor, e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
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terça-feira, 26 de abril de 2011

OBRIGADO MEU POVO. ATÉ BREVE MINHA GENTE. AMO VOCÊS!!!

OBRIGADO MEU POVO. ATÉ BREVE MINHA GENTE. AMO VOCÊS!!!
 Enoque Alves Rodrigues
Como é de conhecimento de todos os meus leitores, depois de longo tempo, excepcionalmente no final de semana passado, deixei de publicar  minha crônica semanal.
Os motivos, no entanto, são óbvios e repousam felizes e placidamente sobre a agradável e alvissareira justificativa da visita aos meus queridos familiares em Capitão Enéas e Montes Claros, que há algum tempo não os via. Como é bom voltar aos braços daqueles que nos amam desde a mais tenra idade.  O abraço caloroso e o ósculo sagrado da mãezinha adorada, a dona Nazir. O abraço  sincero e o beijo carinhoso e fraternal de minhas não menos adoráveis irmãs Tatinha, Neusinha, Narinha e Neidinha. O aperto de mão dos amigos, etc. Todos consternados e comovidos pelo passamento recente de meu pai, porém, firmes na fé de cada um e confiantes em um porvir melhor.
O dedinho de prosa com os cunhados amados. A algazarra entre os sobrinhos queridos. Até mesmo a visita a minha tiazinha Nira em seu leito de Hospital, são eternizados pela magnitude reminiscente. Fazer o que? Não tenho culpa se o Cara lá de Cima se faz presente em tudo.
As recordações com sorrisos fáceis e resplandecentes de nossas infâncias em Orion, São Geraldo, Caçarema e por fim, Capitão Enéas, são momentos que beiram a sublimidade das coisas. Ratificam, de maneira inquestionável, a existência de um Ser Supremo, cheio de bondade e complacência e gravam com marcas indeléveis no recôndito de nosso ser, a importância superlativa existente na simples arte de viver.
A sensação do encontro de todos eles, indistintamente,  com minha filha a quem não haviam até então tido a oportunidade de conhecer, é algo indescritível até mesmo aqueles que estão, de alguma forma, afeitos às letras. 
Alias, creio ser este o verdadeiro  ápice da vida: quando não encontramos as palavras certas para  definirmos tais momentos, ou será que isso ocorre exatamente para nos conscientizar do quanto somos pequenos diante da grandeza do Cara.
Não sei. Como eu já disse,  sou pequeno e não tenho nenhuma obrigação de ter esta resposta para tudo!
No próximo final de semana voltarei com minhas crônicas. A série será composta de 5 capítulos “As Jóias Raras do Brejo”. Quanto ao livro “Liderança Conquistada”, de minha autoria, está em processo final de revisão. A capa já está aprovada. Ficou linda.
Estive por alguns instantes em Francisco Sá no dia 21/04/2011, conforme eu havia anunciado. Está muito linda a minha Cidade.
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Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 16 de abril de 2011

AS JOIAS DO BREJO X– LOLÔ DO MANGAL

AS JOIAS DO BREJO X– LOLÔ DO MANGAL

Enoque Alves Rodrigues

Durante muitos anos, ainda nos tempos do Coronel Jacinto Silveira, cuja residência em forma de assobradado casarão ficava ao lado da Praça da Matriz, no antigo Brejo das Almas, hoje, Francisco Sá, era possível confrontar-se com um personagem atípico à beleza natural da gente brejeira de antanho, que vez por outra freqüentava aquela casa.
Moreno, Baixinho, barrigudo, pernas finas desproporcionais, vasta cabeleira e desdentado. Feio de doer... Assim era Lolô do Mangal. O “mangal”, inserido a alcunha “Lolô”, claro, era alusivo a localidade no município do Brejo das Almas, onde ele nasceu, viveu e tinha um Sítio, herança de família.
O Mangal, celeiro de gente bonita, onde por muitíssimos anos se produziu a melhor e mais saborosa cachaça do brejo ou quiçá das Minas Gerais, por certo quando do nascimento de “Lolô”, ou Lodovico Lopes da Cunha, cujo nome de batismo quase ninguém sabia, os deuses da formosura naquele instante se achavam em férias ou talvez, quem sabe, bêbados.
Será?        
Não!
Os deuses como sempre não tiram férias. Tampouco se embriagam. Eles estavam à postos e muito atentos a tudo e a todos quando o velho “Lolô” viu pela primeira vez a luz do sol.
Dotaram-no do que se pode imaginar do que há de mais puro a uma beleza interior matuta. Deram-no o dom do falar fácil com o qual arregimentava multidões ávidas por ouvir os seus “causos” que tinham quase sempre como cenário  a sua querida Mangal. Eram “causos” mas eram verdadeiros. Experiências vividas pelo próprio. Grandes lições de vida.
Uma dessas pérolas ele contava numa roda de amigos em casa do coronel Jacinto.
Certa ocasião, quando sua esposa Conceição, grávida, se encontrava à beira do São Domingos, colhendo alhos numa horta cultivada naquelas vazantes, ele a observava enquanto carregava com pólvora a sua pequena espingarda com a qual caçava juritis. Estavam na época das secas e o São Domingos, não obstante sua nascente tão próximo,  se identificava apenas por um pequeno e insignificante filete de água. Em fração de segundos ele teve nítida percepção de que algo de muito estranho e grave estaria por acontecer. Em instantes, pensou... Matutou e concluiu que o que aconteceria não seria com ele, mas com Conceição. Num átimo de tempo, sem titubear, correu até a esposa e aos gritos de “sai logo daí porque está vindo um trem na sua direção e ele vai atropelar você!”. Conceição, surpresa e atordoada, até porque naquela região jamais se passou ou passa trem algum, olhava para os altos da serra, sem nada entender. É fato que está arraigado aos costumes de nós, mineiros e brejeiros, sim, senhor, tratarmos tudo como “trem”, principalmente aquilo que não está muito bem claro e definido em nossa cuca. Em momentos de desespero, como no caso em tela do nosso querido “Lolô”, isso não poderia ser diferente. É trem mesmo, sô.
Com indescritível solavanco e aos gritos de “você quer morrer mulher, sua fdp”, Lolô a todo custo, conseguiu retirar Conceição daquele local.
Naquele instante uma imensa pedra que havia se desprendido da serra, passava em velocidade meteórica no mesmíssimo lugar aonde segundos antes, Conceição de encontrava. Por muito pouco não conseguiriam levar a efeito a teoria de Isaac Newton que diz que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço”.
É...
Por vezes, ou quase sempre, os deuses não podem dormir, nem mesmo se embriagarem, jamais!
Ainda que se trate da verdadeira água que passarinho não bebe do Mangal.

As próximas crônicas serão sobre as “jóias raras do brejo”. Não percam!
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Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 9 de abril de 2011

AS JOIAS DO BREJO IX– LIBERATO & LAUDELINO

AS JOIAS DO BREJO IX– LIBERATO & LAUDELINO


Enoque Alves Rodrigues


20 de Julho de 1969: O homem acaba de chegar à lua... “Este é um pequeno passo para o homem mais um grande passo para a humanidade!”, berrava a quase 400 mil quilômetros de altitude da terra, Neil Armstrong.
No Brasil daqueles tempos, as noticias chegavam com a agilidade de passos de tartaruga. Já no meu Brejo das Almas querido, lá nos cafundós das gerais, quando elas chegavam, vinham também em passos de tartarugas, só que de tartarugas preguiçosas e sonolentas.
Por isso era muito natural que enquanto nós do Brejo estávamos nos deliciando com certas novidades que nos chegavam através do velho rádio de pilha, de marca "abc canarinho", quase todos os habitantes das demais partes do Planeta Terra já não se lembravam mais delas. Se perguntados, talvez até afirmassem que tal fato não tivesse jamais acontecido. O mundo era lindo e girava lentamente.
28 de Dezembro de 1969, ou seja, passados longos cinco mêses após o grande evento que pouco mudaria os destinos da humanidade no Orbe: “Em Brasília, 19 horas... Começa aqui a voz do Brasil”, falava um locutor qualquer.
“Alô amigos, aqui começa o seu repórter Esso..." -Gritava Heron Domingues -:  “Americanos não acreditam que o homem pisou à Lua”. Eram noticias simultâneas apresentadas pelos principais jornais radiofônicos de então, lembram-se, velhinhos?
Pronto: Este era o mote responsável por lançar a “grande discórdia” entre dois senhores de barbas longas e brancas, que perduraria por semanas e que, assim como o são todas e quaisquer polêmicas desprovidas de embasamentos necessários às evidências de veracidades mínimas, terminavam sem que se houvessem ganhadores.
Sentados no alpendre do casarão da Fazenda Terra Branca, limítrofe com Vaca Morta, no município de Francisco Sá, ou melhor, Brejo das Almas, os dois senhores naquele exato instante observavam lá no firmamento, o principal satélite da terra. Conversavam amenidades até que ouviram a bombástica noticia já produzida acima.
Liberato, ou João Albério Rodrigues, meu avô e dono da fazenda, adventista até a medula, era adepto de que o homem realmente não teria capacidade para ir à Lua. Sustentava sua “tese” com milhares de citações Bíblicas, todas elas atestando a incapacidade do homem, aliás, incapacidade essa que muitas vezes reduziam as condições humanas à total insanidade. Eu, pequeno ainda, mas estarrecido, só observava.
Já o “irmão Laudelino”, – assim o chamávamos -, também adventista, vivia na fazenda de meu avô. Era velhinho e nada fazia. Ele, ao contrário de meu avô, afirmava aos quatro ventos que o homem havia, sim, pisado à Lua. Que devido o homem ter sido feito a imagem e semelhança de Deus, o Próprio o dotara de muitos poderes e um desses poderes seria que o homem conhecesse de perto as maravilhas feitas pelo Criador, etc. Que se o homem tivesse ciência de  suas reais potencialidades, com toda certeza seria capaz de produzir algo muito próximo do Criador. Que o meu avô deveria se aprofundar mais a sua leitura e procurar interpretar melhor as escrituras, etc.
Enquanto ao meu avô, ele replicava, dizendo que não, que apesar de ele ter que trabalhar muito para sustentar seus dez filhos, também conseguia tempo para ler muito. Que o importante, também não era somente ler, mas entender e interpretar. Que de forma alguma, Deus, concederia tanto poder ao homem. Que o homem só sabia fazer guerra e citava a segunda guerra mundial. Hitler, Mussolini e outros que, exceto Hitler, no frigir dos ovos, nem tão bélicos o foram, assim.
Varavam noites nesse diapasão. Não se chegavam a nenhum acordo. Estavam definitivamente em lados opostos. Nenhum dos dois queria “largar a rapadura”. “Dois duros não levantam muros”. Ou ainda, “dois bicudos não se beijam”, assim falamos nós brejeiros.
Pois é, havia entre eles, no entanto, um momento em que todas as diferenças se alinhavam. Todos os conflitos se dissipavam e todas as divergências se convergiam. Esse momento sublime se verificava todos os dias, durante todos os longos anos em que o meu querido avô viveu. Pontualmente ás 5 horas da manhã, ele saltava de seu catre de casal, com sua Bíblia e Hinário debaixo dos braços, junto com minha santa avozinha Justina de Jesus, a “dindinha”. Entoando os seus cânticos, passavam diante dos quartos onde as filhas dormiam. Ao ouvirem o som daquelas lindas melodias, levantavam-se todas e os seguiam em direção a sala da Fazenda, aonde grande mesa de madeira rústica, o altar da família, coberta por branca e límpida toalha de algodão, já os esperavam. Ritualmente, ali, na cabeceira daquela mesa, sobre uma cadeira de madeira em forma de trono, o meu avô se assentava e mesmo com toda a sua humildade, se sentia como se fosse um rei, dirigindo os cultos, onde todos em sinal de respeito e reverência, silenciosamente, o ouviam. Ninguém, nem mesmo o irmão Laudelino, se ousava a discordar do que ele dizia. Ou melhor, ali naquele “pedaço sagrado” daquela imensa casa ele reinava absoluto. Vivalma alguma em sã consciência se atreveria a lhe encher o saco.
É...
Por vezes, ou quase sempre, os reis são, infinitamente incontestáveis.
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Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Escritor, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

sábado, 2 de abril de 2011

AS JOIAS DO BREJO VIII– RC DO MATO

AS JOIAS DO BREJO VIII– RC DO MATO


Enoque Alves Rodrigues

“Eu sou terrível, e é bom parar. Se desse jeito, me provocar. Você não sabe, de onde eu venho. O que eu sou e o que tenho. Eu sou terrível, vou lhe dizer. Que ponho mesmo, pra derreter...”

Todos nós Brasileiros certamente já ouvimos esta musica gravada por Roberto Carlos Braga, em 1968, pelo menos umas quinhentas vezes.
Brejo das Almas, ou Francisco Sá, igual a ti, outra não ha. Não, na crônica de hoje, veremos que pelo menos neste particular, o Brejo das Almas ou Francisco Sá é igual a todas e quaisquer cidadezinhas encravadas em algum ponto do infinito deste imenso Brasil.

Refiro-me a aqueles nossos irmãos que muitos que se dizem normais insistem em trata-los como se loucos fossem, que andam a vagar sem rumo, pelas ruas destas cidades, tendo como ponto de referência para repousar seus esquálidos e desnutridos corpos, viadutos, pontes, marquises ou escadarias de uma igreja qualquer. Geralmente ninguém, nem eles próprios, sabem de onde vieram, tampouco para onde pretendem ir. Eles parecem brotarem-se do nada e assim, ou seja, como se nada fossem, vivem à mercê da boa vontade alheia ou da crueldade de alguns.

O Brejo das Almas tinha e ainda tem os seus “loucos”. Recordo-me naqueles tempos de muitos, entre eles, Pascomiro, Maria Bocão, Boneca Preta, Chuteira e, evidentemente, a minha “jóia do brejo”, que homenageio na crônica de hoje: Roberto Carlos do Mato. Não, não me perguntem qual era o seu nome de batismo, pois não saberia responder. Tudo o que sei, -e os queridos conterrâneos e leitores que me acompanham sabem sempre procuro primar pela veracidade dos fatos que narro-, é que ele era desprovido de qualquer semelhança física com o rei da jovem guarda. Era preto, meio alto, braços longos, magérrimo, feio, -bem o original também não é bonito- e tinha, ao contrário dos outros pseudo-retardados, uma ocupação: era coletor de lavagens para porcos. Ele ia de porta em porta, no Brejo das Almas de então, com dois vasilhames às mãos coletar restos mal-cheirosos de comida, sempre seguido, por nuvens densas de moscas, ávidas por aqueles banquetes.

Deram-lhe a alcunha de “Roberto Carlos” porque ele conhecia de cor e salteado, todas as musicas do rei do iê iê, iê, as quais cantava durante vinte e quatro horas por dia, todos os dias, todas as semanas e todos os anos. Já o “do Mato”, claro, era uma alusão ao fato de ele ser e viver no Brejo das Almas cercado até hoje por densas matas.

Quando Roberto Carlos, o verdadeiro, lançava um novo long-play, os botecos e inferninhos da época, os tocava naquelas máquinas onde um gaiato qualquer coloca uma ficha e escolhe a musica que quer ouvir. Nesse instante, o nosso Roberto Carlos do Mato se postava à porta do estabelecimento e, com os ouvidos atentos e antenados, ouvia, absorvia, ruminava tais melodia e, pasmem, seus sabichões, no dia seguinte, na base da decoreba, já estava a nos alegrar cantarolando em toda parte musica e letra de RC. Para ser sincero com vocês, a letra da musica “eu sou terrível” com a qual inicio esta crônica, assim como muitas outras, consegui aprender de tanto ouvir o nosso Roberto Carlos do Mato cantar.

Certa ocasião estava eu sentado na Praça Jacinto Silveira pensando na “morte da bezerra” ou sobre uma futilidade qualquer, quando a minha frente surgem todos os “loucos” do brejo tendo a frente Roberto Carlos do Mato, cantando a todo pulmão, acompanhado por Zezim Tocador. Quando menos esperava, eis que lá estava eu, no meio deles, em algazarra, seguindo todos nós, cantando as musicas do Roberto, como em procissão, rumo ao velho cemitério. Até ai, nada de mais... Mas porque fomos cantar no cemitério? E como é que eu vou saber! Por acaso são coerentes as atitudes dos “loucos”? Eu era apenas mais um “louco” no meio daqueles muitos “loucos” do antigo Brejo, que de loucos mesmo, não tinham nada.

É...

Por vezes, é melhor nos fingirmos de “loucos” e surpreendermos com inteligência inesperada, que nos fazermos de intelectuais e decepcionarmos com tolices inescrupulosas. Visitem meu novo blog. Pra variar, é sobre Francisco Sá. http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/

Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

domingo, 27 de março de 2011

AS JOIAS DO BREJO VII– DONA QUINÓ


Enoque Alves Rodrigues


É possível que muitos dos meus conterrâneos do Brejo das Almas, Francisco Sá, “beldade do norte de minas”, ainda se lembrem da pensão da dona Quinó। Ela se localizava na hoje movimentada alameda principal, em cujas lojas transitam ainda hoje desde a mais pura nata brejeira à plebe cada vez mais empobrecida, em busca de novidades e bens necessários। Por ali, obrigatoriamente se movimenta desde o topo à base da pirâmide econômica e social do Brejo das Almas। A verdade é que este “point”, desde os mais longínquos e remotos tempos, sempre foi o mais agitado de Francisco Sá। Outrora, todos os ônibus procedentes de Salinas, Taiobeiras, Grão Mogol com destino a Montes Claros passavam por ali। As linhas que tinham como ponto final o Brejo de todas as Almas, paravam exatamente em frente à pensão da dona Quinó, onde os motoristas e passageiros pousavam em pernoite, no aguardo de partirem no dia seguinte em seus ônibus em busca de seus destinos, sabe-se lá Deus, aonde। As distancias naquela época eram indiscutivelmente muito mais longas do que o são hoje। A maioria fazia os percursos em lombo de cavalo, pois em muitas estradas devido a suas precárias condições de conservação, eram inacessíveis a ônibus ou qualquer outro elemento rodante। Predominavam, quando se queria observar um desses gigantes em movimento, aperfeiçoados que foram pelo americano Henry Ford, somente as famosas “federais” (estradas de terra batida e depois asfaltadas que rompiam os sertões, feitas pelo Governo Federal), ou, claro, os centros das cidades। Era muito divertido. Falava eu, sobre a dona Quinó, minha “jóia brejeira” homenageada na crônica de hoje. Mulher bonita, estatura mediana, tez meio parda (existe esta definição?). Não importa. Comunicativa, tonalidade de voz alta (tipo italiano), mas pausado, próprio de nós mineiros. Vestia-se despojadamente, mas seus colares e pulseiras em ouro muitas vezes a assemelhavam as damas da elite do brejo daquela época. No peito sempre a pulsar um lindo e bondoso coração. Tinha grande vocação para a caridade. Por isso, no exercício de suas funções como dona daquela pensão, objetivava sempre a colaboração antes dos lucros e dividendos financeiros auferidos, sob trabalho árduo. Levantava-se ás 4 horas da manhã e já partia para a luta. Mesa posta com desjejum para os hóspedes, rumava-se para o mercado velho onde fazia as compras dos gêneros alimentícios, frutas, verduras, legumes, etc., sempre fresquinhos. Preparava, artesanalmente, o almoço que era servido pontualmente, ás 11 horas. Tempero igual o da dona Quinó, jamais vi ou saboreei. Talvez somente o tempero de minha santa avozinha, a dona Justina, que Deus a tenha em sua Santa Glória se equiparava ao tempero da dona Quinó. Qualquer pessoa que naqueles tempos passasse em frente a Pensão era, fatalmente convidado, a apreciar, inaladamente, claro, os sabores daqueles que eram, sem duvidas, o mais fino tempero mineiro. Já ao longe, ainda na Praça Jacinto Silveira, se sentia o cheiro dos feijões que, entre alhos, cebolas, coentros e outros cheiros verdes produzidos no cinturão verde que rodeavam a minha terra, berço querido da minha infância, tilintavam dentro da panela de ferro ainda na primeira fervura. A cada fritura de bifes, o brejo parava... O cidadão, se enfermo, sarava, aleijados andavam e os cachorros, desesperadamente, latiam. Os transeuntes não tinham nenhuma outra escapatória senão pararem-se, com seus olfatos aguçados em frente à pensão, no aguardo dos acontecimentos. Ou quiçá de um convite inesperado da dona, para entrarem e, de repente, saborearem alguns pequenos bocados daqueles manjares dos Deuses das Alterosas. A dona Quinó reinava absoluta na arte da cozinha. Ela era poderosa nesta arte milenar e tinha total conhecimento disso. Por isso, muitas foram às vezes que a vi prestar estas verdadeiras homenagens a algumas pessoas ali aglomeradas, quando preparava pequenas marmitas e ofereciam-nas. Aliás, jamais consegui entender por quais mistérios aquela bondosa senhora conseguia manter e levar adiante aquela pensão. Ela tinha, – desculpem-me se utilizo o verbo no passado ao referir-me a dona Quinó. Fazem tantos anos que a vi, que não sei se ela ainda vive entre nós-, uma forma hoje muito rara e peculiar de controlar o seu negocio, cuja forma, hoje inexistente: Utilizava-se de uma velha caderneta para registrar nela o velho e impoluto “fiado”. Naqueles saudosos tempos, quando a mosca velhaca do capitalismo desumano e selvagem ainda não havia picado o homem, a palavra, uma vez dada, tinha muito mais peso e força que qualquer documento escrito, assinado, carimbado e registrado. Lembro-me, e olha que eu só tenho 57 aninhos, do meu avô vendendo e comprando gado, lá na sua fazenda “Terra Branca”, perto de Cana-Brava. Era mais ou menos assim: “traga aqueles garrotes que eu vi com o senhor ontem na sua fazenda que daqui a quatro meses, no dia X eu lhe pago”. Não dava outra! Motoristas, cobradores, boiadeiros, tropeiros, carregadores do velho mercado, que ali faziam ponto, comiam, bebiam e dormiam. Tudo na base do fiado. No final do mês, ao receberem seus proventos, lá estavam todos, em fila indiana, saudando os seus compromissos com aquela grande senhora, de bondade impar. O casarão onde antes ficava a pensão da dona Quinó ainda resiste ao tempo. Há dois anos quando em sua frente estive, permanecia forte e inabalável, assim como um dia o fora a sua primeira dona. Belos tempos, aqueles... É... Por vezes, a maior e mais perfeita lembrança que repousa em nosso recôndito se faz presente nas coisas mais simples e naturais, possíveis. Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Queridos leitores: informo que estarei publicando minhas crônicas a Francisco Sá também neste blog:http://enoquerodrigues-earodrigues।blogspot.com/

domingo, 20 de março de 2011

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO

Enoque Alves Rodrigues

Antes que algum conterrâneo ou leitor pense que eu me esqueci de alguma das muitas jóias produzidas pelo Brejo das Almas, devido ainda não tê-las publicado nesta serie de crônicas, quero me antecipar informando que esta serie é dividida por etapas. Ou seja, na primeira etapa estão elencadas “as jóias do brejo”, na segunda, “as jóias raras do brejo” e na terceira e ultima, “as jóias raríssimas do brejo”. Independente da ordem de grandeza,  saliento que todas as jóias aqui relatadas, tiveram, resguardadas as devidas proporções, importância fundamental no cotidiano do velho Brejo das Almas. Todas elas, todos nós, inclusive este humilde operário da engenharia a qual se dedica arduamente em tempo integral e que ainda busca tempo para, com todo o amor e orgulho falar de sua terra querida, somos todos indispensáveis à vida do Brejo das Almas. Vamos então ao querido Rogério da Costa Negro.
Quando aos 7 de setembro do ano de 1924 se instalou o Município de Brejo das Almas a sua Câmara Municipal se constituía de 8 vereadores. Um deles que depois viria a ser presidente da câmara era Rogério da Costa Negro.
Nascido em Grão Mogol, no ano de 1889, filho de um rico português com uma criada, Rogério jamais fora reconhecido pelo pai. Ainda jovem, com a mãe mudou-se para o Brejo das Almas. Lá chegando, com muita dificuldade, abriu um pequeno comércio de uma porta só, onde colocava algumas peças de tecidos para vender. Não demorou muito e graças à dedicação e tino comercial de Rogério, aquela pequenina loja de transformou em um grande conglomerado de empresas no ramo de tecidos recebendo o pomposo nome de “Casa Branca & Costa Negro”.
Rogério da Costa Negro progredia a olhos vistos. Possuía agora grandes fazendas de gado, plantações de diversas culturas a perderem-se de vista. Jovem, rico, bonito e famoso, ainda exercia grande influencia na política do lugar, Rogério não tinha do que reclamar.
A sorte sem dúvida alguma o bafejara. A vida, com toda certeza lhe sorrira. Será?
Ainda jovem, no ano de 1925 construiu um luxuoso casarão com grande e aclimatado jardim de inverno e janelas com vitrais azuis, na Praça Duque de Caxias. Era indiscutivelmente a melhor e mais bem projetada residência do Brejo das Almas de então. Muitas festas eram dadas naquele rico e imponente casarão.
Juiz de Paz, tinha ele o poder de mandar prender e soltar, presidente da câmara e outras atividades, Rogério fazia sucesso junto ao universo feminino. Onde quer que chegasse causava o maior frisson. Sempre perfumado, roupas impecáveis, sapatos lustrados, não tinha para mais ninguém.
Não demorou muito e Rogério da Costa Negro conheceu e casou-se com Isméria com quem teve cinco filhos. Algum tempo depois não resistindo aos encantos de uma beldade de beleza brejeira estonteante, de nome Raimunda, não pensou duas vezes e com ela teve também cinco filhos.
Rogério se auto-intitulava amante de mulheres, músicas e flores. Boêmio até a medula, varava noites e madrugadas em boates onde, despojadamente, distribuía gordas e polpudas gorjetas aos cantores e mulheres animadas. Saia da boate e se dirigia a sua linda residência, sempre acompanhado por famosa orquestra da época denominada “turma do sereno”. Rogério chegava, subia aos seus aposentos ao som de sua música preferida “sonho azul” e da janela ouvia os cantos embaixo e de lá mesmo jogava para os cantores várias cédulas de dinheiro. É claro que ninguém arredava pé dali. A fonte era muito pródiga e inesgotável.
Inseri propositadamente uma interrogação no final do parágrafo “a vida com toda certeza lhe sorrira. Será?
Pois é. Tudo na vida se acaba. Com Rogério não foi diferente. Diante dos obstáculos naturais que a vida nos coloca, Rogério acabou por derrapar em uma das muitas curvas da estrada. Com muitos filhos, agora casados, todos eles educados nas melhores escolas, gastos incontroláveis com futilidades, desperdícios infindáveis, farras homéricas, não demorou muito para que o sólido patrimônio de Costa Negro começasse a se esvair. A virar pó, literalmente. Dali a falência total foi um pulo. O golpe de misericórdia que culminou com a venda de suas fazendas de gado, plantações, e da própria loja de tecidos, foi dado por um de seus filhos que havia contraído grande divida, cabendo a Rogério paga-la a fim de preservar o bom nome da família. Pouquíssimo tempo depois, até mesmo o lindo casarão de estilo colonial onde ele vivia com a família, foi dividido em pequeninos cômodos que eram alugados para pequenos comerciantes.
Rogério da Costa Negro agora era apenas um pobre velho trôpego e alquebrado. De toda a sua imensa prole, somente Edinha, sua filha doente e solteira, restou para lhe fazer companhia. Rogério, mesmo diante da situação de penúria ainda mantinha o espírito elevado e a alma tranqüila. Conservava toda a elegância, brilho no olhar, coragem e determinação de seus agora longínquos tempos de juventude e grande riqueza.
No dia 20 de Novembro de 1977, numa bela manhã primaveril, Rogério da Costa Negro partiu desta vida em direção a uma melhor, onde, para os que assim como eu, acreditam, as riquezas conquistadas aqui na terra mediante o esforço dedicado ao amor ao próximo, a benevolência, a tolerância, a caridade e principalmente o desapego as coisas materiais, jamais se acabam. São eternas.
Comovida, a gente brejeira fez-se presente em peso para dar o último adeus aquele que muito significou para o brejo. A multidão que acompanhava o cortejo de Rogério cantando sua música preferida “sonho azul” era tão grande que dava-se a impressão que nas casas do brejo não havia sobrado mais ninguém. No sepultamento a comoção era geral e incontrolável. Ao baixar o caixão ao fundo do túmulo, pétalas de rosas e aromáticos perfumes eram lançados sobre o mesmo juntamente com lágrimas de gratidão.
Rogério, certamente, agradecido pelas dádivas que ele mais admirava em vida, sorria a todos, de algum ponto invisível a olho nu do infinito.
É...
Por vezes, a maior e mais perfeita riqueza que podemos conquistar não se retém nas mãos, mas no mais além.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.