quinta-feira, 4 de junho de 2015

O BREJO E SUA GENTE VI - EURICO PENA



O BREJO E SUA GENTE VI – EURICO PENA


*Enoque Alves Rodrigues


Seguindo com a série mensal que tem por objetivo reverenciar de maneira singela, alguns de nossos antepassados Brejeiros de relevância maior que se destacaram na história de nossa cidade pelo muito que por ela realizaram e que com lisura de caráter, sólidas iniciativas sociais, político-administrativa, souberam dignifica-la, ao levar adiante suas gestões com transparência, honestidade, dedicação e equilíbrio sempre privilegiando aqueles que mais necessitavam, preservando, imaculadamente, suas respectivas biografias as quais escreveram com naturalidade, despretensiosamente, etc. 


O meu retratado de hoje pertence a uma contemporaneidade recente e é possível que muitos dos poucos que ainda me leem devam ter com ele cruzado um dia em nossa querida Francisco Sá. Sim, o período ao qual me reporto não é o do Brejo das Almas. Aliás, ele apenas “nasceu no Brejo onde viveu até os 24 anos”. Mas, fez-se homem, político e importante mesmo em Francisco Sá pela qual trabalhou arduamente. Se você não é conterrâneo te informo que Brejo das Almas e Francisco São uma mesma Cidade. Pronto: poupei-lhe do trabalho de recorrer á “Wikipédia”. Isto posto, vamos em frente!

Eurico Pena da Silveira é o nobre personagem que ilustra esta minha crônica de Junho exatamente por canalizar em torno de si todas as referências positivas e virtudes singulares das quais grandes castas de gestores públicos atuais a cada dia se distanciam. Por motivos que imensa parte das inteligências medianas não alcança competência, dedicação e honestidade são virtudes que levas consideráveis de gestores não conseguem coadunar. Esforçam-se, é verdade, por vezes, chegando até mesmo a jurar sobre a Bíblia que independente das circunstâncias que venham a enfrentar seguirão firmes e fortes na defesa de seus princípios lastreados por este trinômio, mas, lamentavelmente, ao tomarem posse de nosso erário se esquecem de que de nada adianta ser competente e dedicado se não for honesto o suficiente para resistir ás tentações do dinheiro fácil. Dureza mesmo para eles, garbosos, faceiros e lisos como o quiabo, somente o “drear” (assim falamos no Brejo), “por que desce macio e reanima”. Tomou?


Dedicado, competente e honesto. Empreendedor nato e tocador de obras, assim era Eurico Pena que por duas vezes esteve á frente da Prefeitura de nossa querida cidade de Francisco Sá onde se destacou pela quantidade de obras que realizou. Muitas delas, inclusive, se encontravam com os seus projetos engavetados há dezenas de anos. Conheci de perto, o grande Eurico, sobre o qual fiz um pequeno relato primeiro, acredito, há alguns anos atrás em crônica intitulada “Assim Era Francisco Sá – Jardim Público Municipal”, na qual descrevia a inauguração desta obra, projetada por outro prefeitão, o Dr. Arthur Jardim.


Eurico Pena da Silveira nasceu no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, Minas Gerais, em 07/05/1914, ao pipocar da primeira guerra mundial. Filho de dona Joana Alves da Silveira e de Tiburtino de Oliveira Pena enveredou-se, muito cedo pelos campos das artes e da política tendo sido contemporâneo de grandes vultos da política local. Foi prefeito de Francisco Sá em plena ditadura militar, em dois períodos distintos, de 01/02/1967 a 31/01/1970 e de 01/02/1973 a 31/01/1977. Não obstante as dificuldades naturais por que passavam o Brasil devido ao regime de exceção e principalmente o norte de Minas onde se localiza a nossa cidade, em meio ao polígono da seca, as administrações de Eurico Pena da Silveira foram todas elas cobertas por grandes realizações pautadas no “bom e barato”. Realizou-se muito com pouco dinheiro. Em sua primeira gestão (1967/1970) Eurico elegeu como prioridade revolucionar o perímetro urbano do Município onde construiu prédios, praças, escolas, pontes, chafarizes e empedrou ruas inteiras além de fazer seus nivelamentos e corrigir seus traçados. Aos bairros de Francisco Sá, distantes, íngremes e sofríveis, além de estender essas benfeitorias, levou água e luz elétrica que até então não possuíam. Após embelezar nossa cidade, dotando-a de uma nova roupagem e semblante saudável, alegre e amistoso, Eurico, agora, voltava a sua segunda gestão (1973/1977), progressista e eficiente, para as zonas rurais deste imenso município composto, então, por distritos cujo índice de analfabetismo, crescimento social e miserabilidade haviam desafiado vários antecessores e suas administrações, que pouco ou quase nada conseguiram avançar. 


Calçando botas de couro canos longos e usando calças rústicas do tipo “arranca toco” e camisa de morim batido, transportado por uma velha “rural bandeirante” dessas que sobem em serras, Eurico supervisionava pessoalmente as obras nos mais longínquos distritos. Acompanhava tudo de perto. Nesse diapasão, graças a sua coragem e empenho construiu inúmeras escolas em zonas rurais inóspitas para onde também levou estradas e pontes que agora ligavam aqueles pequeninos núcleos marginalizados por desditas anacrônicas, ao centro urbano de Francisco Sá, onde respiravam os seus iguais, em melhores condições de civilidade. O matuto brejeiro teve sua honra e dignidade restabelecidas por Eurico que para isto nenhum esforço mediu.


Na cultura, mexeu na grade escolar instituindo turnos distintos além de reforçar a merenda da gurizada. Incentivador incansável do folclore do lugar. “Festeiro, convicto, participava de todas as comemorações brejalminas que ocorrem, quase sempre, no mês de setembro, quando se homenageiam a “um milhão de santos em cada dia”“. Presença marcante nos catopés. Nas artes, patrocinava compositores e cantores, principalmente aqueles que enalteciam as coisas de Francisco Sá. Na literatura bancava escritores e suas publicações nem sempre bem-sucedidas, etc.


Grande baluarte da boa política brejeira que praticava em prol do bem comum sem jamais utiliza-la em benefício próprio. Nascido em famílias de tradições política e religiosa secular na vida de Francisco Sá, Eurico Pena da Silveira, criança ainda, não teve dificuldade em escolher o caminho que seguiria ao crescer. Seria político assim como os seus ancestrais. Mas não seria um político qualquer. Tentaria, dentro do possível, ser igual ou próximo ao velho Jacinto, falecido em 1938. Queria prefeitar. Desejava, humildemente, colocar um tijolinho nas paredes de seu Brejo das Almas ou Francisco Sá. Acabou por erguer muitas paredes nas quais se encontram gravado o seu honroso nome em letras indeléveis que o tempo, senhor absoluto da razão, merecidamente, insiste em reluzir, não obstante a sua ausência física já longeva, efetivada que foi em 27/05/1993.


Eurico Pena da Silveira. Esse é o cara do qual todos nós brejeiros temos motivos mais que suficientes para nos orgulharmos. Viveu em uma época aonde a lei do mais forte prevalecia e aqueles que detinham o poder o utilizavam para massacrar os mais fracos e alimentar seus próprios egos. Eurico Pena enfrentou todas as dificuldades “tirando leite de pedra” sem jamais se esquecer dos menos favorecidos para os quais governava, não obstante vir ele de família de posses. O que é bom já nasce feito. E fim de papo.


E tenho dito.


*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo.


Vem ai, Feliciano Oliveira. Não percam!

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O BREJO E SUA GENTE V - ANTÔNIO FERREIRA



O BREJO E SUA GENTE V – ANTÔNIO FERREIRA

*Enoque Alves Rodrigues

Quando em uma bela e ensolarada manhã de Janeiro do ano de 1929, Antônio Ferreira e sua mulher Cândida Peres juntamente com sua numerosa prole adentraram ás ruas empoeiradas do Brejo das Almas, provenientes da Cidadezinha dos Montes Claros, pouquíssimas almas que habitavam o Brejo de outrora sequer imaginavam a importância que aquele senhor, alto, loiro, de olhos verdes e falar manso teria á partir dali e durante toda a sua vida, para o cotidiano pacato daquele diminuto povoado de cuja emancipação (07/09/1923) que demandou feroz e ferrenha luta, ele próprio havia participado na condição de Vereador ainda em sua cidade. Ele nasceu em Montes Claros, onde se formou em química farmacêutica, mas estava desde o seu reencarne predestinado ao Brejo das Almas.

Uma vez no Brejo, fincou residência no Largo da Matriz, próximo a única farmácia do lugarejo de propriedade de Francelino Dias, o França, com quem passou a trabalhar até conseguir montar sua própria farmácia, lá pelos idos de 1930 no mesmo Largo da Matriz todo desnivelado e esburacado, sem qualquer melhoria. Assim sendo, quando no ano de 1931, na gestão do prefeito Dr. Paulo Cerqueira Rodrigues Pereira se iniciaram as obras de nivelamento e empedramento das ruas e do antigo Largo da Matriz e adjacências, Antônio já se encontrava inteiramente estabelecido naquele Largo com a sua bem sortida e frequentada farmácia que progredia vertiginosamente devido ao empenho, conhecimento e popularidade de seu dono que a transformou na melhor botica de toda a região. O farmacêutico Antônio naquelas bandas era a salvação para muita gente. Olhava na cara do caboclo e já sabia qual remédio lhe dar para a cura plena dos males físicos desde as dores do espinhaço até as dores da alma por que ali Antônio, munido de inteligência impar no campo do intelecto muitas vezes tinha de “atacar” também de psicólogo oferecendo sempre uma palavra terna e amiga de encorajamento e motivação aquela gente sofrida que muitas vezes sequer tinha o que comer em casa. Independente de o matuto brejeiro ter ou não dinheiro no bolso para adquirir o remédio, jamais saia de sua farmácia de mãos abanando. Antônio utilizava muito mais os seus conhecimentos na prática da caridade e filantropia aos menos favorecidos, que para ganhar dinheiro, mesmo vindo ele próprio de família simples, de poucos dotes, apesar de ter sustentado sua grande família com o conforto necessário e com toda dignidade de marido zeloso e pai de família exemplar.

Compadre do Coronel Jacinto Silveira, fundador do Brejo das Almas, muito antes de ele, Antônio, se mudar para o Brejo, pois ainda em Montes Claros, Antônio e Jacinto já eram amigos e companheiros de bancada na Câmara de Vereadores daquela Cidade na qual Antônio era secretário tendo sido dele a redação do projeto que se converteria na lei estadual (843) que faria do Brejo, Município, de onde plantaram as sementes de um novo porvir para o distante povoado que ambos ombreariam, transformando-o em cidade progressista dentro de suas naturais limitações. No Brejo das Almas os elos desses dois gigantes, Antonio e Jacinto, viriam a se fortalecer muito mais quando no dia 20 de Janeiro do ano de 1933, na mesma Igreja Matriz que ainda hoje lá está, une-se em matrimônio uma filha de Antônio, então com dezoito anos, com um dos filhos de Jacinto, de vinte e três anos, cujo enlace de longevidade superior a sete décadas e meia, se estenderia por toda a vida, pois só se findou depois do último suspiro do filho de Jacinto no ano de 2009 e, mais recentemente, para nossa tristeza, com a morte da Diva Brejeira, filha de Antônio com 100 anos no dia 17/04/2015.

Forjado do mais puro aço, de ascendência europeia, a vida nem sempre sorrira para Antônio que desde cedo teve de ir á luta. No Brejo, dentro do ambiente familiar teve de assumir a condução do lar e educação dos filhos devido ao dissabor da ausência da esposa devotada Cândida, para infrutífero, longo e penoso tratamento mental em Montes Claros. Muitas foram às lutas com as quais o gigante Antônio teve de travar com o destino de onde ele sempre ressurgia com mais força e resiliência.

Político, Farmacêutico Diplomado, Médico sem Diploma, Escrivão de Paz, Orador e Poeta. Em todas as enumeradas atividades que Antônio ocupou deixou sua marca indelével gravada à posteridade de curta memória. É possível que poucos saibam hoje quão relevantes foram ás iniciativas deste grande Brasileiro para a vida de nosso pequeno torrão natal de nome Brejo das Almas. 

Na política, combativo e atuante vereador e secretário na Câmara de Montes Claros, entre outras ações de cunho social, foi o autor e redator do projeto que se converteria na lei 843 que tornou o Brejo das Almas Município independente. Farmacêutico, exerceu com dedicação e generosidade essa nobre arte em beneficio dos menos favorecidos. Médico sem diploma, muitas doenças diagnosticou em seu inicio recomendando ao enfermo procurar tratamento imediato em cidades com recursos. Foi de Antônio, o médico sem diploma, o primeiro diagnóstico de câncer na garganta do padre Augusto que depois mediante sua recomendação procurou o doutorzão diplomado João José Alves na bela MOC. Como escrivão de paz, ele colaborou na resolução de muitas pendengas que invariavelmente conduziam seus litigantes aos melhores termos. Orador eloquente, Antônio era capaz de levar ás lágrimas o mais duro coração. Em todo e qualquer evento ele era convidado para realizar a abertura e encerramento onde deixava fluir em dicção clara e didática perfeita os sentimentos arraigados no recôndito do mais puro e elevado saber. O Brejo das Almas que agora se chamava Francisco Sá não tinha um hino que o enaltecesse e identificasse. Professores e alunos lamentavam não ter um hino para cantar em homenagem a jovem beldade do norte de Minas, quase adolescente, que recentemente havia se emancipado. Atendendo ao clamor da professora Maria de Jesus Sampaio coube a Antônio escrevê-lo, brindando a todos nós, Brejeiros que amamos esta terra com o mais lindo hino cuja letra foi musicada por Corinto Cunha, também poeta e amigo de Antônio: 

-“Brejo das Almas ou Francisco Sá... Igual a ti, outro não há...”.

Lembram-se?

Pois é.

Depois de todas essas dicas e deste extenso preâmbulo não é possível que você ainda não saiba a que Antônio me refiro. A menos que você não seja Brejeiro. Nessa condição você estaria desculpado. Mais se você nasceu no Brejo, mesmo não vivendo lá assim como eu, você teria a obrigação de saber de cor e salteado quem foi esse sujeito.

Antonio Ferreira de Oliveira era “Niquinho Farmacêutico” no Brejo das Almas ou “Niquinho Açúcar” como era conhecido em Montes Claros, onde também era farmacêutico.

Niquinho Farmacêutico pode ser considerado um dos grandes expoentes do velho Brejo das Almas. Conseguiu, neste torrãozinho de meu Deus, colocar em prática todos os atributos com os quais a Divina Providência o dotara. Exerceu todas as suas atividades sempre voltadas para a benevolência e crescimento do Brejo e de sua gente. Mesmo assim conseguiu amealhar com toda a sua honestidade, razoável patrimônio que, no entanto, não muito afeito as coisas materiais e, principalmente, pelo vicio do alcoolismo que infelizmente adquiriu, veio a falecer desprovido de bens materiais na residência de sua filha amada e do genro querido. Levou consigo a maior riqueza. A certeza plena de que enquanto neste mundo peregrinou ofereceu a todos indistintamente o seu melhor sem em momento algum pedir algo em troca. Doou-se por inteiro aos que dele necessitavam e com isto partiu feliz não obstante o sofrimento imposto pela doença.

E tenho dito.

*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo.

Vem ai, Feliciano Oliveira. Não percam!

domingo, 5 de abril de 2015

O BREJO E SUA GENTE IV - ARTHUR JARDIM


O BREJO E SUA GENTE IV – ARTHUR JARDIM

*Enoque Alves Rodrigues

Em 24/08/1949, quando Feliciano Oliveira, Prefeito de Francisco Sá, inaugurava o serviço permanente de luz elétrica fornecida pela Usina Santa Marta, a mesma que abastecia Montes Claros, poucos se lembravam de que a iniciativa daquele grande feito que agora se concretizava havia se iniciado, na verdade, dez anos antes, ou precisamente em 30/11/1939, ainda que de maneira precária, na gestão do grande Brasileiro nascido no ano de 1897, em Conselheiro Lafaiete, norte de Minas, de nome Arthur Jardim de Castro Gomes, ou melhor, Doutor, sim, ele era Doutor, não por ter sido o grande engenheiro que foi o que para nós já seria uma grande honra, mas, principalmente por sua inteligência, caráter, competência, e integridade inquestionáveis em todos os postos que ocupou. Talvez a pobreza de dados que atualmente se encontram disponíveis sobre o Doutor Arthur Jardim de Castro Gomes se justifica pela inexistência de réguas capazes de dimensiona-lo integralmente, em toda a sua magnitude. Sabemos que nem sempre a história é pródiga ou justa para com os grandes vultos que efetivamente a souberam escrever, quase sempre com letras de sangue, por que eles existiram em uma época em que tudo era mais difícil e muitas vezes para levar adiante os seus projetos tiveram de “tirar leite de pedra”, além de se sacrificar ao extremo em prol do ideal de realizar o seu melhor para assim minorar o sofrimento dos mais carentes.

O Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes que também foi Prefeito da cidade de Corinto tornou-se Prefeito de Francisco Sá de 1938 á 1942, no período intervencionista, em substituição ao Dr. João Bawden Teixeira que morreu repentinamente. Em sua bem-sucedida administração frente à Prefeitura Brejeira a cidade que ainda chorava seu líder recentemente desaparecido (08/01/1938) se transformou em um verdadeiro canteiro de obras. O arrojado Plano Diretor que o Prefeito Dr. Arthur Jardim escreveria de próprio punho para por em prática no primeiro ano de seu mandato, contemplou todas as áreas vinculadas direta ou indiretamente ao desenvolvimento urbano do sofrido Município de maneira que ao chegar ao final de sua gestão quase nada restava por fazer do que havia planejado. Em seu relatório, a guisa de prestação de contas, que ele escreveu e enviou ao então Governador do Estado de Minas, Benedito Valadares, em dezembro de 1942, deixa claro em linguagem simples e objetiva que soube dignificar o cargo que lhe fora confiado com grandes e incalculáveis realizações em beneficio da cidade e de seus munícipes, que lhe propiciavam á consciência tranquila do dever cumprido.

Enumerar as realizações do Dr. Arthur Jardim na Prefeitura do Brejo significa correr riscos de omissão. Fez tanto que ainda hoje permanecem inabaláveis os pilares de sua administração. Da radical mudança topográfica do antigo traçado das ruas brejeiras com aterramentos colossais que sepultavam o feio fazendo brotar o bonito, escavações que punham abaixo montanhas de terra que durante anos desafiaram cabeças geniais, terraplenagens extensas e nivelamentos abismais que colocavam cara a cara em condição de igualdade o aclive íngreme com o declive, empedramentos, prédios, jardins, barragens, criou bairros e distritos, etc.

O Prefeitão Arthur Jardim abusava de suas multifaces qualidades na cavernosa arte de “engenhar”. Grande parte dos projetos que executou quando se achava na Prefeitura do Brejo foram produzidos por ele. Saíram de sua prancheta e ganharam formas pelo seu nanquim. Ele mesmo os fazia e ainda corria para executa-los. Também, pudera. O cara era tudo na engenharia. Ele era engenheiro topógrafo, engenheiro civil e eletricista, engenheiro rural, engenheiro paisagístico e engenheiro urbano. Para o Brejo das Almas daqueles tempos, então, o Dr. Arthur Jardim não poderia ter vindo em hora mais oportuna.  Ele era também escritor, conferencista, jornalista e articulista de vários jornais entre eles, “Gazeta do Norte”, “Gazeta do Lavrador” e “Diário da Noite”, entre outros.

Membro da Maçonaria onde praticava fervorosamente seu amor e devoção por todos. Intelectual acadêmico, tendo ocupado a cadeira de nº 26 da Academia Montesclarense de Letras, é também naquele egrégio templo do saber patrono da cadeira de nº 14 ocupada com humildade, sapiência e galhardia pela escritora e professora Karla Celene Campos. O Dr. Arthur Jardim foi também funcionário graduado de instituições de renome e projeção nacional como Estrada de Ferro Central do Brasil, Departamento de Estradas e Rodagens, Departamento de Águas e Esgotos de Minas Gerais, etc.

Fez todos os seus estudos, do primário á Escola Superior de Engenharia em Belo Horizonte. Foram seus pais José Henrique de Castro Gomes e dona Celestina Jardim de Castro Gomes.

Mesmo não sendo o Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes, Brejeiro de nascimento, conhecia o brejo como ninguém ao ponto de escrever a mais bela e completa monografia onde discorre com riqueza de pormenores nossa região como a fauna com suas variadas espécies de animais domésticos que vivem no Município de Francisco Sá, que em sua maioria se constituem das mais comuns em varias partes do Brasil. Aves e pássaros selvagens característicos da região, canoros e de belas plumagens. Dentre eles o sofrê, o corricho, o canarinho amarelo e o pardo, o pintassilgo, a patativa, o bicudo, o curió, o pássaro preto de três espécies, o cardeal e a brabeza e mais seis espécies de beija-flores. Há também as pombinhas verdadeiras e amargosas, a juriti, a inhambu, a zabelê, o sabiá, o tico-tico, o bem-te-vi, a codorna, o quem-quem, os anuns pretos e brancos, as rolinhas pedrês e parda, o João congo, o João de barro, e muitos outros. Com relação às aves de rapina, catalogou varias espécies de gaviões de penacho e o carcará. Em se tratando dos animais selvagens mencionou a suçuarana, a lombo-preto, e em algumas regiões o tigre, a anta, os gatos maracajá e marisco, a raposa, o caititu, o queixada, os tamanduás, os tatus pebas e bola, a paca, os veados, os coelhos, as cutias, o guaxo, os preás e a jaratataca. Quanto a serpentes, a maior mesmo é a jiboia, a caninana, a jararacuçu, a cipó, a cascavel, a coral, a jararaca e outras mais. No tocante as variedades de peixes são muitas, a começar pelo grande surubi do rio verde grande, o dourado, as curumbatás, as traíras, o piau e, ainda no rio verde e várias lagoas, os grandes jacarés, as ferozes piranhas, os mandis, etc.

Referindo-se á flora o Dr. Arthur Jardim nos diz ser quase toda constituída de CAMPOS – Limpos, Cerrados e Gerais. CAATINGAS – Altas, de vazantes, baixas e médias. CATANDUVAS – Altas e Baixas. Informa que nas Catanduvas encontram-se o Pau de óleo, garapa, potumujú, ipê, catinga de porco, e outras mais. Já nos cerrados o pau terra, o vinhático, a cagaiteira, a samambaia, o tingui, a caraíba, o angico e outros, quanto às serras que rodeiam o nosso município destacou todas elas de acordo com suas grandezas como a Serra do Catuni, um planalto que desce bruscamente, na vertente ocidental, que é a do Verde Grande, de 900 – 1000 metros de altitude média, 700 – 650 na base da elevação, etc. Falou da orografia á composição do solo e subsolo brejeiro que segundo os seus estudos geotécnicos avançadíssimos para a época, são compostos de várias camadas entre elas a de argila, calcário, lajedos, xistos, cascalho, quartzo, entre outras. Sobre a hidrografia do Brejo das Almas o Dr. Arthur informava ser ela pobre tendo em vista que a maioria dos rios e córregos que banham o Município é feita de rios temporários, ou seja, aqueles que só existem no período das chuvas tendo destacado como principais permanentes naqueles tempos hoje nem tanto, o Verde Grande, o São Domingos, e o Gorutuba, etc.

O Doutor Arthur Jardim utilizou em beneficio de Francisco Sá grande parte de seus conhecimentos topográficos, pois com desprendimento e generosidade que somente os que atingiram elevados níveis de grandeza são capazes, graças ao seu amor incondicional pelo Brejo, colocou o nosso município no mapa do mundo ao embrenhar-se em suas entranhas de matas fechadas de difícil acesso, tendo convivido durante trinta dias com todo tipo de obstáculos, onde o caboclo lhe transmitia em dialeto nativo seus usos e costumes e outras preciosidades roceiras que viriam ilustrar o seu rico libelo monógrafo, tendo de lá retornado somente depois de concluir os estudos das linhas imaginárias e seus paralelos, meridianos, latitudes e longitudes que definiriam com exatidão as coordenadas geográficas ou a posição que ocupa a Cidade de Francisco Sá no Globo por onde todo e qualquer ser em qualquer parte do Planeta consegue localiza-la. Talvez para você, da geração GPS, isso não diz nada, mas naqueles tempos significava tudo.

Ufa!

Que prazer falar do grande homem que foi o Doutor Arthur Jardim de Castro Gomes. Que bom poder enaltecer aqui neste pequeno espaço, um pouco do muito que ele fez. Que ótimo seria se os brejeiros de hoje e pósteros jamais o esquecessem.

E tenho dito!

*Enoque Alves Rodrigues nasceu no Brejo das Almas.

Vem ai, Feliciano Oliveira. Aguardem!