sábado, 27 de setembro de 2014

FIGUEIRA E O BREJO DAS ALMAS

Figueira e o Brejo das Almas

*Enoque Alves Rodrigues

Quando no dia 30 de Outubro de 1672 o Sertanista Antonio Gonçalves Figueira, Paulista nascido em Santos, filho de Maria Gonçalves Figueira e de Manoel Afonso Gaia fez sua primeira viagem integrando a expedição das esmeraldas liderada por Fernão Dias Paes e Borba Gato rumo ao norte de Minas Gerais, aquela localidade nada mais era senão um amontoado de matas virgens onde apenas índios e a pintada reinavam. Figueira tinha fama de grande caçador e quando saia à caça jamais voltava de mãos abanando.

Nesta sua primeira viagem em uma expedição a qual ficaria eternamente gravada nos anais da história em consequência de vários e insólitos episódios o grande Antonio Gonçalves Figueira, nada mais era senão um simples ajudante de ordens de seu cunhado Matias Cardoso de Almeida, Tenente naquela expedição. As atribuições de um ajudante de ordens daqueles tempos se restringiam a preparar as montarias para mais graduados montarem além de se responsabilizar pelos suprimentos da tropa incluindo ai as caçadas com as quais a alimentava bem como da cozinha onde preparava o rango da moçada.

Esta primeira expedição serviu-lhe muito mais como experiência do que não deveria fazer caso fosse o desejo lograr êxito na busca das esmeraldas e outras pedras preciosas por que ao contrário do que lhe ocorria quando saia à caça voltou de mãos abanando por que nenhuma pedrinha sequer conseguira colher. Na volúpia em busca das verdinhas o Bandeirante Fernão desembestou-se pelos lados da Bahia enquanto que Figueira, seu cunhado Matias Cardoso retornaram a São Paulo para reestudarem novas tentativas que de fato viriam a efeito nos anos de 1.694 e 1698, quando, finalmente definiram um rumo certo: o norte de Minas Gerais ou especificamente em Itacambira ou mais especificamente ainda na Lagoa Vapabuçú onde segundo davam conta às más línguas o próprio Fernão, assim como havia passado e colhido algumas pedras assim como muito antes haviam feito Sebastião Tourinho e Antonio Dias Adorno.

Só que também desta vez o trem não deu nada certo para eles por que na tal Jaíba coberta por matas densas e fechadas bem como por vegetações rasteiras idênticas rodeadas, pra variar, pelos montes claros que mais se pareciam com as torres gêmeas de tão iguais que eram acabaram por desorienta-los por que por mais que andassem acabavam saindo sempre no mesmo lugar. Aborrecidos e extremamente desapontados depois de darem sete voltas retornando sempre ao mesmo ponto de partida (hoje essa localidade se chama sete passagens), acabaram por abandonar a expedição das esmeraldas a qual ainda permaneceu por ali durante sete anos, tendo cada qual formado sua pequena expedição sendo que a do Figueira composta por 1000 homens ganhou os rumos do rio verde grande onde se acampou e a expedição de seu cunhado Matias retornou á São Paulo margeando o rio grande passando por Miguelópolis até chegar ao vale do Paraíba do Sul onde conseguiram umas pedrinhas chinfrins, mas reluzentes.

As coisas não estavam boas para os lados de Figueira. De Santos chegou-lhe a notícia levada que foi por um mensageiro no lombo de um burro que sua mãe havia morrido. Ele, perdido naquela vasta região do norte de Minas não havia até então conseguido nada de mais significativo senão vários bornais de pedras que imaginava tratar-se de turmalina, um parente meio próximo da esmeralda. Havia ouro sim, metal preciosíssimo que ele não muito interessado colhia. Os patacões saltavam-se das entranhas da terra qual mamona estalando em nosso agreste calorento. A fome do ouro com o qual saciavam a fome do maldito El Rei de Portugal já havia ainda não havia passado, mas a moda agora era mais para as esmeraldas e turmalinas. Por isto fazendo couro á imensa expedição de Fernão Dias Paes Leme a de Figueira se denominava esmeraldinha.

Antonio Gonçalves Figueira acabou dono de uma vasta faixa de terras subdividida em várias fazendas denominadas de Jaíba, Olhos D’água e Colônia dos Montes Claros. Foi com a intenção de unir os Montes Claros á região do rio Gorotuba e de lá até a Bahia, que ele aos treze dias do mês de outubro de 1704 organizou uma diminuta expedição composta de apenas vinte homens partindo em direção ao nordeste quando depois de percorrer vários dias entre idas e vindas ou mais vindas que idas porque seguia se perdendo e voltando sempre ao mesmo lugar, caindo e se levantando, na histórica tarde do dia 2 de novembro daquele mesmo ano sem mais nem menos, inesperadamente, viu-se na barriga da serra do catuni, ao lado de uma linda mais singela lagoa que desaguava em um riacho com nascentes naquela mesma serra, cuja lagoa se denominava "das pedras" que ao contrário do que ele pensava e buscava, não eram preciosas, mas pedra mesmo.

Por ser já tarde, dormiu por lá onde também por ser dia de finados acabou por fincar um cruzeiro de madeira tosca ao pé do qual ele juntamente com os seus vinte comandados rezou e que batizaram de "Cruz das Almas das Caatingas do Rio Verde", onde algum tempo depois construíram uma pequenina Igreja onde depositaram a imagem de São Gonçalo que veio se tornar patrono do lugar. E o resto da história todos conhece. É de domínio público.

O Capitão Antonio Gonçalves Figueira (outros historiadores utilizam "Figueiras") não era, efetivamente, o que podia se denominar de um destemido e inteligente Bandeirante, mas, convenhamos, justiça lhe seja feita, não fossem suas trapalhadas, seus perdidos, sua falta de foco e ausência total de bússola, jamais teria chegado um dia ao meu, ao nosso e ao seu Brejo das Almas querido. Quiçá, tivesse realizado outras descobertas em outras plagas lá pelos lados da não menos querida Bahia. Mas, quis Deus que ele não fosse tão longe e assim conseguiu, mesmo sem querer, querendo, dando-nos de presente o Brejo das Almas, ou Francisco Sá, "beldade do norte de Minas", que hoje cresce a cada dia, sonhando, feliz, a cada despertar, com a aproximação do dia em que real e definitivamente se cumpra mais um vaticínio daquele "Bandeirante trapalhão" quando disse que o lugarejo se tornaria um comércio próspero, não só pela sua posição geográfica, como também pelas riquezas naturais de suas terras.

Que Deus o ouça.

E tenho dito!

*O autor nasceu no Brejo das Almas

sábado, 6 de setembro de 2014

PARABÉNS MEU BREJO DAS ALMAS PELOS SEUS 91 ANOS DE EMANCIPAÇÃO


parabéns meu brejo das almas pelos seus 91 anos de emancipação

 
Brejo das Almas ou Francisco Sá, igual a ti outro não há...”


*Enoque Alves Rodrigues

“Elevado à categoria de município com a denominação de Brejo das Almas, pela lei estadual n°. 843, de 07-09-1923, desmembrado de Montes Claros e Grão Mogol. Sede no antigo distrito de Brejo das Almas. Constituído do distrito sede. Instalado em 07-09-1924...”
 
           Amanhã, domingo, 07/09/2014 o meu, o seu, o nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá estará completando 91 anos de emancipação político administrativa. Tenho visto alguns folders falando em 90 anos. Acredito que se refiram ao ano de 07/09/1924 quando se instalou em definitivo a sede administrativa do Município e nesse caso estaremos comemorando realmente 90 anos de existência da Cidade e 91 de sua emancipação.
 
           Ao comemorarmos, festivamente uma data tão importante para o calendário de nossa terra e de nosso povo, não podemos nos esquecer daqueles que um dia lutaram e tombaram no sentido de que tudo isso que hoje vivenciamos se realizasse. Os grandes homens que hoje conduzem com eficiência os destinos deste nosso pujante Município rumo a excelência em todos os seus aspectos, foram, de igual forma, precedidos por outros empreendedores contumazes que deixaram para todos nós, brejeiros, seus pósteros, marcas indeléveis de suas impolutas figuras. Sensíveis que somos a tudo o que se encontra a nossa volta, no Brejo ou fora dele, não nos é preciso seguir uma cronologia exata para nos depararmos com aqueles que deram os primeiros passos na construção de nosso Município para que ele se transformasse no que hoje é. Certamente que indispensáveis se fizeram as incontáveis idas e vindas de muitos Joãos de barro ás Lagoas que antes existiam em busca da principal matéria prima com a qual dariam início à edificação de um amontoado de pequeninas casas que se chamaria Brejo das Almas e depois Francisco Sá.

 A história do Brejo começou em 1704. Engana-se quem pensa que a história de um Município só se inicia quando ele atinge a sua emancipação. A emancipação é apenas uma etapa no processo histórico de desenvolvimento político, cultural, social e econômico de um núcleo demográfico e sua respectiva geografia.

 Da chegada a estas plagas na tarde do dia 02/11/1704 acompanhado por vinte homens, de um Sertanista de nome Antônio, Paulista de Santos, filho de Maria Gonçalves Figueira de quem herdou o sobrenome e de Manoel Afonso Gaia, remanescente da expedição de um certo Fernão, até o primeiro tremor no dedo indicador de um Coronel de nome Jacinto que acusaria, tempos depois, a presença do Parkinson, durante acirrada discussão na Câmara Municipal da bela MOC, cuja pauta era exatamente a aprovação do projeto de lei que emanciparia (07/09/23) o Brejo das Almas, ou Francisco Sá (17/12/38), muitas águas rolaram no Gorutuba e no São Domingos.

 De 08/01/38 desencarne de Jacinto ao decreto lei 148 de 17/12/38 transcorreram-se onze meses. Promoveu a alteração toponímica do Município de São Gonçalo do Brejo das Almas para Francisco Sá, ilustre Ministro de Viação, mas que ao contrário do grande Jacinto, nada fizera pelo Brejo. Ao invés de aproveitarem o calor dos acontecimentos da perda irreparável do grande Líder, oferecendo à Cidade pela qual lutou e finalmente emancipou, o seu nome, deram a ela o nome de alguém muito importante para o Brasil, mas insignificante para o Brejo.

 Do início da emancipação feminina em 1940 à construção do Mariquinha Silveira que foi concebido nos anos 1950 onde foi criado o curso ginasial que preparava as mulheres para uma nova vida até então restrita a lavoura e cuidar da casa, foram dois lustros. Da transformação e mudança de nome do Mariquinha Silveira para Tiburtino Pena na década de 1960 foi um pulo. Da implantação do curso do Magistério no Tiburtino Pena em 1965 que capacitava as nossas deusas brejeiras a voos mais altos no campo do intelecto até a formação da primeira turma de normalistas em 1967 passaram-se dois anos somente. Do luto velado e permanente das viúvas até a participação ainda que tímida do divino ser brejeiro (mulher) na política local foi uma eternidade. Pouco mais de uma dezena de nossas guerreiras chegaram à Vereança. Em 2004 tivemos no Brejo a primeira candidata mulher a Prefeitura. Vários partos de porco espinho se deram para que tudo isso se tornasse realidade. Barreiras e entraves até curiosos, pacientemente, superados, fundem a história da emancipação da mulher brejeira com a do próprio Brejo. Não, nenhum machismo: o mundo era assim e não sei se você sabe, o nosso brejo querido é parte integrante do mundo.

 Das missas rezadas em latim nos áureos tempos do despojado Augusto a modernidade da igreja do abastado Silvestre, muitos badalos bateram. A centenária palmeira, postada ali, silenciosa, à guisa de atalaia não me deixa mentir.

 Da fartura do ouro branco (algodão e alho) dos meus tempos de menino ás secas que esturricavam o solo sob o pipocar de mamonas e fretenes tristes das cigarras não se passou muito tempo. Somente 18 anos, mas que foram suficientes para me tangerem da vida cotidiana do Brejo que até hoje, seguramente, ainda “lamenta” a minha perda, não obstante não existir ali uma vivalma sequer que me conheça pessoalmente. Quanto a mim, então, mesmo tendo conseguido tudo que quis mediante trabalho árduo, mas que me apraz, devo dizer, sem falso romantismo, que continuo escutando o gorjear dos pássaros brejeiros, o barulho de todos os rios que o banham, o cantar da juriti e das revoadas de suas maritacas, assim como do coaxar vespertino de “meu igual” cururu na Lagoa das Pedras de antanho.

 Quantas eleições foram ganhas com a palavra dada e cumprida apenas com o fio do bigode? Do mesmo jeito quantas eleições foram perdidas por que alguém deixou de cumprir promessas vazias feitas no afã de iludir o povo, soberano em sua sabedoria?

 Enquanto isso, na velha Câmara, de Jacinto a Rogério, de Augusto a Gentil, de Francelino a Jacinto, o Teixeira, de Zé de Deus a Euler, de Adalberto a Valda, de Zé Nunes a Alineu, de Idalino a Ronaldo apenas para citar alguns, até os dias atuais quantos projetos, simples e polêmicos foram aprovados ou deixados de aprovar debaixo de acaloradas discussões?

 
            E na prefeitura do mestre Benfica? Quantos já se passaram? O que fizeram ou deixaram de fazer?

 No São Dimas, quantas vidas foram salvas? Quantas pereceram? Se salvas, é o estado se fazendo presente no amparo ao Cidadão pagador de impostos. Se perdidas, aonde, Deus, se achava o estado? O que aconteceu? Por que diabos deixou que o Cidadão Brejeiro morresse? Bem, é fácil de explicar: Cidadãos morrem aqui e em qualquer lugar, até mesmo na Suíça! Ok, parcialmente de acordo, mas você vive na Suíça ou no Brejo? Então: por mim ninguém morreria em parte alguma, mas se alguém tem de morrer desamparado que não seja em meu Brejo, uai?

 Acalmem se, por favor... Chega de urticárias... Não empurrem... Vamos devagar por que eu tenho pressa. Mas ainda não acabei...

 Dos digníssimos homens públicos do passado sobre os quais falei acima ao mais vil e reles que constrangeu e decepcionou a nossa gente até o palanque comemorativo das atuais festividades onde desfilam consciências imaculadamente límpidas e comprometidas com as causas dos menos favorecidos, revezando-se em seus comedidos discursos onde não tem vez e voz as vaidades e promoções pessoais mais apenas às alusões ao que representa este dia 07 de setembro de 2014 para o nosso lugar, quanto tempo se passou? Muito, mas valeu a pena!

 
             Portanto, regozijam-se Brejeiros. Saiam ás ruas em desfile e brindem essa data. Temos muito que comemorar. Os tempos são outros. As mudanças que se faziam necessárias estão, aos poucos, se processando. Estejam certos de que o amor filial que vocês demonstram á querida mãe que se chama Brejo das Almas é recíproco e verdadeiro. A jovem e bem cuidada senhora de noventa e um anos, alegre e feliz, comovida e carinhosamente lhes agradecem.

             E tenho dito.

*O autor nasceu no Brejo.

domingo, 10 de agosto de 2014

EXEMPLOS DE BONS BREJEIROS - PARTE III


 

*Enoque Alves Rodrigues

- Bom dia, irmão Laudelino...

- Deus seja louvado!

- Ontem, à noite, escutei na Rádio Nacional do Rio de Janeiro que o homem desceu na Lua...

- Mentira... Deus não daria tanto poder e inteligência ao homem!

- Foi a Rádio quem disse...

- A Rádio mentiu!

- Acredito que neste ano faremos uma farta colheita...

- Isso sim, é verdade... Deus seja louvado!

- O senhor precisa se juntar a nós durante ás refeições. Há sempre uma cadeira para o senhor...

- Não posso. Não sou digno de tanta reverência. Já lhes dou muito trabalho. Basta as minhas limitações físicas causadas pela velhice que não me permitem colaborar com vossa pessoa e família nos muitos afazeres da casa...

- Não se preocupe irmão. Deus já nos deu mais que o suficiente que é a saúde para que possamos trabalhar com fervor. De nossa parte não nos é nenhum esforço ou favor ampara-lo. Ficaremos agradecidos se pudermos suprir vossas necessidades. Quero que saiba que tudo que temos também lhe pertence...

Pronto... A sorte estava lançada, por que a simples citação do nome do Criador por parte de Liberato, meu avô, já era a senha de acesso a todos os segredos que levavam aqueles dois senhores de barbas brancas a intermináveis conversas que, via de regra, varavam noites.  Não obstante as elevadas culturas de ambos, amealhadas na grande universidade da vida, além de professarem a mesma doutrina, raramente seus pontos de vista se convergiam. Convencionaram entre si, por quais critérios eu jamais soube, só iriam dormir quando finalmente chegassem a um acordo. Enquanto isso não ocorria o céu era o limite. Eu, criança ainda, admirador confesso do meu avô, ficava ali, de plateia, observando tudo aquilo e, na maioria das vezes, torcendo para que eles jamais se entendessem para que eu pudesse solver um pouquinho mais do conhecimento de cada um. Ás vezes eu apostava comigo mesmo... Quem afinal cederia? Quem concordaria com quem? De quem seria a palavra final? Frustro-me confessar, cinquenta anos depois, que eu dificilmente acertava. Os caras eram foda mesmo, e quando um já se considerava vencedor ou detentor da palavra final que encerraria a celeuma, o outro, inesperadamente, “levantava uma questão de ordem qualquer” e, bíblia em punho, com o indicador apontando capítulo e versículo que sustentavam suas afirmativas na dita cuja, começava tudo de novo. Enquanto eu cochilava, dormia e acordava o “embate” corria solto, principalmente nas noites de sextas-feiras por que, como adventistas, não trabalhavam aos sábados, ou seja, o meu avô não trabalhava aos sábados já que Laudelino, como já disse, nunca trabalhava por suas limitações. Era exatamente assim: cada qual se munia de sua bíblia e toda e qualquer discussão, dúvidas e acertos eram elucidados mediante as claras letras do livro sagrado. Fora dele não havia conversa. O diabo é que como acontece ainda em dias atuais, cada um a interpreta á sua maneira o que seria até aceitável, porque difícil e complicado se torna quando um quer convencer o outro de que certa e inquestionável é a sua interpretação. Ai o bicho pega mesmo.

Naquela noite a coisa parecia que ia ferver. Aqueles dois senhores do bem se miravam, de soslaio, como se fossem fulminar o outro.

O tema era “festa das cabanas.”. Se você não é ou nunca foi adventista “quatrocentão” não vai saber do que estou falando. Isso vem do Velho Testamento. É coisa antiga, mas que era costume daquela época já longínqua. Também não vou te explicar por entender subjetivo. O mineirismo é proposital.

Pois é, Laudelino tentava convencer Liberato, meu avô a respeito da origem ou de como, quando e onde começou a primeira festa das cabanas. Dizia Laudelino que foi Abraão no Egito, “um bilhão” de anos antes de Cristo. Já Liberato afirmava categoricamente que quem celebrou essa “p” pela primeira vez foi Moisés, rumo à terra prometida, e que o fez para comemorar as farturas, etc., que data e local jamais poderiam ser as mencionadas por Laudelino por que o tal de Moisés nunca antes pisara aquelas terras. Já de inicio se percebia que aquela noite seria longa. Que o tema seria demasiadamente polêmico e que os dois debatedores não estariam dispostos a cederem. Que não abririam mão de suas minucias em beneficio do outro. Quando minha Dindinha (avó) percebia isto, corria à cozinha e preparava chás, biscoitos, água e leite que deixava sobre a mesa à disposição do marido Liberato e do irmão Laudelino que, envolvidos nas acaloradas discussões nunca tomavam conhecimento daqueles mimos.

Cinco horas da manhã. De tanto molharem o dedo para folhear a bíblia estavam com a boca seca. Mesmo assim não se entregavam. Não se deixavam convencer. Os argumentos eram inconsistentes no entendimento de ambos.

Esgotado apesar de curioso para assistir aquele final, acabei dormindo. Ao me despertar ás 10 horas vi que o meu avô repousava sobre um velho catre que ficava na sala não obstante ser este mobiliário próprio de dormitório, enquanto que o irmão Laudelino dormia, a sono profundo, sobre duas cadeiras à guisa de cama. Frustrado e mais que desiludido por ter “perdido o ultimo ato” perguntei ao meu avô quem havia vencido. E ele, para minha surpresa e felicidade tranquilizou-me: Não se preocupe Noquinho. A peleja ainda não terminou. Combinamos apenas uma trégua a fim de descansarmos um pouco para, quem sabe, liquidarmos esse assunto hoje á noite... O irmão Laudelino é muito sabido, mas um pouco “cabeça dura!”.

- Perdão, meu Deus!... – Exclamou meu avô, dando três tapinhas na boca. – Eu não queria dizer isto!

* O autor é Brejeiro de nascimento.
 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

FRANCISCO SÁ E AS REDES SOCIAIS EM SUA DIVULGAÇÃO


FRANCISCO SÁ E AS REDES SOCIAIS EM SUA DIVULGAÇÃO

*Enoque Alves Rodrigues

De 2004 até 2009 mantive dois blogs hospedados em sites da Editora Abril, aqui em São Paulo, hoje desativados. No primeiro, denominado “Isto é Espiritismo”, repercutia, sem proselitismos, a Doutrina Espírita disseminada por Kardec, na França, em 1854. Já no outro blog, “Gente, Causos e Coisas do Brejo”, divulgava Francisco Sá, o querido Brejo das Almas. Nele escrevia minhas crônicas quinzenais, hoje vertidas para o livro, “O Brejo das Almas em Crônicas.”.

Quando em 2009 a Abril extinguiu aqueles sites após tê-los mantido por quase cinco anos no ar, jaziam, no registrador de visitas do blog “Gente, Causos e Coisas do Brejo”, para minha total surpresa e decepção, apenas e tão somente a bagatela de 212 acessos. Uma ninharia, suficiente para desmotivar qualquer mortal que se propõe a escrever algo. Pois, o mínimo que alguém que se atreve a escrever alguma coisa, despretensiosamente, espera, é que outros leem e, se possível, comentem o que se escreveu. Aliás, entendo que faz parte de uma boa educação, manifestarmos através de um simples recado ou comentário, toda vez que acessarmos a página de alguém. É uma maneira de dizermos: “Olá, estive aqui. Visitei sua página rapidamente. Um abraço. Fui!”.

 No caso em tela, seria muito de minha parte desejar que alguém comentasse, visto que ninguém lia, porque ninguém acessava. O pior, no entanto, já havia ocorrido. Em 2006, criei no Orkut duas comunidades que ainda existem: “Alô Brejeiro!” e “Francisco Sá, Meu Amor!”. Pois é... Fiasco total. Até hoje o único acesso que consta lá é o meu próprio. Para a pergunta que postei: “você conhece Francisco Sá?” Nenhuma resposta. Ou melhor, uma resposta. A minha: conheço, sim, senhor. E daí, qual é o problema, cara pálida? Triste, não! Mas é a realidade. Minha filha, que naquele tempo frequentava o Orkut, tinha em sua página, inúmeros adicionados, enquanto eu não tinha um sequer em minhas páginas comunidades.

- Filha, quando é que você vai prestigiar o papai com  sua visita a uma de minhas páginas no Orkut?

- Pai, me desculpe, mas com esses títulos estranhos vai ser muito difícil alguém se aventurar. Acho que estas páginas não terão nenhum outro acesso senão o do senhor! Dito e feito. Ainda bem que eu não escrevi mais nada lá. Alias, nem eu sei hoje o que lá se encontra. Nunca mais entrei naquela joça. Só atualizo a minha página pessoal no Orkut por que não posso desativa-la devido ter lá adicionados alguns amigos. Que o Orkut com sua morte anunciada para agosto ou setembro de 2014 se encarregue de extingui-las.

Em maio de 2009 ao visitar meus pais em Burarama, passei, anonimamente, um dia e uma noite no Brejo. Ao retornar para São Paulo iniciei pelo site, “City Brasil”, alguns relatos de pouca relevância sobre Francisco Sá. Hoje este blog se encontra com quase 340 mil acessos. Além dos outros blogs que mantenho alusivos ao Brejo, criados na mesma época, todos eles muito bem frequentados e comentados.

Mesmo com todas as postagens as quais me referi no inicio destas mal traçadas linhas, em 2008, se você jogasse no Google “Francisco Sá”, o resultado da pesquisa trazia um certo Francisco Sá Carneiro, que até hoje não sei quem é. Pois, por não se tratar do meu Francisco Sá, Cidadezinha que se achava perdida nos rincões das Gerais, terra abençoada por Deus que me viu nascer, nenhum outro interesse teria eu em pesquisar ou procurar saber a quem se referia. Por certo, pelo simples fato de esse senhor ostentar o mesmo nome do Ministro da Viação que dá nome ao nosso lugar, já deve ser um grande motivo para fruir de toda felicidade e sucesso. Por favor, não me chamem de bairrista, “porque eu sou”.

No velho Orkut que hoje agoniza, passaram a criar, aqui e acolá, algumas comunidades alusivas ao Brejo das Almas. Nada disso, no entanto, foi suficiente para romper as barreiras virtuais que separavam o nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá do mundo incomensurável do WWW (World Wide Web), que em português significa "Rede de alcance mundial". A coisa não engatava ou talvez porque o Brejo não queria “ser alcançado” ou quem sabe, ainda, algum brejeiro, sem querer dividi-lo com o mundo, havia enterrado uma cabeça de jumento aos pés do cruzeiro.

Hoje, no entanto, graças aos esforços e dedicação de todo o nosso povo, a coisa mudou radicalmente. Se você digitar “Francisco Sá”, receberá de volta uma grande enxurrada de referências sobre a nossa Cidade. Com o advento do facebook e twitter, então, as comunicações ganharam muito mais velocidade. Ferramentas poderosíssimas que entre suas incontáveis funções colocam vários indivíduos online, repercutindo, ao mesmo tempo assuntos, ás vezes de pouca importância aparente, mas que, lá no fundo, ao se analisar melhor, se constata, surpreendentemente, que a principal missão dos idealizadores de tais ferramentas está sendo cumprida ao pé da letra: aglutinar pessoas, aproximando-as cada vez mais uma das outras. Transportando-as para as diversas partes do Orbe sem que precisem tirar um só pé do chão. De deslumbramento comedido, uma vez que encaro tudo na vida com naturalidade, deparo-me hoje com as facilidades que não existiam antanho. No Oriente Médio abro um simples computador de mão em meio a uma rua qualquer de Bagdá e de lá meus olhos veem a desfilarem-se no canto direito da pequena tela, “tops” ou curtas mensagens me informando que alguém, em um ponto qualquer do Planeta, curtiu ou comentou o meu link. Que há alguém querendo me adicionar a fim de ter-me como seu novo amigo. Com dois cliques sobre um link e em átimos de segundos estou dentro do Brejo. Volto para o facebook e os “tops” continuam me informando: Que o Brejo agora tem um Centro de Memórias. Que voltou a produzir alho como antes. Que as onças do Catuní voltaram a atacar rês. Que lá em “Capivara” a dita cuja que dá nome ao povoado foi extinta. Que no morro não há mais mocós. Que dos dois riachos só ficou um. Que o uivo dos ventos que varriam as ruas do Brejo emudeceu. Que as águas do Gorutuba e São Domingos estão secando. Que Lagoa Seca transbordou-se. Que a Vaca Morta acaba de ressuscitar, etc. Com o deslizar do mouse sou remetido a fotos antigas dos Padres Augusto, Silvestre e Salustiano, da Casa Viena, do Mercado Velho, do Cel. Tito, de Feliciano, filho de Lauro, de Denilson criança, de Karla Celene, neta de Edith e Antonio, de Wanderlino, em tarde de autógrafos na bela MOC, etc. Com mais dois cliques vejo e ouço um conterrâneo vereador, ao vivo e em cores, aos berros, em acalorado discurso na Câmara Brejeira, em defesa de Munícipes menos favorecidos. Dois cliques mais e sou transportado para o mais completo e bem elaborado jornal regional. Trata-se de “O Jornal de Francisco Sá”, do amigo Flávio Leão. Aqui, sem que seja necessário que eu dê qualquer clique, mas apenas com a barra de rolagem, vejo-me, como que por encanto, literalmente no Paraiso. Em meio a beldades, formosas mulheres, com olhares ternos e inocentes de quem acaba de deixar a adolescência, dignas representantes da mais pura “beleza brejeira”. Estou extasiado. Não... Não vou mais navegar... Navegar não é mais preciso. Quem gostava de navegar era o Cabral e nós sabemos aonde ele foi parar. Perdeu-se pelos caminhos “tortuosos” das índias e acabou “dando” aqui. Quanto a mim, cheguei, finalmente, ao meu Porto Seguro que é este céu e estou rodeado por anjos e divas sob intensos cafunés. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira. Não mais desperdiçarei o meu precioso tempo com agenda apertada, compromissos inadiáveis, cálculos matemáticos precisos e outras preocupações naturais de vocês terráqueos. E que o sol da minha vida e razão maior do meu existir, a dona Teresa, não me leia. Amém!

Voltando à realidade atual podemos afirmar com toda convicção que mesmo a passos lentos, ciberneticamente falando, Francisco Sá, o nosso Brejo das Almas, hoje é conhecido no Mundo. Quanto aos méritos, são de todos nós, seus filhos, que sempre nos orgulhamos em levar adiante a sua divulgação.

Valeu peixe!

*O autor nasceu em Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.


domingo, 13 de julho de 2014

FRANCISCO SÁ E AS REDES SOCIAIS EM SUA DIVULGAÇÃO


FRANCISCO SÁ E AS REDES SOCIAIS EM SUA DIVULGAÇÃO

*Enoque Alves Rodrigues

De 2004 até 2009 mantive dois blogs hospedados em sites da Editora Abril, aqui em São Paulo, hoje desativados. No primeiro, denominado “Isto é Espiritismo”, repercutia, sem proselitismos, a Doutrina Espírita disseminada por Kardec, na França, em 1854. Já no outro blog, “Gente, Causos e Coisas do Brejo”, divulgava Francisco Sá, o querido Brejo das Almas. Nele escrevia minhas crônicas quinzenais, hoje vertidas para o livro, “O Brejo das Almas em Crônicas.”.

Quando em 2009 a Abril extinguiu aqueles sites após tê-los mantido por quase cinco anos no ar, jaziam, no registrador de visitas do blog “Gente, Causos e Coisas do Brejo”, para minha total surpresa e decepção, apenas e tão somente a bagatela de 212 acessos. Uma ninharia, suficiente para desmotivar qualquer mortal que se propõe a escrever algo. Pois, o mínimo que alguém que se atreve a escrever alguma coisa, despretensiosamente, espera, é que outros leem e, se possível, comentem o que se escreveu. Aliás, entendo que faz parte de uma boa educação, manifestarmos através de um simples recado ou comentário, toda vez que acessarmos a página de alguém. É uma maneira de dizermos: “Olá, estive aqui. Visitei sua página rapidamente. Um abraço. Fui!”.

 No caso em tela, seria muito de minha parte desejar que alguém comentasse, visto que ninguém lia, porque ninguém acessava. O pior, no entanto, já havia ocorrido. Em 2006, criei no Orkut duas comunidades que ainda existem: “Alô Brejeiro!” e “Francisco Sá, Meu Amor!”. Pois é... Fiasco total. Até hoje o único acesso que consta lá é o meu próprio. Para a pergunta que postei: “você conhece Francisco Sá?” Nenhuma resposta. Ou melhor, uma resposta. A minha: conheço, sim, senhor. E daí, qual é o problema, cara pálida? Triste, não! Mas é a realidade. Minha filha, que naquele tempo frequentava o Orkut, tinha em sua página, inúmeros adicionados, enquanto eu não tinha um sequer em minhas páginas comunidades.

- Filha, quando é que você vai prestigiar o papai com  sua visita a uma de minhas páginas no Orkut?

- Pai, me desculpe, mas com esses títulos estranhos vai ser muito difícil alguém se aventurar. Acho que estas páginas não terão nenhum outro acesso senão o do senhor! Dito e feito. Ainda bem que eu não escrevi mais nada lá. Alias, nem eu sei hoje o que lá se encontra. Nunca mais entrei naquela joça. Só atualizo a minha página pessoal no Orkut por que não posso desativa-la devido ter lá adicionados alguns amigos. Que o Orkut com sua morte anunciada para agosto ou setembro de 2014 se encarregue de extingui-las.

Em maio de 2009 ao visitar meus pais em Burarama, passei, anonimamente, um dia e uma noite no Brejo. Ao retornar para São Paulo iniciei pelo site, “City Brasil”, alguns relatos de pouca relevância sobre Francisco Sá. Hoje este blog se encontra com quase 340 mil acessos. Além dos outros blogs que mantenho alusivos ao Brejo, criados na mesma época, todos eles muito bem frequentados e comentados.

Mesmo com todas as postagens as quais me referi no inicio destas mal traçadas linhas, em 2008, se você jogasse no Google “Francisco Sá”, o resultado da pesquisa trazia um certo Francisco Sá Carneiro, que até hoje não sei quem é. Pois, por não se tratar do meu Francisco Sá, Cidadezinha que se achava perdida nos rincões das Gerais, terra abençoada por Deus que me viu nascer, nenhum outro interesse teria eu em pesquisar ou procurar saber a quem se referia. Por certo, pelo simples fato de esse senhor ostentar o mesmo nome do Ministro da Viação que dá nome ao nosso lugar, já deve ser um grande motivo para fruir de toda felicidade e sucesso. Por favor, não me chamem de bairrista, “porque eu sou”.

No velho Orkut que hoje agoniza, passaram a criar, aqui e acolá, algumas comunidades alusivas ao Brejo das Almas. Nada disso, no entanto, foi suficiente para romper as barreiras virtuais que separavam o nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá do mundo incomensurável do WWW (World Wide Web), que em português significa "Rede de alcance mundial". A coisa não engatava ou talvez porque o Brejo não queria “ser alcançado” ou quem sabe, ainda, algum brejeiro, sem querer dividi-lo com o mundo, havia enterrado uma cabeça de jumento aos pés do cruzeiro.

Hoje, no entanto, graças aos esforços e dedicação de todo o nosso povo, a coisa mudou radicalmente. Se você digitar “Francisco Sá”, receberá de volta uma grande enxurrada de referências sobre a nossa Cidade. Com o advento do facebook e twitter, então, as comunicações ganharam muito mais velocidade. Ferramentas poderosíssimas que entre suas incontáveis funções colocam vários indivíduos online, repercutindo, ao mesmo tempo assuntos, ás vezes de pouca importância aparente, mas que, lá no fundo, ao se analisar melhor, se constata, surpreendentemente, que a principal missão dos idealizadores de tais ferramentas está sendo cumprida ao pé da letra: aglutinar pessoas, aproximando-as cada vez mais uma das outras. Transportando-as para as diversas partes do Orbe sem que precisem tirar um só pé do chão. De deslumbramento comedido, uma vez que encaro tudo na vida com naturalidade, deparo-me hoje com as facilidades que não existiam antanho. No Oriente Médio abro um simples computador de mão em meio a uma rua qualquer de Bagdá e de lá meus olhos veem a desfilarem-se no canto direito da pequena tela, “tops” ou curtas mensagens me informando que alguém, em um ponto qualquer do Planeta, curtiu ou comentou o meu link. Que há alguém querendo me adicionar a fim de ter-me como seu novo amigo. Com dois cliques sobre um link e em átimos de segundos estou dentro do Brejo. Volto para o facebook e os “tops” continuam me informando: Que o Brejo agora tem um Centro de Memórias. Que voltou a produzir alho como antes. Que as onças do Catuní voltaram a atacar rês. Que lá em “Capivara” a dita cuja que dá nome ao povoado foi extinta. Que no morro não há mais mocós. Que dos dois riachos só ficou um. Que o uivo dos ventos que varriam as ruas do Brejo emudeceu. Que as águas do Gorutuba e São Domingos estão secando. Que Lagoa Seca transbordou-se. Que a Vaca Morta acaba de ressuscitar, etc. Com o deslizar do mouse sou remetido a fotos antigas dos Padres Augusto, Silvestre e Salustiano, da Casa Viena, do Mercado Velho, do Cel. Tito, de Feliciano, filho de Lauro, de Denilson criança, de Karla Celene, neta de Edith e Antonio, de Wanderlino, em tarde de autógrafos na bela MOC, etc. Com mais dois cliques vejo e ouço um conterrâneo vereador, ao vivo e em cores, aos berros, em acalorado discurso na Câmara Brejeira, em defesa de Munícipes menos favorecidos. Dois cliques mais e sou transportado para o mais completo e bem elaborado jornal regional. Trata-se de “O Jornal de Francisco Sá”, do amigo Flávio Leão. Aqui, sem que seja necessário que eu dê qualquer clique, mas apenas com a barra de rolagem, vejo-me, como que por encanto, literalmente no Paraiso. Em meio a beldades, formosas mulheres, com olhares ternos e inocentes de quem acaba de deixar a adolescência, dignas representantes da mais pura “beleza brejeira”. Estou extasiado. Não... Não vou mais navegar... Navegar não é mais preciso. Quem gostava de navegar era o Cabral e nós sabemos aonde ele foi parar. Perdeu-se pelos caminhos “tortuosos” das índias e acabou “dando” aqui. Quanto a mim, cheguei, finalmente, ao meu Porto Seguro que é este céu e estou rodeado por anjos e divas sob intensos cafunés. Daqui não saio. Daqui ninguém me tira. Não mais desperdiçarei o meu precioso tempo com agenda apertada, compromissos inadiáveis, cálculos matemáticos precisos e outras preocupações naturais de vocês terráqueos. E que o sol da minha vida e razão maior do meu existir, a dona Teresa, não me leia. Amém!

Voltando à realidade atual podemos afirmar com toda convicção que mesmo a passos lentos, ciberneticamente falando, Francisco Sá, o nosso Brejo das Almas, hoje é conhecido no Mundo. Quanto aos méritos, são de todos nós, seus filhos, que sempre nos orgulhamos em levar adiante a sua divulgação.

Valeu peixe!

*O autor nasceu em Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
 

terça-feira, 1 de julho de 2014

EXEMPLOS DE BONS BREJEIROS - PARTE II

Exemplos de Bons Brejeiros – Parte II

*Enoque Alves Rodrigues

Quando Laudelino, o forasteiro, finalizou o culto que ele por iniciativa própria não obstante ser um recém-chegado àquelas paragens celebrou, o meu saudoso avô, sábio e tranquilo como sempre, reuniu-se com a filharada informando a todos que por “motivos alheios a sua vontade” naquele dia ele não faria o culto matinal. Que todos deveriam permanecer atentos para novas recomendações. Que teria de avaliar melhor as circunstâncias que se apresentavam naquele momento para depois fazer o seu juízo de valor e comunicação oficial a respeito dos próximos passos. Que ele, enquanto condutor daquela família, se retiraria por algumas horas quando retornaria com a decisão que todos aguardavam. Lembro-me como se fosse hoje do olhar de minha tia Nira, primogênita de meu avô a quem idolatrava. Corpo vergado e mãos sobrepostas em posição de ternura e reverência a figura imaculada do pai, aproximou-se do mesmo, e delicadamente disse-lhe:

- Perdoe-me, meu pai, se lhe pareço inoportuna, mas, por favor, se me permite gostaria de vos fazer uma pergunta. É possível?

- Claro, minha filha, como não? Do que se trata?

- Jamais deixamos de ter o culto matinal antes de nos dirigirmos ao trabalho. Não consigo entender por quais razões vamos interromper as tradições de nossa doutrina apenas por que um estranho sobre o qual jamais escutamos falar fez aqui, sem a vossa autorização e consentimento, um culto onde pregou para si mesmo sem a presença sequer de uma vivalma.

- Minha filha, - respondeu-lhe meu avô -, o irmão Laudelino, imbuído das melhores intenções fez seu culto onde estava aparentemente só aos nossos olhos. No decorrer desse culto percebi que ele ao passar a palavra para alguns “irmãos invisíveis” darem seus testemunhos, ele próprio permanecia em silêncio olhando atentamente para algo que eu não conseguia ver, mas que ele certamente os via e ouvia, devido à eloquência com que ele os aparteava, assim como os agradecia por tão importantes palavras. Com fundamento nos ensinamentos de Deus e na doutrina que professamos a qual eu sempre lhes transmiti, não devemos acreditar em “coisas” que não estejam inteiramente ao alcance de nossas vistas. É por isto que vou me retirar por alguns instantes para ver que decisão tomar a respeito desse nosso irmão. Espere com paciência. Permaneça vigilante...

Ao meio dia em ponto o meu avô retornou ao casarão da fazenda. Olhar tranquilo e sereno. Feição suavíssima que não deixava dúvida quanto á segurança e firmeza da decisão que tomara.

Com palavras simples, mas, comedidas, proferidas em um só tom, baixas e pausadas como é o costume arraigado em nossas tradições Mineiras, pediu que minha santa Dindinha, (avó) sua adorada esposa, lhe desse um pedaço de cuscuz acompanhado de um bule de alumínio cheio de café de fedegoso (os adventistas daqueles tempos não tomavam café por entendê-lo tóxico). De posse daquelas iguarias dirigiu-se ao casebre adjacente onde estava Laudelino a pouco mais de vinte e quatro horas aonde, como se velhos amigos fossem, conversaram na mais perfeita harmonia que se assemelhava a um diálogo de anjos. Por ser eu criança, extremamente apegado ao meu avô, nenhuma restrição fez quanto a minha presença ali.

Liberato, o meu avô, após saudar Laudelino, o forasteiro, ofereceu-lhe o café com cuscuz. Este, agradecido, desculpou-se com meu avô por não poder aceitar os alimentos informando que se achava em jejum por uma graça obtida. Diante disso o meu avô, calmamente, começou a falar-lhe sobre o assunto que o levara até aquele local. Eu, pasmo, só observava. Nada podia falar. Até por que eu nada entendia.

- Gostei muito do culto que o irmão fez hoje de manhã!

- Deus seja louvado, - respondeu Laudelino. - Observamos vossa presença. Os “irmãos” estavam muito felizes com a acolhida que nos destes.

- É um prazer “tê-los” em nossa casa!

- Então, eu posso continuar recebendo os “irmãos” nos cultos que eu realizar aqui?

- Pode. Claro. Como não? Como eu já vos disse, fique a vontade!

- Apenas precisamos combinar uma coisa: Refere-se aos horários dos cultos. Como eu saio para trabalhar com meus filhos todos os dias ás seis horas da manhã, gostaria claro, se o irmão concordar, que eu realizasse o meu culto para os meus familiares ás cinco horas com a duração de trinta minutos, pois vou necessitar de mais trinta minutos para o desjejum... Pode ser? Depois disto vossa pessoa poderá realizar o vosso culto na hora que melhor lhe aprouver, inclusive terá melhor horário para receber e conversar com vossos “irmãos!”.

- Laudelino não era um sujeito comum. Ele era um ser de luz de marca maior. Chegou aqueles cafundós com uma missão muito especial. Mesmo tendo depois se revelado a pessoa que ele realmente era e que jazia natural e humildemente por debaixo daquela sofrida carcaça, foi difícil ao velho Laudelino suportar tamanha carga de simplicidade, desprendimento, tolerância, cordialidade e fraternal demonstração inequívoca de amor ao próximo de um matuto como o meu avô que jamais antes saíra de sua fazenda a não ser para ir ao Centro do Brejo das Almas, ou Francisco Sá, onde vendia suas colheitas.

Meio desconcertado, Laudelino, sinônimo de todas essas virtudes só restou exclamar:
- Meu Deus! O que é isto, meu irmão?

- Como é possível o senhor me pedir licença para demandar o que é vosso? O forasteiro aqui sou eu! Cheguei ás suas terras sem avisar. Mesmo assim fui recebido. Fiz um culto onde recebi os meus “irmãos” ás cinco da manhã acordando a todos e mesmo assim o senhor vem até mim com todo esse respeito e solicitude?

Ao passo que meu avô lhe respondeu:

- Não sou o verdadeiro dono dessas terras ou dessa fazenda. Apenas possuo os títulos por que cheguei primeiro e as comprei de outro que também não era o dono como dono não foram nenhum dos que por aqui passaram. O verdadeiro Dono disto aqui é o Dono do Mundo. É Deus. Sendo assim, ainda que fosse da minha vontade eu não poderia negar a ninguém o direito a um pouso por curto ou prolongado que seja!

 Laudelino agradeceu e a partir dali uma grande parceria se formou.

Nos próximos capítulos dessa verídica história vamos encontrar esses dois gigantes do bem se debatendo entre si no campo das ideias.

E quais eram essas ideias?

Como o Cristão de verdade deve se comportar para tornar a vida de seu semelhante um pouco melhor.

Até a próxima, Brejeiros. Fraternal abraço.

* O autor é Brejeiro de nascimento
Foto de Francisco Sá, Brejo das Almas - Atrás destas serras se localizava a Fazenda de meu avô

sábado, 24 de maio de 2014

EXEMPLOS DE BONS BREJEIROS - PARTE I



Exemplos de  Bons Brejeiros – Parte I

*Enoque Alves Rodrigues

Quando criança passava minhas férias Escolares na Fazenda Terra Branca, no Município do Brejo das Almas ou Francisco Sá, próximo ao morro da masseira, de propriedade de meu saudoso avô Liberato ou João Albério Rodrigues.

Adventista, vegetariano e Sabatista, denominação esta atribuída aqueles que guardam o Sábado. Lembro-me que o casarão daquela Fazenda que ficava ao norte de Minas Gerais era todo rodeado de pequeninas casas onde residiam alguns colaboradores serviçais além de outros parentes, próximos ou distantes, que meu avô socorria, levando-os para morar ali, onde participavam dos cultos assim como de toda liberdade na casa como se familiares também fossem. Naquela fazenda cortada por caudaloso rio, além da criação de gado leiteiro mantinha o cultivo de todo tipo de cultura, além de um grande canavial que quando era tempo da colheita o Engenho de madeira puxado por duas trelas de bois gemia dia e noite meses a fio, na fabricação de rapadura, melado e puxa. Que gostoso.

Minha diversão era cavalgar sobre um velho pangaré que de vez em quando cismava e me atirava ao chão saindo em desabalada carreira, deixando-me sozinho naquelas quebradas no mais completo abandono.

Certa manhã quando o meu avô tirava o leite das vacas vi, ao longe, descendo a serra por uma picada que ficava em frente á Fazenda, trôpego e cansado, um senhor alto, de idade avançada, com barbas brancas, que ao postar-se diante de nós apresentou-se:

- Bom dia, eu sou o Laudelino...

- Que o Senhor esteja nesta casa! Saudou-nos.

- Amém, assim seja irmão. Seja bem-vindo em nome de Jesus! Respondeu-lhe o meu avô.

Lembro-me, que jamais saia de perto do meu avô, que eu estava com uma cuia tomando o leite quentinho que ele acabava de tirar, misturado com farinha de milho e rapadura raspada. O meu avô não conhecia Laudelino, mas ao escutar sua saudação de chegada foi logo dizendo para mim: não se assuste Noquinho, é um irmão da Igreja.

- Preciso de um “poiso” por esta noite. Necessito descansar para seguir viagem!

- É um prazer, em nome de Deus, recebe-lo, irmão, em nossa humilde casa. Sinta-se a vontade!

- Amém!

A família que o meu avô constituiu era numerosa.  Era composta por ele, minha avó, sete filhas mulheres, sendo uma casada à época (tia Cota) e seis solteiras, além de três homens sendo o meu pai o mais velho.

Os adventistas daqueles tempos eram bem mais rígidos por que tinham toda a sua Doutrina fundamentada no Velho Testamento. A denominação seguida por meu avô e sua família era a do (movimento de reformas que depois passou a chamar-se da completa reforma.). O meu avô, já velho, ao levantar-se todos os dias, passava em frente aos dormitórios de todas as filhas e filhos batendo nas portas, e antes de sair para o batente duro realizava um culto matinal ás 6 horas onde todos tinham de participar. Ele sempre se postava na cabeceira da mesa e após entoar hinos punha-se a leitura da Bíblia. Apenas ele como o chefe daquela família tinha aquela primazia. A ninguém mais, nem mesmo ao filho mais velho era permitido assumir a posição de destaque do meu avô na direção do culto e na cabeceira da mesa. Naquela manhã, por volta das cinco horas, no entanto, algo de muito inusitado estava acontecendo naquela “jurisdição disciplinada de quartel.”.  Pois antes que meu querido avô se levantasse, já podia escutar lá fora cânticos de louvores e alguém a tilintar uma velha enxada convidando os moradores daquela imensa casa a acompanha-lo no culto que faria. Era o velho Laudelino, o forasteiro, recém- chegado àquelas plagas. Observador que sempre fui, Recordo-me, ainda hoje das feições de meu avô naquele episódio inesperado. Seus aposentos ficavam na parte de cima da casa e da janela pode observar esta cena: Laudelino, que tinha a mesma idade (73) anos e feição de meu avô, inclusive a mesma barba longa e branca, própria dos adventistas de antanho, havia montado uma mesa na frente da casa sobre a qual tinha sua Bíblia e na cabeceira assentou-se iniciando ali o culto. Em meio ao culto Laudelino, como se estivesse rodeado de uma multidão de pessoas presentes, passava a palavra para alguns que depois de “darem seus respectivos testemunhos” devolviam-na ao dirigente Laudelino que agora, ou seja, quarenta minutos depois finalizava o culto. Enquanto isto o meu avô, calmo como sempre foi, assistia a tudo aquilo de sua janela, tranquilo e sereno e, passivamente, como era de seu costume, sorrindo, deslizando a mão pela sua bem cuidada barba e a cada refrão de Glória a Deus de Laudelino lá embaixo meu avô respondia lá de cima em sua janela: Aleluia, amém, irmão!

Curioso, passei a matutar em meu cantinho.

Para quem, diabos, Laudelino estava pregando? Quem eram aqueles seres invisíveis a quem ele concedia a palavra? Por que eu não os via? Eram eles realmente verdadeiros? De carne e osso?

E agora? O que aconteceria depois de Laudelino terminar o culto? O meu avô faria outro culto ou “validaria” o culto de Laudelino?

De onde veio Laudelino? Quem era ele? O que pretendia ele ali naquela localidade? Foi enviado por alguém? Continuaria por lá?

Quem, finalmente, se revelaria por debaixo daquela velha carcaça? Uma pessoa de boa ou má índole? Por quanto tempo o meu amado avô o toleraria?

A que se dedicaria ali? Sim, por que não obstante ele ter a mesma idade de meu avô, em termos de condicionamento e força física não o assemelhava em nada. Estava demasiado gasto e até mesmo para dar um passo manquitolava.

Trabalhador incansável que sempre foi o meu avô, será que ele o manteria ali em sua fazenda sem condições para o trabalho?

É o que veremos no desenrolar dessa verídica história de minha infância.

Até a próxima, Brejeiros. Fraternal abraço.

* O autor é Brejeiro de nascimento.
Brejo das Almas e Adjacências - Atrás destes morros ficava a Fazenda Terra Branca - Propriedade de meu avô