"BREJO DAS ALMAS OU FRANCISCO SÁ. IGUAL A TI, OUTRO NÃO HÁ..." (Niquinho e Corinto)
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
https://clubedeautores.com.br/livro/fatos-e-personagens-do-antigo-brejo-das-almas
Leiam o mais novo lançamento do brejeiro Enoque Alves Rodrigues
FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS, por Enoque;Alves;Rodrigues - Clube de Autores
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
LIVROS LANÇADOS EM DEZEMBRO-24 ENOQUE ALVES RODRIGUES
Lançados pelo Clube de Autores do Brasil
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CRÔNICAS E CONTOS DO LADO DE LÁ, por ENOQUE ALVES RODRIGUES - Clube de Autores
O eterno Brejeiro, Enoque Alves Rodrigues acaba de lançar mais dois livros. Estão bombando nas melhores Livrarias do Brasil, Espanha e Portugal. Seguem links:
LIÇÕES E EXEMPLOS DE OTIMISMO E MOTIVAÇÃO , por Enoque Alves Rodrigues - Clube de Autores
Um abraço, brejeiros.
sábado, 10 de outubro de 2015
O BREJO E SUA GENTE X - FELICIANO OLIVEIRA
O BREJO E SUA GENTE X – FELICIANO
OLIVEIRA
*Enoque
Alves Rodrigues
O
conteúdo físico que possuo sobre Feliciano Oliveira, resultado de pesquisas
insones dos velhos tempos em que “ainda se
compulsavam livros”, é tão robusto que mesmo tendo deixado para referi-lo
por ultimo, nesta série com a qual considero finalizada minha modesta
colaboração ao povo de minha terra, ainda tive de reduzir para não exceder as 1240
palavras deste espaço e não ofuscar personalidades anteriormente mencionadas de
igual importância para a nossa cidade de Brejo das Almas ou Francisco Sá. Filho
do fazendeiro e político de renomada liderança local da UDN, Lauro Oliveira,
Feliciano nasceu no Município de Brejo das Almas onde iniciou sua longa vida pública
a qual sempre esteve voltada para a qualidade. Ao contrário de alguns que o
antecederam na Prefeitura do Brejo, assim como de uma boa parcela de seus
contemporâneos, Feliciano sempre foi de fidelizar a excelência em todas as suas
realizações.
Menino,
ainda, colaborava com o pai na administração da produtiva fazenda quando já
sonhava ter em mãos ás rédeas dos destinos do Município de Francisco Sá. Com
doze anos, a contragosto, foi enviado para estudar em Montes Claros e Depois
Belo Horizonte, retornando ao Brejo depois de concluir seus estudos.
Determinado a seguir carreira na politica, estabeleceu como Quartel General a
própria fazenda do pai. Dali ele disparava petardos á políticos de renome e farta
projeção local informando sobre sua intenção de se candidatar a algum cargo
eletivo por onde certamente conseguiria ser útil a sua Cidadezinha de Brejo das
Almas que amava. Feliciano, assim como a maioria de nós, Brejeiros, era um
eterno inconformado com certos privilégios que outras cidades vizinhas tinham
em detrimento de nosso Brejo das Almas ou Francisco Sá.
De
seu posto de observação na fazenda encravada entre as montanhas Brejeiras refletia
e matutava, com inquietude juvenil, o quanto a Política Social havia sido cruel
para com sua terra e sua gente. De vida simples, mas abastada com aquilo que a
terra mãe produzia, não conseguia entender e aceitar passivamente os motivos
pelos quais poucos tinham tanto enquanto muitos não tinham nada. De onde, meu
Deus, havia brotado tanta miséria?
-
“Prefeito Feliciano, o senhor só vai conseguir ajudar a sua cidade e o seu povo
se for um excelente prefeito. O Brejo das Almas já teve muitos prefeitos bons
anteriores ao senhor e veja, entretanto, onde ainda estamos...” Sonhava!
-
“Deputado Feliciano, se o senhor não mudar sua forma de legislar revendo este
seu pendor para com os pobres vai ser muito difícil ver aprovado algum projeto
seu...” Seguia sonhando!
Feliciano
sabia de antemão o quão infrutíferas seriam quaisquer tentativas suas em busca
da concretização do sonho de ser prefeito de Francisco Sá sem bases políticas e
plataformas sólidas de preferência lastreadas no seio das mais tradicionais
famílias do Brejo cuja militância politico administrativa de resultados positivos
já se encontrava inquestionavelmente solidificadas desde a fundação do lugar. E
disparava os seus petardos em forma de bilhetinhos os quais eram endereçados
aquelas famílias que, no entanto, relutavam em aceita-lo. Quando, finalmente,
conseguiu romper a resistência ao seu nome no seio dos “Dias”, “Pereira”,
“Penna” etc., soube que o mesmo não fruía de receptividade fácil entre os “Silveira”.
Ele tinha pedigree no sangue, pois o pai era político, mas nenhuma tradição ou
experiência que o identificassem com os anseios da maioria. Necessitavam, ali,
de alguém com mais cabedal de conhecimento e comprovada eficácia
administrativa. As dificuldades e mazelas do Brejo exigiam muito mais que um
jovem idealista e sonhador. A história dá como tutor político de Feliciano
certo cônego de nome Sebastião. Mas como veremos mais adiante, ele apenas o
iniciou nesta arte, abrindo-lhe ás portas ao utilizar-se de seu valioso carisma
e prestigio com os quais lhe apresentou junto aos “Silveira”. Tutor do jovem Feliciano
mesmo foi o grande Enéas Mineiro de Sousa, pois, uma vez convencido dos reais
propósitos de Feliciano, não mediu esforços no sentido de ajuda-lo a torna-los
realidade.
Orador
eloquente, capaz de levar ás lágrimas multidões de pessoas, muito bem
articulado, pausado no falar, cuidadoso com as palavras e convincente, aos
poucos Feliciano conseguiu conquistar a confiança de todos inclusive do próprio
Enéas Mineiro, uma sólida e poderosa liderança local que, apenas para
prestigiar Feliciano, cedeu-lhe a “cabeça
de chapa” numa demonstração de humildade, generosidade, desapego e grandeza
do Capitão, que naquele pleito eleitoral se candidatou a vice-prefeito de
Feliciano, tendo ele, Enéas, puxado quase todos os votos que elegeria vitoriosa
aquela chapa: Feliciano Oliveira finalmente sagrava-se Prefeito de Francisco Sá
(1947-1950) com expressiva votação e o mais importante: o seu vice era ninguém
menos que o homem mais poderoso da região, um corajoso e destemido desbravador
e empreendedor nato oriundo do nordeste do Brasil tendo de lá saído pobre para trabalhar
duro e fazer fortuna no norte de Minas: Enéas Mineiro de Sousa.
O
jovem Feliciano tinha boa vontade e coragem para realizar, mas não tinha
experiência e nem sempre sabia como fazer. Nos momentos de insegurança e
incerteza o capitão lhe dizia: “vai,
moço. Faça a sua parte. Coloque sempre á sua frente os nobres ideais que o
motivaram e trouxeram até aqui que eu me encarrego de concretizá-los junto com
você!”.
Dito
e feito.
Realizaram
uma excelente e profícua administração na Prefeitura Brejalmina.
No
pleito seguinte encontramos Feliciano Oliveira retribuindo ao seu benfeitor a
mesma gentileza de outrora. Agora era o próprio Feliciano, experiente e
realizador, o vice de outro iniciante na Política, mas imbuído de desejos de
mudanças, filho de Enéas, de nome Pedro Mineiro de Sousa (1951-1954). Como da
vez anterior, e como não podia deixar de ser, aquela dobradinha reversa conseguiu
ser igual ou ligeiramente melhor que a anterior. Obras importantíssimas saíram
do papel, materializando-se em benefício da população. Diziam as “boas línguas brejeiras” que
administração igual àquela só a do “doutor
Jardim.”. Não obstante não ter sido contemporâneo dessas administrações
(tinha eu somente um ano em 1954), conheço-as muito bem pelos escritos que li, e,
principalmente, pelo que me falava o meu saudoso avô que tinha o vezo de
comparar gestões passadas.
As
administrações bem-sucedidas de Feliciano Oliveira frente á Prefeitura de
Francisco Sá, quer como Prefeito ou vice, proporcionaram ao nosso Município
grandes saltos de qualidade rumo ao progresso célere e eficaz guardada as
devidas proporções de morosidade das coisas, feitos e fatos inerentes á época. Tanto
é verdade que foram suficientes para que Feliciano Oliveira, uma vez mais, ou
seja, consecutivamente, aliás, acontecimento este inédito até os dias atuais,
conseguisse se reeleger Prefeito de Francisco Sá com excelente votação nos
pleitos de 1954 (final de seu mandato de vice), para o próximo período de
1955-1958. Tinha ele neste quadriênio administrativo como seu Vice um gigante e
competente homem público, filho de Jacinto, orgulho das Alterosas.
Mais
uma vez grandes metas foram batidas e índices de qualidade de vida antes
inatingíveis fizeram-se presentes. Feliciano consolidava na Prefeitura do Brejo
das Almas os seus sonhos de menino. O ótimo trabalho, a experiência, o
reconhecimento e o respeito políticos conquistados lhes credenciavam,
certamente, a alçar voos mais altos por outras plagas muito além das fronteiras
de seu querido Brejo das Almas. Ali ele poderia multiplicar por milhares os beneficiários
de sua luta e empenho em prol dos mais carentes não somente em seu torrão
natal.
Foi
exatamente o que ele fez. Diga-se, com muito sucesso!
E
tenho dito.
*Enoque
Alves Rodrigues é Brejeiro.
Praça Jacinto Silveira no Centro de Francisco Sá - Orgulho em Ser Brejeiro
sábado, 5 de setembro de 2015
O BREJO E SUA GENTE IX - BENJAMIM FIGUEIREDO
O
BREJO E SUA GENTE IX – BENJAMIM FIGUEIREDO
*Enoque
Alves Rodrigues
Entre
os cinco últimos prefeitos que ocuparam a Prefeitura de Francisco Sá no regime intervencionista,
ou seja, Dr. Antonio Tenório, Dr. Benjamim Marinho Figueiredo, Cel. Francisco
Ataíde, Dr. Othon Novais e Dr. Aníbal Serra, antes de chegarmos ao grande
Feliciano Oliveira no inicio do período de redemocratização do Brasil,
farei um breve relato nesta minha crônica do mês de Setembro-2015 á figura do
Belo-horizontino de nascimento e Brejeiro por convicção Dr. Benjamim Marinho Figueiredo
não só em virtude da relevância de sua bem-sucedida administração, mas, também,
ou quiçá, principalmente, pelo seu imenso e incondicional amor que sempre
demonstrou para com o Brejo e sua gente, por que nem mesmo depois de ter sido
vitima de traições políticas de um deputado antigo correligionário seu, que
serviram para abreviar a sua gloriosa gestão no auge de grandes realizações,
radicou-se em Montes Claros de onde obtinha informações da política e
administração do Brejo, mantendo-se sempre á postos para colaborar a qualquer
momento com quem quer que fosse o prefeito, somente pelo simples desejo de
seguir servindo ao nosso povo. Por várias vezes, em noites caladas e silenciosas,
humilde e discretamente, sem ser notado, visitava o Brejo das Almas, àquela
altura Francisco Sá, postando-se em frente a serra do Catuni de onde observava
as paisagens adjacentes, retornando, invariavelmente á Montes Claros antes do
amanhecer.
A
indicação de Benjamim Figueiredo para Prefeito de Francisco Sá foi feita pelo
Governador do Estado de Minas Gerais Benedito Valadares. Naquela época esta era
uma das prerrogativas dos governadores de estado. Tudo normal, não fosse á
forma confusa, incoerente e desastrada do governador ao tomar sua decisão que
acabou por tumultuar todo o processo da indicação e talvez residam ai ás
resistências e dificuldades que Benjamim enfrentaria uma vez empossado
Prefeito, que certamente contribuíram para aflorar invejas e vaidades alheias que
culminaram com a interrupção de sua excelente gestão.
Contrassenso?
Não!
Realidade.
Sou
um modesto executivo da Engenharia. No entanto, entendo, que sempre que alguém
se propõe a escrever alguma coisa, até mesmo por respeito aos poucos que o
leem, não pode, jamais, ocultar os fatos que causaram suas consequências como
também deve se abster de dourar a pílula dando ao personagem retratado virtudes
que não teve ou tem. Lealdade aos fatos e respeito a quem lê são premissas
básicas de uma formação razoável.
Antes
de optar pela indicação de Benjamim Figueiredo, o Governador Benedito Valadares
havia dado a sua palavra ás principais lideranças politicas do Brejo, divididas
em duas correntes opostas sob o comando dos irmãos Dias, de um lado João de
Deus e do outro Gentil Dias apoiado por Osmani Barbosa, (PSD – UDN), garantindo
que o indicado seria Filomeno Ribeiro, da região e aceito por todos ali por
unanimidade. A robustez e comprometimento de um líder político local daquela
época não se media com qualquer aparelhinho “Xing-ling” como se faz hoje. O
cara valia o quanto pesava e o seu peso era aferido pela palavra dada e
cumprida. Se o sujeito tinha crédito, se sempre cumpriu com a palavra, todos
nele confiavam cegamente até o dia em que deixasse de cumpri-la.
-
Fulano falou que até o dia 32 de dezembro deste ano vai fazer jorrar ouro do
morro do mocó!
Todos
acreditavam. Mesmo sabendo que o mês de dezembro só tem 31 dias, preferiam
aguardar até o último dia do mês para ver o que aconteceria e só depois disso é
que iam rever os seus conceitos de credibilidade sobre o tal fulano.
Foi
assim que quando o Governador Benedito, - que evidentemente, não era o santo
porreta que conhecemos e que jamais deixou de cumprir uma promessa -, roeu a corda,
grande frustração causou a todos os políticos que tinham como liquido e certo a
indicação de Filomeno Ribeiro. A decepção era geral não só por que ninguém ali
conhecia o novo indicado, mas principalmente pela vergonha e orgulho ferido das
lideranças que já haviam se comprometido junto ás suas bases onde disseminaram
a indicação infalível de Filomeno que aquela altura já era saudado como o novo
prefeito de Francisco Sá. Por onde ele passava era recebido com muita pompa e reverência.
O balde de água gelada que o governador “furão”
jogou na gente Brejeira e seus lideres com aquela indicação inusitada causou
muitos constrangimentos a todos especialmente a Filomeno que viu escapar por
entre os dedos a grande oportunidade de ser Prefeito, e ao próprio Benjamim que
desconhecia aquela malfadada articulação de bastidores. Mas também serviu para
lhe despertar a consciência para a grande responsabilidade que viria assumir
assim como para a luta feroz que teria pela frente. Ele tinha de reverter
àquela situação de insegurança que pairava sobre sua pessoa apenas por não ser
do lugar. O primeiro passo seria se tornar conhecido do povo Brejeiro, pois
assim ganharia sua confiança e a melhor maneira de trazer o povo para o seu
lado para que ele pudesse se mostrar por inteiro e revelar as suas intenções de
realizar o seu melhor seria conquistando, antes, os seus lideres. Foi o que ele
fez. Aos poucos e com muita humildade o Prefeito Benjamim Marinho Figueiredo ia
pavimentando o seu caminho construindo Obras de impacto social irrefutável. É
de sua gestão a implantação do primeiro sistema de abastecimento de águas de
Francisco Sá, entre outras. Madrugador, trabalhador contumaz, polido, fluência
verbal perfeita, possuía um marketing pessoal de dar inveja aos marqueteiros
políticos de hoje, que ao contrário do grande Benjamim, por não terem o que
mostrar, mentem, descaradamente.
Havia,
entretanto, outra liderança ali. Aliás, diga-se de passagem, a mais poderosa da
região, a qual não se simpatizava muito com Benjamim. Jeito matreiro, de pouco
falar, apesar de grande articulador, riquíssimo, proprietário de muitas
fazendas sendo a principal delas a Fazenda Burarama, hoje uma linda e progressista
Cidade que leva o seu merecido e honroso nome. Exercia poder absoluto sobre os
destinos do Brejo das Almas, Montes Claros e adjacências. Ele mandava prender e
soltar. Era, no entanto, de boa índole e benevolente e ao que se sabe nunca
abusou de seu poder e autoridade sobre os menos favorecidos. Parecia justo. Mas
estava na política para onde levou também seus dois filhos Pedro e Antonio. Seu
nome? Enéas Mineiro de Souza, ou Capitão Enéas. Cito-o neste final apenas para lembrar
que no episódio que culminou com a exoneração do Prefeito Benjamim á pedido de
um deputado de tendência duvidosa que fundamentou o seu argumento ao fato de ser
Benjamim um prefeito “realizador, mas, espalhafatoso”, (referia-se a divulgação
que dava ás suas Obras), o Capitão Enéas preferiu não tomar partido. Não se
lançou mão sequer de uma bazuquinha de seu poderio bélico. Até ai nada demais
se não tivesse na sequência, ou á partir da substituição de Benjamim por
Francisco Ataíde, seu correligionário, ter sido ele, junto com Pedrão, seu
filho, beneficiários políticos de uma herança abortada no momento em que mais se
realizava em prol do povo brejeiro, profícua, arrojada e transparente.
Os
homens passam, mas suas histórias ficam.
E
tenho dito!
*Enoque
Alves Rodrigues é Brejeiro.
Esta série composta por dez capítulos que teve início em
Janeiro-2015 será encerrada no próximo mês de outubro-2015 com Feliciano
Oliveira.
Alô Brejeiros!!!
É hoje, 05/09/2015, ás 19:00
horas, na Câmara Municipal do Brejo, o lançamento de nossa amiga e conterrânea Karla Celene Campos. “Cadernos de Ediclar” é a sua nova Obra
que pelos informes que recebi, nos conduz ao reencontro com a História de nossa
Cidade escrita nas ruas, casas, campos e botecos, por seus personagens, muitos já no
andar de cima, que a sua maneira a souberam amar, honrar e dignificar.
Sobre esse novo trabalho de Karla,
vejam o que diz a grande Diva, maior autoridade no assunto em todo o nosso
estado, a doutora Maria Luiza Silveira Teles: http://www.minaslivre.net/site/index.php/85-maria-luiza-silveira-teles/3565-o-passeio-de-karla-celene-e-ediclar-pela-historia-de-brejo-das-almas.
Obrigado!
Um forte abraço a todos vocês!
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
O BREJO E SUA GENTE VIII - JOÃO BAWDEN
O
BREJO E SUA GENTE VIII – JOÃO BAWDEN
*Enoque
Alves Rodrigues
Quando
em março de 1931, Jacinto Silveira passou ás mãos do médico Paulo Cerqueira
Rodrigues Pereira a direção do município de brejo das Almas depois de sua
nomeação pelo presidente Olegário Maciel, pouco ou quase nada se sabia do
indicado, na verdade, até aquela ocasião, um médico de renome em Belo
Horizonte. Realizou, no entanto, uma eficiente administração não obstante ter
presidido o município por apenas oito meses quando foi transferido na condição
de médico leprólogo, para a Colônia Santa Izabel, em Belo Horizonte. Assim sendo
faço aqui este sucinto relato apenas para registrar sua passagem pela
Prefeitura do Brejo em virtude do muito que realizou não obstante o pouco tempo
que a ocupou. Construção do matadouro ás margens do rio são domingos, inicio do
nivelamento das ruas e praças, reparos nas estradas que dão acesso ao interior
do município, fiscalização do ensino, reforma do cemitério, etc., são algumas
obras de sua bem-sucedida administração.
Nascido
no século 19, durante o império, filho do médico, político influente (quatro
vezes governador do estado de Minas) e minerador Doutor Antônio Teixeira de
Sousa Magalhães e de dona Maria Angelina Bawden, os barões de Camargo, uma das
mais ricas famílias da cidade de Mariana, em Minas Gerais, João Bawden Teixeira
teve onze irmãos e desde a infância já trazia no sangue o vírus benevolente da
mais pura e tradicional política mineira, na qual fora introduzido pelo pai, onde
a palavra dada sobrepunha a todo e qualquer documento. Ainda adolescente
matriculou-se na Escola de Minas, berço da nata abastada, em Ouro Preto, de
onde saiu após se formar Engenheiro Geógrafo, com 23 anos de idade. Muito tempo
depois se transferiu para Montes Claros onde juntamente com os coronéis João
Martins da Silva Maia, Virgílio Machado e os engenheiros José Bawden Teixeira
(seu irmão), Nelson Washington da Silva e ele João Bawden Teixeira fundaram
nesta Cidade a empresa de engenharia Maia, com a qual construiu centenas de
quilômetros de estradas de rodagens sertão á dentro, quando, finalmente, por
mera casualidade, ou seja, quando realizava levantamentos topográficos por uma
“picada” quando menos se esperava, viu-se em pleno centro de um simpático
povoado pelo qual de cara se apaixonou. Era o Brejo das Almas com o seu famoso
amontoado de pequenas casas e empoeiradas ruas. Ali ele passou a residir “de
passagem”. Assim nós mineiros definimos as localidades aonde nos encontramos em
trânsito por que não pretendemos fixar residência, mas, que no caso do Dr. João
Bawden tal colocação não funcionou, por que a cada dia que se passava
tornava-se cada vez mais potente o seu amor pelo Brejo ao ponto de lá
permanecer do final do ano de 1930 até o dia da sua morte ocorrida dois dias
antes do Natal de 1937.
Na
introdução do meu livro “O Brejo das
Almas em Crônicas” faço um pequeno passeio pelas origens das mais
tradicionais famílias que residem no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá. Como a
maioria dos sobrenomes que povoam até os dias atuais o Brejo das Almas descende
de Ouro Preto, Vila Rica e Mariana, o Doutor João Bawden Teixeira também acabou
por se juntar a essas famílias no Brejo. Tornou-se amigo incondicional do
coronel Jacinto que em virtude do agravamento do mal de Parkinson já estava se
afastando da política, assim como do atual prefeito, o médico doutor Paulo
Cerqueira Rodrigues Pereira e das mais importantes forças políticas regionais.
Quando o Doutor João Bawden tomou conhecimento do afastamento do prefeito Doutor
Paulo Cerqueira correu até a casa do coronel Jacinto solicitando-lhe, com
humildade, que o indicasse como substituto do Doutor Paulo Cerqueira de quem
ele era admirador pela maneira como conduzia a gestão do município e pela forma
arrojada de trabalhar, salientando, ainda com modéstia, suas experiências como
engenheiro e que pretendia, com toda sinceridade, dar continuidade aos projetos
iniciados pelo Doutor Paulo Cerqueira bem como empreender novas benfeitorias no
sofrido município. Várias vozes se levantaram contra o pleito do Doutor Bawden.
Ninguém ali conhecia o seu passado. Também pudera: O doutor Bawden não era do
lugar e acabava de ali chegar. Estou me referindo ao final do ano de 1931. Sequer
imaginavam que por trás daquele homem riquíssimo apesar de aparência simples,
existia uma longa e muito bem consolidada carreira politica que começou ainda
jovem, em Mariana, como vereador, passando por todas as escalas, de maneira que
em 1903 já era senador da República recentemente proclamada por Deodoro, em
1889. As lideranças politicas locais encontravam-se “rachadas” pau a pau ou
meio a meio como queira. O fiel da balança ali estava difícil de achar e a tal
“metade e mais um” que decide tudo em nossas vidas ali não se manifestava.
Escafedeu-se. Não dava o ar da graça. Jacinto apenas endossou o desejo do Dr.
João, mas, como eu já disse doente, não se envolvia mais com política. Á favor,
Sebastião Bessa e seu grupo puxavam de um lado, enquanto que do lado contrário
o grande Rogério da Costa Negro e seu grupo também puxavam com vontade. O
argumento de Rogério era robusto e indestrutível: O doutor João Bawden que
havia nascido em berço de ouro em local distante era pouco afeito ao trabalho e
não cumpriria com suas promessas por que era demasiado boêmio e não seria
responsável o suficiente para zelar pelas coisas do município.
Rachados
e intransigentes entraram todos para a reunião promovida no Brejo das Almas
pelo Partido Republicano Mineiro em casa do próprio Sebastião Bessa e depois de
acirrada discussão Rogério da Costa Negro ainda se mantinha irredutível em sua
posição. Foi quando alguém ali temeroso por entregar ás rédeas do destino do
município em mãos estranhas, para surpresa de todos os presentes, surgiu em
meio aquela reunião, ostentando um empoeirado exemplar do Jornal “Liberal
Mineiro”, da Cidade de Ouro Preto, pertencente ao Partido Liberal, que em sua edição
de número 93, do dia 16 de agosto do ano de 1884, na “seção parlamentar” do dia
07/08/1884 se registrava, clara e evidente, a seguinte menção honrosa alusiva
ao “desconhecido” doutor João Bawden:
“é
dotado de sentimentos de nobreza e dignidade. É essencialmente caritativo,
amigo sincero e extremado, está sempre pronto a acudir (socorrer) com prazer a
voz da amizade e aos reclamos da pobreza de quem ele é um firme sustentáculo
(benfeitor). Como as sementes, os grandes sentimentos precisam de terrenos e
estações próprias para vingar e florescer no coração do nosso magnânimo e
ilustre democrata, que é um sacrário de virtudes e por isso florescem exalando
perfume nos corações que sabem conhecer a altura dos seus merecimentos...”.
Era
só o que faltava. Contra fatos não há argumentos já dizia uma sábia raposa da
politica mineira de nome José Maria. As forças agora se alinhavam em torno de João
Bawden que acabou tendo o seu nome referendado como prefeito substituto do
Brejo das Almas em Janeiro de 1932, consecutivamente.
Quando
Vargas determinou eleições gerais constitucionais o Dr. João Bawden diante do
muito que havia realizado pelo Brejo das Almas foi aclamado e eleito pelo povo
prefeito constitucional. Mesmo após o Presidente Getúlio Vargas a 10 de
Novembro de 1937, consumar o golpe de estado que lançou o País numa ditadura cruel
e sanguinária e depois de promover uma verdadeira caça ás bruxas, com milhares
de prisões e destituições violentas de políticos guindados constitucionalmente
ao poder pelo voto popular, não encontrando no Brejo das Almas nada que
desabonasse a conduta imaculada e transparente do prefeitão “bom de trampo” Doutor João Bawden, não
lhe restou nenhuma alternativa que não fosse confirma-lo no cargo de prefeito que
já ocupava. Infelizmente, agora, pouco tempo ele teria naquela nova gestão, porque
vitimado por um ataque de angina veio a falecer no cargo no dia 23/12/1937
quando foi substituído pelo Dr. Arthur Jardim de Castro Gomes, aqui já
retratado. Como justa homenagem ao homem que tanto dignificou a nossa terra o
povo Brejeiro exigiu que o seu corpo nela fosse sepultado.
Hoje,
ao ver em meu Brejo das Almas, ruas e praças com suas placas ostentando o nome
do Doutor João Bawden eu me pergunto: qual seria, ao certo, a porcentagem de
Brejeiros locais que saberia resumir em poucas palavras a importância que teve
este nome para a nossa cidade?
Acredito
que poucos.
E
tenho dito.
*Enoque
Alves Rodrigues nasceu no Brejo.
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