AS JOIAS RARAS DO BREJO FINAL – NIQUINHO
Enoque Alves Rodrigues
Previsível demais ou repetitivo ao extremo. Quiçá ao tomar ciência sobre qual “jóia rara do brejo” estarei escrevendo em minha crônica de hoje, o amigo leitor, sempre complacente para com esse humilde operário especializado da engenharia, mas que de quando em vez se mete a besta a escrever alguma coisa, seja induzido a esses adjetivos. Devo, portanto, antecipar que tal conclusão, caso ocorra, não corresponde à realidade. Entendo como oportuno lembrar que mesmo não vivendo fisicamente no Brejo há muitos anos, jamais me distanciei desta terra boa que me serviu de berço. Além do mais, é de conhecimento de todos que passei dezoito lindos anos da minha não menos linda existência, no Brejo das Almas e suas adjacências. Como tudo que faço da vida é vivê-la intensamente, esses dezoito anos, acreditem, representam muitíssimo para mim. Sem contar que sou um pesquisador nato e apaixonado por tudo que se refira ao Brejo. São, portanto, sem falsa modéstia, relevantes os cabedais de conhecimentos que disponho sobre fatos, antigos e atuais ou pessoas que foram ou que vieram a ser importantes no cenário brejeiro ou até mesmo, saídas do brejo, na vida Nacional.
-“Chega de bestagem, Noquinho, meu filho! Diria minha santa mãezinha lá em Capitão Enéas. Para que toda essa introdução se a “jóia rara do brejo”, nem é você? Limite-se a reportar os fatos e chega de rodeios e referências pessoais. Não foi assim que lhe ensinei menino!”
-Está certo, uai, mas mesmo assim cabe aqui uma pequena explicação:
-É que já me referi, ainda que superficialmente, por algumas vezes a esta “jóia rara do brejo”. No entanto, jamais havia lhe dedicado uma crônica. Depois, como abri esta série com sua filha, a Professora Yvonne Silveira, em cuja crônica também fiz uma introdução, nada mais justo que dissertar um pouco e encerrar esta série com este personagem.
“Brejo das Almas, ou Francisco Sá. Igual a ti, outro não há...”
O autor da letra do nosso hino, que foi musicado por Corinto Cunha, que aliás, não me canso de ouvir, o qual escreveu em atendimento ao pedido de uma amiga sua, a Professora Maria de Jesus Sampaio já que até então Francisco Sá não tinha seu próprio hino, é a minha “jóia rara do brejo” desta semana.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho, nasceu em Montes Claros. Formado em farmácia, ainda em sua cidade natal, enveredou-se pelos caminhos da Política. Tendo sido ali, ainda jovem, Vereador e Secretário da Câmara Municipal. Foi, inclusive, contemporâneo naquela edilidade de Jacinto Silveira e do Padre Augusto. Redigiu, enquanto secretário na Câmara de Montes Claros, projeto de lei que culminaria na Lei Estadual 843, de 07/09/1923. Cuja Lei desmembrou o distrito de Brejo das Almas dos Municípios de Montes Claros e Grão Mogol, dando-o vida independente, elevado que fora a condição de Município, tendo sua sede própria sido instalada em 07/09/1924, sob a denominação de “Brejo das Almas” que em 1938 se denominaria Francisco Sá.
Orador e poeta de inconfundível eloqüência. Intelectual ativo e inconformado com as injustiças sociais de seu tempo contra as quais lutava com velada bravura sem jamais perder a polidez e afabilidade. Escrivão de paz, farmacêutico de profissão, marido exemplar que pacientemente cuidou de sua esposa enferma até seus últimos momentos de lucidez e um ótimo pai de família de prole numerosa com oito filhos. Fisicamente alto, magro, tez clara, com bigodes, cabelos longos e corridos. Índole integra e sempre disposto a socorrer aqueles que dos seus préstimos necessitassem. Ainda que para isso tivesse que sacrificar a si próprio. Vivia para servir.
Foi com toda esta bagagem que numa ensolarada manhã do mês janeiro do ano de 1929 adentrou as ruazinhas estreitas e empoeiradas do velho Brejo das Almas, o querido Niquinho. Fincou residência no antigo Largo da Matriz, próximo a única farmácia do lugarejo de propriedade de seu amigo Francelino Dias, o França, com quem viria a trabalhar até montar a sua própria farmácia. O velho Largo da Matriz que então desnivelado, passou, em 1931 por reformas de nivelamentos na gestão do Prefeito médico, Dr. Paulo Cerqueira Rodrigues Pereira.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho, pode ser considerado um dos grandes expoentes do velho Brejo das Almas. Conseguiu, neste torrãozinho de meu Deus, colocar em prática todos os atributos com os quais a Divina Natureza o dotara. Exerceu todas as suas atividades sempre voltadas para a benevolência e crescimento do Brejo e de sua gente. Mesmo assim conseguiu amealhar com toda a sua honestidade razoável patrimônio que, no entanto, não muito afeito as coisas materiais e, principalmente, -desculpem-me mas não posso nem devo trair a historia omitindo dela a veracidade de fatos ainda que tristes-, pelo vicio do alcoolismo que infelizmente adquiriu, veio a falecer desprovido de bens materiais em casa de Yvonne e Olyntho, amparado pela filha amada e pelo genro querido, com o mais puro e sublime amor, depois de padecer por dez anos da incurável e tenebrosa enfermidade. No entanto levou consigo a maior riqueza. A certeza plena de que sempre que as necessidades brejeiras se manifestavam, lá estava ele a postos para amenizá-las ou tentar combatê-las.
Antonio Ferreira de Oliveira, Niquinho farmacêutico, a “jóia rara do brejo” desta semana, era na verdade em toda a sua essência, um “mitigador de problemas e dificuldades”.
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/http://www.facebook.com/home.php?email_confirmed=1&changed_login=1
Prezado Sr. Enoque, boa tarde!
ResponderExcluirAnTônio Ferreira de Oliveira, pai da professora Yvonne da Silveira, nasceu em Conceição do Mato Dentro. Cursou Farmácia em Ouro Preto.
Saudações.
Divino Lopes