sexta-feira, 6 de maio de 2011

AS JOIAS RARAS DO BREJO II – KARLA

AS JOIAS RARAS DO BREJO II – KARLA
Enoque Alves Rodrigues
Em meados do ano passado, ao abrir minha caixa de mensagens de e-mails tive uma grata surpresa. Talvez por nos acharmos, na maioria das vezes, imbuídos de sentimentos simples e comezinhos, nem sempre conseguimos imaginar o alcance daquilo que escrevemos e, principalmente, com quais pessoas e culturas estamos de certa forma travando conhecimento.  Quando, no entanto, fatos fortuitos, ou inesperados nos surpreendem positivamente, isso para o nosso ego por mais simples que sejamos, funciona como um verdadeiro bálsamo. Imaginemos, então, se é que somos capazes, a sensação que podemos sentir, ao constatarmos que mesmo sendo a nossa premissa ter todas as pessoas em um mesmo nível de importância, aquela pessoa que acaba de ler e manifestar-se, também de maneira  simples, meiga e natural sobre os nossos escritos, é, na verdade, um grande baluarte de cultura exponencial, um imenso cabedal de conhecimentos de usos e costumes de nosso povo, da nossa gente, e com lugar de destaque dentro da sociedade na qual se insere por pura competência e pelos predicados simples já aludidos aqui, no mais alto e elevado patamar? Aí somos conduzidos involuntariamente, ao seguinte pensamento: puxa vida, como seria bom se eu tivesse essa pessoa como amiga!
Pois é!
Karla Celene Campos, Montes-clarense de nascimento e Brejeira por convicção e vivencia durante longos anos por aquelas plagas de São Gonçalo, aonde os despertares raramente se repetem. Escritora com vários livros publicados, Professora Universitária, Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Jornalista de renome e projeção nacional, possuidora de vários títulos e trabalhos acadêmicos de irrefutável reconhecimento, era exatamente a pessoa que me escrevia.
Dizia Karla, ter lido, muito tempo depois de sua publicação no MontesClaros.com., uma crônica minha sob o titulo “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas”, onde eu fazia referência a um certo casarão de cor rosa, que ficava exatamente na entrada do Brejo das Almas, a esquerda de quem chegava de Montes Claros. Com sua peculiar simplicidade de mulher brejeira, com elegância impar, após tecer elogios sinceros a minha saudade e apego pelo torrão natal e salientar, com sua  cordialidade e finura, que apesar de tudo, o nosso Brejo já não era mais o mesmo, como se estivesse a me preparar para receber a informação “bombástica” que na seqüência me daria, disse-me que na verdade, aquele casarão cor de rosa, que quiçá pela cor não muito usual de suas paredes externas, jamais me saiu da memória, pertencera, na realidade, aos seus avós, o Sr. Antonio Miranda e a Dona Edite.  Meu Deus... Quanta coincidência!
Conheci em minha adolescência quase pueril, a Dona Edite. Senhora benfazeja do nosso lugar. Religiosa, coração bondoso e incomensurável desapego às coisas materiais. De forte compleição física e olhar dócil e matriarcal.  Todo brejeiro via naquela mulher cuja idade eu não consigo precisar, mas creio que à época se aproximava dos 60 anos, o Anjo da Guarda que todos gostariam de ter. De posses, não sei se por herança, atendia a todos com o leite tirado na hora de suas vaquinhas. Seu Sitio produzia frutas diversas em abundância que também ofertava aos necessitados. Quanto ao seu marido, o Sr. Antonio, o vi poucas vezes, insuficientes, no entanto, para que ainda hoje, quase cinqüenta anos depois, alguns resquícios de sua fisionomia me permanecessem retidos ainda na memória, quase senil.
- Senil?
- Mas isso não é coisa de velho?
-É, uai!
- Bem, então, sendo assim mudemos de assunto rapidamente, se bem que ser velho é uma grande dádiva e saber ser velho é a maior das virtudes.
De lá para cá, tornamo-nos grandes amigos e passamos a trocar correspondências apesar de hoje não serem tão freqüentes como gostaríamos, devido a muitas labutas da querida amiga e conterrânea Karla, com suas inúmeras ocupações e minhas, como sempre,  embrenhado há quase quarenta anos, tapume adentro numa obra de engenharia qualquer. Ou talvez, quem sabe, participando de um workshop qualquer, tentando ensinar o que não aprendi e aprender o que jamais me ensinarão. Coisas da vida!
Restam-me reminiscentes no recôndito, dúvidas cruéis as quais por  não possuir a elucidação adequada, aproprio-me de certo comodismo e até mesmo do meu nem sempre disfarçável mineirismo, para jogar a culpa nas costas do destino insólito,  a seguinte indagação: “como foi possível a você, destino tirano e selvagem, que dois conterrâneos com tanta coisa em comum, como por exemplo, o seu amor incondicional pelo Brejo das Almas, Francisco Sá... Que quase na mesma época, palmilhavam com seus pezinhos de anjos, suas ruas empoeiradas e cobertas por paralelepípedos extraídos do morro do mocó... Que certamente por inúmeras vezes, quer na rua, na escola, na igreja do Padre Silvestre, no velho Cine Mineiro, ou quem sabe, na velha Praça da Matriz, ou melhor, na Praça de Jacinto, seus caminhos se cruzaram, não tenham tido em infância, uma única oportunidade de se encontrarem para  poder trocar uns dedinhos de prosa?”
Seria porque, naqueles tempos, hoje tão longínquos, o seu, o meu, o nosso Brejo de todas as Almas era uma grande metrópole e depois, sei lá, se encolheu? São respostas que nem mesmo o tempo, o grande senhor da razão terá. Tampouco me interessam nesta altura do campeonato. Antes tarde que nunca! O importante é que hoje, por lapsos saudáveis do próprio destino, acabei por conhecer Karla, afetuosa amiga, a quem aproveito aqui para agradecer de coração pelo lindo livro “Os Bares não Fecham Nunca” que amavelmente me enviou e que li, intensamente. Obrigado, Karlinha e desculpe-me se depois de tanto tempo do envio, somente agora lhe agradeço.
Karla Celene Campos, minha dileta amiga, cuja trajetória, lições de vida, desprendimento, simplicidade, humildade, lisura, coragem, fé, determinação, senso de humanidade, inteligência, beleza interior inigualável, beleza exterior, idem,  é, orgulhosamente para mim,  a minha “jóia rara do brejo” de hoje, de amanhã e de todo o sempre. Amem!
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/

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