sábado, 30 de julho de 2011

BELEZAS DE NOSSA TERRA - BREJO DAS ALMAS

BELEZAS DE NOSSA TERRA - BREJO DAS ALMAS

Enoque Alves Rodrigues

Desde os mais longínquos primórdios, as belezas da terra que me serviu de berço, o Brejo das Almas, ou Francisco Sá, “beldade do norte de Minas”, são desfiladas em prosa e verso pelos mais diferentes Poetas e Escritores, amantes daquele abençoado torrão. Sejam eles nascidos ou não, naquele recanto. O Itabirense Carlos Drummond de Andrade que o diga. Fascinado com as maravilhas de nossa terra, dedicou todo um livro, uma de suas principais Obras Primas, marco da Literatura Brasileira, ao nosso “Brejo das Almas”.
Encravada no denominado polígono da seca, lá está ela desde Antonio Figueira, linda e faceira a produzir com a mesma lentidão da vida mineira, os seus naturais encantos.
No Brejo, nascemos e vivemos entre vários rebanhos bovinos, caprinos e suínos. Dormimos e acordamos sob o som de imensa orquestra regida por pássaros silvestres de todas as etnias  que nos brindam com os seus mais diferentes cantos. O perfume inconfundível das florzinhas agrestes que o vento em lufadas divinas insiste em brindar nossas casas, entrando por portas e janelas, a impregnarem seus interiores é algo difícil de narrar. As suas ruas, estreitas, algumas empoeiradas, outras com pavimentações precárias, cujo traçado por vezes leva o  nada a lugar algum, mas que seguiram a topografia natural do lugar, dão- nos a sensação nítida de que o Brejo das Almas foi todo esculpido e moldado sob medida para o nosso deleite.
A beleza das águas paradas da antiga Lagoa das Pedras, que refletiam qual espelho, as imagens das árvores frondosas circundantes, dos bovinos à sombra, deitados, depois de mitigada a sede, dos marrecos, dos ariris, e patos nadando sobre sua superfície, na qual refletia o azul celeste do céu de sol claro, tudo isto, restam-me retidos no recôndito, idelével.
De onde surgiu a denominação “Brejo das Almas?”. Não sabemos. Conheço todas elas. No entanto, nada disso importa. O certo é que antigamente a simples enunciação do nome “Brejo das Almas”, causava aos que desconheciam o nosso lugar uma repentina fobia. Mesmo não sendo eu tão velho assim, me lembro que houve tempos que os próprios brejeiros temiam ao ouvirem sua denominação. Nos dias de finados isso ficava mais patente. Em Montes Claros e outras Cidades adjacentes quando alguém falava: “vou dar um pulo no brejo” fatalmente se ouvia com toda naturalidade: “mas você vai voltar?” “Cuidado, não vá se afogar!”. Depois... “Ande com cuidado por que senão alguma alma penada vai lhe puxar as pernas!”.
A este temor não escapou nem mesmo o grande professor, jornalista e poeta, nascido em 1898, em Camanducáia, MG, Mário Casassanta, em sua belíssima crônica relatando seu regresso de uma excursão ao Norte de Minas em 1933, quando assim escreveu: “Deixando Montes Claros, poucas horas depois, Brejo das Almas. Eu fazia de Brejo das Almas uma idéia tenebrosa. Por que? Pelo nome? Pela distancia? Não sei.”
Para o Dr. Mário Casassanta o nome de nossa querida terra se associa à nossa memória as imagens do ermo dos pântanos e ao silêncio do alem... ” Entretanto a sua visão de homem sensível captou algo as belezas naturais de que somos dotados, e a sua capacidade de homem percuciente e de relevante cabedal de estudos, soube ver as nossas reais possibilidades." E deste modo finaliza sua crônica: “Brejo das Almas dá-me assim, longínqua e doirada de sol como a vi – com a sua opulência florestal, com o seu solo fecundo, com os seus rebanhos, com os seus laticínios, com a sua linda serra, com os seus engenhos, com o seu algodão, com a sua escola fecundíssima, com a sua linhagem de Tiradentes, com a sua linhagem de homem de ideal – Brejo das Almas dá-me assim uma impressão perfeita e encantadora de como é rica de aspectos e de como é cheia de imprevistos a Civilização de Minas Gerais”.
Há também os que acham “excêntrico” o nosso antigo nome. Nós Brejeiros também pensamos diferente. Achamo-lo sugestivo e poético. Ele é simplesmente lindo. Desculpem-me, pelo bairrismo.
O grande “Brejeiro” Olyntho Silveira, orgulho maior de nossa gente, assim como todos os “Silveira”, que ainda hoje, para nossa felicidade povoam nossa terra como guardiães da honra, brindando-a com exemplos de probidade e lisura, no campo político, social e econômico, desencarnado em Montes Claros com quase cem anos, -de quem empresto aqui a maioria das palavras que utilizo hoje nesta crônica- dizia do alto de sua inigualável sabedoria:
“Eis o ideal para os nomes dos lugares – sugerirem à inteligência uma suposição, criarem um estado d’alma,  desencadearem a delicada máquina da imaginação que, abalada, de roda em roda, acaba produzindo um sonho acordado. Maravilhoso poder de uma palavra, que logo entra a mexer em nossos arquivos cerebrais, alvoroçando recordações visuais, reconstituindo sonhos e perfumes que a muito se dissiparam, etc. Infelizmente já se tornaram raros e não tardarão em desaparecer as denominações locais, assim ricas de sugestões, poesias e saudades... A rua dos Junquilhos, breve e modesta como a plantinha amiga da sombra sua madrinha, manter-se-á quanto tempo reste de vida a um chefete político a quem alguns amigos pretendam prestar uma homenagem após sua morte. Será em breve a rua Coronel Filismino ou Praxedes, cuja memória aliás nada ganhará.”
Pois é... Isto posto, ficamos assim...
Em que pese o grande homem publico que foi o Dr. Francisco Sá, sobre quem eu, um reles genérico de escritor, especializado em engenharia, tanto escrevi, enaltecendo as inquestionáveis virtudes das quais era possuidor, apenas empresta sua imaculada nomenclatura a nossa Cidade como mera “marca de fantasia”. O nome real recebido na pia batismal da localidade onde nasce o rio São Domingos, onde se encontra a Serra do Catuni, os dois riachos, o morro do mocó, um pouco mais adiante o morro da maceira, a Igreja Matriz e a Igreja de São Gonçalo, entre outras... O calçadão do centro por onde transitam desde a mais pura nata ao mais simples proletariado, meus iguais, e principalmente devido a infinidade de brejos que a compõem,  chama-se “Brejo das Almas”.
E tenho dito!
Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/ 

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