sábado, 19 de novembro de 2011

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – PERGUNTAS E RESPOSTAS

SOBRE O BREJO DAS ALMAS – PERGUNTAS E RESPOSTAS

Enoque Alves Rodrigues

"AONDE Ó LIBERDADE O SOPRO EXPANDES, EU QUIZERA VOAR, CONDOR DOS ANDES."

Tenho sido indagado com freqüência a respeito do paradeiro de alguns personagens por mim elencados neste espaço desde os idos de 2004, quando ainda publicava no extinto site da Abril, minhas crônicas quinzenais sob o titulo “gente, causos e coisas do brejo”. Confesso não dispor hoje da menor noção de onde alguns deles se encontram. É quase certo que a maioria assim como eu, já se mudou do Brejo ou, quem sabe, já esteja no andar de cima o que não significa absolutamente que  a minha permanência, ainda neste plano, seja por hora extra.

Ainda que alguns menos avisados insistam, ou quiçá, propositadamente, pelo simples dom da retórica fácil ou para polemizar, sou nascido e registrado no Brejo, mas lá vivi por pouco tempo. Não obstante os fortes laços que me prendem a terra mãe que me serviu de berço na atual encarnação e que orgulhosamente divulgo há muito tempo, não tenho hoje no Brejo, pelo menos que eu saiba, nenhuma  relação de parentesco. Fisicamente, como já disse por mais de uma vez, ninguém lá me conhece. Ando pelas ruas do Brejo das Almas sem ser notado. Aliás, há sensação mais gostosa do que você  ser tratado como estranho em sua própria terra? Você já teve alguma vez o seu momento de espírito invisível? Pois é!  Você vê, mede, observa e aprecia todos que estão a sua volta e eles o ignoram inteiramente. Não lhe vêem ou pelo menos, fingem que não estão nem ai pra você. Quando você os fita nos olhos, eles, simultaneamente, desviam o olhar para o nada dando a impressão ser o nada mais importante que você. Isso geralmente ocorre com pessoas simples e naturais, cuja presença, no meu caso, não desperta qualquer interesse ou curiosidade aos demais. Não que eu não me ache bonito, claro, sou muito lindo, os outros que insistem em não me notar. Paciência! Rsrsrsrs.

Saudoso dos meus familiares que vivem em Burarama e do Brejo querido, aproveitando uma rara folga de agenda, estive recentemente no Brejo. Desta vez, ao contrário das vezes anteriores, estava tudo limpinho e arrumado. Chamou-me a atenção especialmente a quantidade de reformas prediais. Bacana.

Entro numa Padaria, na Alameda, peço um café com leite e  pão, que me são servidos em um copo de vidro, desses onde costumam servir “a mardita” aos bebuns. Sigo um pouco adiante, saio da Alameda e entro numa Quitanda, onde, segundo as “más línguas”, são vendidos os mais saborosos e bem preparados pãezinhos de queijo do Brejo. Compro um pacote deles; ainda estão quentinhos. Sou tomado por um arrependimento repentino: Diabos, se eu tivesse esperado alguns segundos mais, poderia agora estar saboreando estes pãezinhos de queijo com o café com leite que acabei de tomar lá na Padaria. Passo diante da Igreja do Padroeiro. Fico ali parado por algum tempo imaginando como foi difícil aos caros colegas de épocas remotas, projetar e construir este templo. Verdadeira obra arquitetônica. Pesquisas me levaram a conhecer tanto sobre a história desta igreja, de sua fundação até o acabamento, assim como o pessoal efetivo envolvido em sua construção, atas, inauguração, primeira missa, nome do padre que a celebrou, etc. No entanto, tudo isso é insuficiente para conter minha admiração e encantamento por ela, toda vez que em sua frente me posto. É como se fosse a primeira vez. Mais adiante, deparo-me com a estátua de Feliciano. Meu Deus, estou ficando velho. Conheci esse cara em vida! Fui, em infância, a vários comícios dele só para ouvir o seu lindo palavreado e comer churrasco de espeto de valeta. São aqueles espetos que eram assados sobre uma enorme vala aberta no chão, onde deitavam brasas incandescentes. Como falava bem este homem a quem o Brejo tanto deve. Conhecedor dos mais comezinhos anseios populares, domínio completo do vernáculo de Luiz Vaz, o Camões, articulação impecável, dicção e tonalidade de voz que beiravam a perfeição, aquele cara inflamava as massas com seus discursos inesquecíveis. Agora, restava ali, a minha frente, apenas e tão somente, um reduzido amontoado de pedras e bronzes em cuja cabeça alguns pássaros atrevidos, diria, talvez por não terem sido informados do quão importante foi nosso Feliciano em vida, insistem em utilizar sua bela careca à guisa de aeroporto ou banheiro público. É a vida que passa lenta e silenciosa por aquelas plagas e por todo o canto, nos conduzindo, inexoravelmente, ao grande dia em que talvez, quem sabe, se fizermos um pouquinho do que ele fez, teremos também uma estátua em nossa justa homenagem, para a alegria da posteridade e, principalmente, dos passarinhos brejeiros que ganharão mais um aeroporto.

Cansado, mas com a alma confortada, após caminhar por quase todas as ruas e avenidas do Brejo,  visitar, solitariamente, as mesmas localidades dos tempos de infância,  deixo-o do mesmo jeito em que cheguei: Calado. Silencioso. Meditabundo. Tenho por costume não deixar que minha humilde presença interfira na vida pacata da Cidade e seus locais. Mesmo quando a visito acompanhado por alguém, procuro manter a discrição.  Ciente de que,  em muitas situações da vida,  basta apenas uma simples palavra minha para fazer com que as coisas fluam, no Brejo das Almas, ou próximo dele, na casa da minha santa mãezinha lá em Burarama, recolho-me inteiramente a minha verdadeira insignificância. Ali me sinto criança outra vez. Inclusive, dou-me o direito de fruir da mesma inocência imaculada dos quase pueris.

Voltando a falar dos personagens dos quais tive conhecimento dos respectivos paradeiros, lembro-me de Maria Quitéria, claro, como poderia eu esquecer? Mudou-se do Brejo para Curvelo, onde se casou. De lá foi para Porteirinha, onde vive. Quanto ao Badú, como todos sabem, ele me encontrou aqui em São Paulo em 1973, por coincidência, na mesma empresa. Casou-se com uma Paranaense, Dalva. Tem três filhos e já se encontra aposentado cuidando de sua empresa de prestação de serviços no bairro da Mooca, aliás, é meu vizinho. Mateus, Bicalho, Conceição Formosa e Antão, retornaram para Taiobeiras e Salinas de onde não tive mais noticias. Geraldino Fogueteiro I, Demóstenes e Manezim Vaqueiro, até onde eu soube, foram para Januária. Quanto aos demais, Zezim Tocador e seu Vazamundo, Francelino do Areal, Feliciano Sansão, Zé Rodrigues, Mateus Gordo, Geraldinho Mazzaropi, Maninho do Mocó, Manél de Vovó, Neuzão, Cláudio Lagôa Seca, Demétrius, Gedeão, Almeida, Maria Bocão, Roberto Carlos do Mato, Tininho, Chuteira, Pascomiro, Galdino, João Pretinho, Geraldo Magela, Boneca Preta, Mané Pezim, Katiússia e muitos outros, permaneceram no Brejo. Cabe, portanto, aos meus queridos conterrâneos locais nos informar de seus paradeiros. Outros que porventura não se encontram relacionados aqui, das duas, uma: ou a minha mente já cansada não conseguiu recordar ou, por motivos óbvios, os excluiram da lista física dos vivos, em reverência aos seus familiares, mantendo-os eternamente na lista indelével do coração.

E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, brejeiro de nascimento e convicção, que atua na área de Engenharia, é Escritor com dois livros a serem lançados, (Liderança Conquistada e Brejo das Almas em Crônicas), Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil. Visitem meu blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/  http://www.facebook.com/profile.php?v=info&edit_info=all&ref=nur

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