sábado, 14 de janeiro de 2012

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO II

Preâmbulo e comentários de EAR: 

 

Enoque Alves Rodrigues 

 

Em atenção a oportunos e respeitáveis “posts” inseridos no “facebook”, no último fim de semana, onde verifico pairarem dúvidas de interpretação e entendimento sobre referências que fiz em minha crônica “As Joias do Brejo VI – Rogério da Costa Negro”, publicada no http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/2011/03/as-joias-do-brejo-vi-rogerio-da-costa.html, em 20/03/2011, cumpre-me o dever de melhor clarear o tema, pormenorizadamente, a fim de que mencionadas dúvidas sejam, em definitivo, dirimidas. Para que não haja distorções, enumero e comento aludidos tópicos dentro do texto original negritado. Antes, porém, permito-me fazer aqui o seguinte introito: 

 

Quem quer que tenha lido, até aqui, uma única linha do que escrevo sobre o Brejo das Almas e seu povo, percebe, claramente, que os principais objetivos que pautam e norteiam todas as minhas crônicas consistem em elevar, enaltecer, dignificar, engrandecer e render singelas homenagens aos que passaram pelo Brejo,  além de informar, motivar, reviver e revigorar na memória dos que ficaram, principalmente, os jovens, aqueles que muito fizeram pelo nosso Brejo das Almas e que, muitas vezes, sequer são lembrados. Nesta crônica, por exemplo, quantos Brejeiros confessaram nada saberem sobre Rogério da Costa Negro? Resumindo: só escrevo sobre aqueles que realmente nos deixaram boas lições e grandes exemplos, na tortuosa e longa estrada da vida, no que tange a superação, o sair do nada, o ganhar e o perder com dignidade, sem fraquejar, onde o viver, deixar viver e saber viver, é uma arte. Rogério da Costa Negro reunia tudo isso e muito mais. Não fosse assim, eu não o teria incluído na série, onde ombreia com outros grandes vultos que muito realizaram pelo Brejo. Escrevi de 2004 até hoje, quase duas mil crônicas sobre o Brejo e seus principais personagens, e em nenhuma delas, sequer, faltei com a verdade, respeito e elegância que todos de mim esperam e merecem, incluindo ai os parentes de cada homenageado. E não me foi preciso mentir ou fantasiar nada para deixar o homenageado “bonito na fita”. É muito simples de explicar: sendo eu um cara íntegro e correto, não vou cometer o contrassenso de escrever ou prestigiar “tranqueiras”. Devo salientar que o único e maior dividendo que recebo por esse trabalho, que desenvolvo, com muito carinho, atenção e responsabilidade, até pelo fato de envolver pessoas e sentimentos alheios, no sentido de entregar aos que me leem algo o mais próximo e fiel possível da realidade, é a sensação salubre de compartilhar com vocês, indistintamente, meu modesto conhecimento sobre a Terra que nos serviu de berço. É divulgar o que é nosso. Mostrar ao Mundo os nossos reais valores, que são os grandes homens produzidos pelo Brejo e que tiveram suas vidas impolutas e imaculadas vinculadas a do próprio Brejo. Nada mais, além disso. E por possuir vasto cabedal de conhecimentos sobre o Brejo, até porque também não  costumo falar, escrever ou opinar sobre aquilo de que não tenho conhecimento, mesmo não vivendo no Brejo há muito tempo, e é por isso que só me refiro ao Brejo no passado, desenvolvo essa atividade em paralelo com incontáveis atribuições profissionais, com certa tranquilidade. De maneira que erros e enganos primários e grosseiros estão, dentro do possível, afastados. 

 

Além do mais, sou criterioso e disciplinado em tudo aquilo que faço. Pasmem, mas ainda sou desses poucos “tontos” que pensam antes de falar e matutam antes de escrever. Não dou nem mesmo um passo sem o devido planejamento. Mas nada disto me livra da falibilidade, própria de um espírito em primitivo e lento processo evolutivo, apesar de que, no caso em tela, como já me fiz entender,  nenhum engano,  falha, lapso ou erro, existiram.

 

Não tenho, creiam-me, nenhuma intenção de que o que falo ou escrevo seja aceito com unanimidade. Até porque, tenho pleno conhecimento de minhas limitações e de que toda e qualquer verdade é relativa, como tudo na vida. Assim sendo, o que para mim possa parecer a mais pura e assertiva verdade, para outros pode significar a mais tenebrosa e deslavada mentira, e vice-versa. Mas espero e desejo que qualquer comentário feito por outrem que ponha em dúvida o que escrevo se fundamente em elementos sólidos. Senão, fica fácil.

 

Quem se propõe, assim como eu, a escrever alguma coisa vinculada ao pretérito, tem que estar embasado sobre o seguinte trinômio: “eu vi, eu ouvi, eu li”. Queiram ou não, a história se fundamenta nisso. Em se tratando especificamente do episódio que narrei tendo como foco a robusta figura moral de Rogério da Costa Negro, podemos dividir todo o seu teor da seguinte forma: 5% = eu vi. 5% = eu ouvi e 90% = eu li ou (eu pesquisei). Com isso, entende-se que quase tudo o que escrevi, ressalto, positivamente, sobre Rogério da Costa Negro, pois não há nada que macule ou desabone sua ilibada conduta, caráter e personalidade, assim como de seus parentes, já foram escritos por outros, antes de mim. Lembrando que eu próprio, sem nenhuma modéstia, me intitulo pesquisador nato de tudo aquilo que se refira ao Brejo ou Francisco Sá. Para eu escrever uma crônica, livros são cotejados, memórias são retroagidas, colocando-me, frente a frente com o personagem, no tempo e no lugar dos acontecimentos. Não chuto ou invento nada. A Universidade da vida não me permite trabalhar com achismos.  Vocês podem não concordar comigo. Mas de uma coisa estejam certos, meus queridos: acredito piamente naquilo que falo, escrevo ou faço, até por que tenho por principio só avançar sobre aquilo que acredito, depois de haver feito todas as avaliações. Não vendo ilusão. Gozo do privilégio de jamais mentir e isso me basta. Com a belíssima história de vida do grande Costa Negro, não foi diferente. Vamos então ás confirmações e esclarecimentos dos parágrafos em questão: 

 

Texto original do meu blog com os comentários correspondentes: 


http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/2011/03/as-joias-do-brejo-vi-rogerio-da-costa.html 

 

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO 

 

AS JOIAS DO BREJO VI – ROGÉRIO DA COSTA NEGRO

Enoque Alves Rodrigues

Antes que algum conterrâneo ou leitor pense que eu me esqueci de alguma das muitas jóias produzidas pelo Brejo das Almas, devido ainda não tê-las publicado nesta serie de crônicas, quero me antecipar informando que esta serie é dividida por etapas. Ou seja, na primeira etapa estão elencadas “as jóias do brejo”, na segunda, “as jóias raras do brejo” e na terceira e ultima, “as jóias raríssimas do brejo”. Independente da ordem de grandeza,  saliento que todas as jóias aqui relatadas, tiveram, resguardadas as devidas proporções, importância fundamental no cotidiano do velho Brejo das Almas. Todas elas, todos nós, inclusive este humilde operário da engenharia a qual se dedica arduamente em tempo integral e que ainda busca tempo para, com todo o amor e orgulho falar de sua terra querida, somos todos indispensáveis à vida do Brejo das Almas. Vamos então ao querido Rogério da Costa Negro.
Quando aos 7 de setembro do ano de 1924 se instalou o Município de Brejo das Almas a sua Câmara Municipal se constituía de 8 vereadores. Um deles que depois viria a ser presidente da câmara era Rogério da Costa Negro.
1)Nascido em Grão Mogol, no ano de 1889, filho de um rico português com uma criada, Rogério jamais fora reconhecido pelo pai. Ainda jovem, com a mãe mudou-se para o Brejo das Almas. Lá chegando, com muita dificuldade, abriu um pequeno comércio de uma porta só, onde colocava algumas peças de tecidos para vender. Não demorou muito e graças à dedicação e tino comercial de Rogério, aquela pequenina loja de transformou em um grande conglomerado de empresas no ramo de tecidos recebendo o pomposo nome de “Casa Branca & Costa Negro”.
1) Comentários - EAR: O menino Rogério, assim como sua mãe, foram, a pedido do rico Português, assumidos por um rapaz de Grão Mogol a quem o Português deu 50 cabeças de gado e uma fazenda. Portanto, não obstante toda a dedicação, quem criou Rogério no Brejo não era seu pai biológico. Tanto é verdade que o “Costa Negro”, foi incorporado como sobrenome de Rogério por ele próprio, devido não possuir nome de família. O “Costa” ele utilizou em alusão a sua descendência, pois era comum naqueles tempos se definir os originários de Portugal como “vindos da costa”. Quanto ao “Negro”, ele adicionou por mera fonética. Soa bem ao pronunciar. Isso ocorreu exatamente quando ele abriu a primeira loja de tecidos no Brejo. Desculpem-me, não pretendia entrar nestes detalhes, que, no entanto, em nada macula a bela Biografia de Rogério. Prefiro não prolongar neste parágrafo. Só o mencionei devido terem colocado em dúvida Luso descendência paterna de Rogério, conforme eu afirmei.
Rogério da Costa Negro progredia a olhos vistos. Possuía agora grandes fazendas de gado, plantações de diversas culturas a perderem-se de vista. Jovem, rico, bonito e famoso, ainda exercia grande influencia na Política do lugar, Rogério não tinha do que reclamar.
A sorte sem dúvida alguma o bafejara. A vida, com toda certeza lhe sorrira. Será?
2)Ainda jovem, no ano de 1925 construiu um luxuoso casarão com grande e aclimatado jardim de inverno e janelas com vitrais azuis, na Praça Duque de Caxias. Era indiscutivelmente a melhor e mais bem projetada residência do Brejo das Almas de então. Muitas festas eram dadas naquele rico e imponente casarão.
2) Comentários - EAR: A foto em destaque não se refere a do casarão de Rogério da Costa Negro. Inseri-a para simples ilustração da matéria, assim como em algumas outras matérias quando não acompanhadas de fotos originais.
Juiz de Paz, tinha ele o poder de mandar prender e soltar, presidente da câmara e outras atividades, Rogério fazia sucesso junto ao universo feminino. Onde quer que chegasse causava o maior frisson. Sempre perfumado, roupas impecáveis, sapatos lustrados, não tinha para mais ninguém.
3)Não demorou muito e Rogério da Costa Negro conheceu e casou-se com Isméria com quem teve cinco filhos. Algum tempo depois não resistindo aos encantos de uma beldade de beleza brejeira estonteante, de nome Raimunda, não pensou duas vezes e com ela teve também cinco filhos.
3) Comentários - EAR: Conheci, de vista, cinco. Pesquisas anteriores realizadas e documentos cotejados me confirmam (cinco). Fico com este número.
Rogério se auto-intitulava amante de mulheres, músicas e flores. Boêmio até a medula, varava noites e madrugadas em boates onde, despojadamente, distribuía gordas e polpudas gorjetas aos cantores e mulheres animadas. Saia da boate e se dirigia a sua linda residência, sempre acompanhado por famosa orquestra da época denominada “turma do sereno”. Rogério chegava, subia aos seus aposentos ao som de sua música preferida “sonho azul” e da janela ouvia os cantos embaixo e de lá mesmo jogava para os cantores várias cédulas de dinheiro. É claro que ninguém arredava pé dali. A fonte era muito pródiga e inesgotável.
Inseri propositadamente uma interrogação no final do parágrafo “a vida com toda certeza lhe sorrira. Será?
Pois é. Tudo na vida se acaba. Com Rogério não foi diferente. Diante dos obstáculos naturais que a vida nos coloca, Rogério acabou por derrapar em uma das muitas curvas da estrada. Com muitos filhos, agora casados, todos eles educados nas melhores escolas, gastos incontroláveis com futilidades, desperdícios infindáveis, farras homéricas, não demorou muito para que o sólido patrimônio de Costa Negro começasse a se esvair. A virar pó, literalmente. Dali a falência total foi um pulo.
4)O golpe de misericórdia que culminou com a venda de suas fazendas de gado, plantações, e da própria loja de tecidos, foi dado por um de seus filhos que havia contraído grande divida, cabendo a Rogério paga-la a fim de preservar o bom nome da família. Pouquíssimo tempo depois, até mesmo o lindo casarão de estilo colonial onde ele vivia com a família, foi dividido em pequeninos cômodos que eram alugados para pequenos comerciantes.
4) Comentários - EAR: O golpe de misericórdia ao qual esse parágrafo se refere, se efetivou não por maldade ou desvio de conduta do filho de Rogério, todos eles íntegros e corretos assim como o pai. Mas, pela sua boa fé, aliás, uma grande virtude. Saiu como avalista de um grande amigo seu numa dívida vultosa, mas o amigo não honrou o compromisso. Até mesmo nisso Rogério deu mostras de sua grandeza, vendendo tudo que tinha para quita-la e honrar o nome da família.
5)Rogério da Costa Negro agora era apenas um pobre velho trôpego e alquebrado. De toda a sua imensa prole, somente Edinha, sua filha doente e solteira, restou para lhe fazer companhia. Rogério, mesmo diante da situação de penúria ainda mantinha o espírito elevado e a alma tranqüila. Conservava toda a elegância, brilho no olhar, coragem e determinação de seus agora longínquos tempos de juventude e grande riqueza.
5) Comentários - EAR: Aqui neste parágrafo foi onde mais “me bateram”. Entenderam que eu me referia a “abandono”. Vejam que em nenhum momento utilizei esse termo. Se assim o fizesse, estaria em desacordo com o final da história onde eu falo que “a gente brejeira fez-se presente em peso para dar o último adeus” a Costa Negro. Ora, se quase toda a população do Brejo estava presente, por certo que seria até redundante a afirmativa de que os parentes também estavam lá. Claro que eles tinham que estar e estavam lá. Por isso, serei  extenso neste comentário. Prefiro pecar por excesso de detalhes que por omiti-los: Devido necessidades da vida, não tendo mais os bens do pai, Rogério, para administrarem, seus filhos casados, cônscios de seus deveres, tiveram que sair para trabalhar fora. Assim sendo, por razões óbvias a companhia filial que restou a Rogério foi do único solteiro que ficou no casarão, no caso, sua filha Edinha que, em 1975, com 41 anos, deu a luz a Isméria, Como quem sai aos seus não degenera, Edinha, agora além de cuidar de Rogério, tinha uma boca a mais para sustentar. Não titubeou e, com determinação e galhardia, sem temores ou constrangimentos fúteis e sem quaisquer apegos aos tempos de fartura de antes, foi à luta com toda dignidade. Dedicava-se, essa grande mulher, ao fabrico de algodões doces coloridos, picolés, biscoitos, além de tecer colchas de crochê, que eram vendidos, tirando daí sua digna subsistência. Mesmo após a morte de Rogério, as duas, mãe e filha, que permaneciam no casarão, continuava, Edinha, no exercício dessas atividades. Em 1997, Edinha agora com 63 anos, ainda saia às ruas para vender seus deliciosos algodões doces. Enquanto a filha Isméria, esta seguia firme no trabalho, estudos e namorando firme para casar e, pasmem-se, céticos, sem que o soubesse, cumprindo à risca, com toda naturalidade do mundo, a profecia dita pela mãe 22 anos atrás, antes de seu nascimento. Quando Edinha, solteira, com 41 anos, estava grávida de Isméria, lhe perguntaram o motivo de uma gravidez em idade já avançada. E qual foi a resposta? Para que esse alguém, que está em minha barriga, nasça e cresça para que possa cuidar de mim quando eu for mais velha. Isméria sempre se dedicou a cuidar da mãe Edinha, procurando cerca-la de todos os mimos. Devolvendo a ela, quiçá, em dobro, todos os cuidados que Edinha dedicou ao velho pai Rogério, durante muitos anos. Bem, paro por aqui senão vou acabar escrevendo sobre a vida de Edinha, que, aliás, daria várias páginas, cujo titulo da crônica poderia ser denominado de “superação”. Mas fico por aqui. Não quero que me batam mais. Já sou um velhinho cansado e acabo de retornar de uma longa viagem profissional pelo Mundo. No momento, só estou aceitando elogios e “afagos”. Rsrsrsrsrs. Um forte abraço brejeiro, meus amigos e conterrâneos. Amo vocês. Vamos em frente!
No dia 20 de Novembro de 1977, numa bela manhã primaveril, Rogério da Costa Negro partiu desta vida em direção a uma melhor, onde, para os que assim como eu, acreditam, as riquezas conquistadas aqui na terra mediante o esforço dedicado ao amor ao próximo, a benevolência, a tolerância, a caridade e principalmente o desapego as coisas materiais, jamais se acabam. São eternas.
Comovida, a gente brejeira fez-se presente em peso para dar o último adeus aquele que muito significou para o brejo. A multidão que acompanhava o cortejo de Rogério cantando sua música preferida “sonho azul” era tão grande que dava-se a impressão que nas casas do brejo não havia sobrado mais ninguém. No sepultamento a comoção era geral e incontrolável. Ao baixar o caixão ao fundo do túmulo, pétalas de rosas e aromáticos perfumes eram lançados sobre o mesmo juntamente com lágrimas de gratidão.
Rogério, certamente, agradecido pelas dádivas que ele mais admirava em vida, sorria a todos, de algum ponto invisível a olho nu do infinito.
É...
Por vezes, a maior e mais perfeita riqueza que podemos conquistar não se retém nas mãos, mas no mais além.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

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