sábado, 16 de abril de 2011

AS JOIAS DO BREJO X– LOLÔ DO MANGAL

AS JOIAS DO BREJO X– LOLÔ DO MANGAL

Enoque Alves Rodrigues

Durante muitos anos, ainda nos tempos do Coronel Jacinto Silveira, cuja residência em forma de assobradado casarão ficava ao lado da Praça da Matriz, no antigo Brejo das Almas, hoje, Francisco Sá, era possível confrontar-se com um personagem atípico à beleza natural da gente brejeira de antanho, que vez por outra freqüentava aquela casa.
Moreno, Baixinho, barrigudo, pernas finas desproporcionais, vasta cabeleira e desdentado. Feio de doer... Assim era Lolô do Mangal. O “mangal”, inserido a alcunha “Lolô”, claro, era alusivo a localidade no município do Brejo das Almas, onde ele nasceu, viveu e tinha um Sítio, herança de família.
O Mangal, celeiro de gente bonita, onde por muitíssimos anos se produziu a melhor e mais saborosa cachaça do brejo ou quiçá das Minas Gerais, por certo quando do nascimento de “Lolô”, ou Lodovico Lopes da Cunha, cujo nome de batismo quase ninguém sabia, os deuses da formosura naquele instante se achavam em férias ou talvez, quem sabe, bêbados.
Será?        
Não!
Os deuses como sempre não tiram férias. Tampouco se embriagam. Eles estavam à postos e muito atentos a tudo e a todos quando o velho “Lolô” viu pela primeira vez a luz do sol.
Dotaram-no do que se pode imaginar do que há de mais puro a uma beleza interior matuta. Deram-no o dom do falar fácil com o qual arregimentava multidões ávidas por ouvir os seus “causos” que tinham quase sempre como cenário  a sua querida Mangal. Eram “causos” mas eram verdadeiros. Experiências vividas pelo próprio. Grandes lições de vida.
Uma dessas pérolas ele contava numa roda de amigos em casa do coronel Jacinto.
Certa ocasião, quando sua esposa Conceição, grávida, se encontrava à beira do São Domingos, colhendo alhos numa horta cultivada naquelas vazantes, ele a observava enquanto carregava com pólvora a sua pequena espingarda com a qual caçava juritis. Estavam na época das secas e o São Domingos, não obstante sua nascente tão próximo,  se identificava apenas por um pequeno e insignificante filete de água. Em fração de segundos ele teve nítida percepção de que algo de muito estranho e grave estaria por acontecer. Em instantes, pensou... Matutou e concluiu que o que aconteceria não seria com ele, mas com Conceição. Num átimo de tempo, sem titubear, correu até a esposa e aos gritos de “sai logo daí porque está vindo um trem na sua direção e ele vai atropelar você!”. Conceição, surpresa e atordoada, até porque naquela região jamais se passou ou passa trem algum, olhava para os altos da serra, sem nada entender. É fato que está arraigado aos costumes de nós, mineiros e brejeiros, sim, senhor, tratarmos tudo como “trem”, principalmente aquilo que não está muito bem claro e definido em nossa cuca. Em momentos de desespero, como no caso em tela do nosso querido “Lolô”, isso não poderia ser diferente. É trem mesmo, sô.
Com indescritível solavanco e aos gritos de “você quer morrer mulher, sua fdp”, Lolô a todo custo, conseguiu retirar Conceição daquele local.
Naquele instante uma imensa pedra que havia se desprendido da serra, passava em velocidade meteórica no mesmíssimo lugar aonde segundos antes, Conceição de encontrava. Por muito pouco não conseguiriam levar a efeito a teoria de Isaac Newton que diz que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço”.
É...
Por vezes, ou quase sempre, os deuses não podem dormir, nem mesmo se embriagarem, jamais!
Ainda que se trate da verdadeira água que passarinho não bebe do Mangal.

As próximas crônicas serão sobre as “jóias raras do brejo”. Não percam!
Visitem meu novo blog: Pra variar, é sobre Francisco Sá: http://enoquerodrigues-earodrigues.blogspot.com/
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

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